Diferentemente da CCS, cujo resultado depende exclusivamente dos processos executados na fazenda, como já foi abordado no primeiro volume do Mapa da Qualidade do Leite, a CBT depende também dos processos de logística e de armazenamento. Ou seja, para que tenhamos um leite de alta qualidade sendo processado, precisamos atuar em diferentes pontos críticos ao longo da cadeia de captação, e não somente “dentro da porteira”.
Os resultados apresentados indicam que é preciso, além de melhorar os processos na fazenda para que 100% dos produtores atendam a IN-62, melhorar, também, o transporte e o armazenamento do leite até o seu processamento. Perde-se muita qualidade quando se compara o leite que está na fazenda e o que está sendo processado (leite armazenado nos silos das indústrias), o que irá afetar diretamente a qualidade do produto final oferecido aos consumidores, além de prejuízos às indústrias por queda de rendimento, por problemas de processamento e por menor tempo de prateleira.
Quando se fala de CBT, é comum inferir que nos últimos anos houve melhora significativa e que os problemas relacionados a alta carga bacteriana são relativamente fáceis de serem solucionados (higiene de ordenha e refrigeração), principalmente quando se compara com a CCS. Realmente, entre o período de 2008 a 2012, observou-se uma redução nos valores médios. Porém, já nos anos seguintes, houve uma inversão do cenário com novo aumento da CBT.
Atualmente, quanto ao atendimento à IN-62, considerando o limite atual de 300 mil UFC/mL, temos 65% dos produtores conformes. Se projetarmos para o limite de 2018, que será de 100 mil UFC/mL, teremos somente 40% deles.
Como é possível observar na Figura 1, abaixo de 10 mil UFC/mL, existem quase 1.800 produtores (4% do total), lembrando que este é o limite preconizado para o leite cru utilizado na produção de leite tipo A. Por outro lado, existem quase 10 mil rebanhos com CBT acima de 600 mil UFC/mL (21% do total), valor este que evidencia problemas sérios de higiene na ordenha e de conservação do leite, e que tem grande impacto na qualidade dos produtos processados a partir deste leite. A grande maioria dos rebanhos (42%) possui média entre 40 e 300 mil UFC/mL.
Figura 1. Distribuição de 44 mil rebanhos que enviaram amostras para a Clínica do Leite em função da CBT (mil UFC/mL) em 2015. FONTE: FONTE: MACHADO, P. F.; CASSOLI, L. D. Contagem Bacteriana Total (CBT) – 2016. (Mapa da Qualidade do Leite, v. 2)
Assim como para CCS, os resultados de CBT indicam que temos uma grande área de oportunidade. Conhecer e caracterizar o problema é o primeiro passo para que se possa de fato agir com eficácia. Que este material possa contribuir com a cadeia e que, juntos, possamos melhorar a eficiência da pecuária de leite assim como outras cadeias agropecuárias já o fizeram no Brasil.
Esta iniciativa tem como objetivo contribuir com a construção de políticas públicas assertivas e o aprimoramento de programas de melhoramento da qualidade do leite. “Este trabalho de diagnóstico de qualidade do leite é um dos componentes básicos para que possamos cumprir a nossa missão, que é ajudar a pecuária de leite a melhorar a produtividade e a qualidade, por meio de conceitos de gestão pela qualidade total. Sem dados e informação não é possível identificar os problemas e agir para corrigi-los”, aponta Paulo Fernando Machado, professor do Departamento de Zootecnia da ESALQ e coordenador da Clínica do Leite.
Para baixar e ver o conteúdo completo do Mapa da Qualidade do Leite de CBT, você pode acessar: https://mq.clinicadoleite.com.br/cbt
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