Selênio (Se) é um micronutriente importante para a nutrição animal, atuando no metabolismo principalmente como antioxidante, eliminando peróxidos por meio da enzima glutationa peroxidase, prevenindo danos oxidativos ao DNA e auxiliando em atividades anti-inflamatórias (BELA et al., 2015; KIM & KIL, 2020).
Esse nutriente é obtido a partir da dieta, e a deficiência de Se nos animais pode ocasionar problemas musculares, dificuldade de ganho de peso, menor produção de leite e redução de fertilidade (HEFNAWY & TÓRTORA-PÉREZ, 2010).
O Se está disponível na forma inorgânica, como selenito e selenato, e orgânica, como selenometionina e selenocisteína. Entretanto, sua forma inorgânica apresenta baixa biodisponibilidade e elevada toxicidade (POPHALY et al., 2014; SENTKOWSKA, 2020).
Em animais, os primeiros sintomas de intoxicação são percebidos por letargia e desinteresse alimentar, evoluindo para anorexia e ataxia, podendo apresentar episódios de vômitos e diarreia. Em casos de exposição prolongada, os animais apresentam fadiga muscular, progredindo para coma e, posteriormente, morte devido à falta de circulação e/ou falha respiratória (RAISBECK, 2020).
Portanto, compostos a base de Se na forma orgânica são os mais visados para suplementação animal.
Nesse contexto, a incorporação de microrganismos, tais como bactérias ácido-lácticas (BALs) e leveduras, enriquecidos de Se é uma opção segura para inclusão à dieta dos animais, principalmente devido a melhor absorção (SUCHÝ et al., 2014).
Algumas BALs quando cultivadas em meio de cultura contendo Se, fixam esse micronutriente na superfície da célula (biossorção) ou armazenam no interior da célula microbiana (bioacumulação). Com isso, ocorre a conversão de Se inorgânico, presente no meio de cultivo, em Se orgânico, depositado na biomassa formada (PIENIZ et al., 2017; MARTÍNEZ et al., 2020).
A tolerância das BALs às concentrações de exposição ao Se é uma característica cepa-específica. Assim, o desenvolvimento microbiano, os compostos formados derivados de Se e as concentrações bioacumuladas são características de cada microrganismo, e dependem da concentração de Se presente no meio de cultivo (POPHALY et al., 2014; KRAUSOVA et al., 2020; MARTÍNEZ et al., 2020).
Dessa forma, BALs com Se bioacumulado podem ser utilizadas na nutrição animal, a partir da suplementação da ração com esse microrganismo (LEE, 2019).
Sendo assim, ressalta-se a importância de estudos sobre as aplicações biotecnológicas de BALs com capacidade de biotransformação e bioacumulação de Se, visando o desenvolvimento de suplementos para nutrição animal, auxiliando na saúde e na produtividade.
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Referências
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Hefnawy, A. E. G., & Tórtora-Pérez, J. L. (2010). The importance of selenium and the effects of its deficiency in animal health. Small Ruminant Research, 89(2-3), 185–192.
Kim, J. H., & Kil, D. Y. (2020). Comparison of toxic effects of dietary organic or inorganic selenium and prediction of selenium intake and tissue selenium concentrations in broiler chickens using feather selenium concentrations. Poultry Science, 99, 6462-6473.
Krausova, G., Kana, A., Hyrslova, I., Mrvikova, I., & Kavkova, M. (2020). Development of Selenized Lactic Acid Bacteria and their Selenium Bioaccummulation Capacity. Fermentation, 6(3), 91.
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