As onfalopatias – entre elas, a onfaloflebite – representam uma das maiores preocupações com bezerros nos rebanhos brasileiros, tendo como principais causas: fatores ambientais, higiênicos, traumáticos, bacterianos e congênitos, que isolados ou em associação provocam processos inflamatórios e/ou infecciosos nas estruturas do umbigo.
Tais infecções podem resultar em septicemia, que ocorre devido presença de bactérias que ascendem a partir dos vasos umbilicais ou do úraco causando septicemia aguda ou crônica com patologia articular, meningites e abscessos hepáticos.
A maior parte das onfalopatias ocorre devido à falta de desinfecção ou cura do umbigo do animal recém-nascido. A desinfecção correta do umbigo logo após o nascimento dos animais é algo que pode significar bom desempenho, saúde e contribuir significativamente na diminuição da mortalidade de bezerros.
Em um estudo da Universidade de Cornell, bezerros leiteiros com umbigos não desinfetados apresentaram taxa de mortalidade de 18%, enquanto que bezerros com umbigos desinfetados tiveram 7% de mortalidade. Além de efeitos marcantes na taxa de mortalidade, o desenvolvimento de infecções de umbigo resultou em peso vivo 2,5 kg menor aos três meses de idade quando comparado a bezerros sem infecções.
Hérnia umbilical em bezerros
A falta de assepsia correta do cordão umbilical logo após o nascimento também está relacionada à ocorrência de hérnia umbilical. A hérnia pode ocorrer na região próxima ao umbigo, em consequência da saída de parte das vísceras através da abertura umbilical.
Com a abertura umbilical dilatada pode-se produzir uma evasão do peritônio e partes externas da pele traduzindo-se externamente por aumento de volume (Figura 1). Partes do omento maior e eventualmente porções do intestino delgado podem ser facilmente repostos na cavidade abdominal por meio do anel herniário, exceto nas hérnias estranguladas.
As pequenas hérnias umbilicais podem resolver-se espontaneamente, porém as hérnias umbilicais maiores ou estranguladas exigem correção cirúrgica. Embora as hérnias possam ser em resposta a traumatismos, principalmente coices, pisadas e ao transporte inadequado, a maior parte das vezes está relacionada com as infecções de umbigo que começam no local do parto.
Os problemas umbilicais causam muitas perdas econômicas nos sistemas de produção uma vez que geram custos com medicamentos e assistência veterinária, aumentam a taxa de mortalidade ainda retardam o crescimento de novilhas de reposição.
Figura 1. Aumento de volume na região umbilical
Infecções e ambiente
O cordão umbilical exposto será mais rápido e severamente contaminado de acordo com o ambiente no qual o bezerro é criado nos primeiros dias de vida. Existe uma relação inversamente proporcional entre o aparecimento de onfalopatias e bom manejo de bezerros. Quanto mais aberto, limpo, arejado e higienicamente tratado o ambiente dos recém-nascidos, menor é a ocorrência de afecções.
A estrutura do umbigo é bastante complexa e está envolvida com artérias e veias e com o fígado, um órgão importante para a vida do animal (Figura2). É possível que ocorra falha parcial ou completa de retração das artérias umbilicais, veias ou úraco no abdômen ao nascimento, e sua exposição a danos físicos e infecção é muito maior do que o normal. Em alguns casos, o úraco pode não fechar completamente. Assim, a urina irá escorrer por vários dias, a partir do cordão umbilical mantendo-o úmido e aberto a infecção.
Sinais de onfaloflebite
Os sinais de infecção são caracterizados pelo aumento de volume do umbigo, dor à palpação e eventualmente secreção purulenta e mau cheiro. O sintoma mais comum é a dilatação ou espessamento do cordão umbilical. Em bezerros sadios, a espessura do cordão é mais ou menos a de um lápis comum.
Porém, quando há inflamação do umbigo, essa espessura pode tornar-se bem maior. Passando-se a mão pela região, pode-se notar que temperatura superior a do corpo do animal, característico de processos inflamatórios. O bezerro fica febril, apático e triste.
Quando há o envolvimento das articulações, em função do desenvolvimento de artrite ou poliartrite, os animais apresentam dificuldade na locomoção com claudicação (manqueira). Nos casos em que ocorre somente o desenvolvimento de abscessos hepáticos, somente a necropsia pode revelar a infecção.
Figura 2. Estrutura do umbigo de bovinos
Prevenção das onfaloflebites
Trabalhos de levantamento de campo mostram que toda vez que se observam problemas de hérnia umbilical, o produtor utilizava apenas alguns produtos leves para imersão do umbigo, que não eram os de secagem, ou seja, não continham álcool em sua composição.
Como fazer a cura do umbigo em bezerros?
O melhor produto para a cura do umbigo continua sendo a solução de iodo 5-7%, embora muitos produtores insistam em buscar substitutos.
Além do uso de soluções inadequadas, com menor poder de cicatrização, um erro comum na cura do umbigo é não realizar imersão completa da estrutura, logo que possível após o nascimento. Pesquisadores acreditam que a ação de secagem ou o efeito da imersão do umbigo seja tão importante quanto à ação de desinfecção.
Alguns estudos de campo mostram aumento nas hérnias umbilicais quando os produtores passam a usar solução de iodo mais fraca. Após a imersão do umbigo, o bezerro deve ser transferido para um ambiente limpo e seco para protegê-lo de uma variedade de patógenos.
Outro erro comum é o retorno da solução utilizada para dentro da garrafa contendo a solução nova, de forma que depois de alguns tratamentos a concentração da solução já não é mais de 5 a 7%.
Quando treinamos alunos, produtores e tratadores na realização desta tarefa mostramos o quanto é importante que a solução esteja sempre nova na garrafa. A solução colocada em recipiente para a realização da imersão deve ser descartada e não reutilizada.
A melhor forma para a prevenção de onfalopatias é realizar a cura correta do umbigo logo após o nascimento do animal, com limpeza e corte do cordão umbilical, seguida da imersão em uma substância cáustica e que, preferencialmente, mumifique o cordão umbilical, como solução de iodo a 5-10% ou ácido pícrico (5%).
É interessante que esta prática de manejo seja repetida duas vezes ao dia até a completa cicatrização (Figura 3). Quando esta tarefa é realizada de forma adequada, a mumificação e subsequente queda do cordão ocorre entre dois a três dias após o nascimento.
Figura 3. Bezerro com cicatrização adequada do cordão umbilical
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