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O comportamento e a atitude do tratador interferem no desempenho de bezerros leiteiros

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E GLAUBER DOS SANTOS

CARLA BITTAR

EM 03/04/2014

5 MIN DE LEITURA

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Na pecuária leiteira, o contato e a interação entre as pessoas - seja o ordenhador, tratador ou o assistente técnico - e os animais ocorre de uma maneira muito intensa. Então, as atitudes e principalmente os comportamentos das pessoas próximas aos animais de produção terão um reflexo direto nas respostas fisiológicas e produtivas destes animais.

Segundo a psicologia, atitude é a composição de três componentes distintos: o cognitivo, o afetivo e o comportamental. O cognitivo refere-se ao conhecimento e às crenças de alguém em relação a algo; o afetivo está relacionado aos sentimentos da pessoa em relação ao objeto da atitude; e o comportamental refere-se às tendências comportamentais (vontade de fazer) do indivíduo em relação à determinada coisa (Fishbein e Ajzen, 2000). Já o comportamento, é composto por uma parte do intelecto (componente comportamental da atitude) e pelas normas e leis vigentes. Portanto, podemos resumir que atitude é tudo que uma pessoa pensa sobre algo e o comportamento é a ação, propriamente dita, com relação a algo.

A importância de conhecer a correta definição dos termos é necessária, pois facilita no momento de tomarmos alguma decisão relacionada sobre o assunto. Por exemplo, um tratador de bezerros que não tem um comportamento adequado pode não ter conhecimento suficiente para realizar tal tarefa, não ter boas recordações, lembranças, sentimento favorável relacionado ao trabalho ou, por último, não se sentir a vontade, não estar motivado ou confortável para executar o planejado. Assim, podemos avaliar quais os reais pontos inconvenientes para que o tratador de bezerros não faça as atividades planejadas da melhor maneira.

Existem vários trabalhos clássicos na literatura mostrando as consequências de interações negativas dos manipuladores com os animais, principalmente com suínos e vacas em lactação, mas pouco se tem mostrado desses efeitos nas bezerras leiteiras.

Em 2003, P.H. Hemsworth resumiu os principais trabalhos publicados até então e concluiu que o tratador tem um papel fundamental para aumentar a produtividade e propiciar um estado de bem-estar aos animais de produção (Figura 1).

Figura 1 – Modelo de interação humano-animal



















Recentemente, um grupo de pesquisadores noruegueses (Ellingsen et al., 2014) decidiram estudar a ligação entre o comportamento do tratador e o de bezerros leiteiros, na tentativa de estabelecer quais comportamentos do homem estariam diretamente influenciando negativa e/ou positivamente os animais. Para avaliar o comportamento animal, uma avaliação da linguagem corporal deste foi utilizada como indicativo do seu estado de bem-estar. O trabalho foi desenvolvido em bezerros entre as idades de 3 a 298 dias, em 110 fazendas produtoras de leite na Noruega, sendo cinco bezerros avaliados aleatoriamente em cada propriedade. A amostra de tratadores consistia de 80% homens e 20% mulheres, com idade média de 46 anos.

O propósito do estudo não foi esclarecido ao tratador na intenção de evitar falsos comportamentos e permitir que o manejo normal da propriedade fosse realizado. Então, os pesquisadores pediram que o tratador realizasse uma medida do perímetro torácico dos cincos bezerros, na intenção de obter o peso do animal e avaliar a interação homem-animal. Após o período de observação o pesquisador classificou o tratador de acordo com os comportamentos: rápido, dominante, agressivo, medroso, paciente, cuidadoso, calmo, determinado, focado, inseguro, não cuida do animal, fala com os animais, abraça os animais, nervoso, violento e inclusivo. Logo após, a permissão para usar os dados foi solicitada aos tratadores.

Para avaliar o comportamento dos animais, o observador avaliou-os por 20 minutos e descreveu sua expressão comportamental de acordo com uma lista de 30 características: nervoso, frustrado, com medo, desfrutando, aflito, desconfortável, amigável, sociável, inquieto, calmo, confiante, agitado, doente, feliz, com medo, ocupado positivamente, relaxado, turbulento, curioso, brincalhão, tenso, agressivo, entediado, deprimido, ativo, alegre, irritado, vigilante, apático e indiferente.

Quatro descrições de manipulação foram identificadas entre os tratadores: calmo/paciente, dominante/agressivo, interage positivamente e inseguro/nervoso. Assim, os autores atribuíram o termo comportamento positivo para os tratadores que tinham interações positivas, conversavam/tocavam nos animais e que eram calmos/pacientes. Contrariamente aos tratadores que eram agressivos, barulhentos, inseguros e que utilizavam a força para manipular os animais, os quais foram classificados como comportamento negativo.

Assim, o trabalho mostrou que reações de medo e tensão apresentados pelos bezerros sempre estavam relacionadas com os manipuladores agressivos, inseguros e nervosos. Por outro lado, animais calmos, confiantes e amigáveis estavam associados com os manipuladores que tiveram os comportamentos de paciência, calma e que conversavam com os animais. Os bezerros mais agitados e nervosos foram mais imprevisíveis e inseguros durante a manipulação, aumentando assim o risco de lesões tanto no animal como no tratador. Além disso, esta situação pode gerar um ciclo vicioso, onde o manipulador tende a lidar com mais agressividade e os animais tendem a responder com mais medo, insegurança e agressão.

Por fim, os autores concluem que o comportamento animal e humano estão intimamente ligados, o que evidência a importância de um bom manejo; e que, não só o treinamento adequado dos tratadores, mas também a consciência do próprio comportamento, são essenciais para quem trabalha com bezerros. Com isso é possível adequar atitude e mudança de comportamento dos tratadores, melhorando assim a relação humano-animal e, finalmente, aumentando o nível de bem-estar animal.

Embora o trabalho não tenha avaliado o desempenho produtivo dos animais, sabe-se que a manipulação negativa eleva os níveis de adrenalina e cortisol os quais estão inversamente correlacionados com a produtividade animal. A contribuição desta pesquisa foi apresentar quais são os comportamentos dos tratadores que mais estão interferindo no bem-estar dos bezerros. Assim, podemos treinar e educar nossos colaboradores, que não apresentam as características desejáveis, seja no momento da contratação ou mesmo rotineiramente dentro da propriedade.

Exemplos de interação positiva tratador-animal.






Exemplos de interação negativa tratador animal.






Referências bibliográficas

Ellingsen, K., et al., Using qualitative behaviour assessment to explore the link between stockperson behaviour and dairy calf behaviour. Appl. Anim. Behav. Sci. (2014), https://dx.doi.org/10.1016/j.applanim.2014.01.011

Fishbein, M.; Ajzen, I. Belief, attitude, intention, and behavior: An introduction to theory and research. Reading, MA: Addison-Wesley, 2000.
 

ARTIGO EXCLUSIVO | Este artigo é de uso exclusivo do MilkPoint, não sendo permitida sua cópia e/ou réplica sem prévia autorização do portal e do(s) autor(es) do artigo.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

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MARIANA POMPEO DE CAMARGO GALLO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 14/04/2014

Gostaria de convida-los a participar do Curso Online  "Aleitamento de bezerras com sucedâneos lácteos".



O curso terá início em 29/04 e a instrutora Carla M. M. Bittar, irá esclarecer os principais aspectos relacionados ao uso de sucedâneo para aleitamento de bezerras, além de tirar dúvidas através do fórum de perguntas e conferência online.



Para mais informações ou realizar sua inscrição acesse nossa página de cursos: https://www.agripoint.com.br/curso/aleitamento-bezerras/



Ou mande um e-mail para: cursos@agripoint.com.br
GONÇALO MESQUITA DA SILVA

ITAPETINGA - BAHIA - ESTUDANTE

EM 11/04/2014

Muito bom o tema que vocês abordaram, eu sou doutorando em Zootecnia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/UESB e tenho comprovado isso na prática diária de algumas Fazendas da Região. Estão de parabéns Carla Maris Machado Bittar e Glauber dos Santos, por contribuir para o aprendizado na atividade pecuária leiteira. No meu ponto de vista, não só nessa fase da vida dos animais e nem particularmente com essa categoria animal que nós técnicos, pecuaristas e tratadores devemos considerar o bem estar animal como ferramenta de maximizar a produção. independente da fase da vida e da linhagem (leite, corte), entender o comportamento animal e fazer bom uso das práticas de manejo, é fundamental. Já baixei o artigo e vou lê com atenção e recomendo que todos de interesse faça o mesmo. Mão de obra, realmente estar escarça no nosso meio, mais para ensinarmos temos o dever e a obrigação de sabermos e a forma mais prática é estudando. Reforçando, parabéns pelo tema e que essa iniciativa sirva como ponto de partida, para conhecermos os animais e a nós mesmo. Atenciosamente, Gonçalo Mesquita.  
LUIS EINAR SUÑE DA SILVA

ANÁPOLIS - GOIÁS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 09/04/2014

Bom dia Carla e Glauber

Parabéns pelo artigo. É exatamente isso que importa numa fazenda.

Digo que os exploradores - gigolos de vacas, podem ser recuperados pois são ignorantes no mister de criar animais.

Nossa missão é exatamente essa.

Vamos em frente, meu apoio é total e irrestrito nesta operação de BEA.

Cumprimentos mais uma vez.

Aqui pelo Goiás, humildemente fazemos a nossa parte.

Grande abraço
EDMUNDO PEREIRA FURTADO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 07/04/2014

Parabens pelo artigo, vai me ajudar muito, pois crio todas as bezerras para reposição .Abs Edmundo Furtado
RODRIGO LOPES DE MORAES

VIÇOSA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 06/04/2014

Parabéns pela inicativa. O repertório de informações técnico-científico é vasto, mas pouco se fala ou se faz em relação ao envolvimento do colaborador. Em pesquisa recente realizada pelo Milkpoint, a mão de obra ficou em segundo lugar como desafio para 2014, atrás apenas do custo de produção. Na verdade, a falta de mão de obra é um consenso comum na maioria das propriedades leiteiras. Isso demostra que precisamos intervir na questão de mão de obra, por exemplo: dando qualidade de vida aos funcionarios (folgas, moradia dígna, férias, bom relacionamento do patrão com seus funcionários) e treinamentos para que o colaborador entenda sua função e sinta-se importante dentro do sistema de produção. Treinamento é investimento e não risco de perda desse funcionário. Se perdemos funcionários para outras atividades, precisamos tornar a nossa tão atrativa quanto as outras. Não há outro caminho.
RAIMUNDO RIBEIRO FERREIRA

PIAUÍ - ESTUDANTE

EM 04/04/2014

Parabéns pelo pesquisa! Por favor como faço para ter acesso a este artigo?
ANFILOFIO SALLES MARTINS

TIMÓTEO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/04/2014

Carla e Glauber.

Parabens pelo artigo. Tenho visto na pratica os resultados deste tipo de tratamento.

Salles
GUSTAVO JOSE ULLMANN

SANTO CRISTO - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 03/04/2014

tem muito have sim,Define bastante o comportamento depois na fase de produçao de leite.

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