No Brasil, segundo Netto, (1965) a classificação para tipo teve início na década de 1960. O autor relatou que, por volta de 1952 e 1953, na Cooperativa Castrolanda, existia um centro de inseminação artificial, e que, no final do ano de 1960, com a importação de 3 tourinhos da Holanda (Patriot, Verwachting e Sikkema) que foram muito utilizados nos rebanhos da região, realizou-se a comparação mães e filhas, na qual 72 animais foram classificados e os resultados publicados em dezembro de 1965.
A classificação para tipo foi desenvolvida inicialmente como uma medida subjetiva da capacidade de produção das vacas, antes do desenvolvimento dos programas de controle leiteiro (McManus e Saueressig, 1998). Como os padrões ideais das principais raças leiteiras eram fundamentalmente semelhantes em muitos aspectos, uma tabela uniforme de pontos foi estabelecida pelas Associações de raças leiteiras.
O conceito de classificação linear, classificação para tipo ou registro seletivo, como é conhecido nas raças leiteiras, é uma metodologia que envolve a avaliação individual dos animais, por meio de medidas de conformação, comparadas a um padrão de tipo considerado ideal, estabelecido para uma determinada raça (ESTEVES et al., 2004).
Segundo Valloto e Ribas Neto, (2012) a classificação para tipo é ferramenta fundamental para produtores e técnicos mensurarem características que, direta e indiretamente, estão relacionadas com saúde e vida útil dos animais. Produtores que iniciam a classificação em seus rebanhos, passam a conhecer os pontos fracos e fortes dos animais e, em um determinado momento, podem elaborar parâmetros para atingir metas previamente estabelecidas, visando uma conformação funcional, para que animais possam enfrentar os desafios de altas produções com saúde, reprodução e vida produtiva (ATKINS et al., 2008).
Na avaliação das características lineares para tipo, os animais são comparados a um “Tipo Ideal” (True Type) para cada raça. Este modelo desejável (ideal) é apresentado e aprovado pelos conselhos, comitês e diretoria de uma determinada associação de raça, sendo o mesmo, inserido nos programa de classificação e no Regulamento de Serviço de Registro Genealógico das raças leiteiras, como ocorre na raça Holandesa no Brasil (VALLOTO & RIBAS NETO, 2012).
Esse “Tipo Ideal” é a referência (parâmetro) para os classificadores avaliarem os animais individualmente. A classificação para tipo no Brasil e no estado do Paraná teve início na década de 1960.
Descrição das características lineares de tipo e seus compostos
A partir de 01 de julho de 2010, a Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (ABCBRH) efetuou modificações, alterações e atualizações do sistema de classificação para tipo. O modelo atualmente utilizado é baseado no Canadense.
O modelo (sistema) de classificação tem 4 compostos: Força leiteira, Garupa, Pernas e pés, Sistema Mamário (CFL, CG, CPP, CSM), e 23 características lineares com escore linear de 1 a 9 pontos, com exceção para escore de condição corporal, que vai de 1 a 5 pontos (TABELA 2). A pontuação final (PF) varia de 50 a 97 pontos.
Tabela 1 – Descrição das características lineares de tipo, compostos, siglas, pesos e escores desejáveis - a partir de julho de 2010.
*Escore de Condição Corporal (ECC) variação escore de 1 a 5 pontos.
** Desejável (ideal): recomendações ABCBRH (2010); Holstein (2009); Valloto & Ribas Neto, (2012)
Fonte: HOLSTEIN CA, (2009), adaptada por VALLOTO & RIBAS NETO (2012)
A Pontuação final (PF) é o resultado da avaliação geral do animal e não apenas uma somatória de pontos (ABCBRH, 2012). Sua importância está em comparar os animais individualmente com um modelo "True Type", determinando quanto o mesmo está próximo do ideal, valorizando a funcionalidade dos animais em detrimento da beleza zootécnica e, principalmente, nos animais que apresentem as características ideais para sistema mamário, pernas e pés.
Atualmente, os classificadores no Brasil trabalham com coletores de dados (programa de classificação), que efetuam ponderações e sugerem um valor de pontuação final, possibilitando, assim, um serviço mais ágil e uniforme para o sistema avaliação (VALLOTO & RIBAS NETO, 2012).
Tabela 2 – Classes, siglas e escala de pontos a ser atribuídos aos compostos na pontuação final (pf).
Finalidades e objetivos da classificação linear de tipo.
A classificação é utilizada para conhecer individualmente a conformação dos animais, identificando os pontos fortes e fracos, principalmente de úbere e pernas e pés, que determinam uma vida produtiva mais longa (SHORT & LAWLOR, 1992).
Ao longo dos anos, as associações de raça vêm prestando importante orientação no desenvolvimento da avaliação de conformação de vacas leiteiras (classificação linear de tipo) para auxiliar os criadores nas decisões de seleção e melhoramento genético. Principais finalidades da classificação linear:
- Essencial nas provas de touros (teste de progênie) (COSTA et al., 2013);
- Programas de melhoramento genético das raças (PEDROSA e VALLOTO, 2015);
- Auxiliar no acasalamento, pois o criador saberá quais características necessita de maior ênfase no processo de melhoramento genético (VALLOTO, 2010);
- Criadores passam a conhecer melhor os seus animais, e valorizar os animais que irão permanecer por mais tempo produzindo no rebanho (ATKINS et al., 2008);
- Maior conhecimento dos criadores no momento da venda e compra de animais (seleção);
- Valorização econômica dos animais no momento da comercialização;
- Acompanhamento da evolução do rebanho: por meio da pontuação dos animais, o criador pode analisar os seus resultados, principalmente nas vacas de primeiro parto (tendências fenotípicas e genéticas) (PEDROSA e VALLOTO, 2015; BOLIGON et al., 2005;);
- Animais com melhor conformação têm mais longevidade, vida produtiva e saúde (ATKINS et al., 2008);
- Auxílio na seleção de animais para participação em exposições das raças;
- Oportunidade de receber a visita de um profissional (técnico) altamente especializado em sua propriedade para troca de experiências (APCBRH, 2010);
- A classificação é requisito para evolução de animais PC (Puros de Cruzamento) para PO (Puros de Origem) em algumas raças, desde que atendidas às normas regulamentares do Serviço de Registro Genealógico (ABCBRH, 2012);
- Auxílio no descarte: aqueles animais de baixa pontuação final e escores baixos nas características de úbere, pernas e pés, são os mais indicados para o descarte no rebanho (VALLOTO e RIBAS NETO, 2012).
Animais classificados no Brasil e disponibilidade do serviço
A Raça Holandesa é a que mais classifica no Brasil, sendo classificados, em 2019, 13.171 animais (ver gráfico abaixo). Este serviço está disponível para todo o Brasil, os criadores interessados devem contactar a Associação Brasileira da Raça Holandesa ou uma de suas Filiadas Estaduais.
Gráfico 1 - Total de animais classificados da Raça Holandesa, período de 2015 á 2019.
Foto: Valloto, 2016