Recentemente uma grande polêmica foi gerada devido a dois artigos científicos, escritos pelo mesmo grupo de pesquisadores e publicados no mesmo volume (v.6) de uma mesma revista (Cell). Em conjunto eles apontam para o uso de probióticos como ineficiente para colonização intestinal e até mesmo prejudicial para recomposição da flora após tratamento por antibióticos. Essas afirmações caíram como bomba tão devastadora quando a ação dos próprios antibióticos contra o balanço da flora intestinal.
Especialistas na área divulgaram críticas diversas aos dois artigos e pensei em compartilhar com os leitores da MilkPoint alguns destes pontos:
Em primeiro lugar ambos os estudos foram feitos empregando-se um suplemento comercial composto por 11 linhagens de probióticos. Vale destacar que combinações com muitas linhagens pode ser menos efetivo para promoção de benefícios à saúde do que uma cultura única ou combinações com menos culturas probióticas, considerando-se a possibilidade de que algumas possam "atrapalhar" as demais.
Até onde sabemos dentro da ciência dos probióticos os efeitos à saúde observados pelo seu consumo estão relacionados à linhagens específicas. Avaliar uma linhagem de Lactobacilos não permite concluir que outra linhagem proporcione o mesmo efeito para a saúde. Fazendo um paralelo para facilitar a compreensão, analisar um suplemento específico não permite traçar conclusões em relação a todos os suplementos existentes. Menos ainda permite concluir algo em relação aos probióticos presentes em leites fermentados nos quais as culturas probióticas estão metabolicamente ativas, visto que em suplementos os probióticos estão "adormecidos", esperando condições boas para despertarem e desempenharem sua funcionalidade.
Outro ponto de destaque é a afirmação dos autores dos artigos de que os probióticos suplementados não foram capazes de colonizar o intestino dos voluntários da pesquisa. Há mais de 30 anos já se saber que probióticos consumidos de alimentos ou suplementos não ficam conosco para sempre, mas apenas por alguns dias e que por isso o indicado é consumir produtos probióticos frequentemente para ter um aporte constante destas bactérias/leveduras do bem.
Também é importante destacar que alguns dos autores dos referidos artigos são ligados a uma empresa que trabalha com uma proposta de "probióticos personalizados" sendo que apontar para a ineficiência de probióticos disponíveis no mercado pode favorecer economicamente esta empresa. Esse conflito de interesse não foi declarado em ambas as publicações.
Depois do efeito explosivo das publicações mencionadas, ficaremos na expectativa de que o estudo dos probióticos continue avançando, vencendo mitos, alcançando verdades e promovendo os mais diversos benefícios à saúde da população humana, animal e dos ecossistemas.
Referências bibliográficas
Zmora et al. Personalized Gut Mucosal Colonization Resistance to Empiric Probiotics Is Associated with Unique Host and Microbiome Features. Cell. Volume 174, ISSUE 6, P1388-1405.e21, September 06, 2018.
Suez et al. Post-Antibiotic Gut Mucosal Microbiome Reconstitution Is Impaired by Probiotics and Improved by Autologous FMT. Cell. Volume 174, ISSUE 6, P1406-1423.e16, September 06, 2018
ISAAP. Clinical evidence and not microbiota outcomes drive value of probiotics. https://isappscience.org/clinical-evidence-not-microbiota-outcomes-drive-value-probiotics/