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O futuro é leite em excesso

POR PAULO DO CARMO MARTINS

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 16/01/2007

7 MIN DE LEITURA

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O ano começa com um cenário muito promissor. Os preços recebidos pelos produtores estão estáveis neste pico de safra, o mercado internacional está aquecido e a inflação interna é baixa. Portanto, o ambiente é favorável ao leite. É aí que mora o perigo!

Comecemos pelo lado favorável. O preço recebido pelo produtor está estável desde maio de 2006, não caiu nesse pico de safra e nada indica que irá cair nos próximos meses. Por outro lado, a inflação é mantida em níveis baixos. O custo de vida das famílias subiu cerca de somente 3,1% ao longo de 2006, o que significa dizer que o poder de compra do consumidor tem se mantido. E nada sinaliza com a volta da inflação. Isso é de extrema importância para a cadeia do leite. Some-se a isso o fato do leite em pó estar sendo comercializado a US$ 3 mil, quando esteve entre US$ 2,1 mil e US$ 2,3 a tonelada até setembro de 2006. Há ainda o fato dos projetos de novas plantas anunciados no início de 2006 estarem de "vento em popa", ou seja, estão sendo executados. Portanto, o ambiente não é dos piores.

Estudo o setor lácteo desde 1983 e aprendi que o setor tem um comportamento previsível. Quando uma crise se instala, se o problema é percebido como de cunho estrutural, soluções estruturais são buscadas. Um exemplo é a primeira metade dos anos noventa, quando saímos de uma economia fechada (com restrições a importação) e com tabelamento de preços e fomos para economia aberta e sem tabelamento. A competente reação do setor se deu com a introdução dos conceitos de logística, o que permite que hoje possamos falar efetivamente em cadeia produtiva do leite. Mas, se o problema é considerado de cunho conjuntural, o setor se reúne, propõe mudanças de impacto e... é só melhorar o cenário que cada um vai cuidar de sua vida.

A crise do segundo semestre de 2005 não foi conjuntural, como muitos imaginam. Portanto, não é possível esquecê-la, imaginando que tudo está voltando ao normal. Tenho quatro motivos para considerar que estamos vivendo uma crise estrutural: a) acabou o espaço para substituição de importação no setor lácteo; b) a população cresce menos e está ficando velha; c) o Brasil não terá crescimento elevado de renda per capita nos próximos anos; e, d) o brasileiro não gosta de leite. Vejamos cada um desses motivos, em detalhe.

Motivo 1. Acabou espaço para substituição de importação

Os países que se industrializaram somente no século passado, como o Brasil, adotaram políticas de substituição de importação. A receita é simples e é de cunho protecionista. Cria-se legislação que dificulte importações, impostos vultosos passam a incidir sobre os produtos estrangeiros e a moeda nacional é desvalorizada. Além disso, subsídios à indústria nascente são oferecidos. A implantação da indústria automobilística no Brasil é um exemplo típico. No caso do leite, tivemos uma substituição de importação surrealista, que foge completamente a esta receita básica. Um caso raríssimo. Fizemos substituição de importação via mercado, enquanto que o tradicional é via ação protecionista de Governo. Em vez de proteção do Estado, foi a competição que levou a esta substituição de importações.

Em 1991 o Governo deixou de tabelar o preço do leite. De 1991 até 2005 a produção brasileira cresceu 60%, mas a população cresceu 23,5% e o poder aquisitivo de cada brasileiro cresceu 19,5%, ou 1/3 do crescimento do consumo. Isso fez com que abrisse um fosso entre o crescimento da produção e do consumo per capita, conforme mostrado no Gráfico 1. As diferentes taxas de crescimento fizeram com que, gradativamente, a produção per capita e o consumo per capita fossem se aproximando, conforme o Gráfico 2, até que empataram, a partir de 2004. Portanto, a organização da cadeia produtiva do leite nos anos noventa levou a uma substituição de importações e a uma auto-suficiência nacional. Mas, pelo Gráfico 1, a partir de agora, o cenário é excedente de leite, ou seja, a produção deverá superar o consumo.


Gráfico 1. Produção de Leite e PIB Per Capita em percentagem. Brasil. 1991 - 2005.


Fonte: dados organizados pelo autor.
Obs: 1991: base = 100

Gráfico 2. Produção Per Capita e Consumo Per Capita de Leite. Brasil. 1980 -2005.


Fonte: dados organizados pelo autor.

Motivo 2. A População Crescerá Menos e Ficará Velha rapidamente

O IBGE informa que em 1.985 o Brasil tinha uma população de 133 milhões e o crescimento populacional era de 2,1% ao ano. Em 2.005, já éramos 184 milhões, mas a taxa de crescimento da população caiu para 1,4% ao ano. Para 2.025 o IBGE prevê que seremos 229 milhões, mas a população estará crescendo a 0,8% ao ano. Portanto, daqui a vinte anos a população brasileira estará crescendo a uma taxa três vezes menor que o crescimento de vinte anos atrás. A conseqüência é que a população está ficando velha. Em 1.985, 49,7% da população brasileira tinha até 19 anos de idade. Isso mesmo! A cada dois brasileiros, um era adolescente. Em 2.025 o percentual dessa faixa etária cairá para 30,4%. Já o percentual de brasileiros com idade acima de 60 anos, que era de 6,1% em 1985, subirá para 15,1%.

A idade média da população, em quarenta anos, sairá de 19 anos para 33 anos. Esse envelhecimento deverá impactar negativamente o consumo per capita de leite. Primeiro, porque o jovem tem maior propensão ao consumo que qualquer outra faixa etária. Segundo, porque, em nossa cultura, leite é consumo de pessoas da primeira idade. No imaginário coletivo, é muito mais um produto ligado à visão clássica de saúde e nutrição que a um produto saboroso e de prazer. Talvez isso explique o fato de, em eventos, os "milk-breaks" se colocar como momentos de consumo de café e suco em maior quantidade que os produtos lácteos em geral fartamente disponíveis.

Motivo 3. O Brasil continuará a ter crescimento econômico baixo

Em 2.005 o Brasil teve o segundo pior desempenho econômico entre todos os países da América Latina, ao crescer apenas 2,3%. Em 2.006, a colocação de segundo pior voltou a se repetir. Pior que o desempenho brasileiro, somente o do combalido Haiti. O crescimento brasileiro, medido pelo PIB - Produto Interno Bruto tem sido cerca da metade do crescimento econômico mundial e quatro vezes menos que o crescimento da China.

Para que haja crescimento elevado, é necessário que a taxa de investimento do país seja compatível, ou seja, também elevado. Na Tabela 1 estão relacionados os comportamentos do investimento (público e privado) e do PIB brasileiro desde 1991. Em 15 anos, nunca o crescimento do investimento em relação ao ano anterior superou a 3%. Ao contrário, nessa série histórica foram sete os anos em que a variação foi negativa. Já o crescimento do PIB, somente em seis anos ultrapassou esta taxa percentual.

A política econômica brasileira tem buscado manter a inflação em patamares baixos. Para tal, há mais de uma década procura manter os juros elevados e busca obter superávit nas contas do Governo. Estes procedimentos inibem investimentos públicos e privados. Em função disso, o percentual do investimento brasileiro total em relação ao PIB não ultrapassa a 20%, enquanto que na China está próximo a 50%.

Esse quadro não deverá ter substancial modificação. Se tivesse, ainda teríamos o grave problema de restrição ou falta de capacidade ociosa em infra-estrutura, representada por carência de energia elétrica e infra-estrutura de logística, além da elevada carga de tributos. Tudo isso é inibidor do crescimento. Portanto, como supor que o país crescerá a taxas acima de 3%, de modo contínuo? E, se não cresce, como supor que haverá grande elevação no consumo per capita de leite?

Tabela 1. Percentual de crescimento do Investimento e do PIB. Brasil 1991 - 2005.


Fonte: Ipea (2007)

Motivo 4: O brasileiro não gosta tanto de leite

Ao contrário do que se diz, o brasileiro não gosta de leite. Ou, gosta menos que de outros bens e serviços. Dois pesquisadores da Embrapa Gado de Leite resolveram trabalhar os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE. Concluíram que uma família com renda mensal até R$ 1.200,00, caso tenha uma elevação de 100% na sua renda, aumentaria seus gastos com leite e derivados em somente 54%. Para a faixa de renda familiar entre R$ 1.200,00 e R$ 3.000,00, o comprometimento adicional com a renda duplicada seria de 48,5%, somente. Acima de R$ 3.000,00, o percentual é de 37,9%. Portanto, se o brasileiro efetivamente gostasse tanto de leite como se imagina, com uma renda se elevando em 100%, era de se esperar que elevasse em pelo menos 100% o seu consumo de lácteos. Os resultados demonstram, contudo, que o acréscimo aos gastos com aquisição de leite é menos que proporcional ao aumento da renda. E não se pode nem alegar que isso ocorre em função da saturação de consumo de leite, pois o brasileiro consome, em média, a metade do consumo médio per capita verificado nos países desenvolvidos.

Considerando-se que a produção cresce mais que o consumo; que a quantidade produzida é igual à quantidade consumida, que a população está crescendo a taxas menores e está envelhecendo, que a renda per capita não deverá crescer substancialmente nos próximos anos e que o brasileiro não gosta tanto de leite, somente é possível imaginar que o futuro nos reserva um grande excedente interno de leite. Numa estimativa conservadora, encontrei excedente de 5,6 bilhões de litros para 2.025.

No próximo artigo apresentarei e discutirei estes dados.

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GILCIMAR FERREIRA DE OLIVEIRA

RIO BRANCO - ACRE - PESQUISA/ENSINO

EM 26/05/2013

Ótimo conteúdo
ADIMAR LEONEL SOUTO

SÃO FRANCISCO DE SALES - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 02/01/2008

Parabéns sr Paulo Martins pelo artigo, pois pelo nº de cartas relacionadas mostra que o assunto é muito pertinente e as pessoas estão ligadas e com vontade de encontrar o melhor caminho.

Quanto às barreiras apresentadas para o produto, são procedentes, porém, dentre elas podemos classificar como positivo o fato da população brasileira não ser formada por degustadores contumazes de lácteos, pois isto demonstra que temos um grande potencial a ser trabalhado e esperamos confiantemente que as autoridades e demais instituições com interesse similares no segmento se mobilizem e façam algo para que possam reverter este quadro, uma vez que o produto, pela sua utilidade nutritiva, sabor e tudo mais que apresenta, não justifica o baixo consumo apresentado.

Não podemos descartar que o Brasil, pelas suas características, poderá ser o grande celeiro agrícola, onde além de abastecer o consumo interno deverá contribuir substancialmente para o abastecimento externo, quando vemos que a Índia e a China, por exemplo, estão com uma estimativa de crescimento populacional e de renda per capita considerável. Os estudos mostram que quando isto ocorre a população aumenta proporcionalmente o consumo de proteína animal e os referidos países não apresentam condições de evoluir a produtividade no mesmo nível.
JULIANO ALARCON FABRICIO

FRANCISCO BELTRÃO - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 17/02/2007

Caro Paulo do Carmo Martins,

Parabéns pelo artigo, concordo com o senhor que teremos um grande aumento na produção não acompanhado pelo consumo da população brasileira por inumeros fatores já citados. Assim sendo, restam duas alternativa: melhorar a qualidade do leite para que o Brasil passe a ser um pais exportador (temos um dos menores custos de produção de leite graças ao clima tropical) e podemos aumentar o consumo interno e muito (com programas socias citados em muitas cartas).

Acredito no aumento do consumo com a proganda - "a propaganda é a alma do negócio", por exemplo, no USA os jogadores da NBA aparecem tomando leite e fica a marca do bigodinho do leite, é fantastico. É meio bobo mas acredito que se aparecer na novela (a maioria das população assiste, é horario nobre) as belas atrizes tomando leite, é um senhora propaganda.
ANDRÉ LUIZ MACHADO

OUTRO - SÃO PAULO - VAREJO

EM 13/02/2007

Gostaria de parabenizar a matéria mencionada. Acredito que ainda há espaço no mercado de derivados lácteos e agregados de leite.

Falta incentivo governamental para pesquisas e apoio.
Por mais que sejamos críticos sobre a perspectiva do país, não podemos nos acomodar. Acho que falta da parte da cadeia produtiva e industrial de lácteos uma campanha institucional de mídia (em todos os seus canais), sobre as fontes de cálcio e quanto o leite é necessário.

É triste saber do fato que a população só consome derivados de leite sob prescrição médica devido à idade ou como alternativa, sendo que o certo seria um consumo diário e contínuo.

Até alguns anos atrás, não havia consumo interno de soja e seus derivados, com exceção do óleo de soja. Hoje, com maior vínculo de informações, as empresas de alimentos têm investido em produtos à base de soja achando um nicho, uma demanda.

Por que não fazemos uma campanha de leite desnatado para classe média? Por que não fazemos uma campanha do consumo de queijos para crianças?
Será que só banimos do nosso cardápio a gordura hidrogenada (gordura trans), porque tivemos um "puxão de orelha" da classe médica?

Cadê a bebida láctea? Uma opção mais barata e de boa qualidade para o povo. Cadê o incentivo fiscal como desconto sobre a aliquota de ICMS sob esse derivado?

Os gráficos não mentem há: demanda, há produção.
Há consciência?

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Senhor André,

É inegável que está em crescimento a consciência no setor sobre a necessidade de uma campanha promocional contínua sobre os benefícios derivados do consumo de leite. Acredito que estamos chegando ao nível da maturidade desta necessidade em toda a cadeia. Meu prognóstico é que é questão de tempo. De pocuo tempo.

Obrigado por sua correspondência.

Paulo Martins
ANTONIO CARLOS GERVA

IRATI - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 07/02/2007

Caro Amigo Dr. Paulo do Carmo Martins.

É muito gratificante ao entrar em suas matérias descritas nos artigos do MilkPoint e ver a riqueza do material e dos detalhes neles contidos.

Elogiar Vossa pessoa mais uma vez seria chover no molhado, pois sabemos de seu comprometimento que a classe toda, desde o seu princípio.

Felizes, por ter ministrado palestras para aquelas 1.000 mulheres e mais feliz por poder ter acesso e poder compartilhar esses dados com os produtores da agricultura familiar da região de Irati.

Parabéns e felicidades.

Forte e fraternal abraço.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Gerva,

Sua carta permite-me tornar público uma confidência. Quando você me confidou a fazer uma palestra em 2004 somente para mulheres, em função de um texto que publiquei aqui nesta coluna, confesso que aceitei, curioso com esta inusitada experiência que poderia ter.

Mas, não esperava encontrar 1.000 mulheres produtoras de leite reunidas. E tremi de cima em baixo. Tremi como se fosse a primeira palestra que eu estivesse fazendo na vida.

Guardo lembranças muito saborosas daquele nosso encontro...Obrigado pela oportunidade que você e a Emater me deram!

Paulo Martins
MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

CAMPINAS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 01/02/2007

Caro Paulo Martins,

Preciso confessar que não sou doutor e que meus conhecimentos de microeconomia são modestos.

Mas, como você, não acredito na idéia impregnada em nosso meio da "mão invisível" de Adam Smith. Inclusive no artigo "Qual é a música", publicado pelo MilkPoint em 2002, fiz a seguinte colocação "Penso que se Adam Smith pudesse ver tudo que aconteceu depois que escreveu o célebre livro ´A Riqueza das Nações´, talvez hoje fizesse uma revisão da obra, ao menos alertando que os conceitos continuam válidos, mas que na sua aplicação são necessários certos cuidados em função de diferenças de informações e poder econômico das sociedades desenvolvidas e em desenvolvimento".

Realmente você, eu e muitos outros leitores estamos convencidos que é necessária uma campanha institucional de longo prazo para aumentar o consumo de leite no Brasil. Da minha parte acho esta campanha institucional no Brasil muito necessária independentemente do brasileiro gostar ou não de leite, ao ver que nos EUA, onde o consumo per capita é alto e aparentemente o americano gosta de leite, continuam realizando campanha institucional estimulando o consumo de leite, enquanto aqui, onde o consumo é baixo, vejo implantar legislação e regulamentos que podem induzir o consumidor achar que o leite é um produto prejudicial à saúde de e contribuir para baixar o consumo.

O seu artigo foi brilhante, provocando significativo número de comentários. Agradeço suas colocações. O debate foi muito bom e possibilitou ver que se sobre o tema possamos ainda ter pequenas divergências no varejo, mas convergimos e concordamos no atacado.

Um grande abraço - Marcello

<b>Resposta do autor:</b>

Obirgado, Marcello.

Paulo Martins
FÁBIO MEIRELLES DE OLIVEIRA

BARRA MANSA - RIO DE JANEIRO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 29/01/2007

Prezado Dr.Paulo,

Parabéns pelo artigo, e opinando sobre o futuro exessso de leite, será que vamos entrar em uma nova cultura de leite, onde vamos produzir através de cota, e com isso aprender a ganhar o preço na qualidade do leite?

Bom, que o Sr. continue com todo seu sucesso.

<b>Resposta do autor:</b>

Olá Sr. Fábio,

Não acredito que voltaremos ao regime de cotas. Mas, certamente, qualidade será cada vez mais mecanismo de diferenciação de preços entre produtores.

Obrigado por sua carta. Continue participando.

Paulo




























HELENO GUIMARÃES DE CARVALHO

PALMAS - TOCANTINS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 29/01/2007

Ilmo. Dr. Paulo,

Inicialmente gostaria de parabenizá-lo pelo texto e pela interpretação dada aos números apresentados, porém, gostaria de tecer alguns comentários sobre os motivos apresentados por vossa senhoria:

Não existe espaço para substituição de importação de produtos, já que estas importações encolheram substancialmente, sobretudo por questões de mercado visto que existe um mecanismo retro-alimentador que faz com cada vez que aumenta os preços do leite no mercado interno aumentem as importações, gerando uma baixa dos preços que inviabilizam as mesmas.

E toda vez que os preços do leite no mercado internacional estão abaixo dos praticados internamente temos um aumento das exportações, assim, não acredito no termo excesso de leite como acontecia no passado, mas sim queda nos preços internos em função de oferta, que logo forçará a um aumento as exportações, visto que hoje a produção de leite nacional não está unicamente ligada ao mercado interno, mas também ao mercado internacional - lembramos que hoje temos superávit na balança comercial do leite. Mecanismo parecido pode ser observado na Nova Zelândia, onde quase a totalidade da produção está voltada à exportação, não dependendo do mercado interno que é muito pequeno, o que não é nosso caso.

Um aumento das condições nacionais seguramente aumentaria o consumo de produtos lácteos, sobretudo nas camadas mais baixas da população, como fica evidenciado no trabalho desenvolvido pelos pesquisadores da EMBRAPA, porém, quanto a aumentarmos a renda e não termos um aumento proporcional de consumo de derivados lácteos também pode ser interpretado da seguinte maneira:

As famílias com renda até R$1200 reais mensais ainda têm como sonho de consumo determinados produtos que não se encaixam em seu orçamento, tais como derivados lácteos, assim, com um aumento de renda passariam a consumí-los, como aconteceu desde da implantação do plano real.

Famílias com renda familiar mais alta já são consumidoras e têm acesso a todos os gêneros alimentícios, não estando o consumo destes ligados ao aumento de renda familiar. Portanto, não significa que não gostem de leite ou de seus derivados.

Uma conclusão podemos chegar se tivermos uma maior distribuição de renda e uma melhoria de renda das camadas mais baixas da população teremos um aumento maior de consumo.

Em síntese, o nosso produtor vai continuar aumentado a sua produção, porém, cada dia terá que ser mais competitivo e produzir com custos mais baixos e com mais qualidade.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Heleno,

Por diferentes linhas, em essência, temos muitos pontos concordantes.

Obrigado por participar deste tão rico debate que se instalou, trazendo sua contribuiçao deste nosso competitivo Tocantins.

Paulo Martins
MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

CAMPINAS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/01/2007

Caro Paulo,

Fiz uma leitura dinâmica do trabalho do Arievelton de Oliveira e Glauco Carvalho que você citou, concordo com as conclusões desse trabalho, mas entendo que elas não me permitem inferir que o brasileiro não gosta de leite.

Conheço o conceito econômico de elasticidade e de elasticidade renda da demanda. Lembro do conceito de elasticidade no ponto, e que uma mesma curva de demanda pode apresentar valores de elasticidade diferentes (superiores, iguais ou inferiores a unidade), e que por isso a análise da elasticidade-renda da demanda para grandes variações em torno de um ponto, como no caso da passagem de uma renda familiar de R$ 1.200,00 para R$ 2.400,00, é complexa, pois surgem fatores novos que afetam a demanda, sobretudo o atendimento de demandas reprimidas de outros bens que não eram consumidos no primeiro nível de renda familiar.

Na análise de elasticidade renda com relação aos bens, é preciso diferenciar bens inferiores de bens normais e bens de primeira necessidade de bens de luxo. O Leite me parece um exemplo clássico de um bem normal (a demanda aumenta com a renda) e de primeira necessidade (a demanda aumenta em proporção menor do que o aumento da renda).

Por isso no meu comentário considerei bons os aumentos no consumo de lácteos como resposta aos aumentos de renda considerados, e que você concorda que não é de todo mau, embora não seja a maravilha que muitos (não estou entre estes) imaginavam e visualizavam.

O importante é que você alertou que a crise é estrutural e não conjuntural, e que o quarto motivo para isso é o baixo consumo per capita de leite e a baixa renda familiar no Brasil.

Eu considero que a solução para resolver este problema estrutural é levar o consumo per capita para 180 litros ano, via aumento de renda familiar e programas sociais para as classes de renda mais baixa, e, repito, para conseguir isso precisamos contribuição de pessoas como você a instituições como a Embrapa.

Um grande abraço - Marcello

<b>Resposta do autor:</b>

Dr. Marcelo de Moura Campos,

O Sr. acaba de revelar uma faceta ainda não conhecida, ou seja, os seus conhecimentos em microeconomia. As afirmações teóricas estão corretas. Somente faltou comentar sobre o paradoxo de Giffen que, na prática, serve apenas para provas de concursos seletivos. Por isso, tenho certeza, o senhor não o comentou.

Realmente, leite é bem normal. Realmente, é bem de primeira necessidade. Realmente, se a renda crescer, cresce o consumo per capita.

Contudo, desestabilizar a tese de que "o brasileiro não gosta tanto de leite" contribui para tornar ainda mais sólida a idéia impregnada em nosso meio que, na prática, é a "mão invisível" de Adam Smith, ou seja, a oferta de leite cria a sua própria demanda. Assim, nos afastamos do nosso pensamento comum (seu, meu e de milhares de seletos leitores), que estão convencidos que é necessário uma campanha institucional de longo prazo.

Obrigado pela réplica. Creio que é a primeira vez que ocorre no site. E, nessa outra rodada chegamos a outros pontos de vista comuns que ainda não tinham sido revelados.

Grande abraço,

Paulo Martins
ALMIR INÁCIO CARNEIRO

GOIÂNIA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/01/2007

Dr. Paulo,

Vejo o seu artigo como de fundamental importância para despertar a necessidade de abrir um canal de entendimento entre representantes do governo e do setor produtivo. Eu falo aqui como produtor, que tem pouco conhecimento teórico, mas que na prática vive o pesadelo que o nosso setor leiteiro tem nos proporcionado até hoje. Eu sou daqueles que estão sempre acreditando que dias melhores virão.

Mas lendo o seu artigo, que mostra com muita profundidade o que poderá ocorrer no futuro com a nossa atividade produtiva,confesso que fico um pouco desestimulado. E agora? Como as entidades governamentais ligadas ao setor estão vendo esse diagnóstico? Será que receitariam um remédio para tentar atalhar este mal, ainda que fosse um genérico de baixo custo, ou será que não existe remédio nenhum e podemos mesmo é esperar pelo pior?

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Sr. Almir.

Agradeço pelo envio de sua carta. Acredito que o setor encontrará formas de se adequar à nova realidade do setor lácteo. No próximo artigo, tratarei desta questão.

Paulo Martins
RONALDO PEREIRA GUIMARÃES

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 25/01/2007

Caro Paulo,

Seria de muita importância que esse tipo de discussão chegasse ao governo federal, pois não se vê quase nada na mídia convencional sobre a cadeia produtiva do leite. Existe algum canal de comunicação entre o site e o governo?

O seu artigo gerou uma discussão importante com a participação de pessoas que demonstram grande conhecimento do setor, com ótimas sugestões.

Sempre penso que os governantes não conhecem bem a realidade dos produtores, pois não há uma preocupação efetiva com um dos maiores empregadores do país: a cadeia produtiva do leite.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Senhor Ronaldo,

Certamente muitos membros do Ministério da Agricultura lêem. Ademais, em setembro de 2006 fiz uma apresentação para técnicos e dirigentes da área econômica do MAPA.

Creio, contudo, que a área econômica do Governo nã lê esta coluna.

Continue a escrever para esta seção nos próximos artigos.

Paulo Martins
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 25/01/2007

Prezado Dr. Paulo,

Desejo comentar, apenas e tão somente, a questão abordada sobre a falta de aptidão do povo brasileiro em consumir leite. Entendo eu que o aspecto se cinge a um hemisfério cultural, advindo, talvez, daquela velha história dos tempos escravocratas, de que "manga com leite faz mal". Dali por diante, o leite passou a ser visto como um alimento perigoso que, se ingerido em doses amplas, poderia, até mesmo, matar.

Como no Brasil existem aquelas mentiras que, de tanto repetidas, viram verdades, criou-se na população em geral, um certo asco com relação ao produto lácteo. Mas, não é só culpa dos senhores de escravos. O correto é que, ao longo dos anos, a cadeia produtiva do leite foi deixada de lado, tanto por nós produtores, quanto pelos comerciantes e pelos governos, não tendo sido, o povo brasileiro, acostumado e educado a ingerir leite.

Em minha pequena caminhada de produtor, já ouvi pérolas as mais inacreditáveis, como o cidadão que afirmou que "leite é coisa de filhote, que o único adulto que mama é o homem". Veja a que ponto chegamos. Falta-nos, portanto, inteligência de marketing, para que, como as cervejas (única bebida que o Governo não proibiu a propaganda maciça, como se ela não fosse prejudicial à saúde, como qualquer bebida alcoólica), ou como os refrigerantes (responsáveis por grande parte dos casos de obesidade infantil), anunciar, nos mais nobres horários, nosso produto: o leite.

Os vilões, portanto, somos nós mesmos, que lidamos na cadeia, como amadores. E os amadores, o mercado engole. Parabéns pelo brilhante artigo.

Um abraço.
PAULO AFONSO VIEIRA

GOIATUBA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 24/01/2007

Caro Paulo

Todas essas informações nos deixam mais cientes da necessidade de União de toda a Cadeia Produtiva Leiteira, seja através de sindicato ou associação.
Precisamos estar atentos, e se preciso for, até reduziremos a nossa oferta (por que não?), para que não haja super oferta, e o produtor tão sacrificado que já está, não venha sofrer mais, pois, caso contrário, precisaremos mudar de atividade (por que não?).

<b>Resposta do autor:</b>

Obrigado por seus comentários. No próximo artigo vamos intensificar esta analise e discutir os cenários possíveis.

Paulo Martins
MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

CAMPINAS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/01/2007

Caro Paulo do Carmo Martins,

Parabéns pelo artigo, que revela mais uma vez, além da sua competência e conhecimento do setor, a sua preocupação com o futuro da pecuária leiteira nacional, alertando que a crise do segundo semestre de 2005 não foi conjuntural, e teve origens estruturais, citando 4 motivos para justificar sua posição e sua preocupação que no futuro poderemos ter grandes excedentes na produção de leite.

Concordo plenamente com 3 deles: que acabou-se o espaço para substituições de importações absorverem excedente, que a população crescerá menos e ficará mais velha e que o Brasil continuará, pelo menos a médio prazo, a ter um crescimento da economia baixo. Realmente esses fatos apontam para uma tendência de excedentes de produção e são aspectos estruturais que se não forem solucionados adequadamente e no tempo certo poderão resultar em crise prolongada e de grandes proporções na pecuária leiteira nacional.

Todavia, com relação ao quarto item, em função dos números apresentados, tenho uma visão diferente. É citado que pesquisa do IBGE sobre alterações no orçamento familiar ao passar da renda familiar de R$ 1.200,00 para R$ 2.400,00 mostrou que os gastos com leite e derivados aumentariam 54%, sendo que para a faixa entre R$ 1.200,00 e R$ 3.000,00 o aumento médio do consumo seria de 48,5%. Acima de R$ 3.000,00 o aumento médio seria de 37,9%.

Com base nestes números, a afirmação que se o brasileiro gostasse de leite para um aumento da renda familiar de 100% deveríamos esperar um aumento de pelo menos 100% no consumo de lácteos não me parece válida pelos seguintes motivos:

1) na faixa de renda de até R$ 1.200,00, com certeza existe uma demanda reprimida de muitos itens, como outros bens de consumo e serviços, poupança e até gastos com moradia (aquisição ou melhorias );

2) além disso, se esse aumento de 100% da renda familiar refere-se à renda bruta, temos que considerar os gastos com o imposto de renda. Numa renda familiar de até R$ 1.200,00 por mês a maior parte está isenta e a minoria que paga está limitada à contribuição de 15%. Passando a renda familiar para R$ 2.400,00, creio que a maioria estará pagando a contribuição de 15%, podendo uma parte atingir a contribuição de 27,5%. Eu não sei como foi organizada a pesquisa, mas é provável que a percepção de que o aumento da renda familiar levará a aumento no pagamento de impostos possa ter de alguma forma induzir na respostas que os gastos correntes não deveriam aumentar 100%;

3) considerando os aumentos previstos de 54%, 48,5% 37,9% para os novos valores de renda familiar, bem como que a maioria com certeza estaria nas faixas de renda mais baixas, parece razoável considerar um aumento médio de consumo de 40%, o que me parece que levaria nosso consumo per capita de 130 para 182 litros/habitante ano, um valor médio de consumo de lácteos já bastante razoável, mesmo considerando padrões internacionais.

Essas são as razões que me levam a crer que no caso brasileiro não se pode esperar que o consumo de lácteos cresça linearmente com a renda familiar, e que o fato desse crescimento linear não acontecer não significa que o brasileiro não goste de leite e derivados. Acho até mesmo que o brasileiro gosta de leite e que as respostas do aumento de consumo de lácteos com o aumento da renda familiar levantadas pelo IBGE são boas, principalmente se considerarmos a questão da demanda reprimida numa série de itens que existe nas classes mais baixas.

Mas concordo que existe um risco grande de termos excedentes significativos. Tenho visto várias projeções mostrando que a médio e longo prazo teremos excedentes de produção, da ordem de 5,6 bilhões ou mesmo mais, gerando crise longa e grave na pecuária leiteira nacional, e acho que isso poderá realmente acontecer se não forem resolvidos no tempo certo os seguintes grandes desafios estruturais:

a) assegurar que o crescimento da renda média real familiar e que programas sociais eficazes dos Governos Federal, Estaduais e Municipais permitam que as camadas menos favorecidas possam ter acesso ao leite viabilizando um consumo per capta da ordem de 180 litros ano;

b) assegurar que a qualidade no leite nacional, o custo de produção de leite lácteos e o " custo Brasil" possibilitem que o Brasil ocupe um lugar entre os grandes exportadores mundiais de lácteos.

Finalizando, na minha opinião, esses grandes desafios estruturais para serem vencidos exigem a formulação de políticas, traduzidas metas em ações concretas, monitoradas e avaliadas para que se possa ao longo do tempo fazer os ajustes necessários para garantir o sucesso das mesmas. Precisamos da ajuda de pessoas como você e de instituições como a Embrapa para vencer esses desafios grandes desafios estruturais.

Um grande abraço,

Marcello de Moura Campos Filho
Presidente da Leite São Paulo

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Sr. Marcello,

Primeiramente gostaria de manifestar meu agradecimento por sua participação nesse debate, pois eleva ainda mais o nível da discussão. Sei do seu trabalho e acompanho suas posições nos seus artigos, entrevistas e na Câmara Setorial do MAPA, onde somos membros efetivos.

Quanto à afirmação sobre o fato de que o brasileiro não gosta tanto de leite, ela se deve a um trabalho feito por dois jovens e valorosos economistas pesquisadores da Embrapa, o Arieverton de Oliveira e Glauco Carvalho. O setor ainda irá falar muito deles. O resumo do artigo cientifico foi publicado neste milkpoint e seria muito oportuno relê-lo, https://www.milkpoint.com.br/?actA=7&areaID=50&secaoID=128&noticiaID=31342.

Em economia há um termo importante chamado Elasticidade. No caso da elasticidade-renda da demanda, que é um dos vários indicadores possíveis de serem mensurados, significa aferir supostamente o que ocorre na variação no consumo de leite, quando ocorre uma variação na renda de um grupo de consumidores. É claro que é uma simulação. Mas, quanto melhores são os dados disponíveis, melhores são as simulações.

No caso do trabalho dos dois colegas, eles consideraram um riquíssimo e caríssimo levantamento de dados que o IBGE fez. Em resumo, várias milhares de famílias foram contratadas no Brasil inteiro e passaram a anotar todos os gastos de sua família, durante um certo tempo. Pouquíssimos países do mundo, mesmo entre os desenvolvidos, fazem um levantamento com tanta qualidade e intensidade como este do IBGE. Portanto, os resultados que eles acharam são frutos de dados muito bons.

Os dados consideram preços de mercado. Portanto, é a sua renda mensal e o que você faz com ela, adquirindo produtos e serviços pagos. É natural que o perfil do consumo varie em função da renda da família, da região do país em que a família se encontra e até mesmo ao longo do tempo. Por exemplo, na década de 90 o perfil de consumo de uma família típica era diferente do que é hoje.

Quanto à elasticidade-renda da demanda, tem produtos e serviços que se oconsumidor padrão tiver um aumento de 100% na renda, ele aumenta o comprometimento da renda com um produto em mais de 100%. Por exemplo, um consumidor da classe média tenderá a aumentar em mais de 100% o consumo com refeições fora de casa, ou bebidas destiladas ou passagens aéreas, se sua renda subir 100%.

Para alguém de baixa renda, é possível que o aumento proporcionalmente acima da renda seja maior para carne vermelha e gastos com saúde ou lazer. Já o arroz e o feijão terão uma elasticidade-renda muito baixa, eu suponho. Ou seja, se a renda dobrar ele não dobra os gastos com arroz e feijão.

No caso do leite, o indicador é abaixo de 70%, quando a renda aumenta em 100%. Isso não é de todo ruim, mas também não é esse mundo maravilhoso que muitos de nós imaginávamos e sempre verbalizamos.

Grande abraço,

Paulo Martins
JOSÉ GERALDO

PEDRO LEOPOLDO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/01/2007

Prezado Paulo Martins,

Li seu artigo e é muito importante os comentários nele tecido, pois quem dera se todo os produtores de leite lesse um artigo desse e tomassem tento, abrissem os olhos para o que vem ocorrendo - um marketing muito forte em cima de outros produtos que vem substituindo o nosso precioso leite, saudável e energético.

Tenho crianças pequenas, e quando vou ao supermercado ou em estabelecimentos comerciais com elas, não pedem leite ou derivados, pedem refrigerantes ou sucos, pois estão vendo propagandas o tempo todo na televisão. Até remédios eles sabem para servem, pois o marketing é forte nas redes de comunicações.

Acredito que a maioria dos produtores de leite ainda não são profissionais, não pesam como empresários rurais, não sabem muitas vezes nem quantos quilos de leite sua vaca produz. Conheço alguns produtores que não conseguem nem mesmo mudar de receptora de seu produto, mesmo sendo lesado.

Comecei a produzir leite há dois anos e já mudei de empresa receptora de meu produto por não atender às minhas necessidades. Convidei alguns produtores vizinhos para fazer o mesmo, e nenhum topou. Finalizando, acho que para sermos respeitados, precisamos de marketing, profissionalizar a categoria e produzir com consciência e eficiência, inclusive ajudar os produtores familiares que se mantêm de seu produto, o leite.

Prezado Senhor José Geraldo,

Obrigado por sua carta. É verdade que nem todos os produtores, por diferentes motivos, não estão sensibilizados, ainda, para os desafios postos. Mas, acredito que isso é o esperado. Convido o senhor a reproduzir esse e outros artigos de outros colegas e fazer chegar aos seus colegas produtores. Assim, podemos somar forças para que mais pessoas discutam a realidade do setor lácteo nacional.

Paulo Martins
LUIS FERNANDO LARANJA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 20/01/2007

Prezado Paulo,

Seria desnecessário, e até redundante, elogiar mais uma vez seu artigo, mas como as coisas boas devem ser repetidas, parabéns novamente.

Concordo plenamente com as tuas considerações e acho que em tempo é necessário refletir sobre essa análise, de forma a encontrar as alternativas viáveis (incremento das exportações, marketing, etc...). Mas acho que é preocupante a questão no médio prazo.

Gostaria apenas de levantar duas questões: primeiro, a importância estratégica do leite na merenda escolar, que já foi mencionado noutra carta com muita propriedade. Sempre achei que essa política pública deveria ser uma prioridade e vejo que mesmo sob o prisma eventualmente oportunista do governante talvez poucas políticas públicas possam ser tão benéficas quanto a distribuição de leite para crianças na escola (além de eventualmente distribuição de leite em programas assistenciais e de mitigação da pobreza). Mas certamente a pressão política organizada do setor poderia sempre ampliar esses programas (ou seja, aqui temos uma oportunidade).

Em segundo lugar, acho que temos também uma oportunidade de incremento do consumo de lácteos justamente nas famílias de mais baixa renda (com renda familiar abaixo de R$ 1.200,00) para as quais eu suponho que a elasticidade renda é mais favorável para os lácteos. Nesse sentido, políticas de combate a pobreza e de geração de renda teriam um impacto igualmente positivo para a cadeia do leite (aqui teríamos então mais uma oportunidade para o setor). Dessa forma, uma diversidade de ações sinérgicas, quando agrupadas poderiam proporcionar um cenário menos desfavorável no longo prazo.

Cordial Abraço!

Laranja.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Prof. Laranja,

Sempre é uma honra ler um texto de sua autoria ou ouvi-lo em apresentações. Honra maior é receber uma correspondência sua para esta Coluna. Vale lembrar que este espaço, ou seja, a coluna Conjuntura deste site, teve você como primeiro escriba durante alguns anos. Coube a mim a responsabilidade de sucedê-lo.

Você apresenta dois pontos. O primeiro é sobre programas sociais, dentre os quais a merenda escolar. Fui secretário de Agropecuária e Abastecimento do Município de Juiz de Fora na década de 90 e implantamos leite na merenda escolar. O resultado foi fascinante, sob a ótica social e econômica. Um dia escrevo sobre isso.

Mas, há também o salutar programa Fome Zero, desenvolvido pelo Ministério do Desenvolvimento Social em oito estados do Brasil, além de experiências estaduais importantes, como os que ocorre em São Paulo e Paraná. Portanto, já temos situações que mereceriam ser "vendidas" como alternativas de sucesso. O outro é em relação à elasticidade-renda do leite para as populações mais pobres. Realmente, é bem acima que para as demais categorias. Pretendo voltar a esses assuntos, proximamente.

Paulo Martins
ANGELO JOSE DE OLIVEIRA

MACHADO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 20/01/2007

Prezado Professor,

Gostaria apenas de parabenizá-lo pelo artigo e seu conteúdo. Há muito tempo não vejo tanta participação e comentários tão brilhantes como os que seu artigo propiciou e que poderiam até fazer parte deste site.

Como um dos participantes já falou, seu artigo possibilitou uma discussão a céu aberto muito bonita e importante para toda cadeia.

Como sempre a Embrapa está na vanguarda do conhecimento.

Parabéns e estou aguardando o próximo artigo.

<b>Resposta do autor:</b>

Senhor Ângelo,

Os comentários que estão sendo enviados para esta Coluna demonstram, de modo inequívoco, como que há espaço para discussões produtivas e como está mudando o perfil das pessoas que se dedicam à cadeia do leite, como produtores, técnicos, pesquisadores, professores. E isso é, "no frigir dos ovos", o que conta.

Obrigado pelas suas palavras e o reconhecimento à Embrapa.

Paulo Martins
JOSÉ ARMANDO BUENO

JI-PARANÁ - RONDÔNIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 19/01/2007

Dr. Paulo,

Brindo o seu conhecimento, lucidez e visões prospectiva e perspectiva do mercado. São pessoas do seu calibre que poderiam alavancar nosso desenvolvimento com mais velocidade, entretanto, nossa cultura lusitana impregnada de valores cartoriais e religiosos exercem ainda forte pressão contrária a mudanças estruturais.

Gostaria de contribuir com o debate que V.Sa. abriu, no sentido de considerar a valorização do marketing setorial como instrumento fundamental para o incremento da demanda.

Para exemplificar, a margarina (reconhecidamente um não-alimento altamente prejudicial à saúde humana) ocupa, sozinha, espaços de gôndolas em supermercados populares (faixas C, D, E com menor poder aquisitivo para lácteos gelados), equivalentes a todas as categorias de produtos lácteos gelados (manteigas, requeijões, cremes, iogurtes e leites processados). Uma distorção tamanha, construída ardilosamente pela indústria nos últimos 40 anos, através de persistentes campanhas que fizeram crer que margarinas são alimentos saudáveis, de posição superior às manteigas.

Parabéns por sua contribuição à inteligência brasileira e, aguardo seus novos artigos que, gostaria, pudessem abordar com mais propriedade esta minha pequena intervenção.

Obrigado pela oportunidade.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Senhor Bueno,

Sua correspondência toca num ponto essencial. O setor lácteo nacional avançou em muitos pontos sob a ótica de organização privada e setorial mas ainda não investiu substancialmente em marketing institucional. E por isso vem perdendo terreno. Todavia, esse nosso setor tem demonstrado uma vitalidade imensa. Creio que manifestações como a sua sinalizam que podemos estar próximo de uma nova etapa, tão necessária para o desenvolvimento do setor.

Obrigado por seus comentários.

Paulo Martins
FRANCISCO VALDERY ALVES DE MAGALHÃES

FORTALEZA - CEARÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 17/01/2007

Caro Dr. Paulo,

É muito bom poder participar de discussão com tantas celebridades do assunto, que interagem neste momento com o seu trabalho.

Por isso, sou encorajado a também participar deste verdadeiro debate a "céu aberto" e pedir que consideremos a possibilidade de que o leite e seus derivados venham a compor a merenda escolar de todas as escolas deste país, de forma coordenada, nacionalmente.

Isto até já existe em alguns municípios, mas de forma descompromissada e até com tendências político-partidárias.

Considerando que o leite e seus derivados são os melhores e mais adequados alimentos de nossas crianças, podemos imaginar o ganho que este programa de alimentação proporcionará à toda cadeia produtiva, desde que conduzida com responsabilidade e de forma a atingir e beneficiar ao produtor.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Sr. Francisco,

Leite na merenda escolar é programa oficial nos principais países do mundo. No Brasil, ocorreu a descentralização do programa de merenda escolar em 1994 e, de lá para cá, o Governo Federal repassa os recursos e são as prefeituras e os governos estaduais (depende de casa local), que são responsáveis pela aquisição e distribuição.

Penso que seria uma ação interessante e pulverizada, as lideranças locais, em seus municípios, pressionar para a inclusão do leite na merenda escolar.

Obrigado por sua participação,

Paulo Martins
SAVIO

BARBACENA - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 17/01/2007

Gostaria de inicialmente parabenizá-lo por mais essa importante contribuição gerada pelo seu trabalho de pesquisa ao setor produtivo nacional.

Gostaria de frisar que acredito em uma união de toda cadeia produtiva para que essa realidade preocupante de excesso de oferta permanente no futuro seja amenizada, ou até mesmo anulada.

Não adianta contar com ajuda governamental, já que vivemos em um país que no momento em que é vital fomentar o aumento de consumo de lácteos, nos impõe através da normativa da Anvisa a limitar o layout das nossas embalagens e ainda, o mais absurdo, nos obriga a adicionar mensagens de restrição de consumo para crianças no produto.

É preciso criar um fundo urgente de captação de recursos na fonte de pagamentos de leite de produtores e indústrias para um grande projeto nacional de propaganda e marketing em toda nossa linha de produtos.

É verdade, Paulo, que o brasileiro não prioriza o consumo de lácteos em seu orçamento familiar, mas te convido a refletir: temos feito alguma coisa para mudar isso? Temos o potencial de propaganda de empresas de refrigerantes e outras bebidas ou produtos? Será que alguma indústria de médio porte ou organização de produtores conseguirá isoladamente pagar uma inserção diária no horário nobre da maior emissora de TV do país? Será mesmo que o brasileiro não gosta de leite, ou será que ainda não descobriu o leite?

Por último, gostaria de frisar que a melhoria da qualidade de produção é fundamental para sermos significativos no mercado internacional, evitando assim o excesso de mercado. O ideal é exportar qualidade e não preço ,como fazemos hoje.

Obrigado e parabéns.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Senhor Savio,

Acredito nos dois caminhos apontados em sua correspondência, como forma de interferir no quadro que se avizinha: marketing institucional e qualidade do leite.

Obrigado por seus comentários.

Paulo Martins

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