Muitas pesquisas já foram desenvolvidas apresentando os efeitos deletérios por calor nas vacas em lactação, contudo, temperaturas elevadas também podem prejudicar as demais categorias, causando prejuízos importantes ao produtor. Sabe-se que os animais têm habilidade de se ajustarem a adversidades climáticas (ROY; COLLIER, 2012), entretanto, condições meteorológicas extremas não podem ser compensadas pelos
mecanismos termorregulatórios dos animais, resultando em alterações fisiológicas que levarão a perdas futuras.
O animal estará em
equilíbrio térmico quando a produção de calor metabólico e da atividade muscular forem eliminados para o ambiente (IUPS, 2001) pelas formas sensíveis (condução, convecção e radiação) e latentes (respiração, perspiração e sudação) com um gasto mínimo de energia, e dessa forma o bezerro conseguirá direcionar essa energia para seu crescimento e produção. No entanto, a radiação solar e o aumento da umidade relativa do ar amplificam os efeitos das temperaturas elevadas (DA SILVA, 2012), o que dificultará a eliminação de calor pelas formas sensíveis, e com isso o animal irá sofrer os efeitos do estresse por calor.
Cada espécie tem uma
zona termoneutra que é considerada a zona de conforto térmico. Bezerros criados dentro da faixa de conforto térmico gastam o mínimo de energia com sua termorregulação. Spain e Sapiers (1996) afirmam que uma temperatura de 26°C para bezerros já promove aumento das taxas respiratórias indicando necessidade de troca de calor latente. Portanto, na maior parte do Brasil o estresse por calor é um desafio a ser avaliado na criação de bezerros.
Na pecuária, a criação de bezerros é caracterizada como atividade importante, já que dela dependerá a continuidade do sistema de produção via a disponibilização de animais para renovação do rebanho. Para isso são valorizados manejos que proporcionem conforto, bem-estar e condições favoráveis ao desenvolvimento animal.
O
estresse por calor prejudica o
bem-estar dos bezerros causando perdas econômicas diretas e indiretas. É observado o aumento de mortalidade, morbidade e da energia de mantença ocasionando menor ganho de peso e desempenho zootécnico, redução da imunidade com maior susceptibilidade a doenças, aumento da temperatura retal e da frequência respiratória. Também podem ser observadas importantes mudanças comportamentais durante o estresse por calor como: maior procura por sombra, mudança de postura com tendência a se manter em pé na tentativa de eliminar calor, maior consumo de água, redução da ingestão de alimentos e evitar se locomover durante as horas mais quentes do dia (JONES; HEINRICHS, 2013).
Sabe-se que animais de raças zebuínas são mais resistentes ao calor por apresentarem menores taxas metabólicas, baixa resistência na transferência de calor dos tecidos para a pele, favorecendo a troca de calor com o ambiente, e um padrão de transpiração diferente (ROY; COLLIER, 2012), porém, são raças com menor produção de leite. Uma alternativa é utilizar cruzamento de zebuínos com raças taurinas para obtenção de bezerros mestiços resistentes ao calor e de melhor produtividade.
Além dos cruzamentos, a utilização do sistema de alojamento em casinhas tropicais tem o intuito de prevenir a exposição direta dos bezerros às condições meteorológicas na tentativa de proporcionar conforto térmico. Objetiva-se também individualizar os animais para evitar doenças (pneumonia e diarreias), comportamentos indesejáveis (a exemplo da mamada cruzada), ter um melhor controle do manejo de cada bezerro, e a quantidade ingerida de leite e concentrado. Quando os bezerros são criados em grupo, eles podem expressar seu comportamento natural, mas é importante ressaltar que o manejo dos animais deve ser criterioso para evitar que haja uma alta morbidade e mortalidade.
Na
criação de bezerros é importante o produtor se atentar para estratégias que minimizem o impacto do estresse por calor. Algumas ações que podem ser adotadas são:
- escolha de animais melhor adaptados e já aclimatados na região de criação dos bezerros;
- realizar manejo como vacinação pela manhã devido às temperaturas mais amenas;
- proporcionar área de sombra (natural e/ou artificial), cochos e bebedouros que atendam as necessidades do rebanho, oferta de água limpa e em abundância. Se os bezerros forem criados individualizados, os alojamentos sem paredes laterais devem ser posicionados no sentido norte-sul, evitando malhadouro, pois o animal busca ficar na projeção da sombra.
Referências bibliográficas:
DA SILVA, R. G. Weather and climate and animal production. Guide to Agricultural Meteorological Practices. World Meteorological Organization, Geneva, Switzerland, cap.12, p.12–21, 2012.
INTERNATION UNION OF PHYSIOLOGICAL SCIENCES - IUPS. Glossary of terms for thermal physiology. The Japanese Journal of Physiology, v.51, n.2, p.245–280, 2001.
JONES, C.; HEINRICHS, J. Heat stress in dairy calves. Penn State Extension, College of Agricultural Sciences, p.1-7, 2013.
ROY, K. S.; COLLIER, R. J. Regulation of acclimation to environmental stress, Environmental Physiology of Livestock, UK, p. 49-64, 2012.
ROLAND, L.; DRILLICH, M.; KLEIN-JÖBSTL, D.; IWERSEN, M. Influence of climatic conditions on the development, performance, and health of calves. Journal of Dairy Science, v.99, n.4, p.1-15, 2016.