Nos USA tem vaca louca, no Brasil tem ...

No jornal de domingo, 30 de abril, li a notícia do quarto caso de vaca louca nos USA, mostrando que a primeira não foi um caso isolado, mas que existem vacas leiteiras ficando loucas por lá.

Aqui no Brasil, se a mídia não está louca, nós temos povo louco, que elegeu políticos corruptos e ladrões apontados nas notícias dos veículos de comunicação. Temos também um legislativo louco, que assiste a tudo isso e não faz leis efetivas para coibir essa situação. Temos também uma justiça louca, incapaz de julgar processos com a rapidez necessária, permitindo a absolvição de bandidos por prescrição do prazo para condenação e pessoas que permanecem na cadeia depois de cumprida pena pela demora de emissão de alvarás de soltura, com muitos magistrado ganhando fortunas além de um mês extra de férias por ano enquanto os cidadãos tem apenas um.

A economia no Brasil está louca. Quando o câmbio chegou na casa de R$ 1,70/US$ a indústria gritava que isso prejudicava a exportação e quando o câmbio passou de R$ 2,00/US$ se fala que a desvalorização do real não favorece a exportação. Se baixa a SELIC e o Governo se empenha em baixar os juros bancários, mas para o consumidor os juros caem pouco e nesse ano as tarifas bancárias já subiram 2,64%. O PIB cai mas a arrecadação do Governo aumenta. O Governo quer facilitar a renegociação de dividas para não reduzir o consumo, mas o brasileiro isso pode aumentar o já elevado endividamento das pessoas.

Na nossa cadeia produtiva não é diferente. Que loucura é produzir leite sem contrato e só saber quanto vai receber por litro no fim do mês depois de entregar o leite. Temos produtores que não sabem fazer conta e por isso acham que estão ganhando dinheiro enquanto na realidade empobrecem. Os poucos produtores que conseguem uma margem operacional positiva também são loucos, pois permanecem produzindo a anos com essas margens estreitas que em alguns períodos entram no vermelho. Temos dirigentes de indústria loucos que ao terem reduzidas suas margens por alguns meses acham que é hora de repartir a conta com produtores que estão com margem reduzidas a anos quando não estão no vermelho. Temos dirigentes de classe da indústria e de produtores loucos que pouco fazem para mudar a baixa produtividade, baixa competitividade e baixa qualidade de leite na nossa cadeia produtiva, que é incapaz de abastecer ao mercado interno e  ser competitiva para exportar.

Parece que na cadeia produtiva brasileira só não temos mesmo é vaca louca. Aliás a OIE - Comissão Científica para Enfermidades dos Animais da Organização Mundial de Saúde concluiu que o Brasil, com relação a Vaca Louca, reúne condições para mudar sua classificação de risco controlado para insignificante.

Embora não temos  nenhum caso de vaca louca o risco de acontecer algum caso existe, pois ainda há gente usando cama de frango para dar para as vacas para produzir leite barato. Se o Governo julga erradicou o uso da cama de frango na alimentação do gado ao proibir essa pratica sem preocupar em fiscalizar com rigor se isso está acontecendo, é indício de loucura. Esse indício de loucura no Governo é reforçado quando há gente que pretende resolver o problema de tuberculose e brucelose em gado leiteiro colocando numa instrução normativa exigências de propriedades leiteiras livres da doença, ao invés de exigir e fiscalizar dois exames anuais para os produtores poderem vender o leite, o que seria muito mais simples e efetivo no caminho da erradicação dessas doenças.

Me assusta ver o número de loucos crescendo no País numa velocidade tal que a única solução poderá ser internar os que não estiverem loucos nos hospícios.

Mas a loucura é mundial. Os países ricos estão, se não estão em recessão estão com dificuldade para manter o crescimento, e com elevado índice de desemprego. Para sair do buraco precisam produzir e vender. Mas vender para quem? Nos países ricos o povo com elevado endividamento e com altas taxas de desemprego tem condições de comprar essa produção? Se não tem vão vender para o povo pobre dos países pobres? O economista James K. Galbraith, professor da Universidade de Austin no Texas, quando numa entrevista lhe perguntaram quando vamos sair dessa crise e ver o mundo vivendo um bom momento econômico respondeu: acho que em um século ou dois. Acho que talvez meus bisnetos vejam isso.

Há previsões que o mercado mundial de lácteos deverá ter forte crescimento nos próximos 5 anos, com a China, Índia e Sudeste Asiático representando 80% do crescimento do mercado. Também há previsões que as condições climáticas que beneficiaram as pastagens na Nova Zelândia favorecendo o aumento da produção de leite estão no fim com o fim do ciclo da La Niña. Mas no leilão GDT os preços dos lácteos de forma geral caíram, com o leite em pó integral chegando a US$ 2.776,00/Tonelada. Mas os custos de produção lá fora também são crescentes. Nos USA o preço ao produtor caiu de US$ 0,380/kg em março para US$ 0,373/kg, caracterizando uma relação leite/ração, que mede de forma grosseira a rentabilidade da atividade leiteira, de 1,45 que foi a pior relação de 2009, um ano muito ruim para os produtores de lá. Na argentina os produtores protestam dizendo que o preço mínimo teria que ser US$ 0,40/litro. E parece que não é só no Brasil que o produtor de leite trabalha sem contrato.

Quando vejo essas coisas me parece que a loucura na cadeia produtiva de leite e derivados, não é exclusividade do Brasil, está presente do mundo todo.

Não podemos resolver os problemas do mundo mas devemos tentar resolver os nossos.

A indústria e os produtores de leite brasileiros precisam se entender e começar a trabalhar desde já para conseguir sair desse cenário de loucura e passar para um cenário que possa assegurar o abastecimento interno e condições para exportar a médio prazo.

Marcello de Moura Campos Filho