ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Mecanismo do estresse em animais de produção

POR LÁZARO SAMIR ABRANTES RASLAN

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/10/2007

10 MIN DE LEITURA

0
0

Atualizado em 17/12/2020

O mecanismo estresse em animais de produção pode ser estimulado por agentes estressores (dor, medo, fome, calor, frio, sede, etc.) e causam enorme prejuízo à produção animal.

 

O que é estresse?

A palavra estresse foi usada primeiramente pelo médico pesquisador canadense Hans Selye (1936) a partir dos experimentos onde os animais eram submetidos a situações agressivas diversas (Pereira, 2005). Segundo o dicionário Aurélio é o conjunto de reações do organismo a agressões de ordem física, psíquica, infecciosa, e outras, capazes de perturbar a homeostase (propriedade auto-reguladora do organismo que permite a manutenção do seu equilíbrio interno e essencial a sua própria existência).

Segundo BROOM & MOLENTO (2004), estresse pode ser definido como um estímulo ambiental sobre um indivíduo que sobrecarrega seus sistemas de controle e reduz sua adaptação, ou parece ter potencial para tanto. Segundo Moberg (2000) estresse é definido como a resposta biológica ou conjunto de reações obtidas quando um indivíduo percebe uma ameaça à sua homeostase.

Os seres vivos em geral são passíveis de ter estresse e têm desenvolvido mecanismos para combatê-lo. Gradualmente foi aceito esta afirmação de que os animais, como o homem, também sofrem esta carga de estresse, e que podem desenvolver patologias que influenciarão no atraso do crescimento, prejuízos reprodutivos, diminuição da produção e até mesmo a morte.
 


Figura 1. Esquema da influência do estresse na produção e reprodução animal.

Moberg (2000) em seus estudos propõem um modelo teórico para discutir e reconhecer o estresse. Este modelo é usado na identificação e compreensão do estresse em toda espécie animal, inclusive os humanos. Este modelo sugere que uma resposta biológica começa a partir de três estágios gerais:

  • reconhecimento do estímulo estressante;
  • defesa biológica contra o estímulo e
  • consequências da resposta ao estresse.


O organismo desenvolve uma resposta biológica ou defesa que consiste em:

  • modificar seu comportamento;
  • ação do sistema nervoso autônomo;
  • ação do sistema neuroendócrino e
  • resposta imunológica

 

Agentes estressores

O estresse é desencadeado quando o animal entra em contato com um ou mais agentes estressores e quanto mais tempo à exposição destes, maior será o estresse e suas consequências ao organismo.
 


Figura 2. Esquema ilustrativo dos tipos de agentes estressores.

Esses agentes estressores desencadeiam reações adaptativas visando à estabilidade, reajustes neuroendócrinos e metabólicos para conter o estresse. Observando periodicamente o ambiente e o comportamento do animal é possível identificar e/ou diminuir os agentes estressores e adequar as instalações zootécnicas visando maior conforto, bem-estar e produção animal.

 

Técnicas para diminuir estresse em animais de produção

  • Conhecerem o comportamento e as particularidades dos animais;
  • Terem contato gentil;
  • Fornecer alimentação adequada e água limpa,
  • Fornecer sombra natural ou artificial;
  • Usar nas instalações de confinamento climatização,
  • Fazer pouco barulho ao manejar os animais;
  • Terem movimentos lentos ao conduzir ou perto dos animais;
  • Evitarem manejar muitos animais em áreas pequenas;
  • Evitarem colocar animais de categorias diferentes;
  • Saberem trabalhar na margem da zona de fuga;
  • Não usarem ferrão para tocar os animais;
  • Evitarem transportes estressantes;
  • Evitarem isolar ou transportar apenas 1 animal e
  • Evitarem o uso de cães.

 

Instalações

Os animais têm anglo de visão amplo e podem se assustar e refugar com muita facilidade. A pesquisadora americana Temple Grandin tem demonstrado que é possível adequar as instalações para facilitar o trânsito e o manejo de animais.

Em suas pesquisas menciona o manejo racional abolindo o ferrão, barulho e violência contra os animais. Em sua página na internet é possível ver suas pesquisas e as modificações nas instalações zootécnicas que diminuem o estresse e facilitam o manejo com os animais. Alguns exemplos são estes troncos:
 


Figura 3. Troncos fechados usados para conduzir animais. (Temple Grandin).
3 A: Tronco fechado para bovinos;
3 B: Tronco fechado para suínos;
3 C e 2 D: Tronco fechado para ovinos e
3 E: Vista panorâmica superior de um troco fechado.

Outra maneira de diminuir o estresse é o uso do enriquecimento ambiental, que consiste em modificar o ambiente físico e social do animal. Este enriquecimento vai depender da espécie, categoria e comportamento típico. É possível realizá-lo incentivando o animal a buscar seu alimento, colocando obstáculos para subirem ou desviarem e até mesmo brinquedos. O enriquecimento ambiental possibilita:

  • Melhor qualidade de vida;
  • Estimula os animais;
  • Melhora o bem-estar físico e psíquico;
  • Estimula comportamentos típicos da espécie;
  • Reduz estresse;
  • Diminui distúrbios comportamentais;
  • Diminui canibalismo e agressões;
  • Diminui intervenções clínicas;
  • Diminui mortalidade e
  • Aumenta taxa reprodutiva e produtiva.


Portanto o conhecimento dos agentes estressores e a resposta do animal a estes, consegue-se minimizar o estresse, melhorar o ambiente e consequentemente melhorar o bem-estar e produção animal.

Mecanismo do estresse 

Segundo Moberg (2000), a resposta ao estresse começa com a percepção de uma ameaça potencial (estímulo estressante) ao equilíbrio corporal (Homeostase) pelo Sistema Nervoso Central (SNC). Uma vez percebida uma ameaça, o SNC desenvolve uma resposta biológica ou defesa que consiste:

  • Resposta do comportamento
  • Resposta do Sistema Nervoso Autônomo
  • Resposta do Sistema Neuroendócrino
  • Resposta imunológica.


O organismo, ao sofrer qualquer estímulo estressante, busca de todas as formas conter e eliminá-lo: fugindo, escondendo, buscando sombra e/ou água. Estas respostas ao estresse são estimuladas pela produção de hormônios, principalmente no eixo HHA (Hipotalâmico - Hipofisário - Adrenal) com hormônios como CRH (Hormônio liberador da corticotropina) e ACTH (Hormônio Adrenocorticotropina).
 


Figura 4. Esquema sobre ativação do eixo HHA. Fonte: Autor

O hipotálamo, segundo a enciclopédia Wikipédia, é uma região encefálica importante na homeostase corporal, isto é, no ajustamento do organismo às variações externas. Por exemplo, é o hipotálamo que controla a temperatura corporal, o apetite e o balanço de água no corpo, além de ser o principal centro da expressão emocional e do comportamento sexual. O hipotálamo faz também a integração entre os sistemas nervoso e endócrino, atuando na ativação de diversas glânduals produtoras de hormônios.

A hipófise, segundo a enciclopédia Wikipédia, é uma glândula que produz numerosos e importantes hormônios, por isso reconhecida como glândula-mestra do sistema nervoso. Já a Glândula Adrenal, segundo a enciclopédia Wikipédia, é uma glândula endócrina com formato triangular, envolvida por uma cápsula fibrosa e localizada acima do rim. A sua principal função está implicada na resposta ao estresse, e consiste na síntese e libertação de hormonas corticosteroides e de catecolaminas, como o cortisol e a adrenalina.


Figura 5. A. Hipotálamo e sua influência na Tireóide, Glândula Adrenal e Gônadas

 


Figura 5. B. Hipófise
Fonte: Adaptadas da www.pt.wikipedia.org

O agente estressor, portanto, estimula a produção de CRH que ativa a síntese do ACTH, o qual irá atuar na glândula Adrenal para a produção dos glicocorticoides e catecolaminas .

 


Figura 6. Esquema da estimulação da produção do Cortisol. Fonte: Autor

Os glicocorticóides (cortisol e corticosterona) exercem funções essenciais no metabolismo de carboidratos, e são conhecidos como hormônios da adaptação. O cortisol é um hormônio importante na detecção do quadro de estresse pelos pesquisadores e técnicos competentes.

A quantidade de cortisol na corrente sanguínea pode variar dependendo do tipo, poder e duração do agente estressor. As catecolaminas (Adrenalina e Noradrenalina) são responsáveis pela excitação inicial, favorecendo a adaptação ou respostas rápidas e imediatas a um agente estressor (fugir, aumentar frequência cardíaca, etc.).

 


Figura 7. Esquema da estimulação de produção das catecolaminas. Fonte: Autor


Os glicocorticoides e as catecolaminas são responsáveis pela degradação da proteína, gordura e glicogênio para elevação de Energia (glicose) na tentativa de lutar e acabar com o estresse, retornando a homeostase. Caso o estresse não acabe, as reservas e os músculos são cada vez mais consumidos, consequentemente o animal não reproduz e nem produz, e a continuidade desse quadro leva à morte dos animais.

 


Figura 8. Esquema sobre a ação dos glicocorticoides e catecolaminas na produção de energia para cessar o estresse e retornar a Homeostase. Fonte: Autor

Outra glândula endócrina importante envolvida no estresse é a Tireoide, que libera a Tiroxina (T4), que é importante na regulação do metabolismo de carboidratos, proteína e lipídeos. Além de potencializar outros hormônios como catecolaminas que atuarão na homeostase e fim do estresse.

Percebe-se, portanto, que o estresse envolve vários processos e produção de hormônios que buscam cessar suas ações no organismo. O conhecimento desses processos e hormônios possibilita entender melhor o perigo potencial e a conscientizar os produtores e técnicos da importância do fornecimento de instalações adequadas e manejo correto aos animais.

Ao invés destes estarem lutando contra um agente estressor, os mesmos estariam reproduzindo e produzindo mais, o que geraria mais lucro a toda cadeia de produção animal, além de um produto de maior qualidade aos consumidores.

 

Fases dos estresse

O estresse desencadeia reações adaptativas através do comportamento e produção hormonal. Essas reações são realizadas em 3 fases:

A) Alarme
B) Resistência
C) Esgotamento
 


Figura 9. Fases do estresse. Fonte: Autor

A) Alarme

É a fase na qual o animal entra em contato (choque) com o agente estressor de fato e tenta respondê-lo e controlá-lo. Nesta fase é acionado o eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal (HHA); o hipotálamo recebe a informação que existe estresse, influenciando assim, a secreção do hormônio corticotropina (CRH), o qual estimulará a hipófise secretar o hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) que atuará na liberação de adrenalina, o que favorece o animal a reagir rapidamente ao estresse.

Nesta fase é que deve ser identificado o quadro de estresse, podendo assim tomar as devidas ações de redução ou fim do mesmo.

B) Resistência

Nesta fase o ACTH continua atuando na glândula adrenal para produzir os glicocorticoides (cortisol, corticosterona e cortisona) e as catecolaminas (adrenalina e noradrenalina). Os glicocorticóides têm a função de acelerar o metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídeos para disponibilizar energia à corrente sanguínea e possibilitar, com isso, o organismo lutar contra o estresse.

As catecolaminas, por sua vez, são responsáveis pela resposta imediata, ou seja, proporciona o animal correr, fugir, procurar abrigo e/ou sombra, aumentar batimentos cardíacos e a respiração.

Juntos atuarão na gliconiogênese (produção de glicogênio no fígado) e glicogenolise (degradação do glicogênio) para elevação do glucagon (hormônio que promove degradação do glicogênio) e redução da insulina (hormônio que promove armazenamento do açúcar), o que favorece a produção de glicose, que irá será usada pelo organismo na intenção de ter resistência e poder lutar conter o estresse.

A continuidade deste quadro de degradação das reservas de glicogênio leva o animal a um quadro de estresse agudo, perda acentuada de peso e problemas reprodutivos e produtivos. Nesta fase percebe-se que o animal vem perdendo peso, que não acompanha mais o grupo, fica com pelo arrepiado e abatido.

C) Esgotamento

É a fase na qual o animal apresenta um quadro de estresse agudo acentuado, ocorrendo falhas dos mecanismos adaptativos, esgotamento das reservas energéticas, disfunção hormonal e até mesmo a morte. É uma fase crítica, na qual o animal está muito debilitado e sofrendo uma carga grande de estresse.

A recuperação dependerá de cuidados extras e específicos dependendo do tipo de agente estressor que atua no mesmo. É importantíssimo acompanhar os animais, para que os mesmos não cheguem nesta fase de estresse.

 


Figura 2. Estresse prolongado. Fonte: Arquivos do autor

O conhecimento dessas 3 fases possibilita identificar se o animal está sofrendo estresse e quais reações fisiológicas os mesmos estão sujeitos a apresentar ao decorrer do período estressante. Esse conhecimento deve ser igualmente conhecido pelos funcionários, para que os mesmos sejam capazes de identificar o mais rápido possível se o animal está sofrendo algum estímulo estressor.

"O estresse produz uma série de modificações na composição química e na estrutura funcional do organismo. Algumas dessas modificações são necessárias à adaptação do indivíduo à situação atual, podem até ser mecanismos de defesa contra os agentes estressores, entretanto, algumas vezes, tais modificações podem resultar em dano ou lesão" (BALLONE, 1999).

A maneira mais fácil de reconhecer quadro de estresse nos animais é avaliar seu comportamento. Sabendo-se do seu comportamento típico e rotineiro, qualquer variação deste será identificada e poderá ajudar os funcionários a conter o estresse em seu início, não gerando assim, prejuízos e danos aos animais.

Percebe-se, portanto, que acompanhar diariamente: os dados climáticos regionais; o comportamento dos animais; eventuais agentes estressores possibilita: identificar situações de risco aos animais; modificar o manejo; fornecer meios para que os mesmos estejam em ambiente coerente à sua fisiologia e comportamento. Essas atitudes elevarão, certamente, o bem estar e a produção animal, com isso, ganhando toda a cadeia produtiva.


Bibliografia Consultada

BROOM, D.M. & MOLENTO, C.F.M. Bem-estar animal: conceito e questões relacionadas - Revisão. Revista Archives of Veterinary Sciense, v.9, n.2, p. 1-11, 2004.

MOBERG, G.P. Biological response to stress: implications for animal welfare. In: CABI publishing, 1-22 - 2000.

PEREIRA, J.C.C. Fundamentos de bioclimatologia aplicada à produção animal - Belo Horizonte: FEPMVZ, 2005.

MOBERG, G.P. Biological response to stress: implications for animal welfare. In: CABI publishing, 1-22 - 2000.

RASLAN, L.S.A. e TEODORO, S.M. Estresse. www.farmpoint.com.br/bem-estarecomportamentoanimal. 21/09/2007.

www.pt.wikipedia.org

LÁZARO SAMIR ABRANTES RASLAN

Zootecnista e mestre em produção de ruminantes. Extensionista do projeto Balde Cheio, Agente de Desenvolvimento e Extensão rural do Incaper-ES e Articulador da região norte do Programa Capixaba de Bovinocultura Sustentável.

0

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures