O mecanismo estresse em animais de produção pode ser estimulado por agentes estressores (dor, medo, fome, calor, frio, sede, etc.) e causam enorme prejuízo à produção animal.
O que é estresse?
A palavra estresse foi usada primeiramente pelo médico pesquisador canadense Hans Selye (1936) a partir dos experimentos onde os animais eram submetidos a situações agressivas diversas (Pereira, 2005). Segundo o dicionário Aurélio é o conjunto de reações do organismo a agressões de ordem física, psíquica, infecciosa, e outras, capazes de perturbar a homeostase (propriedade auto-reguladora do organismo que permite a manutenção do seu equilíbrio interno e essencial a sua própria existência).
Segundo BROOM & MOLENTO (2004), estresse pode ser definido como um estímulo ambiental sobre um indivíduo que sobrecarrega seus sistemas de controle e reduz sua adaptação, ou parece ter potencial para tanto. Segundo Moberg (2000) estresse é definido como a resposta biológica ou conjunto de reações obtidas quando um indivíduo percebe uma ameaça à sua homeostase.
Os seres vivos em geral são passíveis de ter estresse e têm desenvolvido mecanismos para combatê-lo. Gradualmente foi aceito esta afirmação de que os animais, como o homem, também sofrem esta carga de estresse, e que podem desenvolver patologias que influenciarão no atraso do crescimento, prejuízos reprodutivos, diminuição da produção e até mesmo a morte.
Figura 1. Esquema da influência do estresse na produção e reprodução animal.
Moberg (2000) em seus estudos propõem um modelo teórico para discutir e reconhecer o estresse. Este modelo é usado na identificação e compreensão do estresse em toda espécie animal, inclusive os humanos. Este modelo sugere que uma resposta biológica começa a partir de três estágios gerais:
- reconhecimento do estímulo estressante;
- defesa biológica contra o estímulo e
- consequências da resposta ao estresse.
O organismo desenvolve uma resposta biológica ou defesa que consiste em:
- modificar seu comportamento;
- ação do sistema nervoso autônomo;
- ação do sistema neuroendócrino e
- resposta imunológica
Agentes estressores
O estresse é desencadeado quando o animal entra em contato com um ou mais agentes estressores e quanto mais tempo à exposição destes, maior será o estresse e suas consequências ao organismo.
Figura 2. Esquema ilustrativo dos tipos de agentes estressores.
Esses agentes estressores desencadeiam reações adaptativas visando à estabilidade, reajustes neuroendócrinos e metabólicos para conter o estresse. Observando periodicamente o ambiente e o comportamento do animal é possível identificar e/ou diminuir os agentes estressores e adequar as instalações zootécnicas visando maior conforto, bem-estar e produção animal.
Técnicas para diminuir estresse em animais de produção
- Conhecerem o comportamento e as particularidades dos animais;
- Terem contato gentil;
- Fornecer alimentação adequada e água limpa,
- Fornecer sombra natural ou artificial;
- Usar nas instalações de confinamento climatização,
- Fazer pouco barulho ao manejar os animais;
- Terem movimentos lentos ao conduzir ou perto dos animais;
- Evitarem manejar muitos animais em áreas pequenas;
- Evitarem colocar animais de categorias diferentes;
- Saberem trabalhar na margem da zona de fuga;
- Não usarem ferrão para tocar os animais;
- Evitarem transportes estressantes;
- Evitarem isolar ou transportar apenas 1 animal e
- Evitarem o uso de cães.
Instalações
Os animais têm anglo de visão amplo e podem se assustar e refugar com muita facilidade. A pesquisadora americana Temple Grandin tem demonstrado que é possível adequar as instalações para facilitar o trânsito e o manejo de animais.
Em suas pesquisas menciona o manejo racional abolindo o ferrão, barulho e violência contra os animais. Em sua página na internet é possível ver suas pesquisas e as modificações nas instalações zootécnicas que diminuem o estresse e facilitam o manejo com os animais. Alguns exemplos são estes troncos:
Figura 3. Troncos fechados usados para conduzir animais. (Temple Grandin).
3 A: Tronco fechado para bovinos;
3 B: Tronco fechado para suínos;
3 C e 2 D: Tronco fechado para ovinos e
3 E: Vista panorâmica superior de um troco fechado.
Outra maneira de diminuir o estresse é o uso do enriquecimento ambiental, que consiste em modificar o ambiente físico e social do animal. Este enriquecimento vai depender da espécie, categoria e comportamento típico. É possível realizá-lo incentivando o animal a buscar seu alimento, colocando obstáculos para subirem ou desviarem e até mesmo brinquedos. O enriquecimento ambiental possibilita:
- Melhor qualidade de vida;
- Estimula os animais;
- Melhora o bem-estar físico e psíquico;
- Estimula comportamentos típicos da espécie;
- Reduz estresse;
- Diminui distúrbios comportamentais;
- Diminui canibalismo e agressões;
- Diminui intervenções clínicas;
- Diminui mortalidade e
- Aumenta taxa reprodutiva e produtiva.
Portanto o conhecimento dos agentes estressores e a resposta do animal a estes, consegue-se minimizar o estresse, melhorar o ambiente e consequentemente melhorar o bem-estar e produção animal.
Mecanismo do estresse
Segundo Moberg (2000), a resposta ao estresse começa com a percepção de uma ameaça potencial (estímulo estressante) ao equilíbrio corporal (Homeostase) pelo Sistema Nervoso Central (SNC). Uma vez percebida uma ameaça, o SNC desenvolve uma resposta biológica ou defesa que consiste:
- Resposta do comportamento
- Resposta do Sistema Nervoso Autônomo
- Resposta do Sistema Neuroendócrino
- Resposta imunológica.
O organismo, ao sofrer qualquer estímulo estressante, busca de todas as formas conter e eliminá-lo: fugindo, escondendo, buscando sombra e/ou água. Estas respostas ao estresse são estimuladas pela produção de hormônios, principalmente no eixo HHA (Hipotalâmico - Hipofisário - Adrenal) com hormônios como CRH (Hormônio liberador da corticotropina) e ACTH (Hormônio Adrenocorticotropina).
Figura 4. Esquema sobre ativação do eixo HHA. Fonte: Autor
O hipotálamo, segundo a enciclopédia Wikipédia, é uma região encefálica importante na homeostase corporal, isto é, no ajustamento do organismo às variações externas. Por exemplo, é o hipotálamo que controla a temperatura corporal, o apetite e o balanço de água no corpo, além de ser o principal centro da expressão emocional e do comportamento sexual. O hipotálamo faz também a integração entre os sistemas nervoso e endócrino, atuando na ativação de diversas glânduals produtoras de hormônios.
A hipófise, segundo a enciclopédia Wikipédia, é uma glândula que produz numerosos e importantes hormônios, por isso reconhecida como glândula-mestra do sistema nervoso. Já a Glândula Adrenal, segundo a enciclopédia Wikipédia, é uma glândula endócrina com formato triangular, envolvida por uma cápsula fibrosa e localizada acima do rim. A sua principal função está implicada na resposta ao estresse, e consiste na síntese e libertação de hormonas corticosteroides e de catecolaminas, como o cortisol e a adrenalina.
Figura 5. A. Hipotálamo e sua influência na Tireóide, Glândula Adrenal e Gônadas
Figura 5. B. Hipófise
Fonte: Adaptadas da www.pt.wikipedia.org
O agente estressor, portanto, estimula a produção de CRH que ativa a síntese do ACTH, o qual irá atuar na glândula Adrenal para a produção dos glicocorticoides e catecolaminas .
Figura 6. Esquema da estimulação da produção do Cortisol. Fonte: Autor
Os glicocorticóides (cortisol e corticosterona) exercem funções essenciais no metabolismo de carboidratos, e são conhecidos como hormônios da adaptação. O cortisol é um hormônio importante na detecção do quadro de estresse pelos pesquisadores e técnicos competentes.
A quantidade de cortisol na corrente sanguínea pode variar dependendo do tipo, poder e duração do agente estressor. As catecolaminas (Adrenalina e Noradrenalina) são responsáveis pela excitação inicial, favorecendo a adaptação ou respostas rápidas e imediatas a um agente estressor (fugir, aumentar frequência cardíaca, etc.).
Figura 7. Esquema da estimulação de produção das catecolaminas. Fonte: Autor
Os glicocorticoides e as catecolaminas são responsáveis pela degradação da proteína, gordura e glicogênio para elevação de Energia (glicose) na tentativa de lutar e acabar com o estresse, retornando a homeostase. Caso o estresse não acabe, as reservas e os músculos são cada vez mais consumidos, consequentemente o animal não reproduz e nem produz, e a continuidade desse quadro leva à morte dos animais.
Figura 8. Esquema sobre a ação dos glicocorticoides e catecolaminas na produção de energia para cessar o estresse e retornar a Homeostase. Fonte: Autor
Outra glândula endócrina importante envolvida no estresse é a Tireoide, que libera a Tiroxina (T4), que é importante na regulação do metabolismo de carboidratos, proteína e lipídeos. Além de potencializar outros hormônios como catecolaminas que atuarão na homeostase e fim do estresse.
Percebe-se, portanto, que o estresse envolve vários processos e produção de hormônios que buscam cessar suas ações no organismo. O conhecimento desses processos e hormônios possibilita entender melhor o perigo potencial e a conscientizar os produtores e técnicos da importância do fornecimento de instalações adequadas e manejo correto aos animais.
Ao invés destes estarem lutando contra um agente estressor, os mesmos estariam reproduzindo e produzindo mais, o que geraria mais lucro a toda cadeia de produção animal, além de um produto de maior qualidade aos consumidores.
Fases dos estresse
O estresse desencadeia reações adaptativas através do comportamento e produção hormonal. Essas reações são realizadas em 3 fases:
A) Alarme
B) Resistência
C) Esgotamento
Figura 9. Fases do estresse. Fonte: Autor
A) Alarme
É a fase na qual o animal entra em contato (choque) com o agente estressor de fato e tenta respondê-lo e controlá-lo. Nesta fase é acionado o eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal (HHA); o hipotálamo recebe a informação que existe estresse, influenciando assim, a secreção do hormônio corticotropina (CRH), o qual estimulará a hipófise secretar o hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) que atuará na liberação de adrenalina, o que favorece o animal a reagir rapidamente ao estresse.
Nesta fase é que deve ser identificado o quadro de estresse, podendo assim tomar as devidas ações de redução ou fim do mesmo.
B) Resistência
Nesta fase o ACTH continua atuando na glândula adrenal para produzir os glicocorticoides (cortisol, corticosterona e cortisona) e as catecolaminas (adrenalina e noradrenalina). Os glicocorticóides têm a função de acelerar o metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídeos para disponibilizar energia à corrente sanguínea e possibilitar, com isso, o organismo lutar contra o estresse.
As catecolaminas, por sua vez, são responsáveis pela resposta imediata, ou seja, proporciona o animal correr, fugir, procurar abrigo e/ou sombra, aumentar batimentos cardíacos e a respiração.
Juntos atuarão na gliconiogênese (produção de glicogênio no fígado) e glicogenolise (degradação do glicogênio) para elevação do glucagon (hormônio que promove degradação do glicogênio) e redução da insulina (hormônio que promove armazenamento do açúcar), o que favorece a produção de glicose, que irá será usada pelo organismo na intenção de ter resistência e poder lutar conter o estresse.
A continuidade deste quadro de degradação das reservas de glicogênio leva o animal a um quadro de estresse agudo, perda acentuada de peso e problemas reprodutivos e produtivos. Nesta fase percebe-se que o animal vem perdendo peso, que não acompanha mais o grupo, fica com pelo arrepiado e abatido.
C) Esgotamento
É a fase na qual o animal apresenta um quadro de estresse agudo acentuado, ocorrendo falhas dos mecanismos adaptativos, esgotamento das reservas energéticas, disfunção hormonal e até mesmo a morte. É uma fase crítica, na qual o animal está muito debilitado e sofrendo uma carga grande de estresse.
A recuperação dependerá de cuidados extras e específicos dependendo do tipo de agente estressor que atua no mesmo. É importantíssimo acompanhar os animais, para que os mesmos não cheguem nesta fase de estresse.
Figura 2. Estresse prolongado. Fonte: Arquivos do autor
O conhecimento dessas 3 fases possibilita identificar se o animal está sofrendo estresse e quais reações fisiológicas os mesmos estão sujeitos a apresentar ao decorrer do período estressante. Esse conhecimento deve ser igualmente conhecido pelos funcionários, para que os mesmos sejam capazes de identificar o mais rápido possível se o animal está sofrendo algum estímulo estressor.
"O estresse produz uma série de modificações na composição química e na estrutura funcional do organismo. Algumas dessas modificações são necessárias à adaptação do indivíduo à situação atual, podem até ser mecanismos de defesa contra os agentes estressores, entretanto, algumas vezes, tais modificações podem resultar em dano ou lesão" (BALLONE, 1999).
A maneira mais fácil de reconhecer quadro de estresse nos animais é avaliar seu comportamento. Sabendo-se do seu comportamento típico e rotineiro, qualquer variação deste será identificada e poderá ajudar os funcionários a conter o estresse em seu início, não gerando assim, prejuízos e danos aos animais.
Percebe-se, portanto, que acompanhar diariamente: os dados climáticos regionais; o comportamento dos animais; eventuais agentes estressores possibilita: identificar situações de risco aos animais; modificar o manejo; fornecer meios para que os mesmos estejam em ambiente coerente à sua fisiologia e comportamento. Essas atitudes elevarão, certamente, o bem estar e a produção animal, com isso, ganhando toda a cadeia produtiva.
Bibliografia Consultada
BROOM, D.M. & MOLENTO, C.F.M. Bem-estar animal: conceito e questões relacionadas - Revisão. Revista Archives of Veterinary Sciense, v.9, n.2, p. 1-11, 2004.
MOBERG, G.P. Biological response to stress: implications for animal welfare. In: CABI publishing, 1-22 - 2000.
PEREIRA, J.C.C. Fundamentos de bioclimatologia aplicada à produção animal - Belo Horizonte: FEPMVZ, 2005.
MOBERG, G.P. Biological response to stress: implications for animal welfare. In: CABI publishing, 1-22 - 2000.
RASLAN, L.S.A. e TEODORO, S.M. Estresse. www.farmpoint.com.br/bem-estarecomportamentoanimal. 21/09/2007.
www.pt.wikipedia.org