A eficiência alimentar é uma medida de quão bem suas vacas convertem os nutrientes consumidos em produtos comercializáveis: leite, carne e bezerros. Em termos básicos, a eficiência alimentar nos mostra até que ponto a dieta das nossas amigas está atendendo suas exigências nutricionais, bem como sua demanda produtiva.
Em termos mais amplos, esse índice nos aponta fatores da dieta, manejo e ambiente que afetam a digestibilidade dos alimentos e os requerimentos de manutenção do animal. Complicado? Não, basta se dar conta de que, para vacas em lactação, se o alimento ingerido não vira leite, ele se transforma em dejetos.
Avaliar a eficiência de conversão dos nutrientes consumidos em produtos comercializáveis pode ser uma ótima ferramenta para saber se você está tendo um retorno satisfatório do dinheiro investido no lanchinho das vacas, e se você pode reduzir o volume de esterco produzido na fazenda, o que em alguns casos pode ser muito interessante.
A eficiência alimentar pode ser definida simplesmente como quantidade de leite produzida (em Kg) por Kg de matéria seca (MS) consumida. Há muito tempo a indústria de carnes (aves, bovinos e suínos) usa esse índice (eficiência de conversão) como parâmetro de lucratividade e, no entanto, não é comum vermos o monitoramento da eficiência alimentar em sistemas de produção de leite. A tabela 1 mostra o impacto da melhora da eficiência alimentar no bolso de dois produtores de leite.
Notem que o Rebanho B consegue R$ 0,70 a mais por vaca/dia do que o Rebanho A, tendo melhor eficiência alimentar. Se ambos tiverem 50 vacas em lactação, isso vai significar uma perda de R$ 1.050,00 por mês para o Rebanho A. Muito dinheiro, não é? E como isso acontece?
Um dos princípios básicos da nutrição de vacas leiteiras é maximizar o consumo de MS. Quanto mais as nossas amigas vacas comerem, mais leite nos darão. De maneira geral, essa afirmativa é verdadeira, mas será que isso acontece sempre? Nos últimos meses, temos visto várias publicações focando a eficiência alimentar, e os especialistas têm falado em otimização, e não mais em maximização do consumo de MS.
A recomendação geral é de que o índice de eficiência alimentar média do rebanho deva ficar em torno de 1,5 kg de leite para cada kg de MS consumida, com vacas em início de lactação podendo chegar a 2:1 e vacas em final de lactação podendo chegar a índice baixos, em torno de 1:1. Via de regra, quanto maior a média de produção do rebanho, maior sua eficiência alimentar.
E o que fazer para conseguir aumentar a eficiência de conversão de nutrientes em leite? Há muitos fatores que afetam o desempenho das vacas, e neste artigo vamos destacar aqueles que julgamos mais importantes.
Principais fatores que afetam a eficiência alimentar:
- Mudanças nas exigências de manutenção
- Digestibilidade da dieta
- Vacas doentes
- Dias em lactação
Mudanças nas exigências de manutenção
Qualquer fator que aumente a exigência para manutenção do animal, causa uma redução na proporção de nutrientes destinados à produção. Destes os mais comuns são:
- Estresse térmico
- Caminhadas excessivas (Qual a distância entre os pastos e a sala de ordenha? Há muita lama ou pedras pelo caminho? As vacas têm que enfrentar subidas e descidas?)
- Muito tempo em pé (Falta de um lugar confortável para deitar)
Mesmo que as vacas consigam aumentar o consumo de MS para compensar o aumento nas exigências de manutenção, a eficiência alimentar vai cair, pois uma proporção maior dos nutrientes consumidos vais ser direcionada para a manutenção.
No caso de estresse por calor, tanto a produção de leite como o consumo e a eficiência diminuem. Manter as vacas em ambiente confortável e reduzir a demanda por atividade física extra permite que elas destinem mais nutrientes para produzir aquilo que efetivamente nos interessa, o leite.
Digestibilidade da dieta
Se um alimento é pouco digestível, vai contribuir muito pouco com a produção de leite. E nesse caso, o foco de atenção devem ser os volumosos – frescos ou conservados. Animais alimentados no cocho normalmente sofrem menos com a qualidade da dieta, mas no pasto...
Uma vaca em pastejo pode ser comparada a uma colhedora de forragens, porém com efeitos diferentes dos da máquina. A limitação dessa "máquina" é possuir apenas 8-9 cm de largura (distância média entre os dentes incisivos de uma vaca). Mesmo que a língua seja usada para aumentar a eficiência, a massa de forragem captada por um único bocado é de apenas 0,2 - 1,0 g MS, o que significa que para uma vaca consumir diariamente de 2,5 a 3,0% de seu PV em MS de forragem, são necessários cerca de 20 a 30.000 bocados por dia.
Para tal ela terá que andar, em média, de 3 a 4 km por dia. E esse esforço será minimizado à medida que se aumenta a qualidade da forragem disponível. Ou seja, se a pastagem for ruim, além do efeito direto do baixo valor nutricional da forragem, a vaca terá que andar muito mais para "buscar" nutrientes pasto afora.
Mas não devemos nos esquecer do concentrado. O processamento adequado dos grãos, por exemplo, é fundamental para se obter boa eficiência alimentar. A redução das partículas dos grãos de milho e sorgo é fundamental para torná-los bem digestíveis, porém a moagem muito fina pode causar fermentação muito rápida dos grãos no rúmen e aumentar a taxa de passagem dos nutrientes, o que pode prejudicar a eficiência.
Vacas doentes
Vacas com problemas de casco, retenção de placenta, acidose ruminal, ou qualquer outro problema sanitário, destinarão grande parte dos nutrientes que consumirem para tentar consertar o que está errado, prejudicando a eficiência de conversão de alimento em leite. Ou seja, não descuidem do controle sanitário do rebanho!
Dias em lactação (DEL)
À medida que o estágio de lactação avança, a eficiência alimentar diminui. Isso se deve em grande parte à redução na produção de leite, à medida em que a vaca destina mais nutrientes para a reposição das reservas corporais e crescimento do feto. A eficiência é maior em vacas em início de lactação, até o pico de produção. Dessa forma o produtor deve cuidar muito bem do manejo do rebanho, dando também grande atenção à parte reprodutiva, para evitar períodos de concentração de vacas em final de lactação, o que pode pesar duramente no bolso.
O aumento da eficiência de conversão de nutrientes em leite, mantendo-se boa média de produção no rebanho, pode melhorar o retorno financeiro do dinheiro investido na compra de alimentos e manutenção de pastagens. Esse índice é de grande valia na avaliação do desempenho de um rebanho em relação e uma determinada dieta, práticas de manejo, ambiente, etc., ou se estes fatores precisam ser melhorados.
Referências:
Hall, M. B. - What you feed vs. what you get: feed eficiency as an evaluation tool - 14th Annual Florida Ruminant Nutrition Symposium, 2003.
Gardner, C. E. - If they esta more, do they give more milk? - Hoard´s Dairyman 148(6), p. 608, 2003.