Este programa de criação intensiva de bezerras precisa ainda ser melhor avaliado pelas pesquisas e, portanto, não pode ser recomendado de forma generalizada, embora mereça consideração dos técnicos e criadores.
No último artigo publicado nesta seção (Quanto mais jovem, mais eficiente o crescimento de bezerros e novilhas) foram apresentados dados compilados do crescimento de grande número de novilhas, onde fica claro que nos primeiros meses de vida as bezerras são muito mais eficientes na conversão alimentar, o que poderia justificar maior gasto com alimentos nobres (leite ou seus sucedâneos). A criação intensiva de bezerras segue este princípio. Ela refere-se à prática de se fornecer maior quantidade de sucedâneos lácteos que o tipicamente recomendado.
Na criação intensiva, o objetivo de ganho médio é da ordem de 900 gramas por dia, durante as primeiras quatro a seis semanas de vida. Esta taxa de ganho só pode ser atingida com o fornecimento de maior quantidade (o dobro) de leite ou de um sucedâneo de leite corretamente formulado. Não se atinge este objetivo através de maior consumo de concentrado e forragem.
As vantagens potenciais do programa incluem: crescimento mais rápido (sem engordar), o que permitiria o primeiro parto mais cedo; maior eficiência alimentar, em outras palavras, menor custo por quilo de ganho; maior vigor e saúde do animal.
Na realidade não há nada realmente novo neste sistema. Esta é a forma como os bezerros sempre foram alimentados na natureza. Um bezerro ao pé da vaca normalmente mama 6 a 10 vezes ao dia e consome o equivalente a 16 a 24% do peso vivo em leite. Isto representa 2 a 3 vezes o que normalmente se fornece num sistema "tradicional" de bezerros confinados (8 a 10% do peso vivo).
O sistema atualmente em prática, que preconiza o fornecimento da menor quantidade possível de leite, baseia-se em duas premissas: em primeiro lugar o leite é a fonte de renda da fazenda; em segundo lugar, manter as bezerras ao pé das vacas não é prático nem econômico, pelo menos quando se trata de animais especializados. Em função disso, há muito os bezerros têm sido encorajados a consumir alimentos secos o mais cedo possível para acelerar o desenvolvimento ruminal, facilitar a desmama e diminuir o custo de alimentação.
Bezerros criados no sistema usual (10% do PV em leite + concentrado) têm ganhos em peso da ordem de 250 a 500 gramas/dia; por outro lado podem ser desmamados mais cedo, o que diminui a necessidade da mão-de-obra intensiva da amamentação e pode melhorar a saúde dos bezerros, já que com a desmama a ocorrência de diarréias, causa de grandes perdas na criação, diminui consideravelmente.
Esta linha de pesquisas iniciou-se em função de estudos realizados na Universidade de Cornell (EUA), que pretendiam diminuir a idade ao primeiro parto das novilhas. Os pesquisadores perceberam que na fase do aleitamento o ritmo de crescimento era limitante. Também observaram que, apesar da vaca ser basicamente produtora de leite, incoerentemente os bezerros são a única espécie que tem seu consumo de leite deliberadamente restrito na fase inicial de vida.
A partir daí, vários estudos têm sido conduzidos por diversas universidades para avaliar a possibilidade do crescimento acelerado. Uma preocupação, porém, tem sido com a "composição do ganho em peso", ou seja, quanto do ganho diário está na forma de gordura e quanto é convertido em tecido magro, que é o realmente importante, pois o objetivo é maior crescimento em estrutura e músculos.
Estes estudos têm demonstrado que é perfeitamente possível impor ritmos acelerados de crescimento, com maior eficiência alimentar, sem provocar acúmulo de gordura nos animais. No entanto, para que isto seja possível, são necessárias algumas adaptações nas dietas.
Os sucedâneos de leite utilizados para este tipo de criação precisam ter maior teor protéico, para que o potencial de crescimento, normalmente determinado pelo teor de energia da dieta, possa ser convertido na forma de tecido magro. Ainda não foi perfeitamente determinado qual seria a composição ideal deste sucedâneo, mas bons resultados parecem estar sendo obtidos com teores entre 20 e 26% de proteína bruta. Exemplo disso é o estudo da Universidade de Illinois, cujos resultados são apresentados na tabela 1.
Tabela 1: Influência da quantidade de sucedâneo e seu teor de proteína no crescimento
Observe na tabela que conforme a quantidade de sucedâneo fornecida aumentou, o ganho também aumentou, o mesmo ocorrendo em relação ao teor de proteína (pelo menos até os 22%).
Não se pode esquecer que o leite integral possui cerca de 3,7% de gordura e 3,2% de proteína bruta, o que, convertido na base seca, como os sucedâneos são comercializados, se traduziria em 29,6% de gordura e 25,6% de proteína. Sendo assim, os sucedâneos utilizados nestes programas intensivos se assemelham mais ao teor de proteína do leite, embora ainda tenham menor teor de gordura.
Comentário MilkPoint: este novo sistema, embora mais próximo do "natural", contraria as teorias em prática há muito tempo. Todavia, faz sentido em função da melhor conversão dos animais nesta fase de crescimento, quando alimentados com ingredientes de alta qualidade. No entanto, provavelmente este tipo de manejo só será econômico, se o programa de criação intensiva tiver continuidade pelo restante da vida do animal, permitindo o primeiro parto mais precoce, o que poderá compensar o maior custo inicial, com a entrada do animal na vida produtiva mais cedo e, preferencialmente, se a vida produtiva útil deste animal puder ser aumentada. Estudos neste sentido ainda devem levar algum tempo.
Fonte: Drakley, J.K. & P. C. Hoffman, 2002. What about intensive calf feeding programs? Hoard's Dairyman, March 25.