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A tecnologia blockchain e smart contracts no agrenegócio com ênfase no setor lácteo

POR TIAGO R. ZAGONEL

INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 10/11/2020

9 MIN DE LEITURA

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Este artigo busca trazer ao debate uma nova tecnologia que já está sendo aplicada mundialmente em diferentes segmentos e cadeias produtivas. Primeiramente é apresentado uma explicação sobre blockchain e Smart Contracts e após são relatadas algumas aplicações e possibilidades para o agronegócio, com ênfase no setor lácteo.

A blockchain tem despertado interesse de vários segmentos no cenário das novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Primeiramente, vimos o uso da tecnologia no contexto dos bitcoins, a moeda digital que trouxe a blockchain para a mídia e os investidores. Enquanto as diversas moedas existentes permanecem nos noticiários, as aplicações e o potencial da blockchain estão se espalhando muito além, proporcionando uma verdadeira revolução na dinâmica de outras áreas, por trazer um conjunto de oportunidades para todos os segmentos da economia, ao compartilhar o controle sobre as transações (ATZORI, 2015) .

Nessa era, as novas tecnologias estão sendo incorporadas nos mais diferentes setores pelo mundo. Isso fica mais evidente quando se observa as novidades disponíveis para o agronegócio que tem absorvido as TICs de forma ágil para aumentar sua eficiência e competitividade. Entre as possibilidades que surgem para área pública, setor industrial, comercialização, produção, entre outros, há cadeias produtivas que se utilizam da blockchain para rastreabilidade de alimentos e também para gerar contratos inteligentes ou Smart Contracts que – para além de um acordo ou contrato que geram direitos e obrigações – são autoexecutáveis, verificáveis, auditáveis, sem intermediários, não manipuláveis e seguros (WRIGHT; FILIPPI, 2015).

A tecnologia blockchain é um sistema de contabilidade compartilhada e um paradigma computacional, que é descentralizado e altamente compatível com o sistema econômico distribuído (LENG, et al., 2018). Uma linha histórica é apresentada na Figura 1.

Figura 1. Histórico do surgimento da Blockchain e dos Smart Contract. 

Histórico Blockchain&Smart Contract.png
Fonte: Zagonel et al., 2019

A nova tecnologia surge para garantir a segurança nas negociações e, para evitar um único ponto de falha, a blockchain distribui ledger ou livro-razão que são livros idênticos para todos os membros de sua rede. Desta forma, cada membro pode ver o que está acontecendo em tempo real e se alguma coisa suspeita acontecer em um nó do livro contábil, outros nós saberão imediatamente (AUNG; TANTIDHAM, 2017).

Os sistemas de comunicação descentralizados nos levam à criação da Internet pelo potencial disruptivo que a tecnologia representa. Hoje a tecnologia blockchain tem o potencial de descentralizar a maneira como armazenamos dados e gerenciamos informações, potencialmente levando a um papel reduzido de um dos mais importantes atores regulatórios em nossa sociedade que é o intermediário. Assim, tecnologia blockchain permite a criação de moedas descentralizadas, contratos digitais autoexecutáveis (Smart Contracts) e ativos inteligentes que podem ser controlados pela Internet (WRIGHT; DE FILIPPI, 2015).

Em termos gerais, as tecnologias se desenvolvem em ritmo acelerado e a aplicabilidade das mesmas vêm avançando por diferentes áreas e setores. No Quadro 1 são apresentadas algumas áreas do agronegócio que se utilizam da plataforma blockchain, sendo possível visualizar os tipos de alimentos, o objetivo ou finalidade em que são usadas, suas vantagens e resultados aos usuários.

Quadro 1. Aplicações das tecnologias blockchain na cadeia de abastecimento agroalimentar.

  
Fonte: Adaptado de Galvez, Mejuto e Simal-Gandara, (2018).

Em um exemplo da operacionalização de uma blockchain no rastreamento de bovino com Smart Contract, foi possível vislumbrar e testar regras e funções, que no futuro possam desenvolver contratos mais complexos e que se aproximem mais de condições ótimas de funcionamento. A simulação foi realizada no ambiente de desenvolvimento Remix², por ser uma ferramenta desenvolvida para trabalhar com a linguagem Solidity, mais usada para esse fim, sendo de fácil interação com o contrato e com o acompanhamento das variações dos valores das variáveis (YANO et al., 2018). Na Figura 2 é apresentada a estrutura analítica da simulação realizada com um Smart Contract visando a rastreabilidade de bovinos.

Figura 2. Estrutura Analítica do Smart Contract BoiZ.


Fonte: Yano et al, (2018).

Um dos principais fatores para adoção da tecnologia blockchain na rastreabilidade de cadeias agroalimentares está relacionada ao valor agregado em comparação com as soluções existentes nas TICs (BORRERO, 2019). A implantação de mecanismos de rastreabilidade via blockchain na cadeia produtiva da carne pode proporcionar inúmeros benefícios, podendo conferir uma maior segurança nas transações, permitindo o rastreamento de toda a produção do alimento.

Por meio das funções criptográficas, a tecnologia pode assegurar a fidelidade dos dados que circulam nas transações on-line, possibilitando realizar transferência de valores e diversos acordos comerciais. Ainda, a tecnologia blockchain permite a geração de massas de dados, podendo num futuro próximo aperfeiçoar ainda mais as cadeias produtivas com base em análise de Big Data por meio da Inteligência Artificial (YANO et al., 2018).

Os contratos inteligentes já foram mencionados como uma das aplicações futuras no texto escrito pelo fundador da Ethereum para monitorar automaticamente o seguro de safra, visto que se pode facilmente fazer um contrato de derivativos financeiros, mas usando um feed de dados do clima, em vez de qualquer índice de preços. Assim, se um agricultor adquire um derivado que paga inversamente com base na precipitação da sua região, em seguida, se houver uma seca, o agricultor irá receber automaticamente o dinheiro e, caso chover normalmente, ele não precisará do seguro e todos ficarão felizes com a bela colheita (BUTERIN, 2014).

Mas por que essa tecnologia pode ser importante para o agronegócio e o setor lácteo? 

Diante do uso emergente das TICs no campo do agronegócio, há diferentes áreas que se relacionam com as cadeias produtivas e seus elos que também estão se utilizando das novas tecnologias, podendo-se citar alguns exemplos como: WALMART (irá trabalhar com a rede IBM Food Trust para criar rastreabilidade de seus fornecedores); fábricas); BRF e CARREFOUR (as duas empresas se unem num projeto à IBM para reforçar a rastreabilidade de alimentos desde a produção até as prateleiras do supermercado, visando a impedir fraudes na produção e comercialização); CARGILL, BUNGE, ADM e LDC (as quatro empresas se uniram para criar uma plataforma mundial de exportações visando a agilizar operações globais).

Conforme é apresentado na Figura 1, havia uma inquietude histórica até o surgimento da Blockchain e dos Smart Contract.  O Quadro 1 apresenta algumas aplicações da tecnologia blockchain na cadeia de abastecimento agroalimentar, nos diferentes tipos de alimentos, salientando os objetivos para adoção da tecnologia, as vantagens e os resultados. Já o Figura 2 traz a estrutura analítica de um contrato inteligente na cadeia produtiva da carne bovina.

Em muitas situações dos esquemas apresentados é possível visualizar tais aplicações no setor lácteo, visto as diferentes possibilidades que a tecnologia proporciona aos usuários, em especial, o exemplo dos inúmeros benefícios apresentados na cadeia produtiva da carne, como uma maior segurança nas transações, permitindo o rastreamento de toda a produção do alimento, assegurando a fidelidade dos dados que circulam nas transações on-line, possibilitando realizar transferência de valores e diversos acordos comerciais, gerando massas de dados que podem num futuro próximo aperfeiçoar ainda mais as cadeias produtivas com base em análise de Big Data por meio da Inteligência Artificial.

Algumas considerações

A todo o momento recebemos informações que são geradas por plataformas virtuais a cada segundo, e nos apropriamos das mesmas para tomar as decisões no nosso campo de atuação. As várias cadeias produtivas que compõe o agronegócio estão sendo aparelhadas por equipamentos e seus sensores que geram muitos dados, que podem ser analisados e interpretados conforme o interesse individual ou grupal, podendo também ser de interesse privado ou público.

Dessa forma, existem várias possibilidades que buscam profissionalizar e deixar as cadeias produtivas mais competitivas no mercado e isso perpassa por ter dados/informações confiáveis. Conforme a contextualização, a tecnologia blockchain já é utilizada no campo do agronegócio e, em especial, na cadeia produtiva do leite em nível internacional, visando aumentar a transparência em todo o ciclo produtivo e, com isso, buscando agregar valor ao leite ou derivados comercializados ao mercado consumidor final.

A partir do monitoramento de produtores de leite, outros dados podem ser levantados e, a gestão desses dados irá gerar informações, tanto para o próprio produtor, quanto para o comprador/indústria, que poderão tomar as decisões a partir do conhecimento gerado na propriedade rural.

É possível que a qualidade do leite possa ser medida futuramente antes da própria ordenha, a partir de dados de animais leiteiros, devido aos coletores de dados alocados nas vacas. Os dados também poderão ser usados estrategicamente em novas políticas públicas, se assim as partes consentirem, para prevenção e monitoramento de patologias em rebanhos leiteiros.

Ainda, é possível que no futuro tenhamos sensores conectados a uma blockchain para não somente rastrear o leite produzido em uma propriedade, mas também, por meio dos Smart Contracts ou contratos inteligentes, tomar algumas decisões de forma automática, conforme as características já apresentadas, a partir de parâmetros previamente definidos pelas partes em um contrato formal, como por exemplo, se o leite tem tais características, ele se enquadra no padrão x, y, ou z. Isso pode definir automaticamente e de forma transparente a bonificação ou penalização do produtor conforme o padrão de qualidade do leite coletado na propriedade.

Talvez também seja possível, entre outras coisas, haver o pagamento do leite de forma automática ao produtor com base em indicadores de mercado, sem a influência humana direta na manipulação dos dados que são levados em consideração para a formação do preço do leite. Atualmente isso pode ser uma utopia, mas quem sabe daqui a alguns anos possa se tornar uma realidade, já que a questão da precificação do leite ao produtor é um dos grandes desafios da cadeia produtiva que acaba desestimulando muitos produtores a continuar na atividade ou a ter um planejamento de longo prazo e incentivar a sucessão familiar.

O criador da plataforma Ethereum, que possibilitou a criação dos contratos inteligentes, citou o campo do agronegócio e deu o exemplo que os bancos poderiam monitorar automaticamente o seguro de safra ao usar um feed de dados do clima para pagar automaticamente o prêmio ao produtor rural, em caso de frustração de safra motivada por algum evento climático. Com o sistema de monitoramento e informação atual, isso certamente iria facilitar e desburocratizar o processo, tanto para os produtores quanto para os bancos, diminuiria os custos, teria maior transparência, seria mais rápido, entre outras vantagens.  

Finalmente, percebemos que as novas tecnologias estão deixando a nossa vida mais virtualizada. Há muitas tecnologias que não nos imaginávamos usando e que sabemos ainda muito pouco sobre o seu funcionamento, porém, se ela vem para contribuir e nos ajudar, certamente iremos aderir e utilizar da melhor forma possível.

Link para visualizar o artigo base sobre a temática clique aqui

Leia também > Cinco principais inovações tecnológicas na indústria de laticínios para 2020

 

Referências

ATZORI, Marcella. Blockchain technology and decentralized governance: Is the State still necessary?. Available at SSRN 2709713, 2015.

AUNG, Y. N.; TANTIDHAM, T. Review of Ethereum: Smart home case study. In: Information Technology (INCIT), 2017 2nd International Conference on. IEEE, 2017. p. 1-4.

BORRERO, Juan D. Sistema de trazabilidad de la cadena de suministro agroalimentario para cooperativas de frutas y hortalizas basado en la tecnología Blockchain. CIRIEC-España, revista de economía pública, social y cooperativa, n. 95, p. 71-94, 2019.

BUTERIN, V. et al. A next-generation smart contract and decentralized application platform. White Paper, 2014.

DENNY, D. M. T.; PAULO, R. F.; DE CASTRO, D. Blockchain and Agenda 2030. Braz. J. Pub. Pol'y, v. 7, p. 122, 2017.

GALVEZ, Juan F.; MEJUTO, J. C.; SIMAL-GANDARA, J. Future challenges on the use of blockchain for food traceability analysis. TrAC Trends in Analytical Chemistry, 2018.

LENG, K. et al. Research on agricultural supply chain system with double chain architecture based on blockchain technology. Future Generation Computer Systems, 2018.

NAKAMOTO, S. Bitcoin: A peer-to-peer electronic cash system. Japan, 2008. SZABO, N. Smart Contract. Online,1994. Disponível em: < https://bit.ly/2rLG2Nr > Acesso em: 16 out. 2018.

WRIGHT, A.; DE FILIPPI, P. Decentralized blockchain technology and the rise of lex cryptographia. SSRN, 2015.

YANO, Inácio Henrique et al. Modelo de rastreamento bovino via Smart Contracts com tecnologia Blockchain. Embrapa Informática Agropecuária-Comunicado Técnico (INFOTECA-E), 2018.

ZAGONEL, T. R. et al. BLOCKCHAIN E SMART CONTRACTS NO AGRONEGÓCIO. In: VII Simpósio da Ciência do Agronegócio, nº 7, 2019. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Anais... Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2019. p. 47-56.

TIAGO R. ZAGONEL

Doutorando em Agronegócios - CEPAN-UFRGS.

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VOCESANTOS

ANGUERA - BAHIA - ESTUDANTE

EM 10/04/2023

Acho que o futuro está definitivamente por trás dessas tecnologias. Mas há 10 anos, ninguém, absolutamente ninguém acreditava neles!
ANTONIO JUNIOR

FLÓRIDA

EM 11/01/2021

Ver o desenvolvimento do sistema completo de rastreabilidade de produtos de origem animal é fantástico.

Em 2005 publiquei um trabalho científico nessa área e voltei minhas atenções nessa direção em 2002.

na época a indústria não tinha a visão de que isso agregaria um valor enorme para as cadeias produtivas. E não tive na época nenhum esforço por parte da indústria e governo. as tarefas das empresas eram somente para cumprir exigências, ou seja, somente mínimo do básico.
mesmo assim desenvolvi um processo de rastrear os produtos, não somente por lote, mas em unidade, me dando condições de saber além da genética materna e paterna, bem como a alimentação, informações do sistema de produção, número de lactações, a total origem de tudo com exatidão.

O conceito era: "be safe, know our origin"

Isso em produtos lácteos e em carne bovina.
TIAGO R. ZAGONEL

TRÊS PASSOS - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO

EM 11/01/2021

Olá Antonio, tudo certo?
Bacana o seu comentário. É bom saber do esforço que existe por parte de pessoas como você para melhorar o setor lácteo e de carnes. Certamente essa metodologia poderia ser aplicada em outras cadeias produtivas. A valorização dessas iniciativas só vem a longo prazo, pois são poucos que desejam ser pioneiros na inovação e preferem ficar no elementar mesmo. De qualquer forma, diz um ditado por aqui que, algumas coisas acontecem pelo amor e outras pela dor hehe...
Se puder compartilha aqui o link das suas publicações.
Obrigado pelo seu comentário. Um abraço
EM RESPOSTA A TIAGO R. ZAGONEL
PAUL

ITAQUI - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO

EM 27/04/2021

TIAGO R. ZAGONEL
Teria como me passar seu contato.
obrigado
EM RESPOSTA A PAUL
TIAGO R. ZAGONEL

TRÊS PASSOS - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO

EM 27/04/2021

Opah, sim!
Me manda um e-mail tiagozagonel@hotmail.com
Abraço

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