O jornal Correio Popular de Campinas de 20 de fevereiro de 2010, trouxe a matéria "Argentina e Brasil definem áreas para iniciar integração", onde, segundo Reginaldo Arcuri, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial diz que, nos dois dias de discussão em Buenos Aires, os governos da Argentina e do Brasil definiram oito setores, divididos em duas categorias, para dar início ao processo de integração produtiva. A segunda categoria envolve os setores de madeira e móveis, linha branca, vinhos e lácteos, considerados sensíveis e que geram frequentes atritos, mas que também têm potencial de integração.
Arcuri disse que uma nova reunião já foi marcada para o dia 17 de março, e que até lá os dois governos têm muito o que fazer para avaliar com o setor privado o que fazer, e que o papel dos governos é criar condições para que os negócios sejam mais atrativos para as empresas. A ideia é promover uma rodada de contato com esses setores para saber se eles têm interesse de que realizemos todo esse esforço.
Ora, a primeira coisa que chama atenção é que essa rodada com os setores para saber dos interesses dos mesmos deveria ter sido feita antes dessa reunião em Buenos Aires. A impressão é que puseram a carroça na frente dos bois.
Quando se fala em fazer reunião com os setores, em que as cadeias produtivas que envolvem a agricultura e pecuária, não se pode esquecer que da parte do Governo tem que haver a participação do MAPA e das entidades que representam os produtores.
Esse é o caso do setor lácteo, onde tem que ser ouvidas entidades como a CNA e CBCL, e o assunto deve passar por discussão na Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Leite e Derivados e até pela Comissão de Agricultura e Pecuária da Câmara.
Se não for possível fazer essas reuniões e discussão do assunto até o próximo dia 17 de março, que se adie a reunião para outra data. Afinal, qual é a pressa? A discussão da integração dos setores lácteos do Brasil e Argentina é de fato uma questão muito sensível, precisa ser bem discutida pela cadeia produtiva do País, e não pode ser feita a "toque de caixa", mesmo porque não há nenhuma urgência nisso. A integração dos setores lácteos dos dois países pode ser importante, mas com certeza não é urgente, e as decisões nesse sentido precisam ser bem amadurecidas, principalmente considerando a pecuária leiteira, que é atividade que gera muitos empregos e renda nesses países.
Não pode ser esquecido que o Brasil foi grande importador de leite por muitas décadas, conseguindo a autossuficiência para abastecer o mercado interno e alguns excedentes exportáveis por muito tempo, voltando a importar em 2009 o equivalente a cerca de 0,5 bilhão de litros de leite fluido, e corremos o risco de, para o futuro, voltarmos à situação de sermos grandes importadores de leite como fomos na maior parte do passado recente.
A nossa sugestão é que a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Leite e Derivados do MAPA agende uma reunião extraordinária o mais breve possível, convidando para participar membros da Comissão de Agricultura e Pecuária da Câmara e as pessoas que participaram da reunião em Buenos Aires, falando em nome do Governo Brasileiro. E que nenhum acordo de integração do setor lácteo com a Argentina seja decidido antes que o assunto tenha sido debatido por toda a cadeia produtiva de forma exaustiva e transparente.