Claudio Varella Bruna
Presidente da Associação Brasileira de Criadores de Búfalos
Quando comecei na agropecuária na década de 1980, o Brasil já era grande em algumas atividades; em outras, porém, ainda engatinhávamos. A produtividade do nosso milho era medíocre, por exemplo. Descobríamos o cerrado, a fronteira agrícola da época, aprendíamos a manejá-lo. A soja só podia ser plantada ao norte de um determinado paralelo. Começávamos, no entanto, a vivenciar mudanças que permitiram transformar nosso país nesse gigante do agro que é hoje.
Naquela época, o búfalo era apresentado como um animal portador de algumas qualidades singulares. Considerados animais precoces, mesmo nas condições ruins das nossas pastagens, possuíam, a carne mais tenra que a dos bovinos abatidos aos 4 ou 5 anos de idade. O leite era mais gordo e a safra ocorria no inverno. Por isso, quem conseguisse entregá-lo junto com o leite dos bovinos, garantiria a cota e o adicional por gordura. E que queijinho gostoso que ele virava!
A essas vantagens, o búfalo somava a crença de ser essencialmente um animal rústico, que demandava poucos cuidados. Provavelmente por isso, foi destinado às áreas do fundão. Nenhuma atenção especial foi dada às particularidades de seu manejo. Esquecido por lá, houve por bem ir embora. Deixou atrás de si a lembrança de ser o demônio das cercas que derrubava antes de sair.
O agro cresceu. Atravessou o cerrado. A soja chegou à Amazônia. Estamos entrando com tudo nos tempos da agricultura de precisão. Vislumbramos alimentar um quarto da população mundial. Somos uma potência na soja, no milho, no algodão, suínos e aves.
Lá dos fundões onde ficou esquecido, nosso rebanho bubalino tornou-se o maior do Ocidente. A mozzarella entrou no cardápio de todas as pizzarias e invadiu as gôndolas dos melhores supermercados. O leite das búfalas, alheio à crise, mantém seus preços e custa hoje duas ou três vezes mais do que o das primas malhadas. Acostumados às enchentes, os búfalos resistem bem quando os rios da fronteira transbordam, mesmo quando eles vertem leite.
Pelo caminho, juntaram-se aos bufaleiros natos, alguns novos vindos da bovinocultura. Eles deram às búfalas o tratamento a que suas vacas estavam acostumadas e se destacaram, provando que apesar de rústico, nosso animal responde muito bem à tecnologia e ao bom manejo.
Agora chegamos ao tempo do reencontro. Os búfalos vão conhecer a agricultura 4.0 dos sensores, dos drones, da internet das coisas. Quando os profissionais do leite conhecerem os búfalos, poderão valer-se de algo novo, que poderá servir como forma de tirar do nosso mercado o excesso que desvaloriza o leite bovino. Sim, é essa a ferramenta que pode diferenciar nosso produto num mercado comoditizado.
O mercado mundial está realmente saturado de leite bovino; os países com os maiores rebanhos bubalinos têm bilhões de bocas humanas para alimentar e são virtuais compradores. É importante seguirmos juntos nessa jornada. Quem disse que não podemos nos estruturar para atender a essa demanda?