A indústria alega diversos fatores que ajudaram a derrubar os preços, como baixo desempenho das exportações, situação cambial que favorece importações e inverno ameno que não influenciou em redução expressiva da produção, como é de praxe para a época. Diante deste cenário, a atividade torna-se pouco lucrativa ou até mesmo deficitária se não for conduzida com muita eficiência.
Nessas ocasiões, há um clamor generalizado por parte de produtores e lideranças do setor, que medidas sejam tomadas como forma de incentivo a produção e estímulo ao consumo, e que toda a cadeia produtiva fosse beneficiada e o produtor recebesse um preço justo pelo seu produto, ficando assim, mais entusiasmado para conduzir seu negócio, o que é salutar. Mas desde que foi abolido a tabelamento do preço do leite no Brasil, o que vigora é a velha lei da oferta e procura. Embora na maioria das situações, o produtor não leva vantagem nas negociações uma vez que o leite é um dos produtos que mais sofre influências externas na formação de preço, ou seja, o produtor não é formador de preço, e sim um tomador.
Porém, o que queremos aqui no momento é fazer uma reflexão sobre o que se chama de preço justo. Para o produtor esse preço seria um valor que no mínimo pagaria seus custos de produção e ainda lhe sobrasse uma margem de lucro, permitindo assim continuar na atividade. Mas como sabemos, em uma economia de livre mercado diversos fatores interagem para formação do preço dos produtos e essa situação nem sempre acontece. Do ponto de vista do consumidor o melhor preço é sempre o menor, uma vez que aumenta seu poder de compra. Em contrapartida o governo também tem todo interesse em que o preço dos produtos lácteos fique mantido em baixos patamares, alegando que seja responsável pelo aumento da inflação.
O leite é um dos alimentos mais completos que existe na natureza, do ponto de vista nutricional, pois contém a maioria dos nutrientes fundamentais de uma alimentação saudável, que por si só reforça a importância desse alimento para a saúde humana. Muito interessante seria se os preços dos alimentos fossem estabelecidos de acordo com o seu valor nutritivo, protéico ou energético. Dessa forma já imaginamos que o leite ganharia em disparada, quando comparado com outros alimentos.
Com base nesse princípio, o pesquisador Michael Griffin, da FAO, fez um interessante estudo comparando o preço do leite, bebidas de cola (refrigerantes) e suco de frutas. De acordo com seus resultados, o valor do leite deveria ser bem superior ao das outras bebidas comparadas, por conter mais proteína, gordura, minerais, açúcares, vitaminas, energia e sólidos totais.
Seguindo essa linha de raciocínio, extrapolando esses valores para nossa realidade local, fizemos uma comparação com os preços médios atualmente praticados no comércio em Goiânia/GO, e acrescentamos à lista, mais dois produtos que hoje disputam mercado com o leite, uma bebida a base de soja e a água de coco industrializada. Então chegamos aos seguintes valores, conforme mostra a tabela abaixo.
Tomando como exemplo o valor encontrado para a energia (Kcal/litro) do refrigerante de cola, já que se trata de um dos produtos com menor valor nutritivo dentre os listados e que não possui minerais e proteínas, concluímos que o consumidor paga, voluntariamente, porém influenciado por todo um aparato de publicidade, a quantia equivalente a R$ 0,0125 por caloria. Logo, se fosse pagar por 800 calorias, que é a quantidade contida em um litro de leite integral, desembolsaria exatamente R$ 10,00 por litro.
Temos como comparação o preço do leite na gôndola do supermercado e o preço pago ao produtor, que gira historicamente entre 30 e 40% do valor do primeiro. Partindo desse raciocínio, o preço pago ao produtor hoje, deveria ser entre R$ 3,00 e 4,00 o litro.
É um assunto bastante polêmico e que gera muitas discussões, desde o disparate da comparação do preço de um litro de leite com um de água mineral, que muito indigna os produtores, até os preços dos combustíveis (etanol, gasolina e diesel) que entram em seus custos de produção, sempre custam mais que o valor do leite ao consumidor final.
Conjeturas a parte, a principal lição que podemos tirar dessa comparação é que para a atividade como um todo continuar progredindo, faz se necessário cada vez mais união da classe produtora, através de suas entidades de classe, juntamente com toda cadeia produtiva do agronegócio do leite unir esforços para enfrentar os desafios. Também podemos concluir que a concorrência atualmente, não se trata apenas de ser entre o produtor A ou B, entre o laticínio X e Y, mas com todos esses produtos listados e outros mais que disputam suas fatias no mercado.
Qualidade, inovação, ações agressivas de marketing, deverão ser suas preocupações constantes, pois a concorrência com outros produtos é cada vez mais acirrada pela preferência do consumidor.