Em nosso quotidiano de consultoria em pecuária de leite, muitos são os questionamentos que recebemos sobre a atividade. Algumas destas questões acabam por serem mais marcantes do que outras e ficam para sempre gravadas em nossa memória.
Digo isso porque estou iniciando a formatação deste artigo pensando exatamente em responder uma destas questões que há algum tempo recebi de um cliente preocupado com os rumos de sua atividade. Naquela ocasião, eu e o cliente estávamos planejando a sua empresa para um período de 5 anos. A principal orientação era sobre a necessidade de melhorar sua produção diária e também a produtividade por vaca. Em um determinado momento, o cliente disse o seguinte, "mas doutor eu estou produzindo 300 litros e obtendo um prejuízo de 3 centavos por litro e o senhor ainda quer que eu aumente a produção. Se eu passar a produzir 600 litros, dentro de 3 anos, eu estarei com um prejuízo de 6 centavos ". Isso para mim, era um questionamento, mas para o produtor era quase uma afirmativa. Ele tinha quase certeza que se aumentasse a produção iria aumentar o prejuízo. Com alguns poucos argumentos mostrei a ele que não era bem da maneira que estava pensando e fizemos o planejamento, passamos a executá-lo, e hoje 3 anos após, ele está com uma produção diária maior e não está com a atividade no vermelho como naquela ocasião.
Portanto, ao contrário que muitos imaginam, quando se utiliza tecnologias adequadas, o aumento da produtividade e da quantidade de leite produzida (escala de produção), continuam sendo o melhor caminho para se reduzir custos e conseqüentemente aumentar as margens.
Isso ocorre devido a diluição de vários custos considerados fixos, devido a otimização no uso de determinados fatores de produção como mão de obra, animais, terra, máquinas e benfeitorias.
Com as informações obtidas ao longo de 5 anos através do acompanhamento de 15 fazendas participantes do projeto Educampo de Ituiutaba-MG, podemos verificar os efeitos que a melhoria na escala de produção exercem sobre a diluição dos custos.
Com base na evolução destes números verificamos claramente o efeito positivo do aumento na produção diária e também da produtividade por vaca, sobre a redução dos custos operacionais totais, fator que foi fundamental no aumento das margens obtidas neste mesmo período, visto que o preço do leite, com exceção de 2001, praticamente se manteve estável nestes 5 anos.
Em 2001, a produção diária do grupo era de 426 litros de leite com produtividade de 8 litros por vaca dia. Para esta realidade o custo de produção foi de R$0,528/Litro com uma margem líqüida de 1,3 centavos por litro de leite.
No ano de 2005 a produção deste mesmo grupo de fazendas foi de 706 litros por dia e a média das vacas foi de 10,46 litros/dia, totalizando um aumento de 66% e 30% respectivamente em relação a 2001. Neste último ano analisado houve uma redução no custo de produção em 7,5%, fechando o período em R$0,48/Litro. Isso proporcionou uma margem liquida de leite de 9,1 centavos por litro de leite.
Vejam que na medida que se aumentou a produção e a produtividade, houve uma redução no custo operacional total (despesas diretas mais as depreciações) e conseqüentemente uma melhoria nas margens obtidas.
Para que isso pudesse acontecer, houve uma reorganização destas propriedades ao longo deste período, com uma ênfase muito grande sendo dada ao gerenciamento da atividade. Neste sentido, priorizou-se o acompanhamento detalhado dos custos de produção, melhoramento genético, seleção e manejo nutricional do rebanho.
No gráfico abaixo tem-se a evolução da produção diária por vaca em lactação de 2001 até 2005.
Os números ainda são bastante modestos, mas o importante é verificarmos que independente do sistema de produção adotado (pasto, confinamento ou misto) é fundamental estar sempre procurando a evolução e ser eficiente na utilização dos fatores de produção. E esta eficiência passa obrigatoriamente pela melhoria da produtividade.
Quando falo em produtividade, considero muito importante a produção por vaca/dia. Isso porque ela é a base para todos os demais indicadores de eficiência na pecuária leiteira. Por exemplo, a produção por hectare ano (litros/ha/ano ), depende do número de vacas por hectare e da produção diária das vacas. Se a lotação for alta e a produção por vaca for baixa, o sistema não consegue equilíbrio de custos e a produção por hectare/ano não será satisfatória. Portanto para se produzir bem por hectare, primeiro é preciso ter uma boa produção por vaca/dia.
O gráfico acima mostra a evolução da produção diária das fazendas participantes do Educampo em Ituiutaba-MG. Parece não haver muitas outras alternativas. Uma das melhores maneiras de se reduzir custos na pecuária leiteira, não é uma simples redução de despesas, mas sim investir no aumento da produtividade e conseqüentemente da produção diária. Porém esta melhoria precisa ser muito bem planejada para não se tornar apenas mais um ônus e não se reverter em benefício para a atividade.
"Matar um leão por dia", este é o dito popular que mais retrata a realidade do produtor de leite. Ele necessita constantemente estar aumentando sua produção para viabilizar economicamente seu negócio, até alcançar o equilíbrio desejado. Quem percebeu esta necessidade, está tendo boa evolução e está sobrevivendo com êxito. Por outro lado, aqueles que continuam acreditando que aumentar a produção significa ampliar o prejuízo e estagnaram nos mesmos patamares baixos produzidos há 4 ou 5 anos atrás, não estão conseguindo se sobressair.
A atividade é rentável, continua sendo uma das melhores do setor agropecuário, porém precisa ser bem administrada e a fazenda ser conduzida com uma verdadeira empresa. Empresas que não possuem um bom histórico zootécnico e financeiro para proporcionar informações precisas no momento dos planejamentos e definições de metas, dificilmente irão prosperar na produção de leite.
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1 Médico Veterinário, Consultoria Técnica e Gerencial em Pecuária