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Preço e Lucro do Leite em 2004

POR SEBASTIÃO TEIXEIRA GOMES

ESPAÇO ABERTO

EM 04/01/2005

2 MIN DE LEITURA

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Nos últimos meses, tenho conversado com produtores de leite de diversas regiões do país e ouvido deles sempre a mesma opinião: "Este ano, o preço do leite foi bom". Alguns chegam ao exagero de dizer que, há muitos anos, o preço recebido pelo leite não foi tão alto. Todos com quem conversei estão torcendo para que o preço do leite, em 2005, tenha o mesmo comportamento de 2004.

Apesar de toda essa euforia, a análise mais aprofundada dos dados revela uma realidade diferente daquela manifestada pelos produtores. Isto porque o preço recebido pelo produtor, de janeiro a novembro de 2004, foi menor que o de janeiro a novembro de 2003, conforme dados da Tabela 1.

Tabela 1 - Preço recebido pelo produtor de leite e preço pago pelo concentrado para vaca leiteira, em Minas Gerais. Dados corrigidos pelo IGP para novembro de 2004


Fonte: Indústria laticinista.

Os dados apresentados referem-se ao estado de Minas Gerais, porém representam, com aceitável aproximação, a realidade do país.

Na montagem da Tabela 1, os preços do leite e do concentrado para vacas leiteiras foram corrigidos pelo Índice Geral de Preços (IGP-DI). Tal procedimento é usual em análises dessa natureza, quando se comparam preços de diferentes datas.

A questão é a seguinte: Se o preço do leite caiu, por que os produtores estão dizendo o contrário? Para responder a esta pergunta, é preciso examinar os comportamentos dos componentes do lucro, objetivo principal do produtor. O preço é um dos componentes do lucro, razão por que ele não explica tudo.

O lucro é o resultado da diferença entre a renda bruta (venda de leite e de animais) e o custo de produção. Em outras palavras, o lucro é igual à quantidade produzida vezes o preço do produto menos as quantidades de insumos e serviços vezes os respectivos preços. Para facilitar o entendimento, considera-se que o valor da venda de animais tenha sido transformado em equivalente litros de leite e que o custo de produção tenha sido sintetizado nos gastos com concentrados para vacas leiteiras. Diga-se, de passagem, que o concentrado é o principal componente do custo de produção da maioria dos produtos comerciais.

Com essas simplificações, pode-se expressar assim o lucro:


em que

L = lucro;
Y = Quantidade produzida de leite;
Py = Preço do leite;
X = Quantidade consumida de concentrado;
Px = Preço do concentrado.

A partir da expressão anterior, podem-se determinar duas relações fundamentais para a explicação dos componentes do lucro:


À medida que aumenta a produtividade, aumenta também o lucro, se os termos de troca forem mantidos constantes ou crescerem. Do mesmo modo, à medida que aumentam os termos de troca, aumenta também o lucro, se a produtividade for mantida constante ou crescer.

A partir dos argumentos apresentados, fica fácil concluir que aquela opinião do produtor não está baseada no aumento do preço do leite, como ele imagina, mas na elevação dos termos de troca, em razão da queda do preço do concentrado (preço corrigido), puxado pelas quedas dos preços da soja e do milho.

Em análise de curto prazo, por exemplo, de um ano para o outro, os termos de troca têm maior força de explicação nas variações do lucro. Em prazos maiores, a produtividade assume papel de destaque. O comportamento da economia da produção de leite do país, a partir do início dos anos 90, mostra que o aumento significativo da produtividade compensou a queda dos termos de troca (puxados pela queda do preço do leite) e garantiu a lucratividade dos que conseguiram tal compensação.

Finalmente, vale repetir que, como a maximização do lucro é o objetivo principal, o empresário deve levar em conta todos os componentes para alcançá-la, e não apenas o preço do leite.

__________________________________________________________

Escrito em 27/12/2004.

SEBASTIÃO TEIXEIRA GOMES

Professor Titular da Universidade Federal de Viçosa

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MARCELO R. MARTINS

ALFENAS - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 02/02/2005

Prezado Prof. Sebastião,

Comungo com a sua idéia sobre lucratividade. Aqui no Sul de Minas está ocorrendo o descrito. Adiciono o papel importante das associações de produtores para granelização e venda em conjunto do leite e compra de insumos.

Parabéns pelo artigo: Simples, Claro e objetivo.

Marcelo
TURÍBIO MENDES BARBOSA

SÃO PAULO - SÃO PAULO

EM 08/01/2005

Senhores, tenho observado nesta última década a agonia dos pequenos e médios produtores de leite. Esta atividade está passando por uma reestruturação, pois aqueles que se profissionalizaram mal conseguem sobreviver. Outros sucumbiram, venderam suas propriedades e mudaram para os grandes centros. Aquela tradição que passava de pai para filho quase já não existe mais. Tudo isso vem acontecendo em razão do baixo preço do leite pago ao produtor. Os produtores que ainda insistem em continuar nesta atividade, com muito esforço, conseguiram diminuir os custos de produção, mas mesmo assim não compensa financeiramente investir neste ramo. É um péssimo negócio. Os que permaneceram fazem isso por amor ou não tem outra opção. Enquanto isso, os sindicatos dos distribuidores e padarias determinam a margem de lucro, para processar e revender o produto. Pergunto: por que o sindicato nacional dos produtores de leite também não determinam um preço conveniente aos produtores, para venderem seus produtos aos distribuidores? Vejo que o sistema está viciado, a continuar como está. Os dirigentes dessa classe, que supostamente deveriam defender os interesses dos produtores, não o fazem a contento. No entanto, continuam na direção das associações há muitos anos. Fizeram deste posto seu emprego. Conheço um que está há mais de 15 anos presidindo uma associação, porém não é mais produtor de leite. Desistiu da atividade. Mas continua sendo presidente da associação, porquê é um bom negócio, melhor do que ser produtor de leite. Pergunto: o que os produtores podem esperar dele? Com respeito a esta velha geração, o seu tempo já acabou, deixem a nova geração tomar as diretrizes do processo. Outrossim, o processo de eleição deve ser alterado, não permitindo a reeleição dos presidentes e nem mesmo sua remuneração, para evitar que os maus intencionados façam carreiras em detrimento da classe produtora. Faço agora um grito de liberdade desta sofrida classe. Senhores produtores, associações, sindicatos de todo o Brasil, unam-se, planejem, definam metas e lutem unidos, para reconquistarem suas dignidades. Outrora fui um produtor de leite.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado senhor Turíbio,

Gostei da sua relação com a medicina. Se o senhor não cobrar "royalties", vou passá-la a usar em minhas palestras.

Tenho falado constantemente sobre o que este processo de mudanças provocou nas fazendas. Aliás, pelos próprios comentários sobre o atual artigo, acho excelente abordar este tema nas próximas colunas. Vou ver se é possível.

É muito fácil julgar o produtor como ineficiente, o difícil é lembrar que as mudanças exigiam investimentos e os investimentos demandam capital.

Muito obrigado pela participação e pelas falas sobre o artigo.

Um forte abraço

Maurício

JOSÉ JOAQUIM OTAVIANO PIMENTEL

VIÇOSA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 06/01/2005

Acredito que o produtor terminou o ano achando que o preço do leite foi bom porque houve uma significativa recuperação de preço nos últimos meses do ano. O produtor que havia adequado o seu padrão de despesas ao orçamento reduzido pela queda no preço do leite, teve uma "ilusão de ótica", quando os preços reagiram um pouco.

A permanência de uma grande parcela de produtores de leite na atividade está ocorrendo às custas de um empobrecimento constante, ano após ano. Aqueles que foram empurrados a holandesar seu plantel na busca de alta producão por vaca, são o maior exemplo de empobrecimento e abandono da atividade.

Gostaria que alguém me provasse que houve queda no custo de produção de leite no Brasil nos últimos 5 ou 10 anos.
Na verdade o nosso produtor aumentou tremendamente a sua eficiência em produzir leite a custo cada vez menor, mas por falta de organização da classe, os benefícios desta melhoria de eficiência ficaram com a grande indústria e não no meio rural.

Sonho com o dia em que nossas lideranças neste país defendam a causa dos produtores de leite e não das grandes indústrias
MARCIO OITICICA DE SOUZA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 06/01/2005

Com o devido respeito pelo autor da matéria, dizer que R$ 0,54/litro é um preço bom, é "desconhecer" o verdadeiro lado do produtor. Não, não é um preço bom!

A indústria não deveria remunerar o produtor em menos de US$ 0.25/litro. Nos preços atuais, o prejuízo é certo, e a indústria continuará lucrando à custa do sofrido produtor, e, ao mesmo tempo, continuará carente de excedentes de matéria prima/leite para exportação. Falta visão à indústria!

É hora de se repassar o ônus de se produzir leite de qualidade neste país à sociedade, e por um fim aos privilégios de determinados segmentos da cadeia produtiva do leite. Já passou da hora de se defender o produtor de leite neste país!
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 05/01/2005

Prof. Sebastião,

A abordagem é bastante interessante. A partir dos dados apresentados, fico me perguntando: me parece que a impressão de que 2004 foi superior a 2003 é maior do que a diferença nas relações de troca permitiria supor. Em outras palavras, 2004 não foi tão bom assim, ainda que tenha havido alguma melhoria na relação de troca leite/ração. Apesar do curto prazo, será que não temos aqui algum efeito de produtividade? Será que com os menores preços dos alimentos a suplementação não foi aumentada e, com isso, a produção total cresceu, aumentando o lucro total?

Abraço,

Marcelo

<b>Resposta do Autor</b>:

Marcelo,

Acredito que seus comentários sobre o efeito da produtividade são procedentes. Ainda assim, quero enfatizar que o <b>efeito maior</b> vem da queda do preço da ração.

Abraços
Sebastião Teixeira Gomes
MAURÍCIO PALMA NOGUEIRA

CASA BRANCA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 05/01/2005

Prezado professor Sebastião,

Concordo com as conclusões apontadas em relação aos resultados de 2003 e 2004.

Excelente e oportunas as observações.

Um grande abraço e um ótimo 2005.

Maurício

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