Mineiros integrantes da Missão Técnica da FAEMG, com o queijo mineiro em mãos, navegaram nas águas do rio Sena, contemplaram a Torre Eiffel, passaram beirando os Alpes Suíços, visitaram fortes, túneis e caves onde a temperatura baixa e a umidade alta fazem a diferença na maturação dos queijos.
Proprietário da Queijo d'Alagoa-MG, pioneiro na venda de queijo artesanal pela internet. Ganhou medalha de bronze no Mundial da França, com o queijo Alagoa Grande
A viagem foi emocionante, inesquecível e incrível. Permitiu conhecer a fundo a organização avançada da cadeia queijeira da França, onde o processo é continuado e gradativo. Cada ator tem seu valor, papel e devido respeito. A começar pelo produtor de leite, que respeita a capacidade produtiva da sua terra, dos seus animais (vacas, ovelhas e cabras) e do meio ambiente. Ao mesmo tempo, se respeita, usando da tecnologia e de ferramentas para seu conforto e bem-estar.
O leite segue para o ateliê, onde o artesão fará o queijo, respeitando normas tradicionais e padrões de qualidade. Na sequência, o queijo recém-nascido vai para as mãos do afinador, o curador, chamado de afinner. As tábuas são de madeira e as caves, subterrâneas, onde são mantidas teias de aranha como forma de proteger os queijos das moscas. É elevado o controle da temperatura e da umidade.
Somente depois de todos esses cuidadosos procedimentos é que o queijo segue para as butiques, para chegarem ao mercado. No final do processo aparece o consumidor francês, que reconhece o queijo como uma obra de arte e consome quase toda a produção do país. De todo o queijo Comté produzido na França, 90% são consumidos pelos franceses. Apenas 10% são exportados.
Olhando para o céu, um emaranhado de rastros de aviões; olhando para o chão, roças irrigadas, com hélices de energia eólica e caminhos asfaltados para facilitar a vida do homem do campo. Em todas as vilas há uma agência da Credit Agricolé. É perceptível o quanto estão estruturadas.
É de doer o coração voltar pra nossa dura realidade. Em Alagoa, no Sul de Minas, estradas intermunicipais não são asfaltadas. O produtor, figura do brasileiro, vai na raça, com a cara e a coragem defender o 'queijo' nosso de cada dia! Com medo de ser autuada a maioria vende o queijo clandestinamente, na calada da noite e nas frias madrugadas.
Mas, esta viagem fez acreditar que existe um caminho: a organização dos produtores. Desta forma dá para poder sentar com as autoridades e dialogar. Somente com generoso dedo de prosa, regado com bom senso e respeito, é possível chegar a um denominador comum.
No final, todos sairão ganhando: do produtor ao consumidor. Minas Gerais se consolidará não somente como o maior produtor de leite, mas também como o estado mais organizado. Este é o sonho que trouxemos no peito de inconfidentes queijeiros. Não podemos voltar nossos olhares apenas para as medalhas. Mas também para a tradição, a cultura e a história que permeiam as famílias, as terras, o leite, o clima, a altitude, os fungos, os mofos, as bactérias que formam o nosso tremruá.
O momento é para celebrar! E só aumenta a responsabilidade de cada um no movimento para salvar o queijo artesanal brasileiro.
Viva o queijo artesanal! Viva Minas Gerais! Viva os mineiros!