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O leite continua a ser "o" alimento perfeito?

POR PEDRO PIMENTEL

ESPAÇO ABERTO

EM 07/04/2006

6 MIN DE LEITURA

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Quando comecei a trabalhar na ANIL, e assisti às primeiras reuniões com os meus congéneres de outras associações do sector alimentar e quando me confrontei as primeiras vezes com as questões nutricionais que já então começavam a preocupar os técnicos das várias indústrias, recordo-me de pensar que era bem mais simpático trabalhar com o leite e os seus derivados do que com outros produtos, pois a imagem do leite era extremamente positiva, os consumos cresciam a olhos vistos e as críticas eram limitadas e, muitas vezes, excessivamente fundamentalistas para serem levadas demasiado a sério. Como ouvi várias vezes dizer: o leite é 'o' alimento quase perfeito.


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Hoje, dez anos volvidos, não tive, felizmente, que mudar de opinião. Mais, para além da quase perfeição implícita à sua própria composição, tive a oportunidade de verificar a crescente seriedade com que se trabalha em todo o sector, o elevado grau de controlo (e auto-controlo), a evolução verificada ao nível da produção primária, a modernização introduzida numa enorme parcela da indústria de lacticínios, o explosivo aumento da oferta de produtos lácteos fabricados no nosso país, a evolução contagiante das prateleiras ocupadas pelos nossos produtos na moderna distribuição.

Os portugueses são, na sua maioria, por filosofia ou modo de vida, pessimistas e descrentes, mas, apesar de se não ter atingido o óptimo (será que ele realmente existe?...), o trabalho realizado foi altamente meritório e todos os que estão incluídos no sector, à sua escala e dimensão, contribuíram mais ou menos para esta evolução.

No entanto e apesar disto, o mundo "lá fora" também evoluiu e é possível observar hoje que as vozes críticas em relação ao leite e aos produtos lácteos se têm multiplicado.

Nalguns casos, a semente destas mesmas críticas germina por força da actuação do próprio sector ou daqueles que com ele colaboram, noutros são corporações profissionais que pretendem fazer valer a sua presença em cenários de "quanto pior, melhor", noutros são lobbies perfeitamente instituídos que pretendem denegrir o leite e seus constituintes como forma de valorizar os produtos que defendem, noutros ainda são movimentos de reacção à evolução da nossa sociedade e da nossa alimentação e que tendem a atacar a generalidade dos produtos que se tornaram presença obrigatória nas nossas mesas.

Os mercados alimentares, em especial no mundo ocidental, são, por definição, mercados maduros, mercados onde as evoluções esperadas do consumo para a generalidade dos segmentos é muito pouco significativa, mercados onde a competição se faz, de forma crescente, a partir do factor preço. O sector lácteo não foge a esta regra e a batalha da rentabilidade está a ser travada em toda a sua extensão.

O consumidor, fruto da alteração do seu ritmo de vida (numa constante aceleração) e, consequentemente, dos seus hábitos alimentares, tem uma preocupação crescente com as questões da nutrição e do seu impacto na sua saúde e qualidade de vida. A "fome, junta-se à vontade de comer", isto é, o eclodir de novas necessidades do consumidor e a busca da rentabilidade por parte da indústria, motivaram a explosão do mercado funcional. O sector lácteo foi pioneiro e ocupa posições de vanguarda neste mercado. Mas como é que se aperfeiçoa um produto 'perfeito'? Quando repetidamente adicionamos ou subtraímos algo, que imagem transmitimos do alimento original? Evoluímos na cadeia de valor mas será que devemos esquecer a mensagem transmitida nos spots publicitários de que "só o leite é leite"?

Parece-me óbvio que estes dois caminhos, o do funcional e o do original, têm que ser encarados não como mutuamente exclusivos, mas como obrigatoriamente complementares. Pois, como referia uma outra peça publicitária, "só com bons leites,...". Julgo, pois, que se queremos manter a sustentabilidade do sector a prazo, não devemos nunca esconder por detrás da mais mirabolante das inovações a matéria prima essencial presente em cada um dos produtos lácteos: o leite.

E devemos preocupar-nos em defender os nossos produtos dos ataques que lhe são dirigidos, sem temores, mas também sem pruridos, porque, não o esqueçamos, os outros também não têm o mínimo rebuço de utilizar todas as armas que possuem para atacar.

Hoje por hoje, é usual folhear uma revista e ler um texto assinado referindo, com um enorme à vontade, que, tenha cuidado com o consumo de produtos lácteos porque, por exemplo, contêm antibióticos, como se tal fosse um facto normal, como se o leite ou os produtos lácteos que diariamente consumimos estivessem contaminados com antibióticos. Estas mentiras, mil vezes repetidas, tornam-se 'factos', cujo permanente desmentido é muito extenuante. No entanto, recordamos todos onde tal idiotice nasceu...

O que estava em causa era a actuação das autoridades nacionais e a forma como controlavam (ou controlam?...) a presença de contaminantes no leite. Nunca, nos relatórios das missões comunitárias que vieram ao nosso país, foi questionada a actuação das empresas. No entanto, a ideia que passou e que, pelos vistos, permaneceu é a de que um problema de controlo (e do Estado que temos) é um problema do produto e foi sobre o produto que recaiu o ónus dessa desarticulação entre entidades oficiais. Some-se a isso o constante atear de fogueiras de algumas classes profissionais que se converteram em autênticos paladinos da "insegurança" alimentar e temos o caldo ideal para, volta e meia, sermos assaltados (os produtos lácteos mas também os mais diversos produtos de origem animal) por crises, maiores ou menores, mas que, todas elas, afectam a confiança do consumidor, as vendas, a rentabilidade das empresas e a sustentabilidade dos sectores.

Outra das situações que nos últimos anos se vem tornando um foco crescente de preocupação para o sector é a que se prende com a "pressão" sobre a gordura láctea e sobre, genericamente, o consumo de gorduras animais. As preocupações nutricionais e a saúde, o bem-estar e o cada vez maior "culto do corpo", tendem a criar conceitos, quase de índole mística, entre o bem e o mal, entre comer bem e comer mal, entre alimentos bons e alimentos maus, sendo que nestes últimos estão todos os alimentos que contenham gordura, açúcar ou sal. Manteiga, natas e queijo parecem ter conquistado já o seu estigma particular, mas os iogurtes ou os leites aromatizados começam a adquirir inimigos de estimação...

Vivemos hoje a encruzilhada, enquanto sociedade, da liberdade com responsabilidade, sendo que se do lado da liberdade estamos todos supostamente entendidos, do lado da responsabilidade as coisas têm muito que se lhes diga. O Estado parece estar a descobrir uma nova linha de actuação. Defino um problema (por exemplo a obesidade em idade escolar), encontro um bode expiatório (as bebidas carbonatadas, por exemplo) e sentencio a solução (proíbo o seu consumo). Simples, metódico e politicamente correcto. Parece quer voltar a política do edital fixado à porta. A educação alimentar não é um "tema fracturante" e parece que a ninguém diz respeito.

As próprias profissões da área da saúde parecem ter 'acordado' para o que referem ser problemas causados pelo consumo do leite e dos seus derivados e são hoje muitos os que recomendam o respectivo não consumo.

Mesmo que um ou outro destes aspectos possam ter algum fundamento, a maior parte é senão ficcionada, pelo menos altamente empolada e, não esqueçamos, a "quota de estômago" é limitada e "o mal dos outros, é o nosso bem", pelo que cada vez que uma crítica ao leite e seus derivados ganha espaço, rapidamente outros produtos tendem a conquistar essas posições.

Uma parte do problema parte, em minha opinião, exactamente do facto de o leite ser um alimento quase perfeito, pois todo o sector se habituou a viver à sombra dessa constatação, estando pouco habituado a defender-se, a construir informação e argumentação a favor das suas características e propriedades, a desenvolver acções de investigação e promoção, a interagir com as profissões da área da saúde.

Esta é uma batalha que está a ser travada pela fileira do leite em todos os países do mundo, onde produtores e industriais devem estar, mais do que nunca, do mesmo lado da barreira, defendo aquilo que é o seu modo de vida. A constituição de uma interprofissão forte e com um financiamento condigno seria, do meu ponto de vista, um ponto de partida lógico para a construção de uma actuação sectorial eficaz relativamente a todas essas matérias e por essa constituição nos deveríamos todos bater.

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JORGE GRUHN SCHULZ

PASSO FUNDO - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO

EM 20/04/2006

Oi Pimentel,



Quando escuto profissionais da área da saúde (principalmente médicos) recomendando a utilização de leite desnatado, em virtude do mesmo conter colesterol, fico escandalizado. Isto leva a preocupação de que todos os produtos lácteos causam problemas à saúde.



Este é um trabalho que tem que ser feito junto a esta comunidade no sentido de advertí-los de que quando é retirado a gordura do leite, pelo menos as vitaminas lipossolúveis também são retiradas e como se sabe a vitamina D é muito importante para a assimilação do cálcio.



Um abraço,



Jorge



<b>Resposta do autor:</b>



Caro Jorge Schulz,



Concordo inteiramente consigo...



Diria também que uma parte da intolerância à gordura do leite por grupos etários de meia-idade 30-50 anos, deriva do fato de haver já uma larga percentagem da população (pelo menos em Portugal) que consome desde a infância leite desnatado ou semi desnatado.



Em Portugal o problema é agravado pela terminologia utilizada. Aqui, as denominações Inteiro, Semi-Desnatado e Desnatado convertem-se em Gordo, Meio-Gordo e Magro e, nos dias que correm, quem compra um produto que está rotulado como Gordo?



Do ponto de vista da indústria, esta situação está a conduzir a um outro problema - o que fazer com a gordura do leite - atacada pelo lado da nutrição e, simultaneamente, produzida em quantidades crescentes. A generalidade dos produtos (leite, queijo, iogurte) vende-se hoje nas gamas desnatado e semi-desnatado.



No caso específico de Portugal, mais de 60% do total do leite produzido é destinado a fabricação de Leite UHT e deste, mais de 85% é vendido nas gamas magro (< 0,5%) ou meio-gordo (1,5-1,8%). Imagine as toneladas de gordura láctea excedentária que são produzidas diariamente?



Na Europa, mas também nos Estados Unidos e na Oceania (e provavelmente também no Brasil) estão a ser realizados estudo que permitirão, assim o espero, demonstrar os benefícios que podem ser obtidos a partir da ingestão de quantidades moderadas de manteiga ou nata.



Além disso, estamos a desenvolver ações para incentivar a utilização culinária da manteiga e da nata, em detrimento, por exemplo, da margarina, dos óleos vegetais ou da maionese. Estamos também a estudar algumas possibilidades de utilização não alimentar das gorduras lácteas.



Há também que comunicar melhor com os profissionais de saúde. Em Portugal existe um ditado que diz que "Uma mentira mil vezes repetida, se converte em verdade". Muitos dos conceitos passados pelos médicos derivam de empirismo, do "ouvi dizer" ou de estudos apresentados para promover outros produtos alimentares....



Um forte abraço e obrigado pelo seu comentário.



Pedro Pimentel

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