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O ciclo de três anos dos preços das commodities lácteas

POR WAGNER BESKOW

ESPAÇO ABERTO

EM 18/02/2010

6 MIN DE LEITURA

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O estudo do funcionamento de sistemas nos permite perceber padrões de comportamento que tendem a se repetir. Embora minha atenção se concentre em mecanismos da porteira para dentro, fatores externos, como os de mercado, determinam boa parte do sucesso do que se faz na propriedade e não podem passar despercebidos. Na época da regulamentação dos preços, o produtor reclamava do governo e pouco fazia para melhorar sua eficiência. Em parte, isso explica nossa baixa produtividade e qualidade do leite em termos mundiais. Na configuração político-econômica que o mundo adotou, a qual nós nos juntamos, tais reclamações não fazem mais sentido.

Assim, a menos que as regras sejam novamente mudadas e que sigamos um caminho totalmente diferente de nossos competidores no leite, defendo que há dois desafios à frente para o produtor: (a) melhorar constantemente sua eficiência técnica e econômica e (b) entender o funcionamento do mercado para que possa tomar decisões certas na hora certa.

Na verdade, a compreensão do mercado interessa a todos os elos da cadeia, pois muitos investiram na atividade em 2007, sendo que o mercado internacional estava por despencar em 2008. Quantos produtores fizeram isso pagando preços exorbitantes por novilhas e depois tiveram que vendê-las pela metade do preço? Por sorte, os efeitos foram bastante atenuados no Brasil por questões internas, mas lá fora muita gente quebrou.

Será que foi pela crise financeira mundial que o mercado internacional caiu? Os dados que apresentarei neste artigo, e no próximo em mais detalhes, indicam que não, pelo menos não diretamente. Por mais de 24 anos, um poderoso e complexo ciclo de preços tem operado no mercado internacional dos lácteos e, até então, o mundo o desconhece. Talvez não o tenhamos notado antes, nem no Brasil nem em lugar algum, porque quando olhamos para trás, costumamos considerar apenas o passado próximo. Assim, normalmente, o comportamento de preços é analisado através de gráficos do tipo da Figura 1.


Figura 1. Exemplo de como o comportamento de preços é normalmente analisado, com os anos sobrepostos. Aqui, o índice ANZ de preços das commodities lácteas para os anos de 2005 a 2009.

No entanto, se a mesma série é disposta de forma completa, com seus 24 anos de dados, uma nova dimensão se revela (Figura 2). Percebe-se um pico histórico em setembro de 2007, extremos entre altas e baixas aumentando (volatilidade crescente), fundos se elevando com o passar do tempo e, particularmente, um padrão oscilatório regular com ondas se repetindo a cada três anos. Estas informações não estão evidentes na Figura 1.


Figura 2. Índice ANZ de preços das commodities lácteas de janeiro de 1986 a dezembro de 2009 (deriva-se de uma cesta com as principais commodities lácteas comercializadas no mercado internacional, publicado mensalmente pelo Australian New Zealand Banking Group Ltd.).

O padrão chama tanto a atenção que se parece com as oscilações sazonais de produção e preço ao produtor que temos em nosso mercado doméstico, mas elas não podem ser confundidas. Aqui são preços de commodities lácteas no mercado internacional e suas oscilações se dão em intervalo muito maior.

Percebi este padrão no início de 2008, quando os preços lá fora começavam a cair. Acreditava-se, ainda naquele momento, em um novo patamar de preços que havia se estabelecido. O mundo inteiro parecia acreditar na continuidade, não em queda de preços. No início de outubro de 2008 emiti a seguinte previsão direcionada aos cerca de 150 técnicos das cooperativas associadas à CCGL: "os preços das commodities lácteas deverão cair até abril de 2009 para se recuperarem a partir de junho, sendo que o leite em pó integral (LPI) deverá atingir um fundo entre US$ 2.100 e US$ 1.900/t, FOB Oceania" (o LPI estava a US$ 3.700 naquele momento). "Deste ponto os preços deverão se dirigir a um novo pico". Este cenário parecia impossível. Hoje sabemos que os preços realmente caíram, que o LPI atingiu US$ 1.700/t (FOB Oceania) e que a recuperação começou dois meses mais tarde do que esta previsão apontava.

Na época, utilizei um método conhecido como análise técnica, também chamada de análise gráfica, desenvolvido por analistas de mercado para o estudo do comportamento de preços no mercado financeiro. Embora consistente, é sujeita a muitas críticas por sua natureza empírica e por depender de certas premissas duvidosas. Tampouco ajudava a responder questões como: Será que há mesmo um ciclo operando? Como é que se forma e de onde ele vem? Por que a onda de 2004/2005 não se formou?

Mais recentemente, empregando um método científico conhecido como análise da tranformada wavelet, novas e intrigantes informações foram reveladas. Explicarei mais detalhes do método num artigo que deverá dar continuidade a este. Por ora, imaginemos que o índice de preços (Figura 2) é uma música produzida por uma orquestra sinfônica. A transformada wavelet decompõe esta música em sons vindos de seus vários instrumentos e os dispõe graficamente em ondas separadas (wavelets, ou ondas componentes do sinal original).

A análise produziu sete forças componentes, com períodos entre 3 e 286 meses. Para facilitar a visualização e interpretação, agrupei as ondas em curtas, médias e longas, como se analisássemos a orquestra por grupos de instrumentos: cordas, sopro e percussão. Estes três grupos de ondas são mostrados na Figura 3.


Figura 3. Índice ANZ de preços das commodities lácteas de janeiro de 1986 a dezembro de 2009 decomposto pela transformada wavelet e agrupados em três segmentos.

As ondas oscilam em torno de zero (em desvios padrão da média da série), contribuindo para o aumento ou diminuição do índice de preços. A soma de todos os grupos de ondas determina o movimento final do índice (Figura 2).

O grupo de ondas curtas (linha preta da Figura 3) deriva-se do padrão serrilhado de curta duração visto na Figura 2, se repetindo, em média, a cada 4 meses. O grupo de ondas médias (linha vermelha) são as forças que determinam o padrão mais marcante de ondas da Figura 2. Elas completam um ciclo, em média, a cada 36 meses (3 anos). Por fim, o grupo de ondas longas (linha azul) advém das forças que têm determinado a tendência geral altista no longo prazo, com oscilação média de 96 meses (8 anos), em seu efeito conjunto.

O fenômeno que se revela acima adiciona uma nova dimensão ao sistema como um todo. Quanto mais o Brasil intensificar o fluxo de importações e exportações e menos interferir artificialmente neste processo, mais importante será este comportamento dos preços internacionais dos lácteos para o nosso mercado interno. Com esta nova luz que se nos surge, o horizonte tende a se tornar mais previsível. É o que veremos no próximo artigo, quando relacionaremos estas forças a coisas concretas como sazonalidades de produção, ciclo de formação de uma vaca, políticas econômicas, taxa de câmbio etc. Veremos que o comportamento das commodities lácteas é, na essência, muito mais regular que o fenômeno El Niño.

Com melhor conhecimento deste complexo sistema, que é o mercado mundial de lácteos, teremos como nos proteger nos momentos adversos e como melhor aproveitar os momentos favoráveis (produtores, processadores, consumidores, fornecedores, enfim, todos os elos da cadeia). Quanto mais previsível se tornar o mercado, mais seguro será para todos.

Leia a continuação deste artigo (Compreendendo o ciclo do leite no mercado internacional)

Wagner Brod Beskow Mestrado e Doutorado pela Massey University (NZ). Foi professor universitário, pesquisador, diretor de unidade e diretor regional em universidade; ex-diretor de estação de pesquisa agropecuária; 20 anos atuando diretamente com produtores.

WAGNER BESKOW

TRANSPONDO Pesquisa Treinamento e Consultoria Agropecuária Ltda: Leite, pastagens, manejo do pastoreio, rentabilidade, custos, gestão, cadeia do leite, indústria, mercado. palestras, consultoria, cursos e treinamentos.

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RODRIGO VIEIRA DE MORAIS

SÃO JOSÉ DO RIO PARDO - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 05/10/2012

Está na hora do governo adotar premiação aos produtores que alcançarem metas de produção e produtividade. Não é isolar os produtores menos produtivos, mas dar incentivo aos que querem melhorar sua renda.

Exemplo: produtores que produzem acima de 1000 litros de leite/dia, com certo número de vacas, ganhariam um subsídio de 5 centavos por litro de leite. Acima de 2000 litros de leite/dia 10 centavos de subsídio. E acima de 3000 litros/dia, 20 centavos de subsídio. Poderia avaliar também a produtividade do rebanho.

Seria um bom uso dos índices de produção brasileira.
PAULO MAURICIO BASTO

CASCAVEL - PARANÁ - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 05/10/2012

Obrigado Wagner pelas respostas. Apreciaria receber as previsões, se for possível, até o ano que vem e a atualização do estudo que ratifico, muito bom e interessante. Estarei, eu mesmo, utilizando seu trabalho para ajudar na avaliação que estou fazendo para os próximos 3 anos.


No aguardo e obrigado, mais uma vez.


WAGNER BESKOW

CRUZ ALTA - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO

EM 04/10/2012

PAULO:

Nota que meu estudo do ciclo se fez em cima do "índice ANZ dos preços das commodities lácteas" exportadas pela Nova Zelândia. A menos que tenhas acessado estes mesmos dados, não é possível concluir se houve ou não o fundo. Ele houve como te descrevi acima e estará detalhado em um novo gráfico num próximo artigo que estou escrevendo.

Abraços.
WAGNER BESKOW

CRUZ ALTA - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO

EM 04/10/2012

PAULO BASTO:

É incrível como o ser humano tem resistência contra o entendimento e aceitação dos ciclos, mas praticamente tudo no Universo é cíclico. Na Terra e onde dependa dos ciclos da natureza, nem se fala.

Estou trabalhando num estudo de atualização e verificação desta minha teoria. Te adianto que sim, formou-se mais uma crista, perfeita na amplitude, só um tanto mais serrilhada que o usual no topo. O pico, conforme alertei para a possibilidade, atrasou um pouco devido à crise nos EUA e ao invés de set/2010 ocorreu mar/2011.

O fundo, minha teoria apontava para abril/2012 (tipicamente um W com a primeira perna em abril, repique em maio, queda em julho para suba firme em agosto). O fundo ocorreu exatamente nesse período com suba, agora se mostrando consistente, em julho/2012. Nada mal para uma previsão 2 anos antes e num modelo que ninguém conhecia e se quer admitiam a existência de tal ciclo. Imagina não só poder demonstrar como ele existe, como ainda conseguir prever uma onda altista completa com fim previsto e indicado. É emocionante, só que as pessoas ainda não despertaram. Raros como tu sabem do que estou falando.

No segundo artigo desta série estão os detalhes das previsões e uma comparação com o El Niño. Ambos fenômenos são cíclicos e regulares o suficiente para permitirem previsões. O que demonstro é que ambos trazem surpresas, mas que o ciclo do preço internacional dos lácteos é muito mais previsível que o El Niño.



Um abraço e obrigado pelas ponderações. Wagner Beskow
PAULO MAURICIO BASTO

CASCAVEL - PARANÁ - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 03/10/2012

Prezado Wagner, quando houve o "oba oba" do aumento de preço das commodities e a "arrogância de alguns laticínios" tb alertava (sem conhecer este estudo) de que os preços iriam cair, pois aprendi em uma de minhas profissões (eng química) qu toda reação tende ao equilíbrio e isso realmente ocorreu. Pergunta ; considerando o artigo de 2.010 e a realidade de hoje o padrão cíclico de 3 anos está acontecendo??? Parece que não (não tivemos fundo do poço em abril/12 no meu enteder). Por que???
RAMON BENICIO LIMA DA SILVA

NITERÓI - RIO DE JANEIRO

EM 18/04/2010

Prezado Wagner,

Li o seu segundo artigo antes deste sobre o qual teci um comentário somente no que tange a parte matemática do problema. Lendo este gostaria de comentar o seguinte aspecto.

Sabemos perfeitamente que o mercado possui uma grande elasticidade dormente (potencial de consumo ainda não explorado), já a elasticidade efetiva (mercado atendido) não é tão grande. Por diversas razões, hábitos alimentares nos países desenvolvidos, renda per capita sem grandes variações as pessoas de uma determinada classe econômica não migram para outra com facilidade, níveis de qualidade exigidos pelo consumidor entre outras.

Mas uma questão eu acredito ser fundamental no entendimento deste mecanismo de sobe e desce dos preços. Nos países desenvolvidos o crescimento da produção, o crescimento das margens, o crescimento do mercado, ou seja, o crescimento de tudo acontece gradualmente e muitas vezes lentamente. Os agentes econômicos até que tentam acelerar o processo e ai os preços sobem mas como o mercado atendido não tem a elasticidade necessária para manter o movimento de alta então os preços tem que descer. Acredito que exista muita informação e contrainformação neste mercado liderado pela Globaldairytrade.

De qualquer forma ainda há muito que se estudar deste movimento para identificar suas causas.

Um abraço
Ramon Benicio
WAGNER BESKOW

CRUZ ALTA - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO

EM 13/03/2010

Prezado Rafael Alves Moreira:

Gostei de tuas observações e questionamentos.

Chegaste a ler o segundo artigo que dá continuidade a este? Caso negativo, há um link para ele bem no final do artigo acima.

As questões que levantas são todas relacionadas ao nosso mercado doméstico, acredito que mais derivadas do debate que se seguiu aqui e no outro artigo, do que do tema em estudo que é ciclo de preço de commodities no mercado mundial.

Para o mercado nacional, concordo com todas as questões que colocas. São pontos importantes relacionados a sobrevivência e à rentabilidade de nosso produtor.

Para o mercado mundial, alguns destes pontos levantados são recorrentes lá fora também e podem ter algum impacto, mas de um modo geral me parece que tenham pouco impacto.

Obrigado pela tua contribuição. É ótimo ver representantes dos vários elos da cadeia aqui representados.

Um abraço,

Wagner Beskow
RAFAEL ALVES MOREIRA

UBERABA - MINAS GERAIS

EM 11/03/2010

Caro Prof. Wagner,

Achei a análise econométrica muito bem fundamentada. Já de algum tempo percebia, em meio a muitas nuvens, esse ciclo no setor lácteo. Seu estudo foi muito convincente para mim, principalmente quando cita dois pontos: a ilusão do novo patamar e o alto endividamento em 07/08. Entretanto, deixo alguns pontos para debate/maior esclarecimento:
-a estabilização macroeconômica brasileira não pode contribuir ainda mais para uma tendência altista no médio/longo prazo? Ou, as classes C e D no Brasil apresentam ainda um grande potencial no consumo de lácteos, já que alguns até podem ser considerados como bens superiores?
- a concentração do mercado comprador do produto primário, quase caracterizando um oligopsônio, não seria um dos responsáveis pelos baixos preços pagos ao produtor?
-realmente o Pronaf é uma forma de subsídio, aliás chega a ser transferência de renda, porém como bom liberal, sou averso a interferências governamentais no mercado.
-cultura brasileira da ausência da recria, produtor sempre buscando animais no mercado, ao invés de investir em forragem, máquinas e equipamentos.
-ausência no país de investimentos na cadeia e planejamento das propriedades como na NZ.

Um abraço,
Rafael Moreira
Bancário, Pecuarista e Agente de Desenvolvimento Rural
Sacramento - MG
WAGNER BESKOW

CRUZ ALTA - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO

EM 11/03/2010

Prezado Rodrigo V. de Morais:

Nota que a questão que colocas é importante apenas para nosso mercado interno, não para o ciclo de preços das commodities em termos internacionais, pois os países que teem dado as cartas até então não possuem este tipo de produtor que mencionas.

Aqui dentro sim, sem dúvida tem influência. Quando os preços ao produtor estão nas alturas todo o tipo de cidadão quer, de repente, fazer parte da festa (inclusive médicos, advogados e industriais de outros setores).

É idêntica à situação do investidor amador em bolsa de valores, que deicide comprar porque as ações estão valorizadas, subindo e todo o mundo contente.

A receita para quebrar é essa aí, no leite como na bolsa, e ambos influenciam o mercado, sim, pagando o que não vale pelo que quizermos imaginar.

Para usar teu exemplo, ser profissional, neste caso, passa por entender este grande e poderoso ciclo e agir de acordo:

- INVESTIR NA BAIXA;
- MANTER CUSTOS BAIXOS NA ALTA PARA COLHER A DIFERENÇA;
- MANTÊ-LOS BAIXOS DURANTE A QUEDA PARA SOBREVIVER O FUNDO;
- SE PREPARAR PARA A PRÓXIMA SUBA.

Muito obrigado pela contribuição.

Wagner Beskow



RODRIGO VIEIRA DE MORAIS

SÃO JOSÉ DO RIO PARDO - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 05/03/2010

Este mercado concorrente favorece o ingresso na atividade de produtores desqualificados que inflacionam o mercado de leite e animais?
No meu entender o produtor brasileiro ainda não entendeu que tem que ser profissional para ter sucesso nesta atividade. A maioria possui áreas ociosas ou improdutivas que sugam a renda das vacas.
Temos que considerar que a atividade leiteira é feita num periodo de 4 horas por dia, e o produtor tem que aproveitar isto.
WAGNER BESKOW

CRUZ ALTA - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO

EM 22/02/2010

Prezado Eder Ghedini (Nelson, resposta para você, mais abaixo):

O artigo expõe um ciclo de preços no mercado internacional. Isto está dado e, com nosso avançar nas exportações, ele se tornará cada vez mais importante internamente também. Ou se investe em medidas anticíclicas ("políticas para o setor" às quais aludes) ou se aprende a entender o ciclo e a trabalhar COM ele, ao invés de CONTRA ele.

Me parece que a primeira opção é mais inteligente, menos desgastante, menos dispendiosa e mais compatível com a política de livre comércio na qual embarcamos em etapas desde o governo Collor e roda Uruguai do GATT e nunca mais recuamos.

Quanto ao mercado de novilhas, ninguém é inocente. No momento que o produtor aceita pagar X por um animal, ele tem sua avaliação de retorno esperado (subjetiva, mas tem). Se parece caro é porque é caro mesmo!! Se ele não comprar e outros não comprarem, os preços caem e o mercado se equilibra. O produtor precisa saber que se o negócio dele é leite mesmo (não genética), qualquer coisa acima R$3.000 é caro e de R$3.500 é muito caro.

Eder, existe subsídeo, sim, ou tu achas que um lojista tem acesso à fianciamentos com os juros do PRONAF? Isso é subsídeo, não em termos internacionais (pois ele nada mais que equipara o juro a patamares civilizados), mas internamente é subsídeo.

Quanto a quem recorrer, já pensaste numa cooperativa séria?

Com relação aos labs de leite, eles analisam leite para o produtor individual que faça controle leiteiro, não é de graça, mas o serviço existe.

Concordo que o consumidor é agente importante para direcionar o mercado e fico contente que encontraste algum sentido no artigo. Mais na parte II logo, logo.



Prezado e Nelson Colen:

No sistema integrado de suínos e aves até daria para pensar em algo nesses termos, mas no leite, eu nunca vi um setor primário onde o produtor tenha tanta autonomia com seu produto e tanta concorrência por ele em determinados momentos.

Há muita coisa errada e muita coisa a melhorar, mas uma coisa temos que reconhecer: somos todos muito bons, pois mesmo estando todos tão atrasados em nível internacional conseguimos sobreviver e competir. Com trabalho sério e conhecimento de mercado (como o que trago para pensares neste artigo), a coisa só pode melhorar, não achas?

Aqui uma família sobrevive com 10 vacas e vai bem obrigado com 30 vacas (pelo menos da forma como trabalhamos na CCGL). Na Nova Zelândia ninguém paga as contas com menos de 250 vacas em lactação e só tem lucro com mais de 300.

Lá, uma empresa tem 92% do mercado, aqui quantas competem pelo leite? Não vejo escavismo, vejo oportunidade e desafios. Duros, desafiadores, por vezes muito difíceis, mas são para que usar a cabeça... inclusive com relação ao ciclo acima ;-)

Obrigado a ambos pelos comentários.



WAGNER BESKOW

CRUZ ALTA - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO

EM 18/02/2010

Prezado Sávio Santiago,

É verdade, temos poucos, mas este cenário está mudando gradativamente. Falaste em "mercados internacionais mais compensatórios", entendo que te referiras a eles em momentos mais compensatórios também, pois nem sempre é vantajoso exportar, devido ao triângulo "(preço externo x câmbio) x preço interno".

Com base no ciclo discutido no artigo, é bem provável que o preço do leite em pó esteja caro demais lá fora no período que te referes.

Bem colocado o exemplo relativo aos efeitos da volatilidade. É um forte fator de seleção em todos os elos da cadeia. Lidar com ela de forma inteligente e estratégica passa a ser uma questão de sobrevivência no médio e longo prazos. O artigo ajuda a revelar parte do segredo para esta sobrevivência. Mais na parte II...

Obrigado pelos comentários e amigáveis palavras. Desejo a você sucesso.
NELSON JOSE DANTAS COLEN

TEÓFILO OTONI - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/02/2010

será que nós produtores estamos sendo manipulados por um sistema que só escravisa que produz?
EDER GHEDINI

TAPEJARA - RIO GRANDE DO SUL

EM 18/02/2010

Olá, boa análise, que bom que esse trabalho seu é divulgado e todos nós tenhamos acesso. A realidade é "nua e crua" infelizmente. Penso eu que por não existir uma política governamental sólida, voltada especificamente para o leite, essa será a sina do produto. Quanto a compra de novilhas, pagando esorbitância e não a realidade, vejo que existem muitos "mal intencionados" no setor, iludem produtores quanto a sua procedência e génetica racial para produção leiteira. Em meados de 2000 realizei compra de dez animais, mas não mais q 20% desses responderam o desejado e esperado, a dívida estava feita, paguei, mas pouco tempo depois desisti. O produtor de leite não tem ninguém a recorrer, subsídios não existem, auxílio técnico transparente, também não e aí vai. Soma se a tudo isso a baixa qualidade do leite, laboratórios no país simplesmente analisam amostras para as indústrias, estas por sua vez pouco fazem. Enquanto a quantidade de leite prevalescer sobre a qualidade, a realidade será essa. Talvez o consumidor tenha sua parcela de culpa, em não se importar quanto sua procedência. Forte abraço.
SAVIO

BARBACENA - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 18/02/2010

Parabénsa pela análise Wagner;

Acredito que alguns pontos relevantes em relação a formação de preços no Brasil estão prejudicando o ciclo cada vez mais instável na curva safra/entressafra nacional.

1- Temos poucos players exportadores capazes de concorrer em mercados internacionais mais compensatórios, faço votos para a CCGL ser um deles.
Essa limitação é totalmente ligada a captação da matéria prima e à estrutura fabril de muitos exportadores autorizados pelo MAPA. Ou seja, estamos engatinhando em qualidade e exportando, na maioria das vezes somente preço para mercados de segunda linha (àfrica e ásia);

2- Entramos em uma condição de excesso permanente quando se avalia a produção interna anual X consumo interno. Essa condição nos força a comerciallizar no mercado externo, onde esbarramos na situação descrita acima referente a qualidade;

3- Estamos limitados no mercado interno tanto em relação ao volume de vendas quanto em relação ao marketing intitucional que não existe. Preocupa também o recente "cair de máscaras" dos dirigentes do PT em relação ao populismo e a busca frenética pelo controle da inflação quando se refere aos produtos da cesta básica. Infelizmente é sabido que mais uma vez, quando o longa-vida puxar o mercado interno para cima, o governo em ano eleitoral vai inundar o mercado de leite em pó do Uruguai ou da Argentina, que já começam à ficar viáveis. financeiramente.

A curva de mercado preocupa nos levando cada vez mais perto do céu ou a beira do abismo, com prazos de valorização cada vez menores a cada ano.

Parabéns mais uma vez e sucesso na nova empreitada à outros mercados;

Sávio Santiago

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