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Monopólio do leite

ESPAÇO ABERTO

EM 20/02/2006

4 MIN DE LEITURA

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Por Xico Graziano 1

Acabou um dos últimos monopólios do país: o Leve Leite. Desde quando foi criado, há 12 anos, apenas um grande fornecedor nutria o programa da prefeitura de São Paulo. Agora, milhares de produtores rurais, organizados numa forte cooperativa, abastecem o leite das crianças carentes.

Quem vencia as licitações públicas para compra de leite em pó era sempre o mesmo empresário, primeiro com a Nutril, depois com a Tangará Importadora e Exportadora. Ninguém duvidava do jogo de cartas marcadas. Mesmo assim, ano após ano, as criancinhas paulistanas tomavam seu leite sujo pela desconfiança da corrupção.

No jargão do setor, a Tangará se caracteriza como uma "sem-fábrica", quer dizer, uma empresa de fachada, que comercializa leite em pó sem processar leite natural. Parece mágica.

O truque se explica facilmente: a fábrica adquire sua matéria-prima de laticínios suspeitos e mistura leite em pó importado. Pronto, simples. No produto nacional, não paga imposto. No importado, compra por preço barato, visto a mercadoria ser de péssima qualidade.

Assim, vendendo leite sem origem comprovada nem qualidade garantida, a artimanha enriquecia Salomão e seus súditos no poder. Nenhuma outra empresa séria concorria com seu preço vil. Ninguém tinha coragem de confrontar seu poderio político. Formou-se o monopólio do leite.

Quando José Serra assumiu a prefeitura, alterou a regra da licitação para compra do leite. Dividiu a cidade em quatro lotes. Exigiu que o fornecedor distribuísse diretamente o leite nas escolas e entidades sociais. Abriu os envelopes e garantiu o resultado: três lotes foram adjudicados para a Itambé, maior e melhor empresa-cooperativa de laticínios do país. A Tangará esperneou. Tentou buscar velhos comparsas, recorreu ao Tribunal. Perdeu.

Concorrência é sempre bem-vinda. Verificou-se uma economia fantástica: no velho esquema, cada quilo de leite custava R$ 9,00 aos cofres públicos; com a nova licitação, o preço médio caiu para R$ 5,94. Incrível. Somando as várias aquisições até o final do ano, incluindo na conta o leite destinado à merenda escolar, a economia total alcança R$ 47,4 milhões. Parabéns.

Foi o Prefeito Serra que acabou com o monopólio. Mas o grande herói dessa história, como soe acontecer, permanece oculto. Chama-se Jorge Rubez, presidente da Leite Brasil, entidade que representa a cadeia produtiva, aglutinando produtores, cooperativas e laticínios. É um lutador.

A Leite Brasil denuncia o esquema torto do Leve Leite desde 1995, quando Paulo Maluf ocupava a prefeitura paulistana. Quando Pitta assumiu, em 1997, nada mudou. Era esperado. Jorge Rubez estrilou pela imprensa: o programa da prefeitura pagava mais caro que a gôndola do supermercado. Acabou processado por calúnia, arquivado por falta de provas. Aquietou-se.

Ao Marta Suplicy vencer, em 2000, tudo parecia mudar. Seu compromisso político de rever o esquema corrupto do Leve Leite, todavia, não resistiu ao encanto da moeda ordinária. O PT comeu no mesmo coxo que alimentou Maluf e Pitta. Jorge Rubez seguiu em frente.

Procurou a prefeitura e os vereadores do PT, participou de reuniões, mostrou o problema, denunciando que os produtores nacionais de leite estavam preteridos pelas importações. Desconfiava-se, até, que a mercadoria trazida do exterior era destinada à mistura de rações para animais. Em São Paulo servia às crianças da periferia.

Rubez se sentiu personagem de Kafka. Os petistas fingiram de morto e o negaram, empurrando-o para se explicar junto ao Ministério Público. De acusador, terminou investigado. Temeroso, já meio cansado e desiludido, se retraiu. Mas não desanimou.

Hoje o guerreiro está de alma lavada. Finalmente apareceu um calabrês decidido a enfrentar o monopólio do Leve Leite. Mas o paulista Jorge Rubez, ex-presidente do sindicato rural de Cruzeiro, no Vale do Paraíba, ainda não se agradou totalmente. Acontece que a grande vencedora da licitação tem origem mineira, não paulista. Rivalidade antiga.

Itambé é nome de fantasia da Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais. Sua origem remonta os idos de 1944, quando o governo estadual instalou a histórica Usina Central de Leite, fábrica que recebia 22 mil litros de leite/dia, e o distribuía em carroças na cidade de Belo Horizonte. Bons tempos!

Quatro anos mais tarde, a iniciativa privada assumiu a usina. E em 1956 surgiu a Cooperativa Central, que cresceu e hoje aglutina 26 cooperativas de produção espalhadas pelo território mineiro. Representam 6500 produtores rurais, pequenos fornecedores de leite, que encontram na Itambé seu canal de comercialização. Um exemplo de eficiência e profissionalismo.

São Paulo também constituiu, nesse período, sua Cooperativa Central de Laticínios, marca Paulista. Mas a atividade leiteira de São Paulo decaiu na última década. A produção agora, cerca de 1,8 bilhão de litros/ano, representa pouco mais de 20% do consumo total. Em decorrência, os paulistas "importam" leite, principalmente de Minas Gerais, Goiás e Paraná.

A despeito do bairrismo, moção pública da Leite Brasil elogia fartamente o Prefeito de São Paulo. Ele matou dois coelhos numa só cajadada: acabou com o superfaturamento do leite e valorizou o produtor nacional. Como sonhavam os velhos comunistas, fez-se a aliança entre os operários e camponeses. Sem imaginar, o citadino Serra virou ídolo da turma da roça.


____________________________
1 Deputado Federal

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SILVIA HELENA SILVEIRA YASSU

SÃO PAULO - SÃO PAULO - MÍDIA ESPECIALIZADA/IMPRENSA

EM 28/02/2006

Acho que, antes do senhor Xico Graziano transformar esta sua matéria em propaganda política ele deveria ter lido a matéria que esta logo abaixo do seu texto, com data de 2003, onde está a informação dos preços que a Prefeitura, na gestão da Prefeita Marta Suplicy, pagou pelo leite.



Houve concorrência sim. Acredita que ele pense que somos analfabetos e iletradados. O tempo da manipulação já passou.



A Tangará teve preço melhor. Se o leite era adulterado e teve leite em pó acrescentado, as entidades do setor deveriam ter entrado na justiça. Fofocas, senhor Graziano, não cabem em discussões sérias.



Temos sim fatos. Na gestão do senhor Fernando Henrique Cardoso os produtores de leite davam tiros no ouvido. Sim, cometiam suicídio. As dívidas acumuladas, as importações, a falta de apoio. E de uma política para o setor levou muita gente à morte.



Morei em Curitiba, freqüentei a região das cooperativas, conheci bem a realidade. O senhor deveria fazer sim um balanço da Política Agrícola que o seu partido, o PSDB, teve durante os oito anos de governo.



Porque o senhor não a coloca os números do setor leiteiro na mesa. Podemos falar dos preços das terras, das importações. Qual é o tema que o seu partido tem a coragem de esmiuçar?



Silvia Helena Silveira

São Paulo
ROBERTO JANK JR.

DESCALVADO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 20/02/2006

Xico,



Parabéns por seu artigo, pela veemência e coragem. Garanto que lavou a alma de quem conhecia os meandros do "leitegate" na prefeitura de São Paulo, nas últimas três gestões. Obrigado por ocupar seu espaço na imprensa e na assembléia com o agronegócio lácteo.



Um abraço,



Roberto
LUIZ F. A. MARQUES

VITÓRIA - ESPÍRITO SANTO - PESQUISA/ENSINO

EM 20/02/2006

O combativo Jorge Rubez tem o mérito deste empenho! E a empresa que detinha o monopólio precisa ser investigada!. Justifica-se o endereço, em Vila Velha, no ES, pois por este porto é que chegam, sob incentivos fiscais do FUNDAP, seus produtos, sem gerar nenhum real de riqueza para o setor primário, neste ou em qualquer outro estado do país. Foi preciso persistência no combate, para, neste caso, abrir legítimo espaço comercial ao leite de boa qualidade. Parabéns aos produtores de leite e ao autor desta matéria!



Luiz Fernando Aarão Marques

Professor do CCA-UFES
JOSE RONALDO BORGES

CUIABÁ - MATO GROSSO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 20/02/2006

Parabéns pelo artigo! A solução para os produtores de leite só será resolvida quando for criada a Cooperativa Central de Produtores de Leite do Brasil, centralizando toda a estrutura de marketing e comercialização, acabando com as disputas entre as cooperativas. As cooperativas regionais ficariam responsável somente pela assistência aos produtores. A Itambé como a maior cooperativa e mais eficiente, poderia acampar este projeto.

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