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Logística

POR XICO GRAZIANO

ESPAÇO ABERTO

EM 18/05/2010

4 MIN DE LEITURA

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Todos os rios correm, finalmente, para o mar. Disso ninguém duvida. Curiosamente, porém, aqui, no Brasil, certos rios parecem seguir ao contrário, rumo ao interior. Em São Paulo, o Rio Tietê anda para trás, até encontrar o Paraná. Já pensaram se eles desaguassem em Santos?

Nos EUA, o Rio Mississippi faz direitinho o seu trajeto. Ele sai lá do interior, no Meio-Oeste norte americano, e deságua direto no Golfo do México. Transformou-se, assim, desde o início da colonização americana, numa privilegiada via de navegação. Serve às pessoas e, principalmente, ao transporte de cargas. Situado a 1.500 km de distância, os agricultores de Iowa, Ohio, Illinois contam com a bênção das águas doces para escoar sua produção. A hidrovia do Mississippi torna barato o cereal dos gringos na exportação. Sorte da natureza, misturada, claro, com investimentos públicos na famosa hidrovia.

Aqui, os produtores rurais que se aventuraram pelo Centro-Oeste brasileiro, abrindo as fronteiras de Mato Grosso e Goiás, incluindo agora Mato Grosso do Sul e o Tocantins, passam agruras maiores, advindas de sua distância. Eles dependem de esburacadas rodovias para descarregar sua safra de grãos, que viaja de caminhão por cerca de 2 mil km até o Porto de Santos, ou Paranaguá. Demora demais, causa perdas e encarece o frete.

Essa questão, chamada logística, virou um pesadelo para os agricultores nacionais, especialmente os mais apartados do litoral brasileiro. Na roça, o produtor rural domina a tecnologia, sabe cultivar, obtém resultado, dorme em paz, rezando apenas pela chuva no tempo certo. Na hora de vender o fruto de seu trabalho, todavia, ele se amargura.

O preço se rebaixa no desconto do frete. Nos últimos anos, dependendo do preço da tonelada de soja, o custo do transporte em Mato Grosso representou de 32% a 48% do grão desembarcado na China. Incrível. Somente o trajeto até o destino final sobrepuja o custo, somado, do fertilizante, do óleo diesel, dos agroquímicos, da colheita. Deprime a concorrência.

O conceito da logística remete aos líderes militares desde os tempos bíblicos. Longas e distantes guerras de conquista exigiam o deslocamento de vultosas cargas, tropas, equipamentos, alimentos. Toda a organização das tarefas necessárias ao sucesso da brutal empreitada cabia aos especialistas, responsáveis por assegurar recursos e suprimentos para a guerra.

Trazida para os tempos modernos, a ideia da logística militar passou a ser utilizada na gestão empresarial, englobando basicamente transporte, armazenagem e informação. Nas atividades rurais, dadas as distâncias da produção, tornou-se uma disciplina essencial. Estudiosos do desenvolvimento a consideram fundamental na infraestrutura de um país.

Pois bem, dez entre dez especialistas da economia rural salientam que na deficiência da logística reside o maior gargalo da agropecuária nacional. Portos antigos e mal aparelhados, em parte dominados por grupos corporativos, alguns mancomunados com a corrupção, restringem os embarques. Filas quilométricas se formam na chegada, aguardando a lentidão da saída nos navios. Brutal ineficiência.

Da roça até o porto, então, nem se fala. Péssimas rodovias freiam o tráfego, quebram molas, causam perdas. No país dos caminhões, as ferrovias viram miragens, a exemplo da Norte-Sul, em construção desde 1987. Quando existem, os trens não mostram vantagem de custo sobre a rodovia, conforme se verifica no trecho entre Alto Araguaia (MT) e Santos. O poder de monopólio da concessionária equipara o frete da rodovia ao da ferrovia. Contrassenso total.

Quanto às hidrovias, sua construção anda devagar, qual tartaruga. Duas rotas aquáticas funcionam bem: a hidrovia Tietê-Paraná e a Madeira-Amazonas. Mas ambas, juntas, transportam apenas 13% da produção agrícola do Centro-Oeste. Dificuldades no licenciamento ambiental ou escassez de recursos não explicam a demora na operação de novas hidrovias. Falta, isso sim, decisão política para investir na infraestrutura da produção. Uma questão de planejamento. Quer dizer, de sua falta.

Puxado pela agropecuária, cuja agronomia aprendeu a dominar o cerrado, um virtuoso processo de interiorização acomete a economia brasileira há, pelo menos, 20 anos. Desde 1985 até 2005, o Centro-Oeste cresceu 63,5%, bem acima da média nacional, de 39,8%. Somados, os Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, mais o Distrito Federal, respondem hoje por 37% da safra nacional de grãos. Lideram, também, o rebanho bovino.

Com estruturas administrativas menos viciadas e mais enxutas, ostentando 11,5 milhões de habitantes (exceto Brasília), o eldorado nacional se desenvolve, mesmo contra os gargalos da infraestrutura. A nova fronteira de progresso foge da costa atlântica, alcançando ainda Rondônia, Tocantins, o sudoeste baiano, o sul do Maranhão, parte do Piauí. Cresce a riqueza longe das mazelas metropolitanas. Sensacional.

É verdade que a expansão da fronteira agrícola apresenta problemas ambientais, interferindo no desmatamento, tanto na Amazônia quanto no cerrado. Também se pode argumentar que a distribuição fundiária mostra um padrão concentrado, grandes fazendas em poucas mãos. Mas, no fundo, tais questões negativas refletem o descaso governamental com essa virtuosa agenda. Falta um projeto do Estado para organizar a nova fase do desenvolvimento do Brasil.

Logística, na cabeça do homem simples do campo, deriva do raciocínio. Pergunte-se a qualquer um deles. Não faz sentido produzir alimento ou matéria-prima e, na hora da venda, ver seu dinheiro sumir na mão do intermediário que banca o frete. Não tem lógica. Melhor, falta logística.

O artigo foi publicado no jornal O Estado de São Paulo, adaptado pela Equipe AgriPoint.

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JULIANA VIEIRA SALLES VARALLO LEITE

JOANÓPOLIS - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 26/12/2011

O agronegócio no Brasil corresponde a 1/3 do PIB nacional e 40% dos postos de trabalho, é indiscutível a importância do agronegócio à economia Brasileira, o mesmo sendo setor chave para que o Brasil se inclua no comercio mundial. Apesar das grandes vantagens encontradas no agronegócio brasileiro e das suas boas perspectivas futuras, o mesmo encontra muitos problemas e desafios a serem superados, essencialmente na logística, que dependem, principalmente investimentos públicos e privados, bem como de mudanças nas políticas econômicas internas.

Enquanto a produção agrícola aumenta consideravelmente a cada safra falta apoio estrutural adequado gerando queda de rentabilidade. O processo produtivo não é um fim em si mesmo, a efetividade depende diretamente de uma estrutura de armazenagem capaz de suportar o volume produzido, de um modal de transportes adequado que agregue competitividade ao produto, já que uma das premissas básicas da logística é a integração, a visão holística ou sistêmica (supply chain), depende também de uma base política que vise melhorias reais e de uma estrutura econômico-financeira capaz de sustentar e alavancar resultados positivos.

Como soluções, o governo federal já busca o apoio da iniciativa privada por meio do plano de Parceria Público-Privada, que pretende investir em projetos de reformas em rodovias, ferrovias, portos e canais de irrigação nos próximos anos. É preciso destacar também que, além dos recursos, a iniciativa privada ainda tem muito a contribuir para o desenvolvimento da infra-estrutura do país, incentivando a criação de pólos intermodais de transporte para redução de custos e aumento do nível de serviços.

Na certeza que só as Parcerias Público-Privada, não será suficiente para dotar o país de bom infra-estrutura, o GF criou o PAC, o qual foi concebido para eliminar esse descompasso, se ele sair do papel, muda completamente a questão da infra-estrutura no Brasil.

Porem, falta também a criação de políticas públicas urgentes voltadas à infra-estrutura do Brasil, por parte daqueles que deveriam pensar estrategicamente para melhorar nosso agronegócio, buscar modificar alguns processos atuais, considerados caros, e aplicar outros comprovadamente eficientes.

Como a realização de acordos comerciais para exportar itens com maior valor agregado e a criação de órgão de planejamento estratégico para o setor, após a extinção do GEIPOT o Brasil deixou de contar com órgão capaz de pensar no transporte de forma estratégica e integrada, com a desfragmentação no mesmo e, agencias específicas, indo contrariamente ao conceito de logística e supply chain.
JULIO ERASMO REICH

QUERÊNCIA - MATO GROSSO

EM 23/05/2010

Se tivéssemos no Brasil ferrovias, não teríamos tantas perdas (tanto de tempo como de produtos) nas rodovias do país. Espero que o governo se conscientize que as malhas ferroviárias precisam novamente ser estruturadas para que os produtos escoem com qualidade do início ao fim. Ótimo artigo mesmo!
GUILHERME AUGUSTO VIEIRA

SALVADOR - BAHIA - PESQUISA/ENSINO

EM 21/05/2010

Fenomenal o artigo do Dr. Xico Graziano, refletindo exatamente a questão dos gargalos do agronegócio brasileiro. O interessante é que há 6 anos dou aulas no Curso de Comércio Exterior abordando os problemas estruturais do COMEX e as questãos abordadas no artigo são abordadas cada vez mais intensas. O duro é que não ´enxergamos´ no horizonte nenhum programa governamental voltado para a solução destes problemas.Sucesso,cretério, obrigado pelo material de aula.
JOSE LUIZ REINO

CEDRAL - SÃO PAULO

EM 19/05/2010

Como sempre, o secretário do meio ambiente do Estado de São Paulo, eng. agr. Xico Graziano, dá um show com seus artigos convidando-nos sempre a uma reflexão sobre os probemas nacionais do campo. Continue sempre assim e sucesso!

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