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Herança maldita

ESPAÇO ABERTO

EM 25/04/2006

4 MIN DE LEITURA

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Por Xico Graziano1

O Ministério da Agricultura não funciona. Assim, de forma realista, pensam os agricultores quando avaliam o apoio que recebem do governo. Lamentavelmente, o Ministério é fraco no jogo de poder do aparelho de Estado. Pouco importa o titular de plantão.

Essa fraqueza significa que a política agrícola, se é que existe, continua tratada à parte, isolada da política econômica geral. Basta ver a questão monetária. A valorização do câmbio está provocando um efeito arrasador contra a agropecuária, condenando as fronteiras agropecuárias à paralisia.

Puxado pelos agronegócios, ocorre um fenômeno magnífico no país: a interiorização do desenvolvimento. Nas regiões do cerrado, na baixa Amazônia e no oeste nordestino, surge uma chance histórica. Seja na produção de proteína, seja na agricultura energética, os mercados globais favorecem, de forma inusitada, o progresso no interior do Brasil.

Esse processo, todavia, carece de políticas públicas, realizando investimentos em infra-estrutura, logística, comunicação, tecnologia. Infelizmente, nada disso ocorre. A terrível crise que se abate sobre agropecuária cria o pesadelo da década perdida. Quem foi abrir mundo se pergunta: cadê o governo?

O melhor ministro da agricultura do país foi Alysson Paulinelli. Há 30 anos, a grande tarefa residia na modernização tecnológica do campo, pois o êxodo rural exigia abastecer as cidades. Mais recentemente, o desafio do mercado global foi vencido. Com Pratini de Moraes, a roça aprendeu a vender.

Quando assumiu o ministro Roberto Rodrigues, os agricultores vibraram. Agrônomo e líder respeitado, era talhado para o cargo. O campo vivia uma euforia, após a securitização das dívidas rurais e os financiamentos do moderfrota, via recursos do BNDES. A aposta foi geral. Virou decepção.

A frustração não está apenas nos agricultores. O próprio Ministro não esconde a tristeza com o fracasso da gestão. Ele sabe que seu período não deixará saudades. A safra encolheu, a área plantada caiu, a biotecnologia não vingou. O boi, abatido pela aftosa, despencou na ribanceira.

O endividamento retornou. Na época do Collor, houve descasamento das dívidas com os preços mínimos. Com FHC, a fumaça da inflação sumiu e as dívidas tornaram-se reais. Agora, com Lula, é a conta dos custos que não fecha, quebrando o agricultor. Estima-se em R$ 30 bilhões o prejuízo. Esta sim, será a verdadeira herança maldita para o próximo governo.

O problema não está no Ministro. A máquina que ele dirige acabou fantoche. Finge que funciona. Propõe, esperneia, mas não resolve nada. Sem autonomia, o Ministério sempre depende de decisões "superiores", como se inferiores fossem os problemas do desenvolvimento rural.

O governo já seria bom se não atrapalhasse. Mas a junção da incompetência pública com o jogo bruto do mercado, onde mandam as multinacionais, acabarão por destruir boa parcela dos produtores. Cartéis, como no caso dos frigoríficos ou das fábricas de suco de laranja, comprimem os preços. Oligopólios, nas sementes, nos fertilizantes, nos defensivos, elevam os custos. Como sair dessa tesoura de preços?

De forma inovadora, a Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados está propondo, no PL 6855/06, a criação do TACA - Tribunal Administrativo de Controvérsias do Agronegócio. Sua função será arbitrar conflitos, assemelhado ao órgão existente na OMC- Organização Mundial do Comércio. Pode ser que ajude nas eternas pendengas.

Miséria pouca é bobagem. Além de fraco institucionalmente, o Ministério da Agricultura está dividido em dois. Isso mesmo. Há uma inaceitável divisão no aparelho de Estado, que constitui outro Ministério, para cuidar do "desenvolvimento agrário". Os caminhos da política desaguaram, inadvertidamente, num abismo entre os "agronegócios" e a "agricultura familiar". Coisa esdrúxula.

Com dois Ministérios, os programas se duplicam, os recursos se dividem. Equipes se sobrepõem, e se atritam. Lá em Genebra, os da agricultura familiar defendem o protecionismo; os do agronegócio o combatem. Aqui dentro, uns defendem a biotecnologia, outros a atacam. Só no Brasil.

O beabá da economia rural ensina que somente não pratica "agronegócio" quem produz para si, ou seja, os produtores de subsistência. Fora disso é pura invenção ideológica. A verdadeira política agrícola deve assegurar que os pequenos produtores rurais se capitalizem, tornem-se empreendedores, melhorem a tecnologia, enfim, ganhem dinheiro e cresçam na vida. Quem gosta de pobreza rural é intelectual fajuto.

O quebra-cabeça é complexo. Nos demais países, por tradição também pertencem ao Ministério da Agricultura a pesca e a silvicultura. No Brasil, tais assuntos são gerenciados por estruturas distintas. Lula inventou um ministério especial da pesca e aqüicultura, só para agradar ao amigo catarina. Nada a ver.

Já a gestão de florestas plantadas se exerce no âmbito do Ministério do Meio Ambiente, confundindo produção florestal com preservação ambiental. Interessado nas taxas que arrecada, o Ibama bate o pé. Daqui não saio, daqui ninguém me tira. E estimula briga de ecologista com ruralista.

Resumo da história: a agropecuária nacional se torna a maior do mundo, enquanto o Ministério da Agricultura, dividido, se enfraquece. Bom problema para ser resolvido pelo próximo presidente da república. Se quiser defender o campo, comece por juntar as peças do quebra-cabeça num balaio só.


________________________
1Xico Graziano, agrônomo, foi presidente do Incra (1995) e secret��rio da Agricultura de São Paulo (1996-98).

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MARIO WOLF FILHO

CURITIBA - PARANÁ - EMPRESÁRIO

EM 10/05/2006

Concordo em gênero, numero e grau com o Xico Graziano, do qual sou seu admirador.



Mas acho que chegou um momento de tomarmos atitudes infelizmente mais agressivas. Sou agropecuarista aqui em Nova Canaã do Norte. Chegou a hora de arrumarmos pelo menos três mil homens para irmos a Brasília com nossas ferramenta, como enxadas, foices e entrar mil homens no Ministério da Agricultura, mil no Ministério da Fazenda e Banco Central, mil homens no congresso nacional, que hoje é a vergonha nacional (salvo alguma exceção) e só saírmos dela com os problemas resolvidos.



Pois hoje mais sério do que o preço do boi que aqui em minha região, estes míseros R$40 /@ c/ 30 dias, soja a R$ 13,50 a saca preço que eu vendi em na safra 99/2000 com a qual um saco comprava 35 litros de diesel, hoje compro 6 litros, e este governo de guerrilheros e quadrilheiros ainda faz propaganda com o nosso dinheiro, dizendo como vantagem a nossa estatal Petrobrás, que somos auto-suficientes em petróleo. Do que nos adianta se pagamos o combustível mais carro do mundo?



Sou um dos homens dispostos a resolver o problema.



Um forte abraço a todos os agropecuaristas do Brasil.
GUSTAVO ADOLFO PEREIRA LIMA UBIDA

BARRETOS - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 09/05/2006

Parabéns ao Dr. Xico Graziano.



Esta matéria é digna de primeira página de um jornal ou revista de grande circulação.



Realmente, o agronegócio brasileiro vem sendo tratado como apêndice da economia de nosso país, quando na realidade é o coração. A máquina que faz o Brasil crescer.



Por favor, divulguem esta matéria para o máximo de pessoas possível. Vamos tentar mostrar a realidade do agronegócio brasileiro.



Parabéns Dr. Xico.
DENIZ FERREIRA RIBEIRO

BARUERI - SÃO PAULO

EM 08/05/2006

O secretário Xico Graziano deve ser parabenizado pelo seu artigo. Seu enfoque, extremamente político, no entanto, coloca a questão na pessoa do sucessor do atual "presidente-calamidade".



Porém, estamos em vias de ver uma repetição dos mesmos desatinos apontados pelo articulista pois, do jeito que as coisas marcham, infelizmente os que trabalham, assistirão a mais um período de tragédia, na qual esse Robin-Hood tupiniquim continuará a premiar os que, como ele, se recusaram a "pegar no batente", à custa do suor dos demais. As esperanças de que haja uma mudança, pelo menos dos homens, a cada dia que passa, parece cada vez mais distante.
JOSÉ ALMEIDA DE OLIVEIRA

MAJOR ISIDORO - ALAGOAS - EMPRESÁRIO

EM 08/05/2006

Prezado Xico,



Junte-se aos demais deputados ruralistas e a nós, produtores de leite. Salve para que possamos "morrer" dignamente. Veja que nós produtores de leite descontamos o INSS e não temos direito algum. Esses descontos não servem para nós que descontamos.



Temos sido injustiçados constantemente. Enquanto isso, os poderes públicos fecham os olhos e não nos vêem como colaboradores do governo. Já que falam tanto em emprego, renda, produtividade!



Obrigado pela atenção.
TANIA MARIA COSTA BORGES

OUTRO - RIO GRANDE DO NORTE - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 29/04/2006

As Secretarias de Agricultura dos Estados e Municípios, na maioria, seguem a mesma cartilha. Aqui no estado do Rio Grande do Norte temos exemplos terríveis do "não tem transporte, falta pessoal, nosso salário é baixo..."
CLAUDIO QUADROS

SANT'ANA DO LIVRAMENTO - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 26/04/2006

Havia tempo que não lia uma descrição tão bem colocada sobre a situação do setor. O artigo merecia ser divulgado de uma forma mais ampla. Parabéns.
PAULO JAIR BARTH

TRÊS DE MAIO - RIO GRANDE DO SUL

EM 26/04/2006

Parabéns pelo artigo publicado. Nós agricultores somos os escravos modernos. Trabalhamos o ano inteiro e no final, além de não sermos remunerado pelo serviço, somos chamados de devedores e inadimplentes.
EDSON FELIX COSTA

GRAVATÁ - PERNAMBUCO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 25/04/2006

O artigo do Xico reflete com absoluta precisão o sentimento que passa pela cabeça de cada um de nós que teimamos em alimentar a população, cada vez mais urbana, deste país "grande e bobo como filho de rico", como diz o Eduardo de Almeida Reis.



Que pena esse artigo do Xico não ganhar as primeiras páginas de todos os jornais, as primeiras manchetes de todas as TV's, rádios, etc.



Parabéns ao Xico Graziano e a Equipe MilkPoint.



Edson Felix

Produtor de Leite

Altinho - PE

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