ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Governo se contradiz e cria o leite ideológico

ESPAÇO ABERTO

EM 05/04/2006

4 MIN DE LEITURA

6
0
Por Rodrigo Alvim 1 e Marcelo Costa Martins 2

A lei que regulamenta a comercialização de alimentos para lactantes e criança de primeira infância, sancionada pela Presidência da República em 3 de janeiro, sob o no 11.265, revela uma das tantas contradições do Governo no tratamento dado à produção de leite no País.

Na seção III da nova lei, consta a exigência de inclusão no rótulo de produtos lácteos da frase "O Ministério da Saúde Adverte". A expressão "adverte" levará o consumidor a equiparar o leite ao cigarro, o único produto cujas embalagens trazem a mesma expressão, transferindo uma conotação extremamente negativa aos produtos lácteos.

Segundo avaliação da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), ao exigir esta rotulagem, o legislador ultrapassou a intenção original de incentivar o aleitamento materno, gerando desinformação quanto ao valor nutricional do produto leite.

A advertência quanto ao consumo de lácteos poderá confundir a avaliação dos consumidores, pois tal exigência cabe somente aos casos em que há riscos à saúde da população, conforme determina o Código de Defesa do Consumidor. As conseqüências negativas se estenderão, também, aos produtores de leite, que terão prejuízos na comercialização da produção.

Ao sancionar a nova legislação o Governo federal entra em rota de colisão com outros programas do Executivo, criados com o objetivo de expandir a produção e o consumo do leite. É o caso do Programa de Incentivo à Produção e ao Consumo de Leite (IPCL), operacionalizado pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), responsável pela aquisição de 600 mil litros de leite para distribuir a idosos, nutrizes, gestantes e crianças a partir de seis meses de idade, nos Estados do Nordeste e norte de Minas Gerais.

Além de diminuir a vulnerabilidade social, combatendo a fome e a desnutrição, o IPCL se dispõe a incentivar a pecuária leiteira, a principal atividade agropecuária do semi-árido nordestino. Cabe lembrar que a produção de leite é a única forma de sobrevivência de produtores rurais em regiões onde, a cada período de dez anos, sete tem chuvas irregulares. Atualmente, cerca de 85% do rebanho bovino do Nordeste possui característica leiteira, o que reforça a importância do programa para a região.

Diante deste realidade regional, alguns artigos da Lei no 11.265 podem ser considerados no mínimo inadequados e contraditórios. Surgem indagações sobre qual a reação de uma mãe, com filho de 10 meses de idade, ao receber por meio do programa um litro de leite integral onde está escrito no rótulo: "O Ministério da Saúde Adverte: Este produto não deve ser usado para alimentar crianças menores de um ano de idade, a não ser por indicação expressa de médico ou nutricionista"?

Neste hora, caberia a dúvida: o leite deve ou não ser dado às crianças? Segundo as Secretarias de Saúde dos Estados incluídos no IPCL, a mortalidade infantil caiu substancialmente após a distribuição do leite, em decorrência da melhor nutrição de gestantes, nutrizes e crianças. Para a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, o leite é a principal forma de combater doenças por deficiência de cálcio na idade adulta.

No âmbito do próprio Programa de Incentivo à Produção e ao Consumo do Leite é possível encontrar novas contradições. Ao estabelecer o valor máximo de R$ 2.500,00 por semestre para as aquisições de leite, por agricultor familiar, o programa gera limites que ameaçam a sua continuidade. Esse valor permite a compra de menos de 25 litros de leite por dia de cada produtor. Se o produtor entregar 100 litros de leite por dia, conforme a Resolução no 16/2005 da Secretaria de Segurança Alimentar e Nutrição do MDS, ele permanecerá no programa por apenas 45 dias por semestre, ficando sem perspectivas, após esse prazo, de comercializar o restante da produção.

Nesse ponto surge a terceira contradição nas políticas oficiais para a pecuária de leite. O governo federal disponibilizou um importante financiamento de vacas leiteiras pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) para incrementar a produção e a produtividade da pecuária leiteira na região.

No entanto, o pequeno produtor que adquirir esses animais provavelmente não poderá entregar a totalidade de sua produção ao IPCL em decorrência do pequeno limite de volume a ser adquirido por produtor pelo programa.

Por último, recente estudo realizado, pela Embrapa Gado de Leite em parceria como a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Pernambuco e o Sebrae/PE, constatou que o custo de produção de leite em pequena propriedade com mão-de-obra familiar e produção inferior a 50 litros/dia é de R$ 0,44. O produtor que entrega o leite para o IPCL recebe R$ 0,52 por litro. Como o programa limita o volume de aquisição a 25 litros por dia, o que sobra para o produtor é R$ 60,00 por mês ou 20% do salário mínimo.

Com tantas contradições surge a dúvida sobre o real interesse do atual Governo em incentivar a pecuária de leite, atividade praticada em todo o território nacional por mais de um milhão de produtores, responsável pela geração de 3,6 milhões de postos de trabalho permanentes somente na produção primária.

Ações Contraditórias do Governo Federal na Pecuária de Leite




____________________________________
1 presidente da Comissão Nacional da Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNPL/CNA)

2 assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)

6

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

HELTON PERILLO FERREIRA LEITE

LORENA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/04/2006

Para nossa sorte o consumidor não lê rótulos, se lesse e pensasse, não tomaria bebida láctea, nem leite esterelizado ou longa vida. Aumenta o consumo de verduras, frutas orgânicas e cereais integrais, mas não aumenta o consumo de leite integral (o antigo leite B). Na prática o consumidor típico opta pelo mais barato e mais prático, poucas vezes pelo melhor.



Helton P. F. Leite

Eng. Agr. - Lorena (SP)

JOSÉ ALMEIDA DE OLIVEIRA

MAJOR ISIDORO - ALAGOAS - EMPRESÁRIO

EM 10/04/2006

Isto é próprio deste Governo, formação de "balaio de gato". E mais, o atraso no pagamento do leite às indústrias tem sido uma constância, isto é próprio de tecnocratas que não sabem o que dizem e não fazem o que sabem!
ELIZARIO PEDROZO

ENÉAS MARQUES - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 06/04/2006

Parabéns por esta matéria, retrata o que o setor está vivendo. A argumentação e informações apresentadas não podem ser contestadas, são uma clara demonstração do descaso que o governo vem tratando esta atividade, de forma que relatar o que acontece é tornar-se repetitivo.



Em nossa região o agronegócio está morrendo. Hoje, não temos alternativa, o leite teve redução brusca de valor há 7 meses e não houve reação de preço. O gado do corte, além do preço não cobrir o custo de produção, não consegue ser vendido. O custo de produção de milho, dependendo da técnologia, chega a R$ 13,00 a saca, e estamos vendendo a preço médio de R$ 10,00. O suíno, com custo médio de R$ 1,45/kg, hoje está sendo comercializada a menos de R$ 1,00. A Sadia fez investimento pesado em aves e hoje a região está uma tristeza geral, com a especulação da gripe aviária.



Tudo isso sem contar com o fator climático: 2 anos de secas, o produtor não sabendo o que fazer! Qual alternativa que nos resta? O piór é todo dia ficar ouvindo frases do Presidente, que o custo de vida nunca esteve tão baixo, fazendo comparações o que se comprava há 3 anos com um salário mínimo e o que se compra hoje em quantidade. Estamos aumentando o volume de produção, melhorando a qualidade, e nos endividando. Infelizmente, não temos o mínimo de organização. Se fosse outro setor, já tinham parado esse país. Vamos sobreviver até quando?
JULIO CESAR BRANCHER

ERECHIM - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 06/04/2006

Não tiro o mérito de Vossa avaliação, porém acredito ser necessária uma avaliação mais profunda da conotação do alerta. Como técnico participei por um período de um programa que tratava sobre a importância e o incentivo ao aleitamento materno nos primeiros anos de vida de uma criança e sei da preferência deste tipo de aleitamento em detrimento ao leite não materno. Outra questão importante é fazer a referência de qual tipo de lácteo deve levar a inscrição aprovada. Sabemos que, por exemplo, o "leite modificado", que contém maior porcentagem de soro é menos nuticional que o leite integral. Neste sentido a orientação médica é positiva. Portanto o contexto da Lei me parece importante nesta análise.



Só mais um comentário: como a palavra "alerta" parece descabida para a frase, aprovada supostamente com objetivo de orientação, não entendi o porquê da palavra "ideológico" como adjetivo ao condicionamento da Lei.
ELIO VIRGINIO PIMENTEL

ANCHIETA - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 05/04/2006

Na verdade casos como este, acontecem em vários setores de nossa economia, devido a petização de cargos de confiança. O cidadão que autorizou e criou esta lei é pessoa totalmente estranha ao meio, sendo assim, esta não será a última incoerência deste governo.



Nós, produtores de leite, temos que ter paciência para agüentar estes acontecimentos de pessoas totalmente despreparadas para assumir responsabilidade, onde esta em jogo a sobrevivência de milhares de famílias e o bem estar da criança carentes de alimento de qualidade como o leite, que na maioria das vezes e o seu principal alimento.



Saudações,



Elio Pimentel

Faz Jabaguara - Anchieta-ES
TIAGO MORAES FERREIRA

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 05/04/2006

Infelizmente é nesse país que nós vivemos. É lamentável isso acontecer num país que tem um potencial enorme, deve ser por isso que somos fortes. Mas, o produtor de leite acredita que a esperança é a última que morre.



Um abraço a todos.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures