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Estabilidade do preço do leite

POR SEBASTIÃO TEIXEIRA GOMES

ESPAÇO ABERTO

EM 25/05/2004

3 MIN DE LEITURA

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A estabilidade do preço recebido pelo produtor de leite é uma reivindicação antiga, porque é significativa a diferença entre os preços praticados no verão (águas) e no inverno (seca). O argumento mais citado para explicar tal diferença diz respeito à variação da quantidade produzida. No verão, a produção é maior, razão por que o preço é menor; no inverno, a produção é menor, razão por que o preço é maior.

Nos últimos anos, a sazonalidade da produção de leite no Brasil reduziu significativamente, o que não aconteceu com a variação dos preços. Já se foi o tempo em que eram comuns as expressões safristas e cotistas; mesmo assim, as variações de preços continuam as mesmas daqueles tempos.

A redução da sazonalidade da produção reflete a aplicação mais rigorosa dos critérios de pagamento de leite-cota e leite-excesso e também a evolução tecnológica dos produtores que respondem pela maior parte da produção. No período de 1995 a 2003, o coeficiente de variação da produção (igual ao desvio-padrão dividido pela média, vezes cem) reduziu 6,48% ao ano; no mesmo período, o coeficiente de variação do preço reduziu apenas 0,61% ao ano.

Na explicação do comportamento sazonal do preço do leite, os seguintes argumentos devem ser destacados: 1) Ainda que a sazonalidade de produção tenha reduzido substancialmente, ela ainda existe. Em média, a diferença das produções do verão para a do inverno está em torno de 10 a 15%. 2) Há diferenças de tecnologias e de custos de produção, no verão e no inverno, da maior parte dos produtores de leite do país. O sistema de produção de leite predominante no país utiliza, no verão, pasto com pequena suplementação de concentrado, entretanto, no inverno, faz suplementação com volumosos (cana, capim, silagem) e com concentrados, em quantidades maiores que as fornecidas no inverno. Por esta razão, o custo de produção de leite no verão é menor que o do inverno. 3) O preço do leite acompanha o comportamento do custo de produção, conforme dados da Tabela 1. Maior custo, maior preço no inverno; menor custo, menor preço no verão. Na hipótese de o preço do leite ser o mesmo o ano todo, o produtor só iria produzir no verão, quando o custo fosse menor. 4) As imperfeições do mercado criam condições para o comportamento do preço do leite. O mercado sabe que, no verão, o preço de sobrevivência do produtor é menor, razão de ele suportar preços do leite menores nessa época.

Diante das questões apontadas, um ponto relevante diz respeito à tendência do mercado de leite, mais especificamente das sazonalidades da produção e do preço recebido pelo produtor. Os dados da Tabela 1 indicam que o comportamento anterior das sazonalidades deve permanecer, porque é bom negócio produzir leite, no verão, para a maioria dos produtores, visto que a margem bruta do verão é maior que a do inverno.

Tabela 1 - Preço, custo operacional efetivo de produção e margem bruta do leite no Brasil em 20033


Algumas questões metodológicas referentes aos dados da Tabela 1: 1) O custo operacional efetivo (COE) refere-se apenas aos custos diretos de custeio, tais como mão-de-obra contratada, concentrados, fertilizantes para manutenção das forrageiras, minerais, medicamentos e outros dessa natureza. Em média, o COE corresponde a 75% do custo total. 2) Os custos são apontados na época do consumo. Assim, por exemplo, os custos com silagem são anotados nos meses de inverno, embora seja preparada no verão. 3) As estimativas de COE/litro, mês a mês, correspondem à média das opiniões de 56 especialistas na produção de leite de diversos Estados do país, incluindo consultores, pesquisadores, extensionistas, indústriais e produtores de leite.

Considerando como inverno os meses de junho, julho, agosto e setembro, a margem bruta média, deste período, foi de R$ 0,1115/litro. Considerando como verão os meses de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro, a margem bruta média, deste período, foi de R$ 0,1405/litro.

A partir dos argumentos apresentados anteriormente, pode-se chegar às seguintes conclusões: 1) O preço do leite tende a ajustar-se ao preço de sobrevivência do produtor (custo médio); 2) Sistemas de produção engessados, com os mesmos custos médios no verão e no inverno, têm maiores dificuldades de sobreviver do que os flexíveis, que ajustam os custos ao comportamento sazonal do preço do leite; 3) Mesmo com menor preço do leite no verão, a maioria dos produtores prefere este período porque o custo é menor e a margem bruta, maior; 4) A competitividade do leite produzido no pasto, no verão, deixa o país numa situação imbatível no mercado internacional ; 5) É ilusório pensar em estabilidade de preço quando se têm sistemas de produção cujos custos são diferentes no inverno e no verão.

SEBASTIÃO TEIXEIRA GOMES

Professor Titular da Universidade Federal de Viçosa

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ROBERTO JANK JR.

DESCALVADO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/06/2004

Sebastião, gostei do artigo mas questiono as conclusões:

1-O preço do leite não se ajusta à sobrevivência do produtor e sim à oferta e demanda do leite e, ao longo do tempo, ajusta-se ao custo de oportunidade do negócio. O valor de leite, seja ele importado, fraudado ou produzido com melhor ou pior tecnologia, sempre seguirá a lei do mercado e não vai subsidiar incompetência ou premiar competência.

2-Sistemas "flexiveis"tem trade offs que podem ser mais ou menos importantes no custo de produção ao longo do tempo, Ex: mdo, energia e qualquer custo fixo tem um grande impacto negativo nas ocasiões em que a produção "flexível" baixa.Não acredito em sistema flexível na produção profissional, a não ser que seja totalmente sazonal (que aliás, à rigor, não é flexivel).

As conclusões 3,4 e5 referem-se à chamada "vantagem comparativa"da produção Brasileira à pasto que, efetivamente, não existe. A situação " imbatível"do leite à pasto do Brasil no mercado internacional não significa retorno financeiro adequado ao patrimônio do produtor como, por exemplo, na N.Zelandia. Vamos lembrar que em toda a sua história e até o ano passado, o Brasil foi importador líquido de leite e neste ano, pela primeira vez, deverá tornar-se superavitário em sua balança comercial de lácteos, o que quer dizer que temos sobras.

Paradoxalmente a este fato, atualmente temos preços bons o que nos leva a crer, conforme seu artigo, em preços melhores na entressafra e maior vantagem comparativa do produtor na safra. A verdade é que não temos organização de mercado para administrar estoques estratégicos que, efetivamente, nos trariam a tal estabilidade que tanto desejamos, como ocorre em outros países. A exportação, por menor que seja, nos livra do incômodo excedente e organiza o que nós, como cadeia, não conseguimos organizar. Atualmente é nosso "limpa trilho"e é o que tem nos permitido sobreviver enquanto produtores.


<b>Resposta do autor:</b>Roberto,

1) Agradeço seus comentários, sempre interessantes, sobre o meu artigo "Estabilidade do preço do leite", publicado recentemente no MilkPoint, pois eles possibilitam que se agreguem outros argumentos a esse tema.

2) O ponto central do artigo é que, mesmo perdendo forças as expressões safrista e cotista, ainda assim permanecem as grandes variações no preço recebido pelo produtor de leite, durante o ano. Atualmente, no Brasil, enquanto a diferença média das produções do verão para a do inverno está em torno de 10 a 15%, a de preços do leite está entre 25 a 30%. Por que isto acontece?

3) Minha hipótese é que um importante argumento para explicar o comportamento do preço do leite (não é o único, conforme cito no artigo) diz respeito à interpretação que o mercado faz do preço de sobrevivência do produtor. No verão, esse preço, para a maioria dos produtores, é menor, razão de eles suportarem preços do leite menores nessa época.

4) Em razão de o custo operacional efetivo médio, no verão, ser menor do que o do inverno, para a maioria dos produtores, ainda que no futuro não haja nenhuma variação da produção, durante o ano haverá variação de preço entre o verão e o inverno.

5) Sistemas flexíveis não significam sistemas de produção flexível, visto que a flexibilidade está nos custos médios, e não na quantidade produzida.

6) Estou de acordo com as deficiências de organização da cadeia produtiva do leite, pois elas favorecem os efeitos das imperfeições no mercado.

A falta de informações corretas sobre o mercado do leite cria condições para a memória safrista e amplia as especulações que tanto distorcem a lei da oferta e da demanda.

7) Um abraço e até a próxima oportunidade. Como sempre, estamos concordando com alguns argumentos e discordando de outros. Isto é bom, visto que ambos crescemos com o debate.

Sebastião Teixeira Gomes
Prof. da Universidade Federal de Viçosa
JOSÉ ALMEIDA DE OLIVEIRA

MAJOR ISIDORO - ALAGOAS - EMPRESÁRIO

EM 01/06/2004

Dr. SEBASTIAO T. GOMES,

Estabilidade do preço do leite não se ajusta com nossa realidade em Alagoas. Em virtude dessa distorção, achamos por bem adequar o acasalamento de nosso rebanho direcionando as Inseminações atualmente para parições em fevereiro/março de 2005. Já que, a partir desses meses, o preço do litro de leite ao produtor aumenta significativamente e o custo de produção baixa. Aproveito esta oportunidade para solicitar-lhe, se possível, o custo de produção de Alagoas, Se não o tenha gostaria de receber novo método para elaborá-lo.

Antecipando os agradecimentos, nos colocamos à disposição para quaisquer solicitações.
RENATO S. MACHADO POMPÉU-MG

POMPÉU - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 30/05/2004

Não sei se estou errado, mas prefiro produzir leite no inverno. No meu caso, pode ser que meu sistema seja meio engessado e por este motivo não reflita o menor custo de produção.

Utilizo silagem de sorgo e cana no inverno, e pastagem rotacionada no verão. Média de 16 kg vaca.dia e não consigo fugir do 2,75 kg de concentrados por litro de leite, verão e inverno. Só que no inverno, como temos muitos subprodutos a preços compensadores, pois foram recém-colhidos, consigo uma boa rentabilidade. Já no verão não consigo mais Caroço de Algodão, a Polpa Cítrica encarece, sem contar que a Soja e o Milho vão para a estratosfera.
Não sei, mas acho que este estigma de que produzir leite no verão é que é bom tem que ser mudado.

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