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Estabilidade do agronegócio do leite brasileiro: prioridade para o crescimento do mercado interno ou para as exportações, eis a questão

POR MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

ESPAÇO ABERTO

EM 21/09/2005

5 MIN DE LEITURA

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Mais uma vez a pecuária de leite nacional está em crise. Apesar de muitos não gostarem do termo, essa é a realidade, atestada pela Reunião Extraordinária da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Leite, solicitada pela Secretaria de Defesa Agropecuária do MAPA e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), para discutir a situação do mercado, no que tange a produção, consumo, preços e balança comercial.

A explicação apresentada para os preços ao produtor despencarem é um aumento de produção (fala-se que no primeiro semestre de 2005 teria havido um aumento de produção da ordem de 9%), associada a uma cotação do dólar extremamente baixa e à redução no consumo interno.

Qual o caminho para tornar o agronegócio do leite brasileiro, principalmente a pecuária leiteira, mais estável, evitando as periódicas crises do setor? É dar prioridade para o crescimento do mercado interno ou para as exportações?

A Leite São Paulo, embora reconheça a importância das exportações para absorver a oferta que exceder à procura, defendeu nessa reunião que a prioridade para se lograr o equilíbrio da cadeia láctea brasileira deve ser o crescimento do mercado interno.

Essa posição é fruto da avaliação das potencialidades das duas alternativas e das dificuldades para implementá-las.

Se conseguirmos um crescimento de forma que nos próximos 7 anos atingíssemos um patamar de exportações da ordem de 1,2 bilhão de litros de leite equivalente por ano (asseguraria cerca de 16.500 empregos permanentes no campo, se considerarmos que cada 200 litros por dia geram um emprego na produção), vencendo as dificuldades de cotação do dólar, de exigências de qualidade, de subsídios, de barreiras fiscais e sanitárias, temos que reconhecer que seria uma tremenda vitória.

Por outro lado, se nesses próximos 7 anos trabalharmos no crescimento do mercado interno para conseguir passar o nosso consumo per capta do valor médio histórico de 130 litros/habitante/ano para 136,8 litros/habitante/ano, conseguiremos, sem contar o aumento de consumo decorrente do crescimento populacional, os mesmos 1,2 bilhão de litros equivalentes por ano. É lógico que teremos que vencer dificuldades para lograr este objetivo, mas são dificuldade internas, que nos parecem mais fáceis de serem vencidas. E a potencialidade do trabalho no crescimento do mercado interno através do aumento do consumo per capta pode ser muito maior: se conseguirmos passar do valor histórico de 130 litros/habitante/ano para o valor recomendável do ponto de vista de saúde de 170 litros/habitante/ano, absorveríamos uma produção de 7 bilhões de litros equivalentes por ano, gerando cerca de 97.000 empregos diretos no campo se considerarmos 1 emprego para cada 200 litros/dia produzidos.

Ao examinarmos a análise comparativa das exportações e importações brasileira no período de janeiro a agosto de 2004 e de 2005 publicada pelo MilkPoint, alguns fatos chamam a atenção:
  • no mix de exportação, o item leite em pó e leite condensado (com predomínio do leite em pó) representaram em 2004 e 2005 respectivamente 76,2% e 77,8% (em volume);


  • o valor unitário das exportações nesse item em foi respectivamente de 1.343,29 US$/tonelada em 2004 e de 1.502.90 US$/tonelada em 2005, bem abaixo dos valores de importação para esse mesmo item nesses mesmos anos, respectivamente de 1.970,23 US$/tonelada em 2004 e 2.229,43 US$/tonelada em 2005;


  • para o item leite em pó e leite condensado (com predominância do leite em pó) em 2004 e 2005 foram importados respectivamente 16.865 T e 26.570 T, e exportados respectivamente 27.373 T e 34.646 T, mostrando no item predominante do balanço comercial que significativa parte das exportações foram compensadas por importações (com preços unitários maiores que os das exportações).
Esses fatos apontam para uma dificuldade adicional para o crescimento da exportação brasileira de lácteos.

Não parece razoável que sejam as mesmas empresas que exportam e importam leite em pó. A importação de soro de leite é muito grande, já atingiu 22.160 T neste ano e cresceu 47,3% se observado o período de janeiro a agosto de 2004 para 2005. As importações de leite em pó e de soro, se for utilizado soro para fraudar leite, agravam o excesso de oferta e contribuem para desestabilizar nossa pecuária leiteira. O monitoramento das importações de soro e de leite em pó, e o combate à fraude são fundamentais para a estabilidade do agronegócio e para o crescimento sustentado da produção nacional.

A avaliação das potencialidades e dificuldades das duas alternativas para estabilidade do agronegócio do leite brasileiro parecem indicar que a prioridade deve ser o crescimento do mercado interno focado para o aumento do consumo per capta, para o monitoramento das importações de soro e leite em pó e para o combate à fraude.

Se a cadeia láctea unir esforços para essa prioridade e para esse foco, estabelecer metas e definir e executar as ações estratégicas necessárias para atingir essas metas, teremos dado um grande passo para a estabilidade do agronegócio do leite brasileiro, o que acabará como conseqüência também favorecendo ao crescimento das exportações de lácteos.

Finalizando essas considerações, é preciso alertar para o fato do produtor ser o elo mais fraco da cadeia láctea e não ter condições de suportar por mais tempo uma queda drástica de preços ocorrida em 2005.

Para pequenos produtores de baixa produtividade, que praticamente não investem na atividade, ainda é factível reduzir produção e custos limitando gastos com concentrado. Mas, por exemplo, para abastecer o consumo do Estado de São Paulo com esse tipo de produtor, precisaríamos praticamente ocupar toda a área do Estado com pecuária leiteira, o que naturalmente é inviável sob os aspectos econômicos, ambientais e de geração de empregos. Com certeza não será esse produtor que assegurará o abastecimento do mercado interno e disponibilidades para exportação.

Para os produtores, grandes ou pequenos, que tem investido na produtividade e na qualidade do leite, a redução dos gastos na alimentação para baixar a produção é inviabilizada pelo aumento do custo fixo unitário. Estes produtores, que são os que poderão de fato assegurar o abastecimento do mercado interno e disponibilidade para exportação não podem ser desestimulados amargar prejuízos e pagar a conta das crises.

Cabe ao comércio e à indústria, que são os elos mais fortes da cadeia do leite, através de redução de margens ou até mesmo absorvendo algum prejuízo, bem como ao Governo, um esforço para reverter com urgência a queda de preços aos produtores, assegurando atividade sustentada do que investem na produtividade e qualidade, e evitar que o agronegócio do leite nacional, ao invés de se tornar auto-suficiente para abastecer o mercado nacional e para se tornar um exportador significativo de lácteos, por desestímulo desses produtores, venha a ser por muitos anos no futuro um grande importador de lácteos, como o foi ao longo da maior parte dos últimos 20 anos, consumindo divisas e transferindo para o exterior um número significativo de empregos que poderiam ser gerados no País.

MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

Membro da Aplec (Associação dos Produtores de Leite do Centro Sul Paulista )
Presidente da Associação dos Técnicos e Produtores de Leite do Estado de São Paulo - Leite São Paulo

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JOÃO FRANCISCO S. VAZ

PELOTAS - RIO GRANDE DO SUL - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 26/09/2005

Prezado Sr. Marcello,



As informações que temos aqui no Rio Grande do Sul também apontam, como caminho mais eficaz, uma atenção maior ao aumento do consumo de lácteos, visando crescer o consumo interno per capita.



Isto, no entanto, precisa ser bem planejado para que o produtor seja melhor remunerado, sem penalizar o consumidor final.



Difícil equação essa, num país em que o governo se nega sequer a conversar sobre subsídio à cadeia produtiva do leite.



Precisamos também, aumentar a produtividade, já que sem ela o produtor não terá remuneração compatível, com uma atividade que não tem feriado nem domingo!



Um abraço,



João F. Vaz

CRMV RS 4561
NEVIO PRIMON DE SIQUEIRA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 24/09/2005

Caro Marcello, está reproduzido na íntegra o comentário que fiz sobre a argumentação do Dr. André Zeitlin, sobre o sobe e desce dos preços. Desculpe se existe algum comentário mais específico sobre a argumentação dele, mas é de qualquer forma minha modesta opinião. Sei que não dou uma solução, mas talvez alguns caminhos para ir de encontro a ela.



"Acho importante o gerenciamento da informação como você sugere, mas temos problemas por aqui, como você bem sabe, de acesso à informação. Infelizmente uma grande parte dos produtores ainda não faz uso de veículos de informações, e outros não conseguem analisar de forma correta as informações recebidas para a tomada de decisão. O que mais acontece por aqui é a total falta de critério para analisar as informações ou as tendências de mercado. Por exemplo; no início do ano quando o mercado mostrou uma estabilidade nos valores do leite, houve uma grande procura por vacas de leite, novilhas e bezerras, fazendo inclusive os valores desses animais subir significativamente no mercado. São aqueles que procuram entrar no mercado ou aumentar sua participação quando o mercado já mostrou uma alta ou sinais de melhora, porém não percebem que quando eles obtiverem seus resultados positivos em termos de produção, a resposta do mercado já vai roê-los.



Talvez uma das saídas fosse a cotização da produção leiteira do país, como é feito no Canadá, por exemplo. Já que o produtor brasileiro não tem capacidade de fazer essa análise de tendências de mercado, eu deixaria que fosse feita por uma comissão formada por membros da cadeia leiteira (produtores, industria e varejo) para que a produção seja compatível com a demanda esperada a médio prazo e para que haja tempo de se promover aumentos ou reduções de produção para ajustá-la à necessidade, e não como é hoje que quando existe uma melhora, dura pouco devido, entre outros fatores, à entrada de aventureiros no mercado que o tornam ainda mais volátil do que realmente seria.



Deixo claro que isso não acontece somente com o leite, mas tambem com a laranja, o café, o milho, etc.



Também concordo com você quando diz que a exportação não pode ser considerada tábua de salvação para o setor, até porque conhecemos o Brasil e infelizmente ainda não podemos ter total confiança nos problemas sanitários que enfrentamos. Basta surgir um foco de aftosa no norte da Amazônia para jogarmos todo o leite fora de um dia para o outro - inclusive o leite do Rio Grande do Sul apesar das distâncias serem enormes.



Precisamos fortalecer o consumo no mercado interno, através de campanhas de marketing e propaganda. Como é possível que se tome tanto refrigerante, cerveja, água mineral, tudo isso com preços de venda superiores ao do leite, e até onde eu sei, os benefícios de cada um não se compara aos do leite. Isso sem falar de cigarros.



Enfim, acho que a informação é muitíssimo útil, desde que seja gerida com inteligência e competência, por pessoas capacitadas e envolvidas com o setor, para que possam orientar aqueles que não sabem lidar com isso. Como você disse, é um meio para que seja alcançado um objetivo.



O mais difícil não é obter a informação, mas sim saber utilizá-la de forma coerente.



Um grande abraço a você e sua família,



Névio."



Um abraço a voce Marcello e continuemos a queimar pestanas em busca de uma solução definitiva para o mercado do leite, desde que não seja parar de produzir.



Névio.

IVAN TOMASI

CAXIAS DO SUL - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/09/2005

Caro Marcello, de fato o leite, por mais necessário que seja para o Brasil, ainda não é visto de forma adequada por parte do governo, da indústria e do comércio.



Podem haver várias causas para isso, mas acredito que a principal razão é a que se origina nos próprios produtores. Quero me referir ao fato de que o produtor de leite não é respeitado como deveria ser, justamente por ser ele, na grande maioria, tirador de leite e não profissional.



Há uma diferença muito grande entre as duas posições. Uma quer o incremento do produto, leite, com qualidade para competir. Da outra parte, o interesse sobre o produto (leite) não possui esta visão e se limita pelos meios que dispõe, sem o devido interesse que a cadeia exige, permitindo que os demais elos da cadeia se locupletem desta ineficiência.



A mudança de visão dos produtores como produto da balança comercial seria o principal passo a ser dado para o leite para ter um maior significado e ser visto como produto estratégico para um Brasil continental.



Quero parabenizá-lo pela racionalidade do texto.

Ivan Tomasi - Professor e produtor de leite

Caxias do Sul/RS

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