No artigo publicado anteriormente no especial Taça Brasil de Silagem de Milho (Silagens de milho estocadas por mais tempo são mais digestíveis e mais estáveis quando expostas ao ar) ficou evidente os ganhos de digestibilidade e estabilidade aeróbia ao longo da fermentação. Assim sendo, a pergunta que nos surge: “Quantos litros de leite a mais minhas vacas poderiam produzir se, ao invés de 3 semanas, eu esperasse 4 meses para abrir o silo?”
Para responder esta pergunta, lançamos mão de uma simulação utilizando o NRC Dairy Cattle (2001), visto que não há experimentos publicados que respondam à questão apresentada. As dietas foram simuladas com o objetivo de atender as exigências de vacas com alto potencial produtivo (>35 kg leite/d), utilizando apenas silagem de milho como fonte de forragem (Tabela 1).
Inicialmente, formulamos uma dieta com a silagem de milho estocada por pouco tempo (3 semanas), que apresenta menor digestibilidade de amido, mas contém menor teor de proteína solúvel, ou seja, maior fração de proteína não degradável no rúmen. Interessantemente, o modelo indicou equilíbrio entre a disponibilidade de energia e proteína para produção de leite (38 kg/d).
Na sequência, apenas substituímos a silagem de milho “nova” (estocada por 3 semanas) por uma silagem de milho “velha”, fermentada por período longo (4 meses). Como esperado, o potencial de produção determinado pela disponibilidade de energia elevou-se de 38 para 39 kg de leite por dia. Entretanto, a atividade proteolítica durante a fermentação aumentou a fração N solúvel e, portanto, a degradabilidade ruminal da proteína da silagem, resultando em menor aporte de proteína metabolizável (aminoácidos) para o intestino das vacas. Consequentemente, o potencial de produção foi reduzido para 36 kg de leite por dia, por falta de proteína metabolizável. Assim, a maior degradabilidade ruminal de amido não foi totalmente suficiente para captar todo o excesso de proteína degradável no rúmen, por meio de maior síntese microbiana. Na prática, a troca da silagem “nova” pela silagem “velha” poderia resultar em menor produção de leite e maior ganho de reservas corporais (sobra de energia), caso se mantivesse a mesma composição de ingredientes da dieta.
Neste sentido, para explorar o benefício da maior digestibilidade da silagem fermentada por períodos longos é necessário substituir parcialmente o farelo de soja das dietas por fontes protéicas de menor degradabilidade ruminal. Para exemplificar, utilizamos dois produtos disponíveis no mercado nacional: farelo de soja protegido e grãos de soja tostados. Em ambos os casos, o maior suprimento de proteína não degradável no rúmen resultou em aumento da resposta potencial de produção de leite. Em suma, a utilização de silagens fermentadas por períodos longos tem potencial para aumentar a produção de leite em aproximadamente 2 kg/vaca/d, desde que o balanceamento proteico da dieta seja adequado.
Neste ponto, mais uma pergunta surgiu: “Quanto de dinheiro eu poderia ganhar ou perder com estas dietas?”. Para obter os custos das dietas, adotamos os preços do dia 28/05/2015, para ingredientes na região de Piracicaba-SP. Considerando a ração contendo silagem de milho “nova” como padrão, observamos que a substituição da silagem “nova” por silagem “velha” resultou em menor lucro sobre custo alimentar (- 8%). Entretanto, após a inclusão de fontes proteicas de menor degradabilidade ruminal, a maior produção de leite resultou em maior receita e também maior lucro sobre custo alimentar (+ 6%), apesar do maior custo alimentar por vaca/dia.