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Educação alimentar

ESPAÇO ABERTO

EM 27/10/2004

3 MIN DE LEITURA

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Por Xico Graziano1

Obesidade. Os estudos sobre nutrição mostram essa terrível epidemia se alastrando no país. As pessoas com peso acima do normal superam os desnutridos. Comida tem, falta saber melhor se alimentar.

O Ministério da Saúde estima que 6% dos homens e 12% das mulheres com mais de 18 anos sofrem, no Brasil, com a doença. Nos EUA, a obesidade atinge 24% da população.

Na última década, os índices nacionais dobraram. Mais surpreendente ainda: a obesidade cresce entre famílias pobres. Na região sudeste, há mais mulheres adultas obesas na base da pirâmide social. Definitivamente, a doença não ataca só os ricos.

O grande problema reside nas crianças. Distúrbios nutricionais na infância configuram porta de entrada para futuras doenças, como a diabetes. Dietas mal balanceadas, ricas em carbohidratos, encontram no sedentarismo sua escora. A televisão estriba a gordura.

Na década de 70, pensar moderno significava, nessa matéria, discutir abastecimento popular. Com o crescimento das cidades, as massas urbanas demandavam políticas de acesso à comida barata. Visto o rápido processo de urbanização, faltavam equipamentos de distribuição na periferia.

Surgiram assim as Ceasa´s, centrais de comercialização, a exemplo da Ceagesp (SP). Cumpriram papel fundamental na articulação entre produtores rurais e varejistas, especialmente no ramo hortifrutícola.

A questão do abastecimento passou, nessa época, a ser incorporada à gestão pública. Em São Paulo, Afif Domingos, tendo como braço-direito o agrônomo Cláudio Braga, se projetou com os sacolões e varejões.

Passados 30 anos, tudo mudou. A força da iniciativa privada liberou o abastecimento das ações públicas diretas. Do governo se exige, agora, mais poder regulatório, maior fiscalização do comércio. A qualidade passou a ser uma exigência do mercado, dominado por donas-de-casa nas gôndolas do supermercado.

A questão alimentar mudou de cara. A oferta acessível de produtos baratos passou a se transformar em problema. Novos hábitos de consumo, influenciados decisivamente pela propaganda, caminharam na contramão da saúde. Gêneros industrializados, de qualidade duvidosa, inundam os domicílios, enquanto a correria da vida impulsiona os fast-foods. O arroz-com-feijão virou sanduíche.

Nunca se desperdiçou tanta comida, nem jamais se comeu tão mal. Os produtos industrializados facilitaram a vida dos consumidores, porém junto trouxeram seus males. Entre eles, o excesso de energia. Caloria escondida em gororoba insossa.

Um das vilãs dos alimentos industrializados é a gordura insaturada. Trata-se de um componente hidrogenado que oferece maior consistência e durabilidade aos produtos. Bolos, sorvetes, bolachas, são "engraxados" pelo emulsionante. Aumenta os lucros das empresas e reduz a qualidade da mordida. Um perigo na saúde pública.

Os municípios ensaiam intervir nesse processo. Seria fundamental, realmente, que se preocupassem mais com políticas de educação alimentar. Nas cantinas escolares, deveria ser proibido vender produtos gordurosos, refrigerantes e porcarias artificiais. Jogo duro contra a obesidade infantil.

Programas de conscientização sobre o valor nutricional dos alimentos, ao lado de campanhas contra o sedentarismo, podem facilitar a reversão do quadro epidêmico da obesidade. Selecionar a mordida e gastar energia é a receita correta.

Seria uma ótima oportunidade para estimular o consumo de gêneros naturais. Suco de frutas substitui com vantagem as bebidas artificiais; verduras e legumes auxiliam a digestão. Menos calorias, mais fibras. Pouca energia, muita vitamina.

Os governos foram alertados pelos nutricionistas. As secretarias de saúde ensaiam programas de educação alimentar. Em Jundiaí (SP) a prefeitura inovou. Troca cestas de verdura fresca por sacolas de lixo reciclado. Famílias da periferia adquirem hábitos saudáveis de alimentação, e em troca auxiliam na limpeza urbana. A contrapartida impulsiona a pedagogia da alface.

Em Araraquara (SP), a merenda escolar une crianças e agricultores familiares. Essa poderia ser uma importante vertente das novas políticas de alimentação: aproximar o bairro urbano da zona rural. Melhora a comida e fortalece o emprego rural. Os daqui.

Há distorções absurdas. Prefeituras, como a de São Paulo, teimam em distribuir leite em pó para suas crianças carentes. É melhor que nada, claro. Acontece que o fornecedor adquire o produto no exterior, de vacas estrangeiras. Pior, desconfia-se que o leite em pó importado seja destinado ao arraçoamento animal. Um escândalo.

Essa denúncia motivou a Câmara dos Deputados a analisar, em 2001, uma proposição legislativa, de autoria do Dep Abelardo Lupion, visando adicionar farinha de peixe ao leite em pó importado, quando destinado para consumo animal. O truque alteraria o gosto do leite e impediria seu desvio, criminoso, para uso humano.

A proposta nasceu no setor leiteiro do país e contava com o apoio velado do Ministério da Agricultura. Curiosamente, toda a bancada do PT, na comissão de agricultura, votou contra o projeto. Nunca explicaram a razão.

O combate à obesidade, prioridade da política de nutrição urbana, deve valorizar o alimento natural. Isso enaltece o produto caipira, o leite fluído, as frutas, os legumes. Bota suco de laranja, de acerola, na merenda escolar. Tira o biscoito sem graça e entra com a cenoura.

Ganham as crianças e, de quebra, ainda ajuda o emprego no campo.

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1 engenheiro agrônomo, foi presidente do Incra (1995) e secretário da Agricultura de São Paulo (1996-98)

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