Concurso de lucro no Sul acerta na mosca
No recente número de junho, o jornal Elegê Rural apresenta os resultados de concurso de fazendas leiteiras com base no seu desempenho zootécnico e econômico, onde são apresentados os lucros obtidos por 15 unidades produtivas. Como ao produtor interessa o lucro e a rentabilidade do seu empreendimento, este concurso está focando a atenção exatamente onde deve -produção de leite, intervalo de partos, serviços/concepção, são co-ajudantes, muito embora os técnicos muitas vezes percamos a perspectiva e os coloquemos em primeiro lugar. Considero esta iniciativa da maior importância para a pecuária leiteira, e creio que ainda vamos vê-la multiplicada pelo Brasil afora. Os organizadores e a equipe do Dr. Ernesto Krug estão de parabéns!
Embora a amostra é pequena e os dados se referem só a 2002, o exame dos números mostra alguns fatos interessantes. Um deles é que as fazendas com maior produção por vaca em lactação ou por vaca em total, não foram as que tiveram maior lucro, como pode ser visto nas Figuras 1 e 2, construídas com os dados informados na publicação da Elegê.
Mais interessante ainda é a forte relação negativa existente entre o custo de produção e o lucro por litro, apresentada na Figura 3. A correlação entre ambas variáveis foi -0.80. Observa-se na Figura 3 que a variação do custo foi muito ampla, de R$ 0,19 a R$ 0,39, com o lucro caindo a medida que aumentou o custo, até ficar no vermelho no caso extremo.
Uns anos atrás, quando ainda se discutia se os confinamentos eram rentáveis, Evandro Holanda Jr. fez estudo semelhante, com dados de sete fazendas de Minas Gerais e São Paulo, chegando à mesma conclusão ( "Leite caro não compensa", Anais do 20 Encontro de Produtores de Gado Leiteiro F1, Cad. Téc. Esc. Vet. UFMG 25:13, 1998). Pelo que se vê, o leite caro continua não compensando, também no Sul.
A boa notícia foi que a maioria desses 15 produtores teve lucro de razoável para cima, como pode ser visto na Figura 4, sendo que apenas quatro tiveram lucro de 0,01 R$/litro ou menos, nove tiveram lucro de 0,05 a 0,11 R$/litro, e os top 2 tiveram lucro de 0,16 e 0,18 R$/litro.
Ambos os campeões do lucro tinham 30 vacas cada, sendo 23 ou 24 em lactação, produzindo 21 litros/dia, com custo de 0,20 e 0,24 R$/litro. Com produção total diária de 490 e 510 litros, são produtores medianos, ilustrando que as fazendas podem ser eficientes independentemente de seu tamanho.
É claro que com dados de 15 fazendas em apenas um ano não se podem tirar conclusões definitivas, mas os fatos apontados ilustram a importância de se contar com informações de receitas e custos para analisar o desempenho dos sistemas de produção de leite. Tomara que a experiência dos gaúchos se generalize a todo o Brasil.
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1 Fernando Enrique Madalena é Professor da UFMG e ex-Presidente da Sociedade Brasileira de melhoramento Animal (SBMA)