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Comentários ao Editorial de 24 - 11: Relação cooperativa x relação competitiva entre produtores e indústria

POR MARIA LUCIA GARCIA

ESPAÇO ABERTO

EM 01/12/2004

5 MIN DE LEITURA

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O Editorial de 24-11, nos colocou à reflexão, uma questão interessante: a possibilidade de mudança da relação entre produtor e indústria, atualmente baseadas na desconfiança, no oportunismo e na falta de compromisso. Supostamente fundados no antagonismo de interesses das partes, a indústria querendo pagar o menor preço pelo leite in natura e o produtor querendo receber o maior. Um antagonismo aparentemente insolúvel, semelhante ao que, nos primeiros tempos da revolução industrial, opunha trabalhador ao empregador na fixação dos salários, com uma lógica, que levava uma parte sempre a perder por não ter nenhum poder de barganha e ser totalmente substituível. Daí a conclamação marxista: "proletários do mundo todo, uní-vos, não tendes a perder senão os vossos grilhões"- apontando a organização política como o único caminho para equilibrar as chamadas "injustiças" das relações econômicas na contraposição dos sem-poder aos com poder. Modernamente tanto os sem-poder como os com-poder têm suas organizações políticas. Esse caminho os produtores passaram a trilhar faz pouco tempo, com a crise de 2001.

O agravamento do desequilíbrio das relações produtor-indústria é recente. Pela minha experiência, aprofundou-se a partir da era FHC, com a expansão das multinacionais, o encolhimento das cooperativas e o desaparecimento dos pequenos laticínios, ou seja com o capitalismo entrando para valer no setor, e determinando as relações de produção leiteira em todas as suas instâncias, descalçando inteiramente o produtor, como o operário dos primeiros tempos do capitalismo industrial.

Hoje, o setor, após esse choque brutal que empobreceu e levou ao abandono da atividade milhares de produtores, as relações produtor-industria, ainda continuam precárias e hostis, justificando e estimulando o oportunismo, a falta de compromisso entre o produtor e a indústria, com evidentes perdas não apenas para o produtor mas também para a indústria. Soluções entretanto não surgem com a mesma velocidade das preocupações. Afirma o editorialista : para proteger a renda do produtor há duas maneiras básicas: regulamentação e subsídio e cooperativa.

Aproveito aqui para ressaltar que não é bom colocar no mesmo balaio regulamentação e subsídio, pois, embora todo subsídio seja regulamentado nem toda regulamentação implica em subsídio. A regulamentação da exigência de contratação do leite in natura pela indústria, prevê uma uma ação pontual de largo alcance para iniciar o cerco ao descompromisso e ao oportunismo que permeia a relação produtor-indústria. Depende apenas dos representantes da classe e dos políticos não se deixarem dobrar pelo grupo de pressão da indústria e até conseguirem chegar à caneta ministerial.

Quanto ao caminho do fortalecimento do cooperativismo, há quase que uma unanimidade quanto as suas vantagens para segurar a renda do produtor e equilibrar o mercado, porém são fortes as resistências das cúpulas cooperativistas a algumas reestruturações indispensáveis, como o problema das quotas de propriedade. Estão habituadas a ocuparem e "administrarem" uma terra de ninguém pela falta de presença e cobrança de seus donos, e sequer do governo que deveria fiscalizá-las. As cooperativas em sua maioria, não se distinguem muito das outras empresas na sua relação com os produtores-cooperados. Exercem a mesma unilateralidade do manda quem pode, obedece quem tem juízo, entranhada na moral industrial que sucedeu a senhoria e a vassalagem do sistema produtivo historicamente anterior. Urgentíssimo pois, acelerar a modernização de sua legislação com base nos exemplos bem sucedidos de cooperativas em todo o mundo e no que toca aos interesses difusos (interesses de muitos).

A terceira via sugerida pelo editorial, seria a de substituir a relação competitiva produtor- indústria, por uma relação cooperativa, tomando como modelo a revolução promovida pela indústria automobilística japonesa, com seus grupos de produção e qualidade e seus arranjos de fornecedores. Um novo caminho que equilibraria a relação do produtor com a indústria, trazendo vantagens para ambos.

Pelas demonstrações das vantagens aumentadas e compartilhadas quando há cooperação entre indústria e fornecedor, fica claro que a cooperação quando se trata de produzir é mais benéfica e que a competição pois traz de volta o interesse mútuo que firma o compromisso, mantendo a competição nos limites da emulação, que é a competição saudável, não predatória. Falta combinar com a indústria se ela aceita ganhar mais e com mais segurança ...

Mesmo nos mercados onde a lei da competição predatória é admitida em toda sua extensão, já estamos assistindo a iniciativas cooperativas, as chamadas alianças estratégicas, que crescem em progressão geométrica, visando compartilhamento de serviços, logística, mercados, financiamento de P&D, etc. Exemplos nessa direção se multiplicam, pois hoje, mais do que ontem, se busca a sustentabilidade dos empreendimentos.

Há uns quarenta anos atrás mais ou menos, li em um economista alemão, residente nos EUA, cujo nome não me ocorre agora, a previsão da socialização do capitalismo. Segundo ele, o sistema, na sua lógica do lucro puro e simples, estava levando à exploração e à predação desenfreada de todo o planeta, de forma tão oportunística e descompromissada com o futuro, que os tempos de escassez chegariam, levando à substituição da competição desenfreada pela cooperação contratuada, de modo a preservar e distribuir os ganhos entre empresas e nações. Previa que esses tempos seriam antecedidos por muitos conflitos e guerras nos países periféricos, pela apropriação de riquezas naturais ainda existentes, pelo fato de ainda não terem sido exploradas com a mesma intensidade que nos países centrais (quaisquer coincidências são meras especulações...). Para ele, não haveria outra maneira de sobreviver no planeta Terra do que através da socialização do capitalismo.

Concluindo, penso que a preocupação e a busca de soluções para a preservação da renda do produtor passa como bem mostrou o editorial, pelo equilíbrio da cadeia produtiva, cujos caminhos são vários, já que se trata de controlar o oportunismo e restabelecer o compromisso na ação econômica, tanto dos que produzem, como dos que transformam ou processam, como dos que distribuem e vendem.

Assim temos que encarar vários caminhos, como a formalização da relação produtor- indústria, a modernização da legislação cooperativista , a reestruturação das cooperativas, bem como nos mantermos abertos para os arranjos cooperativos de fornecimento, cuja iniciativa terá que vir da indústria. Sabemos que isso está sendo feito com sucesso por várias empresas, que se afastaram da tradição e da tentação do "big stick", tão americano e superado, mas infelizmente de volta com a guerra do Iraque.

Toda vanguarda do conhecimento empresarial sabe bem que estamos em fase de mudança de paradigmas, em que as hierarquias sagradas, graças a Deus, deixaram de ser as espinhas dorsais das organizações, substituídas que foram pelas formações em rede, onde são mais importantes os grupos de trabalho, as lideranças compartilhadas, os processos comunicativos transversais e dialógicos, a informação e o conhecimento, a cooperação e a emulação.

Se isso tudo isso nos seduz, a todos cansados das guerras, já indicando que estamos entrando na socialização do capitalismo tardio?! Então viva a escassez e o fim da competição predatória! Viva a cooperação! A indústria brasileira de lácteos já foi avisada ?!

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