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Carta Aberta ao Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

ESPAÇO ABERTO

EM 02/08/2005

4 MIN DE LEITURA

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Por Helton Perillo Ferreira Leite1

Aproveitando sua presença (infelizmente não concretizada) em São Paulo, neste encontro promovido pela organização da Expomilk, "Brasil, maior exportador de lácteos do mundo?", solicito ações no sentido de melhorar o sistema atual de produção e comércio de leite no Brasil.

É sabido que o leite emprega milhões de brasileiros, cerca de vinte vezes mais que a indústria automobilística (dois milhões contra cem mil empregos).

A participação das cooperativas na captação e comercialização do leite no Brasil não chega a 20% da produção total ou 40% da produção fluida formal. Nos Estados Unidos, Holanda, Austrália e Nova Zelândia é de 80 a 95%. Naqueles países o sistema cooperativo é dominante no mercado do leite, no Brasil não, aqui ele é minoritário. Não dita regras, obedece. Não forma preços, aceita.

Na Nova Zelândia o governo proíbe a entrada de empresas estrangeiras no mercado lácteo. Nos Estados Unidos a DFA - Dairy Farmers of America é resultado de fusão de quatro grandes cooperativas americanas. A Fonterra, maior cooperativa da Nova Zelândia, tem parceria com a Nestlé, com a DFA nos USA e outras. Busca-se aumento de escala entre as cooperativas de leite por todo o mundo. Novamente aqui no Brasil somos diferentes, buscamos a separação e a competição entre as cooperativas de leite. Por outro lado cerca de 90% dos produtores de leite do Brasil produzem menos de 200 litros/dia, isto corresponde a cerca de R$ 3.000,00 de faturamento bruto mensal, ou R$ 500,00 líquidos. Acima desta marca estão os 10% maiores produtores do país.

Sabe-se também que a produção leiteira é uma atividade de estreita margem de lucro, os preços dos principais insumos, como diria a economista Maria Conceição Tavares, normalmente sobem de elevador enquanto o preço do leite sobe vagarosamente por escadas.

A produção de leite é uma atividade sazonal, afetada pelo clima, existindo safra e entressafra, sendo os custos de produção normalmente maiores na entressafra, época de frio e estiagem, quando temos menor produção de alimentos volumosos verdes. No presente ano de 2005 está ocorrendo um fato inédito: em junho o preço do leite ao produtor caiu cerca de dois centavos por litro, em julho outros cinco centavos, totalizando R$ 0,07 de queda em dois meses. Isto representa algo em torno de 12 a 13% de queda.

Vivemos uma época em que a inflação anual tem como meta variações da ordem de 5% ao ano, uma queda no nível dos preços de 13% em apenas dois meses é uma violência que impede qualquer planejamento por parte dos empresários produtores. Isto equivale à inflação de mais de dois anos, em apenas dois meses, no sentido inverso, para baixo.

A importação de leite em 2005 teve seus valores praticamente dobrados em relação ao primeiro semestre de 2004 (US$ 37 milhões em 2004 e US$ 68 milhões em 2005). Estamos importando o dobro de leite UHT já industrializado, leites em pó e condensado e até de soro de leite. O alarmante é que esta importação tenha se intensificado nos meses de maio e junho de 2005, início da entressafra, início da época de maiores custos. Será que tem algum sentido a pergunta "Brasil, maior exportador de lácteos do mundo?". Hoje somos importadores, não exportadores. Apenas no ano de 2004 tivemos um pequeno saldo positivo neste comércio, nos anos anteriores e em 2005 sempre fomos importadores líquidos.

É preciso saber quais empresas estão importando ou comprando este leite já internalizado. É preciso saber se tais empresas não estão sendo beneficiadas por alguma forma de estímulo financeiro, contábil ou fiscal. Podem elas obter financiamento para estocagem de leite na forma de EGF ou carregamento de CPR a juros favorecidos do Crédito Rural? É possível que elas consigam algum abatimento em seus custos fiscais internos ou mesmo que usem de empréstimos externos para obtenção de capital de giro com taxas mais favoráveis. É possível ainda que elas estejam simplesmente se beneficiando de subsídios e estímulos externos.

É possível então que o Governo Federal esteja, indiretamente, desestimulando o setor produtivo leiteiro. Isto numa época de frio e seca, de baixa remuneração empresarial, de perspectivas de maiores custos de produção em função das novas normas produtivas (IN 51), em época de aumento da produção (evidenciando o dinamismo empresarial do setor), de estagnação do consumo (motivada pela queda do poder aquisitivo da população como um todo) e da desvalorização cambial (fato que cria maior dificuldade para exportações e favorece as importações lácteas).

Não estou pretendendo nenhuma forma de subsídio ao setor, não estou solicitando mais crédito, não estou pedindo proteção contra o mercado internacional, peço, e acho justo e oportuno pedir isto, peço que o Brasil não permita que subsídios externos venham prejudicar os produtores nacionais, peço que estímulos internos ou externos à indústria ou ao comércio não venham afetar negativamente os produtores brasileiros, peço justiça econômica, peço igualdade de condições para o combate justo. Peço condições iguais para poder competir.

O setor mais frágil da corrente do agronegócio é o setor produtivo rural, dentro da porteira, é o mais diluído, o menos organizado, tomador de preços antes e depois. Precisa ele de apoio e até de proteções, mas nunca de desfavores.

_____________________________________________________________
1Engenheiro Agrônomo
Lorena (SP)

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SANZIO

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

EM 05/09/2005

Concordo e parabenizo os comentários da carta aberta ao Ministro sobre a situação do mercado leiteiro brasileiro, mas ao mesmo tempo, faço também alguns comentários sobre o assunto:



- em anos anteriores havia a ACEL (Associação da Campanha Educativa do Leite), que foi extinta porque a maioria das empresas e dos produtores não queriam recolher 1 litro de leite por 1000 litros produzidos, cujo objetivo era fazer propaganda para aumentar o consumo interno.



É muito importante e necessário para o aumento do consumo interno, que se faça propaganda, caso contrário continuaremos com este consumo insignificante.



- fazer um trabalho de corpo a corpo junto as prefeituras, governo estadual e federal para inserir o leite nas merendas escolares e no programa Fome Zero.



- a teoria da economia é que os preços são balizados pela oferta e procura, se esta teoria está correta, é necessário diminuir a oferta até um ponto de equilíbrio com a procura. Como? reduzindo o uso de concentrado, principalmente das vacas amojando e de bezerros velhos.



Por necessidade de uma renda de xx por mês, muitas das vezes os preços diminuem e os produtores aumentam sua produção, para auferir esta renda.



- a exportação, como acontece com a soja, carne, açúcar, etc, depende do câmbio, que infelizmente até um espirro do Severino faz o mesmo alterar.



-como ex. técnico, também questiono. O produtor sabe qual o custo de seu leite? Se não sabe, não há preço que o remunera. Temos necessidade urgente de nos unirmos em nossas entidades de classe, de envolvermos nossos empregados e familiares para votar em políticos com interesse pela classe, pois caso contrário continuaremos a chorar e continuar falando em sair da atividade, pois quando sai um entra outro. Presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Ibiá, Engº Agrº, Aposentado.
MARCELO AUGUSTO BARBOSA FIGUEIREDO ALVES

GUARATINGUETÁ - SÃO PAULO - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 09/08/2005

Prezado Helton,



Muito oportunas as suas palavras. Infelizmente, os governos do nosso país, nas instâncias municipais, estaduais e federal são, em resumo, um pequeno grupo de pessoas bem intencionadas tentando fazer um trabalho decente no meio de uma maioria de oportunistas, de pessoas preocupadas apenas em favorecer a si mesmo. O pior é que estas pessoas são eleitas por nós, "brasileiros alienados". Quantos de nós se lembram em quem votou nas últimas eleições para vereador e deputado federal, por exemplo?



Fazer boa política no Brasil é como tentar fazer um bolo de noiva, lindo, dentro de um chiqueiro de porcos imundo.



Os governos precisam sim atentar mais para a classe produtora na hora de tomar suas providências. Mas, o produtor também tem de fazer a lição de casa: redução dos custos de produção que só é conseguida com boa assistência técnica, melhoria de qualidade e união da classe produtora. Então, vamos à luta.



Marcelo A. B. F. Alves

Engenheiro Agrônomo

Consultor em Campo Verde/MT

mabfa@uol.com.br
HEITOR GOMES

NITERÓI - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 08/08/2005

Prezado Helton,



Sua analise é perfeita. Eu, como pequeno produtor, de 250-300 lts/dia, sinto exatamente o que você analisou.



Entretanto não espero nenhuma medida vinda da parte do nosso Governo, pois ainda estamos só no palanque, são discursos e mais discursos, viagens e mais viagens, até parece que o Brasil passou a ser a maior economia do mundo, e por aí vai.



Como muitos já fizeram, eu também pretendo encerrar esta atividade. Espero que mais profissionais como você toquem com este enorme problema.



Um grande abraço,



Heitor
CARLOS MAGNO M SANTOS

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 05/08/2005

Senhores, muito interessante a carta enviada pelo amigo, gostei também das réplicas, mas, como os produtores estão se organizando da porteira para dentro? Será que estão se aliando ou ainda estão sozinhos? Cooperativa é muito bom mas somente se existir um compromisso muito forte entre os associados, pois, assim pode-se obter maiores ganhos e repartir entre os mesmos.



Conversemos mais, ou se quiserem entrem em contato pelo email: carlos.magno@seivabrasil.com.br
PLÁCIDO BORGES CAMPOS

CÁSSIA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 05/08/2005

Admiro a carta do amigo. Estou há mais de 7 anos aumentando produção e melhorando tecnicamente minha estrutura. Toda lição do mercado eu fiz: qualidade e produtividade, como presente ganhei em plena temporada de pagar financiamento, uma redução de R$0,13 por litros. Que país é este????



Concordo com você na parte que o governo precisa fazer e realmente penso que não acontece nada pois estão todos pensando nos holofotes das CPIs. Uns querendo esconder e outros querendo tirar proveito eleitoreiro. Somente o povo paga a conta. Tudo para.



Mas........ e nós produtores? Estamos realmente brigando por nossos direitos? Nossas cooperativas, em sua maioria, parecem que viraram meio de vida para alguns e se transformaram facilmente em um agente a serviço das multinacionais do leite. Apenas se prestam para falar que o spot caiu e repassar para os produtores a queda. Sinto que a criatura ficou mais importante que o criador.... e os cooperados que se danem. Mas assistimos de braços cruzados.



E nossas lideranças? Estive na Expomilk, realmente com vontade de protestar. Vi um ringue onde tinha pessoas a debater sobre o que produzimos, mas com um detalhe: todos só ganham com a cadeia leiteira sem no entanto ter de sofrer com as loucuras do chamado mercado sem regras: um deputado muito engraçadinho mas...........discurso. Um jornalista muito bem informado, com um senso de humor que não ajuda em nada a solução dos nossos problemas e ganha muito para fazer os produtores rirem da sua própria desgraça. Por fim o que fez a cama para parecer herói pós moderno e no entanto manda falar aos produtores que não pagará mais que US$0,20 por litro de leite, os produtores é que sejam competentes!!!!! Não foi à toa que a Expomilk parecia uma terra de paulistano vendo um zoológico de vacas exóticas, porém longe da realidade do produtor rural.



Na véspera falei através do Canal Rural com um dos organizadores, sobre a possibilidade de realizarmos algo para atingir o governo sobre nosso problema. Ele disse que lá não era lugar para isto. Ao ir lá realmente percebi que não era e até agora não consegui entender a função real daquele evento. Parecia festa beneficente de madame.



Penso na verdade que os produtores precisam mesmo é de ocupar o espaço que é nosso para não termos fama de chorões. Chega de pseudo liderança, vamos a luta ...... os sem terras são mais eficientes e conseguem o que querem.



Plácido Borges Campos

Central De Associações de Cássia
ELIZARIO PEDROZO

ENÉAS MARQUES - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/08/2005

Quero parabenizar pela iniciativa, o conteúdo desta carta expressa o mais puro sentimento e as condições que vive o Produtor de Leite. Espero que o Ministro leia o conteúdo desta carta e tenha sensibilidade para tomar medidas que venha mudar esse quadro, o que fazer ele deve saber, todo dia está sendo relatado. O que precisa é competência e vontade política. Tenho dúvida em relação ao tempo disponível para esses assuntos. Hoje, todo o governo tem outras coisas mais importantes, exemplo CPI do Mensalão, Correios etc. Isso é uma vergonha e revoltante..., o Brasil esta parando.
SERGIO CAETANO DE RESENDE

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 03/08/2005

Lei da oferta e da procura. A indústria, os grandes produtores e os varejistas não têm interesse no aumento da exportação de produtos lácteos, porque diminuiria a oferta e aumentaria a remuneração dos pequenos produtores de leite.



Os sistemas de sucesso se baseiam em uma fórmula simples: leite dos pequenos produtores para as cooperativas, e destas para o consumidor final em outros países com poder de compra e clima desfavorável.



Não tem sido assim, mas quem deveria deter o maior poder econômico deveria ser o produtor da mercadoria.



FERNANDO AZEVEDO NERY

RIO CLARO - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 02/08/2005

Que o Ministro Roberto Rodrigues leia o conteúdo desta carta, faça algo, ou seja, dê o primeiro passo, para que possamos reverter uma situação em que o produtor rural já não suporta mais. É incrível em plena seca, redução de preço no leite.



Em fim concordo com o conteúdo desta carta em número, gênero e grau. Só falta um berro, no tímpano dos nossos políticos. Grato



Fernando Azevedo Nery

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