Na matéria "Uruguai reclama das barreiras impostas pelo Brasil", chamam a atenção as declarações do senhor Jorge Panizzo, presidente da Cooperativa Nacional de Produtores de Leite do Uruguai - Conaprole. Panizzo reclama das barreiras impostas pelo Brasil, que bloquearam as exportações de US$ 23 milhões em leite em pó, leite que foi produzido e está armazenado para clientes brasileiros, e que se não for desbloqueado logo vai gerar um prejuízo para a Conaprole, pois passado esse momento de escassez de leite no Brasil, "nossos clientes não precisarão mais desse leite".
E Panizzo tem razão, passado esse momento de escassez de leite no Brasil, esse leite não interessará mais aos "clientes" que o teriam encomendado (quem seriam?). Mas como chegamos a esse momento de escassez no início de 2009, se no final de 2008 as indústrias baixavam drasticamente o preço ao produtor, alegando que havia enormes estoques gerados pelo crescimento da oferta e redução do consumo, inclusive as indústrias de lacticínios se queixavam das dificuldades financeiras decorrentes dessa situação? E como explicar nesse momento de escassez, onde o preço do leite subiu muito para o consumidor sem que aumento equivalente fosse repassado para o produtor nacional? Será que tem gente no Brasil - os clientes que Panizzo diz que encomendaram leite - que está querendo ganhar com importação de leite barato prejudicando os produtores de leite e a manutenção de empregos no campo no Brasil?
O presidente da Conaprole acha absurdo a dificuldade de concessão de licença de importação desse leite, sobre o qual há suspeita de dumping e/ou triangulação, por ver apenas um lado da moeda, onde "clientes" brasileiros estariam encomendando esse leite em decorrência da escassez da oferta no Brasil.
Mas vendo o outro lado da moeda, o absurdo é chegarmos a essa situação, que ensejou a "clientes" brasileiros quererem importar leite da Conaprole face a uma grande escassez do início de 2009, quando a indústria no final de 2008 alegava grandes estoques enormes decorrentes de oferta muito maior do que o consumo.
E esse absurdo, se não é decorrente de má fé, evidencia as deficiências da política e no planejamento do setor leiteiro brasileiro, que têm prejudicado muito os produtores nacionais, e que acaba sobrando um pouco de prejuízo para produtores de leite de países vizinhos. A política leiteira no Brasil parece ser conduzida por elefantes numa loja de cristal: a cada movimento é enorme o estrago que causam.
Espero que o absurdo dessa situação chame a atenção do ministro Stephanes e seus colaboradores no MAPA, da Kátia Abreu, do Rodrigo Alvim e seus colaboradores na CNA e dos produtores de leite de forma geral, de que precisamos de um mecanismo permanente e ágil, que tenha a participação da CNA, de representantes da indústria e do comércio, que tenha a coordenação e mediação de representante do governo, para para formulação da política e planejamento adequado para o setor leiteiro nacional, evitando os "trancos e barrancos" que vêm ocorrendo nesse setor, prejudicando principalmente os produtores de leite nacionais, e cujos respingos podem atingir vizinhos, como mostram as preocupações do senhor Panizzo.