Por D.Sc. Natalia Guarino Souza Barbosa – Profa da Universidade Federal Rural da Amazônia. Engenheira Agrônoma, formada pela Universidade Federal Rural da Amazônia-UFRA, Belém-PA. Mestre em Zootecnia pela UFV e doutora em Zootecnia pela EV-UFMG. Coordenadora do Grupo de Estudos em Pecuária Sustentável na Amazônia – GEPSAM. Trabalha com bubalinos há 18 anos.
O búfalo é uma máquina quase perfeita na produção de carne, leite e seus derivados, couro e trabalho e disso praticamente ninguém discorda. O que poucos sabem, entretanto, é que além de seus produtos e derivados de altíssima qualidade, o búfalo é capaz de unir pessoas, como raramente ocorre em outras atividades rurais.
O leite de búfalas possui mais proteínas e ácido linoleico conjugado (CLA) comparado ao leite bovino. Também, possui beta (β) caseína A2 ao invés de β-caseína A1. O CLA é um ácido graxo, que possui ação anticancerígena, reconhecida pela sociedade americana de medicina. Com o advento da busca por leite A2, o búfalo também fica em destaque, já que está 'naturalmente' ajustado.
A carne bubalina chegou a ser mencionada por Wyland Cripe, pesquisador americano, como uma das mais saudáveis ao consumo humano. A carne premium dessa espécie é um produto recente, com sabor inesquecível! O interessante dessa carne é que seu paladar, aroma e aparência são semelhantes à bovina, e por isso, não costuma despertar rejeição.
O couro de búfalo possui espessura de sete a 10 mm, pesa o dobro do bovino e seu valor está associado ao animal jovem, que possui demanda pelo setor da moda. Como animal de trabalho, pode tracionar cerca de 1.200 Kg a três Km/h e é utilizado em cultivos de arroz, para puxar carroça, na coleta de lixo de cidades da ilha do Marajó e como transporte do exército, em situações de selva, por ser capaz de buscar seu próprio alimento.
Essas informações não são novidades e por si só podem parecer fantásticas e capazes de posicionar o búfalo entre as espécies existentes das mais interessantes para a produção animal. Entretanto, a cadeia bubalina vai além da carne, do leite e seus derivados, pois o búfalo é de uma docilidade surpreendente e imbatível em sua capacidade de produzir amigos. Em eventos onde há público misto de produtores de bovinos e bubalinos, é perceptível a sensação que essa amizade causa. Literalmente, andamos em bando e gostamos de permanecer o máximo de tempo juntos possível.
A comunicação entre os bufaleiros é feita diariamente. Há grupos de bate papo regionais, estaduais, brasileiros e até internacionais e é comum um visitar a propriedade do outro, sempre com muita alegria e muçarela fresquinha.
Essa união faz muito bem. Sabe-se, nesse grupo, que se pode contar um com o outro. Constantemente, há pedidos de orientação para algum problema de ordem técnica, dúvidas quanto a manejo, preços, desempenhos etc, e sempre há alguém aconselhando, colaborando ou opinando; quase como se quem respondesse primeiro fosse vencer algum tipo de prêmio. E isso, vem muito antes dos celulares com redes sociais.
Todos os anos, há ao menos um evento brasileiro para os apaixonados pelos búfalos. E a cada três anos, um congresso mundial, que já foi realizado em países como Itália, Tailândia, Argentina, Brasil e mais recentemente, em Cartagena, Colômbia. Ano que vem, o evento será na Turquia. É impossível não rir nesse grupo, que não faz distinção entre homem, mulher, produtor, industrial, aluno ou professor. Se o mundo lhe causa estresse, sugiro que largue tudo e participe de um desses eventos. Garanto que será uma experiência transformadora, pois é revitalizante conviver em uma comunidade que acolhe.
É difícil saber quantas comunidades são próximas e amigas dessa forma. Mas, sem dúvida pode-se afirmar que o búfalo, além de todas suas vantagens produtivas, que não são poucas, é capaz de unir e aproximar as pessoas, verdadeiramente, sem distinção por raça, sexo, nível cultural e financeiro. Escrevo essa coluna, no quarto de hóspedes de um produtor de São Paulo, que me recebeu com um jantar a base de muçarela de búfala e que me mostrará sua ordenha ao amanhecer. Após 24 horas, seguirei para o Vale do Ribeira, para conhecer algumas propriedades, que estão se destacando na atividade. Tudo isso, após passar uma semana no convívio com meus amigos, durante o curso de queijos com o renomado professor Angelo Citro, da Itália e o Simpósio Paulista de Bubalinocultura, na Unesp de Jaboticabal, SP.
Em um mundo onde as pessoas se sentem cada vez mais isoladas e infelizes, pode-se afirmar que ser um bufaleiro faz muito bem ao coração. E, se por acaso, ao ler essa matéria, houver pelo leitor um despertar de curiosidade, basta buscar mais informações no site da Associação Brasileira de Criadores de Búfalos (ABCB) ou entrar em contato com o produtor mais próximo. Qualquer um com quem entre em contato, lhe despertará mais e mais interesse nessa espécie, pois é fato sabido que o búfalo faz muito bem ao bolso de quem o cria, mas é insuperável para o coração de quem convive com ele ou com sua cadeia produtiva.