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A polêmica sobre a questão ambiental: a visão de outro leitor

POR ANDRE ZANAGA ZEITLIN

ESPAÇO ABERTO

EM 14/05/2009

5 MIN DE LEITURA

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Caro Wilson,

Muito interessante seu comentário. Mais interessante ainda os comentários que se seguiram classificando-o de repreensão ao meu xará, André. Denotam uma triste miopia: "quem pensa diferente de nós, só pode estar errado e deve merecer mesmo um "puxão de orelhas". Contribuem pouco ao encontro de ideias, única possibilidade de se encontrar uma solução que harmonize todos os interesses que cercam a questão ambiental.

No seu puxão de orelhas, fica evidente a sobreposição entre sustentabilidade econômica e sustentabilidade ambiental do agronegócio. Seu comentário evidencia o fato de que os frutos de seu trabalho deixam a propriedade por um valor irrisório comparado ao que custam ao cidadão. Embora não o diga explicitamente, o tom do seu comentário indica que isso seria como que um mérito, ou um crédito que possui com a sociedade: não o são. Os produtores são parte do sistema de provisão de alimentos e outros bens para a sociedade, que pagam por esses bens, e não os recebem "a crédito". Se o sistema funciona mal ao distribuir renda entre os elos, a culpa não é da sociedade, mas do sistema em si. Cabe aos produtores encontrar a melhor maneira de dividir de forma equânime e justa a renda do agronegócio com os demais elos deste sistema. Perdoe-me a franqueza, mas se seus clientes e fornecedores lhe montam as costas, a culpa não há de ser do André...

Você continua dizendo que pagou por toda a terra que possui, mas foi confiscado em 35% dela pois não pode explorar esta fração. Caro Wilson, ou você levou isto em consideração ao aceitar o preço da terra, ou mais uma vez permitiu que levassem vantagem sobre você. Mais uma vez, a culpa não há de ser do André. Por sinal, você tem ideia quanto do salário do André é confiscado todo mês, direto na fonte?

Em tempo quero lhe dizer que sou solidário a sua situação, eu mesmo ex-produtor que não suportou a insustentabilidade econômica de ser um produtor rural. Discordo porém de que a viúva (nós, os Andrés) tenhamos que comparecer com a diferença e ajudar a fechar a conta. Não podemos nos esquecer de que estamos aprisionados, num circulo vicioso de eterna expansão de subsídios, garantias de preços, taxas de juros incomparáveis com qualquer outra atividade econômica, assistência técnica gratuita, renegociações de dívidas que não param de crescer... tudo pago pelo André. Não ajuda nada agora dizer ao André que não vai dar para conduzir a atividade de forma ambientalmente sustentável. Em respeito aos seus filhos e netos, o André não tem o direito de concordar. Em face do que estamos vendo acontecer aos seus colegas no Sul e no Norte/Nordeste também não me parece ser do seu interesse cortar esquinas nas suas responsabilidades ambientais.

Devolvido o puxão de orelhas, vamos ao que interessa:

1. Os produtores são incontestavelmente o elo fraco do agronegócio. Os demais elos da cadeia não perdem a oportunidade de conspirar contra a vossa renda. São todos uns bandidos? Não necessariamente (embora alguns devessem sim estar na cadeia). A grande maioria foi simplesmente treinada a abocanhar tudo que lhe passasse a frente, sem preocupação de longo prazo. Lembremo-nos de que apenas muito recentemente se passou a ensinar sustentabilidade, ambiental e econômica, nas escolas de administração. Até aqui valia a máxima do Mercado: se falirem muitos produtores, cai a produção, o preço sobe, mais gente se interessa em produzir, a produção retorna e. "vamo que vamo": não precisamos perder tempo com questões como ética, respeito as normas, sustentabilidade, etc. Enfim, a lógica que redundou na atual crise. O caminho passa por uma nova atitude e um novo entendimento entre os elos da cadeia. Por maior ação dos governos via órgãos de defesa da economia e menos ações emergenciais via os mecanismos tradicionais de socorro. Mas certamente por ações mais sérias e focadas dos seus representantes de classe. Muito pouco que diga respeito ao André.

2. Estamos equivocados em tratar a sustentabilidade ambiental como interesse conflitante. Estão errados os Andrés que acreditam que não é problema seu como os produtores vão arcar com os custos de manter suas propriedades ambientalmente sustentáveis (vão acabar pagando a conta de forma mais cara via subsídios ou falta de alimentos e produtos agrícolas e degradação ambiental). Também estão errados os produtores que acham que ambientalistas têm uma agenda antiprodutores e que a única solução é combater suas ideias e propostas. É preciso que a sociedade (urbana em sua essência) reconheça nos produtores "prestadores de serviços ambientais" e que remunere esta prestação, assim como produtores assumam seu papel de guardiões dos ativos ambientais que administram. O debate deveria estar centrado em como fazê-lo de forma eficiente, transparente e justa. Todos temos pontos de vistas legítimos e que devem ser levados em consideração, mas não há verdade absoluta em nenhum deles.

3. Voltando ao artigo original que desencadeou todos estes comentários, não me soa como bom caminho este das legislações estaduais para questões ambientais. Ainda que particularidades regionais tenham que ser consideradas por definição, isto sempre esteve no bojo da legislação federal e não a invalida ou diminui. Impactos ambientais cada vez mais se evidenciam por sua natureza global. Transportando para um exemplo externo para não contaminar o argumento, que chances temos de resolver a questão da morte do delta do Rio Mississipi se a regulamentação do uso de fertilizantes no corn-belt americano estiver a cargo apenas dos estados que o compõem? Ou, aqui mesmo na nossa cozinha: como esperar que o André, lá em Cerquilho-SP, aceite pagar pelos serviços ambientais prestados pelo Wilson em Paracatu- MG, se não lhe damos voz na legislação local?

4. O conceito de tratar a questão ambiental sob bases científicas não invalida o fato de que esta é em essência uma decisão política (no bom sentido, da gestão de prioridades em face a ativos estritos, por favor). A CNA, para legitimar esta posição, precisa trazer ao debate e aceitar como válidos os argumentos científicos do outro lado. Por enquanto transparece apenas uma tentativa de apresentar a Embrapa (ou alguns pesquisadores da Embrapa) como donos da verdade científica. Não vamos longe por esse caminho.

Por fim quero reconhecer a legitimidade e a clareza de seus argumentos. Não me surpreende o seu sucesso ainda que discordemos, ligeiramente.

Um abraço,

André Zeitlin
Consumidor de produtos e serviços do agronegócio

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ANDRE ZANAGA ZEITLIN

SÃO PAULO - SÃO PAULO

EM 19/05/2009

Caro Roberto,

Vivo hoje de segmentar mercados e lhe digo que no maximo segmentei a "insustentabilidade", pois sustentabilidade concordo com voce só faz sentido se for una, ainda que sobrepondo aspectos economicos, ambientais e sociais.

Quanto as legislacoes estaduais, seu comentario me deixa ao mesmo tempo frustrado e satisfeito: esperava que houvesse argumentos melhores a seu favor do que a mera "porra-louquice" da ideia. A esse respeito, vale repetir o ditado mineiro: Em geral ha apenas duas maneiras de se fazerem as coisas: o certo e o facil.
ROBERTO TRIGO PIRES DE MESQUITA

ITUPEVA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 16/05/2009

André, é bom te ver novamente por aqui...

Desculpe, mas falando de "puxão de orelhas", eu fico com o do Wilson, pois o seu baseia-se em premissa falsa que pretende segmentar a sustentabilidade. A sustentabilidade é exploracional e, portanto, jamais será alcançada se a gestão dos meios de produção for praticada desequilibradamente, pendendo mais para o lado da remuneração do capital ou da preservação ambiental.

De resto, concordo com você de que a possibilidade dos estados legislarem em matérias ambientais é perigosa, mas se algo ousado e inovador não for criado para o aperfeiçoamento da retrógrada legislação agrária hoje vigente, brevemente o número de ex-produtores que não suportaram a insustentabilidade absoluta (não apenas economica) crescerá vertiginosamente neste país.
RODRIGO VIEIRA DE MORAIS

SÃO JOSÉ DO RIO PARDO - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 15/05/2009

Prezado André.

Participei de toda a discórdia gerada durante as cartas enviadas no texto escrito pela diretora da CNA. Fiz um breve comentário em seguida não sei se foi publicado.

Os políticos que representam a agricultura no Brasil, somente se preocupam com o próprio umbigo, este é um dos problemas. Faço uma pergunta. Se aumentarmos a área plantada vamos resolver o problema de renda do produtor rural?

A legislação ambiental está aí para proteger o futuro dos nossos netos e bisnetos.

O pagamento sobre serviços ambientais vai resolver o problema ambiental e um pouco o problema de renda do produtor rural. Uma pena que são poucos os que enxergam isto.

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