Nos últimos anos, temos visto que sempre quando os preços do leite e de seus derivados subiam para os consumidores, a causa principal atribuída pelos demais elos da cadeia era a de que só estariam repassando o aumento de preços da matéria prima. Em outras palavras, os produtores eram os responsáveis pela inflação do leite aos consumidores.
Vários aspectos podem explicar as variações de preços dos diversos produtos e serviços direcionados aos consumidores. A intenção deste artigo não é procurar explicações para o aumento ou queda de preços do leite e derivados aos consumidores, mas apenas tentar entender, porque a maioria das vezes, quando os preços do leite e derivados ao consumidor sobem, as causas apontadas são sempre os aumentos dos preços aos produtores, mas quando os preços dos produtores caem juntamente com os preços do leite e derivados aos consumidores, os produtores não são apontados como os beneficiários desta queda.
Mas do que isso se quer tentar entender porque a queda dos preços repassados aos consumidores (no caso do leite e derivados) tem sido sempre menor (bem menor) do que a queda de preços transferida aos produtores.
Nos vários eventos realizados no Brasil onde se têm discutido o tema leite, dentre os inúmeros aspectos que tem impedido o progresso da pecuária leiteira nacional, o consumo tem constantemente sido apontado como um dos principais empecilhos. A grande justificativa é a falta de renda do consumidor para consumir os produtos lácteos, o hábito de consumo, quando comparado com outros países e a falta de marketing do setor em relação a outros produtos concorrentes, como é o caso dos sucos e refrigerantes.
Voltando ao nosso assunto, uma queda dos preços do leite aos consumidores, naturalmente tenderia ser fator estimulador do consumo, principalmente no caso da população de baixa renda. Fato que poderia enxugar o excedente de leite do mercado e estimular o desenvolvimento da pecuária leiteira.
Analisando em específico a pecuária leiteira goiana, segundo pesquisa realizada pela comissão de leite da FAEG, utilizando dados dos preços recebidos pelos produtores coletados junto a diversos sindicatos rurais do Estado e da variação percentual dos preços do leite e derivados pagos pelos consumidores de Goiânia, medido pelo INPC do IBGE, nota-se que a queda dos preços aos produtores de leite de Goiás no ano passado (2005), foi 8,5 vezes maior do que a queda dos preços do leite e derivados repassados aos consumidores.
Enquanto os preços recebidos pelos produtores goianos caíram 26,60% em média em 2005, os preços do leite e derivados pagos pelos consumidores caíram apenas 3,13% no mesmo período.
Observando a tabela 1, podemos verificar que no caso de alguns produtos, os preços aumentaram para o consumidor goiano, como foi o caso do leite em pó (aumento de 12,49%) e o leite condensado (aumento de 0,64%). No caso das quedas, o produto que teve a maior queda de preços para o consumidor foi o queijo mussarela, que caiu 9,65%.
Todos esperam que uma queda dos preços aos produtores reflita numa queda aos consumidores. Mas em que proporção? Será que é justo os produtores terem tido uma queda de preços pelo leite que entrega, 8,5 vezes maior do que a repassada aos consumidores?
Essa vertiginosa queda de preços aos produtores, somada a um aumento de custos de até 12,73% nos seus insumos, fez com que os produtores de leite goianos tivessem, no ano de 2005, uma perda de renda significativa, o que desestimula o desenvolvimento da atividade.
Segundo a análise da professora Miriam Bacchi (pesquisadora do CEPEA/USP) sobre a variação dos preços do álcool ao consumidor e os preços das usinas (produtor), que menciona a teoria que trata da transmissão de preço entre segmentos do mercado de um produto num cenário competitivo, aponta que preço é mais estável no segmento consumidor do que no produtor, de forma que uma variação percentual no preço ao produtor não é integralmente repassada para o consumidor, tanto numa situação de alta quanto numa de queda de preços.
Não estamos discordando da análise realizada pela Profa. Miriam. No entanto, achamos que no caso do leite, no ano de 2005, as variações foram enormes, pois enquanto os preços recebidos pelos produtores caíram 26,60%, a queda aos consumidores foi de apenas 3,13%. Se os produtores tiveram perda de renda em 2005 e os consumidores não tiveram redução dos preços do leite e derivados que justificasse, na realidade, um aumento do seu poder de compra, a pergunta que fazemos é: Quem está ganhando neste processo?
Tabela 1. Variação dos Preços dos Leite e Derivados medidos pelo INPC do IBGE
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1 Economista da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás - FAEG