ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

A Argentina em números

ESPAÇO ABERTO

EM 09/09/2005

3 MIN DE LEITURA

1
0
Por Antonio Bovolento Junior1

Comparações com a Argentina sempre foram inevitáveis. Em alguns aspectos, cada lado se considera indiscutivelmente melhor que o outro. Por exemplo, reúna um brasileiro e um argentino e pergunte: quem foi o melhor jogador de futebol de todos os tempos? Onde estão as melhores churrascarias do mundo?

Mas em outros aspectos, o consenso é mais facilmente encontrado. Ninguém discorda que os dois países juntos formam uma superpotência agropecuária, capaz de ditar as regras de comercialização ou pelo menos influenciar o mercado de muitas das principais commodities agrícolas, como a soja, a carne, os cítricos e o leite.

Infelizmente, estamos muito atrasados em termos de coordenação de ações para uma maior integração regional, inclusive no que se refere ao agronegócio. O Mercosul, embora auspicioso, tem muitas arestas a serem aparadas e até agora não se traduziu em efetivo poder de barganha de seus membros frente aos outros atores importantes no cenário do comércio internacional de produtos agrícolas.

No caso do leite não poderia ser diferente. Brasil e Argentina possuem vantagens competitivas e comparativas claras, das quais não tiram proveito. E novamente as comparações são inevitáveis. O que a Austrália ou a Nova Zelândia têm que nós não temos? O que falta para que a cadeia láctea tanto no Brasil como na Argentina alcance a importância que têm outras cadeias, como a soja, o algodão ou a carne?

A explicação está, em parte, na chamada dependência de trajetória ou path dependence, um conceito introduzido na Teoria Econômica para relacionar a evolução histórica das instituições com a performance econômica, segundo o qual o presente e o futuro de uma organização ou de uma sociedade são conseqüência das instituições vigentes.

Ou seja, o que seremos no futuro depende um pouco do que somos hoje, que por sua vez depende um pouco do que fomos ontem. Tudo influenciado pelas regras de jogo representadas pelas instituições. Seja na política, seja no futebol, seja na atividade produtiva, inclusive de leite. Trocando em miúdos, é pouco provável que um dia a Nova Zelândia seja uma potência do futebol, assim como dificilmente Brasil ou Argentina tenham uma organização como a Cooperativa Fonterra neozelandesa.

Obviamente, essa é apenas parte de uma possível explicação. De qualquer maneira, pelo menos por curiosidade, vale a pena conhecer alguns dados sobre nosso mais tradicional vizinho, parceiro e competidor.

A pecuária leiteira argentina, que já teve altos e baixos espantosos, vive um momento de franca recuperação depois da catastrófica crise cambial de 2001 / 2002. As explorações que sobreviveram estão mais eficientes, a cadeia está mais organizada (embora ainda falte um enorme caminho a percorrer), os preços tanto domésticos como internacionais estão atrativos tanto para o produtor como para a indústria.
Em linhas gerais, um retrato da atividade leiteira da Argentina de hoje nos mostraria o seguinte: 12 a 13 mil produtores produzindo 8.750.000.000 litros por ano, o que posiciona o país como nono produtor mundial. Desse total, aproximadamente 80% se destina ao consumo interno, que gira ao redor de 170 a 180 equivalentes-litro/habitante/ano.

Existem aproximadamente 900 usinas no país, e apenas nove delas são responsáveis pela recepção de metade do volume total produzido. Na indústria a concentração também é grande: 80% do mercado de lácteos estão nas mãos de apenas três empresas.

O quadro abaixo mostra mais alguns dados e uma comparação com os números no Brasil. Uma interessante observação que se pode fazer nesse dados é sobre o baixo volume das exportações de ambos países. Isso demonstra uma significativa dependência de seus mercados internos, muito suscetíveis a variações de poder aquisitivo provocadas pelos vaivens da economia. Apesar de a Argentina apresentar um volume de exportação quatro vezes maior que o Brasil, seu principal e mais tradicional cliente até bem pouco tempo atrás éramos nós, o que dá no mesmo. Esse quadro, contudo, parece estar modificando-se. O USDA prevê que este ano a exportação de lácteos pela Argentina será recorde e os principais destinos serão Argélia, México e Venezuela.

Quadro 1 - Alguns dados sobre a produção leiteira na Argentina e no Brasil


Fontes: SAGPyA - Secretaria de Agricultura Ganaderia, Pesca y Alimentos de la Republica Argentina
CIL - Centro de la Indústria Lechera Argentina
AACREA - Asociación de los Consórcios Regionales de Experimentación Agrícola - Argentina
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
EMBRAPA Gado de Leite
USDA
(*) Estimativas. Não foi possível encontrar dados concretos, recentes.

_______________________________________
1 Engenheiro Agrônomo pela ESALQ - USP, Mestrando em Agronegócios pela Universidad de Buenos Aires

1

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

JOSE RONALDO BORGES

CUIABÁ - MATO GROSSO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/09/2005

Eu faria a seguinte pergunta: por que o setor lácteo da Argentina está em expansão (inclusive as exportações) e o do Brasil está declinando? A resposta é o Dolar!! Na Argentina está em 3 pesos e no Brasil a 2,34. Em ambos os países iniciou-se um processo inflacionário decorrente do dolar a três (peso/real), porém na Argentina o governo manteve a cotação do dolar , os juros baixos, praticamente congelou os preços administrados (agua, luz energia) das empresas concessionarias e manteve a inflação praticamente sobre controle. O PIB e o setor produtivo estão crescendo consideravelmente. No Brasil os juros subiram, o dolar caiu favorecendo as importações, os preços administrados estão livres para subir conforme os contratos, e a inflação está sob controle, inclusive com deflação nos ultimos meses. O setor agropecuário no Brasil inclusive o leiteiro está declinando porque está havendo uma transferência brutal de renda do setor rural para os setores financeiros e concessionários de serviços públicos. Exatamente o contrário da Argentina.



<b>Resposta do autor:</b>



CARO JOSÉ RONALDO,



Obrigado pelo seu comentário.



Concordo parcialmente com seu ponto de vista e vou tentar aportar, dentro do possível, alguns outros dados para enriquecer o debate e ajudar a formar um panorama mais claro da atualidade da "lechería" argentina.



Em primeiro lugar, permita-me fazer uma correção à sua pergunta inicial. O setor lácteo argentino não está em expansão, e sim em recuperação. Assim como a grande maioria dos setores produtivos do país.



A crise cambial de 2001 / 2002 fez um estrago inacreditável. Para que se tenha uma idéia, o PIB atual é o mesmo de 1997, ou seja, houve uma destruição de riqueza sem precedentes na história universal moderna. Por esse motivo, é natural e até necessário que o país cresça no ritmo que está crescendo. E todo esse esforço para simplesmente recuperar o tempo perdido.



Do mesmo modo, a moratória argentina (também chamada de "calote"), foi a maior que se tem notícia na história. A renda da população despencou. Literalmente de um dia para o outro, metade das famílias passaram a ser classificadas como pobres, sendo que 15-20% situando-se abaixo da linha de miséria (renda menor que 1 dólar por dia).



O consumo de lácteos, que em 1997 era de 230 equivalente-litros por ano, hoje não passa muito dos 180 equivalente-litros.



Assim, quando você comenta que o PIB e o setor produtivo estão crescendo consideravelmente, eu diria que estão recuperando-se consideravelmente.



Por outro lado, você tem razão quando diz que o governo mantém a cotação do dólar, os juros baixos e os preços dos chamados serviços públicos congelados.



Porém, essas medidas geram polêmicas e críticas. A manutenção do tipo de câmbio e das tarifas têm seu custo, tanto financeiro como político.



Enfim, eu diria que o dólar é parte do problema, talvez não tão importante assim. E que, certamente, no Brasil a renda do agronegócio sofreu nos últimos meses uma corrosão preocupante.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures