O mercado mundial dos lácteos se encontra em novo patamar de preços e custos de produção desde o segundo semestre de 2020.
Nos dois anos, os preços das principais commodities atingiram as suas maiores altas neste primeiro semestre de 2022, nos meses de abril e maio. Todavia, em comparação com meses anteriores, os preços da manteiga, do queijo e do leite em pó iniciaram redução em maio.
Em julho de 2022, as ofertas de manteiga da Oceania estiveram mais baixas em comparação com julho do ano passado. No final do semestre tem havido um maior interesse do mercado mundial por leite em pó desnatado, com maiores volumes em relação aos contratos no mesmo período do ano passado.
A referência mundial de preços do leite ao produtor, indicador estimado pelo International Farm Comparison Network (IFCN), e que combina os preços de exportação da Oceania para as cinco principais commodities lácteas, atingiu seu pico em abril, quando chegou ao valor histórico de US$ 0,63/kg (Figura 1), padronizado em 4,0% de gordura e 3,3% de proteína. Em valor convertido para o Real equivale a R$ 3,03/kg de leite. Até junho o preço acumulou queda de 12%, fechando em US$ 0,56/kg (equivalente a R$ 2,80/kg).
Figura 1 – Indicador mundial de preços do leite ao produtor.
Fonte: IFCN; elaborado pela Embrapa.
Essa redução é impulsionada principalmente pelo enfraquecimento da demanda por produtos lácteos no mundo, sobretudo da China.
Enquanto a produção de leite está diminuindo, há uma queda na demanda por produtos lácteos ocorrendo simultaneamente. O preço mundial do leite ao produtor pode diminuir, mas tende a se manter em patamares elevados comparativamente a outros anos.
Por um lado, o tempo seco e quente na Europa, não tem ajudado a produção e, somado a isto, os altos custos de entrada no negócio de produção de leite estão limitando a oferta do produto. Pelo lado da demanda, os níveis de inflação mais elevada na Europa e nos Estados Unidos, com possibilidade de recessão, estão limitando o poder de compra dos consumidores, mantendo a demanda reprimida. Um aumento nos preços globais de lácteos parece improvável neste momento.
Os preços do petróleo, dos fertilizantes e da energia têm pressionado os custos de produção das atividades agrícolas. De uma forma geral, os preços mundiais da alimentação (tomando como referência milho 70% e soja 30%) que, tanto quanto o leite, se mantiveram bem acima dos valores históricos dos US$ 0,22/kg. O pico ocorreu em abril, com US$ 0,40/kg (Figura 2) que, convertido para o Real é equivalente a R$ 1,90/kg. Este indicador, tambem começou a cair e, em junho, no acumulado do ano ficou 5% menor.
Figura 2 – Indicador mundial de preços da mistura 70% milho + 30% farelo de soja.
Fonte: IFCN; elaborado pela Embrapa.
Os principais fatores limitantes da produção de leite são as condições climáticas desfavoráveis, as novas regulamentações ambientais (especialmente no caso da Europa), bem como os altos custos da alimentação animal e da energia.
No caso da Europa, as regulamentações ambientais podem ser até mesmo o principal fator de estagnação na produção de leite. A produção esperada para 2022 é menor do que a observada nos dois anos anteriores, com redução no número de vacas. Mesmo que a produtividade por vaca continue aumentando ano após ano, é possível que, doravante, este incremento já não mais seja o suficiente para compensar a redução do número de animais.
Em um cenário global, parece que os preços relativamente mais altos pagos pelo leite não têm sido garantia ou estímulo suficiente para o reestabelecimento do crescimento da produção do leite em patamares históricos.
Mesmo que a produção de leite se recupere em 2022, o incremento deverá ser modesto, ou mais provavelmente ficar próximo do volume de 2021. As condições de clima quente e seco na Nova Zelândia também estão tendo um impacto negativo nas pastagens e na produção de leite, que está menor que em anos anteriores.
Na América do Sul, a situação da produção de leite também não apresenta expansão. No Brasil, a produção de leite sob inspeção registrou queda de 9,1% no primeiro semestre em comparação com igual período de 2021, o que acabou provocando aumento nos preços. Neste momento, as importações de lácteos vêm ganhando espaço e excedentes da Argentina e do Uruguai tendem a ingressar em maior volume no mercado brasileiro.
Autores:
Lorildo Aldo Stock
José Luiz Bellini Leite