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Os benefícios das soroproteínas do leite para a saúde

ILCT/EPAMIG

EM 12/09/2023

9 MIN DE LEITURA

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A alimentação, aliada à prática de atividade física, desempenha um papel fundamental nas estratégias de saúde pública para promover o bem-estar ao longo da vida, prevenindo precocemente doenças crônicas como distúrbios gastrointestinais, cardiopatias, câncer e osteoporose (OLIVEIRA, 2022).

As proteínas do soro do leite exibem uma gama de atividades biológicas relacionadas às funções digestivas, respostas metabólicas aos nutrientes absorvidos, crescimento e desenvolvimento de órgãos, além de estimular a resistência a diversas doenças. A ingestão de produtos lácteos ou formulações à base de proteínas do soro do leite, por exemplo, são benéficas na regulação ou prevenção da síndrome metabólica, obesidade, doenças cardiovasculares, hipertensão e diabetes tipo 2.

Especificamente, as soroproteínas correspondem a cerca de 20% da proteína total do leite bovino. Dentre elas, a β-Lactoglobulina (β-Lg) e α-Lactoalbumina (α-La) estão presentes em maior concentração, constituindo aproximadamente 70% das proteínas totais do soro do leite.

As proteínas do soro possuem alto teor de aminoácidos essenciais, apresentando potenciais funções biológicas relacionadas à regeneração celular, fonte de energia e manutenção dos músculos e ossos. Além disso, elas possuem outros benefícios que estão ligados a processos metabólicos do organismo, como atividade imunoestimulante, proteção ao sistema cardiovascular e atividades antimicrobiana e antiviral (Figura 1) (HARAGUCHI et al., 2006). Sendo todas estas funções essenciais para praticantes de atividades físicas rotineiras e atletas de alta performance, principalmente.

Figura 1. Bioatividades das soroproteínas do leite.

Bioatividades das soroproteínas do leite
Fonte: autores, 2023.

O excelente perfil de aminoácidos das soroproteínas as caracteriza como biomoléculas de elevada densidade nutricional. Seus peptídeos bioativos conferem a estas proteínas diferentes propriedades funcionais, assim como os aminoácidos indispensáveis, com destaque para os de cadeia ramificada, que favorecem o anabolismo e a redução do catabolismo proteico, possibilitando o ganho de força e reduzindo a perda de massa muscular durante a dieta (HARAGUCHI, 2006).

Neste contexto, o artigo tem o objetivo de apresentar uma revisão sobre as potencialidades nutricionais e bioativas das soroproteínas, destacando-se a β-Lactoglobulina (β-Lg) e α-Lactoalbumina (α-La), relacionando o seu consumo, aliado à prática de atividades físicas, com a saúde e bem estar.

Soroproteínas: β-Lactoglobulina (β-Lg) e α-Lactoalbumina (α-La)

A β-Lg (Figura 2A) é a principal soroproteínas dos leites bovino, bubalino, ovino e caprino, e devido à sua propriedade lipofílica, desempenha um importante papel na absorção e subsequente metabolismo de ácidos graxos específicos. Além disso, a β-Lg é uma excelente fonte de peptídeos, desempenhando diversas bioatividades, como ação anti-hipertensiva, antimicrobiana, antioxidante, anticarcinogênica, imunomoduladora, opioide, hipocolesterolêmica e outros efeitos metabólicos (PARK, 2009).

Segundo HERNÁNDEZ-HERNÁNDEZ et al. (2011), a glicação de β-Lg de leite de vaca com galacto-oligossacarídeos (GOS) através da reação de Maillard forma peptídeos glicados estáveis na digestão. Esses peptídeos glicados parecem expressar atividade bifidogênica semelhante em comparação com GOS não conjugados. Esse fator leva a novas aplicações para produtos da reação de Maillard como compostos prebióticos.

Já a α-La (Figura 2B) é a soroproteína que se apresenta como a de segundo maior teor no soro do leite. É sintetizada na glândula mamária, tendo como função biológica contribuir para a atuação da lactose sintetase (enzima que catalisa a etapa final da biossíntese da lactose). Logo, existe uma correlação direta entre as concentrações de α-La e lactose no leite (GOULDING; FOX; O'MAHONY, 2019; LIN et al., 2021). Ela é a principal proteína do leite humano, podendo também ser encontrada nos leites de ovelha, búfala e cabra. Por ser rica em triptofano, a α-La eleva o nível deste aminoácido no sangue, sendo o seu consumo associado a melhorias na saciedade, humor, percepção de dor e ciclo circadiano. Além do triptofano, a α-La também é rica em lisina, leucina, treonina e cistina.

Figura 2. Estruturas tridimensionais da β-Lg (2A) e α-La (2B).

Estruturas tridimensionais da ß-Lg (2A) e a-La (2B)
Fonte: HAMMANN; SCHMID, (2014).

Alguns hidrolisados da α-La têm várias funções biológicas, incluindo modulação da imunidade e atividades antimicrobiana, antiviral, anti-hipertensiva, opioides e antioxidantes (LIN et al., 2021). Foram também demonstradas propriedades antimicrobianas contra microrganismos como Escherichia coli, Staphylococcus aureus e Klebsiella pneumoniae (LÖNNERDAL, 2003).  Peptídeos obtidos a partir da hidrólise da α-La podem ser empregados como suplementos em fórmulas infantis devido à similaridade com a α-La do leite humano, atingindo um grau de homologia de 74%, tornando-as mais compatíveis com a composição do leite materno.

A α-La também desempenha o papel de molécula transportadora de cálcio e é uma fonte significativa de diversos peptídeos bioativos. Entre esses peptídeos, destacam-se os inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA), conhecida por regular múltiplos processos biológicos e frequentemente relacionada a complicações cardiovasculares e renais quando produzida em excesso pelo organismo (PATEL, 2015).

Uma conformação específica de α-La presente no leite humano e também no de vaca, é capaz de induzir apoptose em células tumorais e imaturas, enquanto poupa células diferenciadas saudáveis. A conversão de α-La para a forma apoptótica requer desdobramento da α-La e ligação a ácidos graxos específicos, principalmente ácidos graxos insaturados C18 na conformação cis.

Assim, a α-La no leite pode ter efeitos preventivos contra câncer gastrointestinal, já que estudos mostraram que ela é uma das soroproteínas mais ativas contra a ulceração gástrica (PEREIRA et al.,2016).

O envelhecimento é um processo natural da vida, período em que normalmente ocorre uma diminuição de aproximadamente 25% da alimentação diária, o que resulta na ingestão inadequada de proteínas, aminoácidos indispensáveis, carotenoides, selênio, além de vitaminas. Essa redução da ingestão alimentar resulta na perda de tecido muscular, o que caracteriza a sarcopenia. Porém, o consumo adequado de proteínas do soro do leite, supre as necessidades do organismo em relação aos processos anabólicos e catabólicos sofridos, o que garante um balanço nitrogenado positivo, contribuindo para a síntese proteica muscular (MARAGON; MELO, 2004).

Outras soroproteínas importantes  

 A albumina do soro bovino (BSA), imunoglobulina (Ig), glicomacropeptídeo (GMP) e frações de protease-peptonas, se apresentam em pequenas concentrações no soro do leite, como a lactoferrina, lisozima, lactoperoxidase, entre outras. A Tabela 1, apresenta o teor das principais proteínas do soro do leite.

Tabela 1 - Concentração, em gramas por litro, das principais proteínas do soro lácteo, do leite bovino.

Concentração, em gramas por litro, das principais proteínas do soro lácteo, do leite bovino

As proteínas do soro apresentam outras funções biológicas importantes. A lactoferrina, por exemplo, apresenta ação antimicrobiana e auxilia na absorção de ferro pelo organismo humano. Além disso, as proteínas do soro podem ser hidrolisadas e gerar peptídeos bioativos com propriedades de acordo com a sua proteína de origem. São diversas propriedades envolvendo o metabolismo e os sistemas do corpo humano, como atividades antioxidante, imunomoduladora, antitumoral, dentre outras.

Outra proteína do soro do leite como a BSA, se destaca devido às suas propriedades funcionais aplicadas na indústria de alimentos (p. ex. solubilidade, emulsificação, formação de gel, espuma) e nutricionais. Ela age como biopolímeros naturais utilizados para transportar moléculas bioativas, substâncias benéficas à saúde, como a luteína (PAIVA et al., 2020), o β-caroteno e a curcumina protegendo-as contra a oxidação e a degradação. Portanto, a BSA apresenta-se como uma molécula promissora para aplicação na tecnologia de alimentos nutracêuticos e de fármacos.

Conclusão

As soroproteínas do soro do leite são uma fonte rica e diversificada de nutrientes essenciais, como os aminoácidos indispensáveis, que desempenham um papel fundamental no suporte de todas as funções do organismo. Além de promover a saúde, principalmente quando relacionadas à prática de exercícios físicos, atuam como importantes protagonistas na recuperação, fortalecimento e desenvolvimento muscular e do sistema imunológico.

 

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Autores

Me. Luisa Cordeiro de Oliveira, Bolsista de pesquisa nível II do Instituto de Laticínios Cândido Tostes – EPAMIG-ILCT. luisa.cordeiro@estudante.ufjf.br

Dra. Tatiane Teixeira Tavares, Bolsista de pesquisa nível I do Instituto de Laticínios Cândido Tostes – EPAMIG-ILCT. tatetavares@yahoo.com.br

Prof. Dr. Paulo Henrique Costa Paiva, Professor/pesquisador do Instituto de Laticínios Cândido Tostes – EPAMIG-MG. paulohcp@epamig.br

Prof. Dr. Sebastião Tavares Resende, Professor/Diretor do Instituto de Laticínios Cândido Tostes – EPAMIG-MG. sebastiao.rezende@epamig.br

Profa. Dra. Gisela Magalhães Machado, Professora/pesquisadora do Instituto de Laticínios Cândido Tostes – EPAMIG-MG. giselammachado@epamig.br

 

Agradecimentos

Os autores agradecem as instituições que contribuíram diretamente para a execução desse trabalho, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - Instituto de Laticínios Cândido Tostes (EPAMIG-ILCT).

Referências

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GOULDING, D.A.; FOX, P.F.; O’MAHONY, J.A. Milk proteins: An overview. Elsevier. 2019.

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