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Desaleitamento: abrupto ou gradual? Precoce ou mais tardio?

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E RAYANE DIAS FAVERI BARBOZA

CARLA BITTAR

EM 25/10/2023

8 MIN DE LEITURA

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Que o desaleitamento é um manejo crítico para a manutenção do bem-estar de bezerros leiteiros nós já sabemos. Diversos estudos já demonstraram aumento na frequência de vocalização e queda no ganho de peso, como frequentes respostas ao estresse provocado pelo processo de desaleitamento (Bittar et al., 2020; Hill et al., 2006).

Para que o processo seja menos estressante é importante que os animais estejam com consumo adequado de dieta sólida (em torno de 1,5 kg), o que está associado com o status de desenvolvimento ruminal do animal. Este aspecto é de extrema importância para que não ocorram reduções nas taxas de crescimento no período logo após o desaleitamento.

Muitas estratégias foram pensadas para diminuir o impacto deste manejo no desempenho e saúde dos bezerros. Contudo, na prática observamos métodos de desaleitamento bastante variáveis entre as propriedades.  A idade para início e o ritmo de desaleitamento, são as variáveis que mais sofrem alteração quando aplicadas. O levantamento do programa Alta Cria de 2022 (Azevedo et al., 2022) mostra que 35% dos produtores adotam o peso e a idade do animal como critério para o desaleitamento; enquanto somente 11% combinam os critérios peso, idade e consumo de concentrado para a tomada de decisão.

A idade para o início do desaleitamento deve ser considerada, pois possui importância econômica, podendo ser uma forma de diminuir os custos com a dieta líquida e mão de obra utilizada. No entanto, desaleitar bezerros muito jovens, especialmente quando os animais ainda não têm alto consumo de dieta sólida, pode reduzir as taxas de crescimento, provocando impactos negativos na produção de leite futura (Eckert et al., 2015).

Além disso, muitos dados mostram a importância de maior fornecimento de dieta líquida de forma a resultar em maiores taxas de crescimento, o que está relacionado com aumento no potencial de produção futura desta bezerra. Assim, o manejo alimentar no período de aleitamento deve ser planejado de forma a existir um balanço bem ajustado entre dieta líquida e dieta sólida.

O ritmo de desaleitamento, ou seja, se este manejo será realizado de maneira abrupta ou gradual, e qual a duração do desaleitamento gradual, é outra consideração importante. Existem benefícios com o desaleitamento gradual, devido ao estímulo ao consumo de concentrado, o que reduz a ocorrência de balanço energético negativo e, consequentemente perda de peso, além de aumentar a oportunidade dos bezerros de expressar seus comportamentos naturais (Khan et al., 2011). No entanto, no levantamento de dados do programa Alta Cria de 2022 (Azevedo et al., 2022) se observa que 9% dos produtores ainda realiza o desaleitamento de forma abrupta.

Para investigar os efeitos da interação entre a idade e o ritmo do desaleitamento na produtividade, saúde e parâmetros hematológicos de bezerros leiteiros, Wolfe e colaboradores (2023) desenvolveram um estudo interessante.

Neste trabalho, duas idades (seis ou oito semanas) e dois ritmos (abrupto - 3 d ou gradual - 14d) de desaleitamento foram estudados, portanto os animais estavam divididos entre quatro grupos (Figura 1), sendo:

  1. Precoce abrupto (PA): Desaleitamento iniciando aos 40 dias de idade, realizado em quatro etapas e com duração de três dias – 18 animais.
     
  2. Precoce gradual (PG): Desaleitamento iniciando aos 35 dias de idade, realizado em sete etapas e com duração de 14 dias – 18 animais.
     
  3. Tardio abrupto (TA): Desaleitamento iniciando aos 54 dias de idade, realizado em quatro etapas e com duração de três dias – 18 animais.
     
  4. Tardio gradual (TG): Desaleitamento iniciando aos 49 dias de idade, realizado em sete etapas e com duração de 14 dias – 18 animais.

Figura 1. Design experimental.

design experimental

Os resultados observados demonstram que o ritmo de desaleitamento afeta os parâmetros de desempenho e saúde dos bezerros, mas que esse impacto é diferente quando os bezerros possuem idade mais avançada.

Os animais que foram desaleitados de forma gradual, independentemente da idade, consumiram maior quantidade de dieta sólida e tiveram maior ganho médio diário durante o desaleitamento (Figura 2). Os animais desaleitados de forma gradual tem maior consumo de concentrado, o que impacta positivamente no ganho de peso observado durante o processo.

Figura 2. Consumo de concentrado inicial (% PC) e ganho médio diário (kg/d) durante o desaleitamento.

Consumo de concentrado inicial (% PC) e ganho médio diário (kg/d) durante o desaleitamento.

* indica efeito do ritmo de desaleitamento (gradual vs abrupto); † indica efeito da idade ao desaleitamento (P < 0,05); letras indicam efeito da interação entre ritmo x idade ao desaleitamento (P < 0,05).

Uma preocupação durante o processo de desaleitamento, devido ao rápido aumento no consumo de concentrado, é a possível ocorrência de acidose. No entanto, neste estudo, apesar do consumo significativamente maior de concentrado inicial pelos animais em desaleitamento gradual (Figura 2), não foi observado efeito no pH ruminal (Figura 3). O alto consumo de carboidratos rapidamente fermentáveis nesta fase pode resultar em problemas como acidose ruminal, o que além de reduzir o consumo de dieta sólida, reduz o bem estar dos animais. No entanto, mesmo com grande diferença no consumo de concentrado, não houve efeito no pH médio observado.

Figura 3. pH ruminal médio durante o desaleitamento.

pH ruminal médio durante o desaleitamento.

Sem diferença entre o pH ruminal médio entre os tratamentos (P > 0,05).

O desaleitamento gradual é a estratégia mais indicada para manter as taxas de crescimento e a produtividade. Entretanto, os autores observaram que os animais em desaleitamento gradual, independente da idade, possuem fezes com maior fluidez (Figura 4). O maior consumo de dieta sólida pode ter sido responsável pelo aumento na taxa de passagem, o que diminui a taxa de digestão e absorção de nutrientes e aumenta a fluidez das fezes (Genís et al., 2021). Esses resultados estão alinhados com reduções na eficiência alimentar observada logo após o desaleitamento.

Figura 4. Escore fecal dos animais durante o desaleitamento.

Escore fecal dos animais durante o desaleitamento

* indica efeito do ritmo de desaleitamento; †  indica efeito da idade de desaleitamento (P < 0,05).

Embora o ritmo de desaleitamento tenha demonstrado impacto positivo nos parâmetros de desempenho, existe pouca interação com as variáveis hematológicas e avaliação clínica. O início do desaleitamento por volta da oitava semana, impactou de forma mais intensa no estresse dos bezerros. Com a idade mais avançada os bezerros se tornam mais imunocompetentes, ou seja, possuem o sistema de defesa mais capaz de reagir a alterações que ocorrem no meio externo e desta forma aumentam a sensibilidade e respostas a manejos estressores como o desaleitamento.

Neste contexto, além do aumento observado no escore fecal, os bezerros também apresentaram maior taxa de respiração quando desaleitados tardiamente (Figura 5). Da mesma forma, houve aumento no número de linfócitos e neutrófilos em bezerros desaleitados em idade mais avançada (Figura 6). A demanda fisiológica para contornar as respostas intensificadas ao estresse do desaleitamento podem ter sido a causa da diminuição da produtividade, como o menor ganho observado nesses animais (Figura 2).

Figura 5. Taxa de respiração dos animais durante o período de desaleitamento.

Taxa de respiração dos animais durante o período de desaleitamento.

* indica efeito do ritmo de desaleitamento; † indica efeito da idade de desaleitamento (P < 0,05).

Figura 6. Contagem de linfócitos e neutrófilos de bezerros durante o processo de desaleitamento.

Contagem de linfócitos e neutrófilos de bezerros durante o processo de desaleitamento.

† indica efeito da idade de desaleitamento (P < 0,05).

Estes resultados mostram que o desaleitamento gradual aumenta a produtividade através de maior consumo de concentrado, mas com pH ruminal estável, havendo pouca ligação com parametros clínicos. Por outro lado, o desaleitamento mais tardio aumenta a contagem de neutrófilos e linfócitos, e reduz o ganho de peso, sugerindo que a maturidade do sistema imune aumenta a sensibilidade dos animais ao estresse relacionado ao desaleitamento.

No entanto, é importante pensar que embora exista menor sinal de estresse e redução no custo de produção dos animais, o desaleitamento mais precoce reduz a oportunidade de altos ganhos durante a fase mais jovem das bezerras, o que pode impactar na sua produção de leite futura. Além disso, outros fatores estão relacionados ao estresse ao desaleitamento como o consumo de concentrado, o volume de dieta líquida fornecida, o tipo de alojamento, a mudança de rotina na alimentação dos animais, troca de instalação individual para coletiva, entre outros.

O estresse ao desaleitamento é multifatorial e, embora já tenhamos entendimento de cuidados básicos para sua redução, precisamos estudar mais para fazer com que esta transição seja a mais suave possível para as bezerras, de forma que não exista redução no desempenho.

 

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Referências

AZEVEDO, R. A. et al. Alta CRIA 2022. Uberaba, Minas Gerais, 2022. 1ª Edição. 150p.

BITTAR, C.M.M. et al. Gradual weaning does not improve performance for calves with low starter intake at the beginning of the weaning process. J Dairy Sci 2020;103:4672–80. https://doi.org/10.3168/JDS.2019-17614.

ECKERT, E. et al. Weaning age affects growth, feed intake, gastrointestinal development, and behavior in Holstein calves fed an elevated plane of nutrition during the preweaning stage. J Dairy Sci 2015;98:6315–26. https://doi.org/10.3168/JDS.2014-9062.

GENÍS, S. et al. Complete feed versus concentrate and straw fed separately: Effect of feeding method on eating and sorting behavior, rumen acidosis, and digestibility in crossbred Angus bulls fed high-concentrate diets. Anim Feed Sci Technol 2021;273:114820. https://doi.org/10.1016/J.ANIFEEDSCI.2021.114820.

HILL, T.M. et al. Effects of Feeding Rate and Concentrations of Protein and Fat of Milk Replacers Fed to Neonatal Calves. Prof Anim Sci 2006;22:374–81. https://doi.org/10.15232/S1080-7446(15)31130-X.

KHAN, M.A., WEARY, D.M., VON KEYSERLINGK, M.A.G. Invited review: Effects of milk ration on solid feed intake, weaning, and performance in dairy heifers. J Dairy Sci 2011;94:1071–81. https://doi.org/10.3168/jds.2010-3733.

WOLFE, A.R. et al. Effects of weaning strategies on health, hematology, and productivity in Holstein dairy calves. J Dairy Sci 2023. https://doi.org/10.3168/JDS.2022-22738.

 

 

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

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