Um movimento de vários países
Com falta de pastagem para os animais e aumento dos preços dos alimentos, aliados à possibilidade de escassez hídrica, os produtores estão sendo obrigados a reduzir o tamanho de seus rebanhos. Países como Espanha e Portugal estão enfrentando a necessidade de abater ou vender seus animais, o que está gerando preocupação entre os produtores em todo o mundo.
Além dos países europeus, os EUA também enfrentaram no final de maio o período mais seco dos últimos 30 anos, de acordo com o WeatherTrends360. Isso traz preocupação em relação à safra 2023/2024 e à disponibilidade de alimentos. A França já registra a diminuição na captação de leite devido à redução no rebanho. A situação atual é resultado da seca que afeta o hemisfério norte e está dificultando a produção de alimentos para o rebanho leiteiro. No hemisfério sul a Nova Zelândia também enfrenta uma queda em seu rebanho leiteiro, apresentando o menor número dos últimos 11 anos.
O número de vacas está menor, mas e o volume de leite produzido?
É preciso entender que existem diferentes dinâmicas neste complexo cenário. Enquanto alguns países reduzem o volume de leite produzido em decorrência da diminuição do número de vacas, outros conseguem aumentar a produção mesmo com menor rebanho. Este é o caso, por exemplo, dos Estados Unidos e Nova Zelândia.
Por outro lado, países da América do sul , como Brasil, Argentina, Chile e Uruguai, experimentaram uma queda na produção no primeiro trimestre. Essa diminuição não é necessariamente um reflexo da contração no número de fêmeas leiteiras, mas também sofre influência de questões climáticas e redução do número de produtores na atividade.
No Brasil, o abate de bovinos aumentou no primeiro trimestre de 2023, mas é importante considerar o ciclo pecuário, no qual os pecuaristas de corte estão aumentando o abate de fêmeas e isso acaba incentivando o descarte de fêmeas de leite. Não há um número claro, mas sabe-se que, desse total, parte são vacas de leite.
Países que estão aumentando o rebanho e produção a curto prazo
De acordo com projeções do Observatório da Cadeia Láctea Argentina (OCLA) para 2022/2023, haverá aumento no número total de vacas, resultando em maior produção de leite. (Gráfico 1)
A China desponta nesse cenário, anunciando que em 2023 deverá incrementar a produção em mais de 4% em relação a 2022, devido a maior eficiência de produção e aumento no seu estoque de gado.
Gráfico 1. Estoque de vacas e produção de leite de vários países
Fonte: Traduzido do Observatório da Cadeia Láctea Argentina (Ocla)
A produção global de leite varia ao longo do ano devido a sazonalidade, como o ciclo reprodutivo dos animais, disponibilidade de pastagem, condições climáticas e demanda por produtos lácteos. Embora haja variações regionais, podemos observar algumas tendências gerais na curva global de produção de leite, que continua em crescimento ao longo dos anos , como se pode observar no gráfico abaixo.
Gráfico 2. Produção mundial de leite de vaca em milhares de litros.
Fonte: Traduzido do Observatório da Cadeia Láctea Argentina (Ocla)
Sob um olhar mais micro de sazonalidade anual, no hemisfério norte (basicamente Europa e Estados Unidos), a produção de leite tende a ser maior durante os meses de primavera e verão – de março a setembro. Com o aumento das temperaturas e maior disponibilidade de pastagem, as vacas têm melhores condições de alimentação e produzem mais leite. À medida que o outono e o inverno se aproximam, a produção de leite tende a diminuir.
No hemisfério sul, onde as estações do ano são invertidas em relação ao hemisfério norte, a curva de produção de leite segue padrões semelhantes com maiores níveis de produção de maio a setembro.
A produção e consumo de leite também pode ser influenciada por fatores econômicos, mudanças nos hábitos de consumo, políticas governamentais, avanços tecnológicos e outros aspectos específicos de cada país ou região. Portanto, a curva global de produção de leite é dinâmica e sujeita a múltiplos fatores que impactam a indústria láctea em escala mundial.
Número de vacas e correlação com a eficiência na produção
Outro aspecto relevante a ser considerado é o progresso alcançado nas áreas de melhoria genética dos rebanhos e investimentos em programas de seleção e melhoramento. Essas conquistas têm contribuído para o desenvolvimento de animais mais produtivos e resistentes a doenças, que respondem de forma eficiente às tecnologias disponíveis. Como resultado, observa-se um aumento significativo na produção e na qualidade do leite produzido.
Além disso, há um claro gap, especialmente em países pobres, em relação ao acesso à inovações de forma geral. Isso faz com que a adoção de tecnologias como confinamento dos animais, estrutura das fazendas, fabricação de concentrado, melhoramento genético, nutrição, produção de volumosos até automação de processos e o uso de sistemas de gestão inteligente, que desempenham um papel crucial na melhoria da produtividade e na redução de custos, não sejam aplicadas, dificultando a evolução da produção de leite nesses locais.
Em geral, países ricos têm mais acesso a tecnologia e pesquisa, portanto já alcançaram um alto nível de produtividade e é por isso que quando diminuem o número de animais a tendência é que haja reflexos negativos na produção a curto prazo, enquanto em países com certo atraso de eficiência ainda têm muito a se ganhar em produtividade de seus rebanhos, e com certa rapidez, mesmo que o número de vacas reduza. É importantíssimo fazer essa separação na análise pois estamos tratando de diferentes níveis de produtores.
De forma geral, apesar da redução no número de animais, a produção mundial vem crescendo ano após ano e o nível tecnológico também. Obviamente em ritmos diferentes pelas razões já mencionadas.
Desta forma o número de vacas, apesar de ser uma importante métrica que pode gerar diferentes impressões no mercado, deve ser sempre analisado de forma mais ampla, considerando os diferentes contextos socioeconômicos dos países em questão primeiramente e depois de forma macro para micro, ou seja, observando que a existência de um movimento ao longo dos anos, mas que há uma dinâmica de sazonalidade anual que está muito ligada a oportunidade de abate e reposição de cada país.
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