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A roleta de preços em 16 anos de ICPLeite/Embrapa

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 16/12/2022

5 MIN DE LEITURA

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Em abril de 2006 o ICPLeite/Embrapa começou a ser calculado. Os primeiros resultados foram divulgados para o público e autoridades em maio de 2007. A partir daí, e durante os últimos quinze anos, todo mês é possível conhecer a variação do custo de produção de leite.

O ICPLeite/Embrapa é inspirado metodologicamente no IPCA do IBGE, o índice oficial da inflação brasileira que, nos seus cálculos, considera o consumo de produtos e serviços de uma família típica.

No IPCA, cada produto e serviço tem um peso específico, dado pela sua participação percentual na composição do custo de vida. No ICPLeite/Embrapa, isso também ocorre com cada insumo e serviço que é usado na produção de leite, definindo a sua participação percentual (ou peso relativo) no custo de produção de leite. Com pesos definidos, é possível obter a variação mensal, coletando os preços de cada item no mercado.

O ICPLeite não tem o propósito de medir o custo absoluto de produção de leite e sim a variação mensal do custo. Portanto, visa aferir inflação ou deflação deste setor.

Os economistas ensinam que custo é algo particular de cada firma, ou seja, cada uma tem o seu, baseado no seu processo produtivo. Portanto, as propriedades têm custos de produção distintos entre si. Também, a não divulgação do custo absoluto visa não estimular que se caia em tentação de se considerar o custo de produção como o preço obrigatoriamente a ser pago pelos laticínios. Nos anos de tabelamento, por decisão governamental, quem fazia estes cálculos era a Embrapa Gado de Leite.

Nestes 16 anos de ICPLeite/Embrapa, o setor de Leite e Derivados no Brasil mudou muito. Em 2006, o Brasil exportava lácteos para 87 países. Mas, veio a crise financeira mundial de 2008 e o país retornou à tradicional condição de importador líquido. Nestes 16 anos, ficou evidente a volatilidade dos preços, o que remete o setor à imagem de roleta, conforme ilustram os gráficos deste artigo.

O gráfico 1 mostra que os lácteos sistematicamente puxaram a inflação do custo de vida para cima. O índice acumulado do grupo Leite e Derivados, que mede a variação de preços destes produtos ao consumidor, superou o IPCA (inflação ao consumidor) em 187 meses, empatou em um mês e foi inferior em apenas dez meses.

Gráfico 1. Comportamento de preços de insumos e produtos selecionados, em números índices. Abr./2006 a Out./2022 (Abr./2006=100)

Comportamento de preços de insumos e produtos selecionados
Fonte: Cileite/Embrapa.

O preço do leite estimulando a inflação é um fenômeno recente. No período do tabelamento de preços, que vigorou até 1990, o setor de Leite e Derivados era usado visando estabilizar artificialmente a inflação do custo de vida. Já nos primeiros anos de preços liberados e na primeira década do Plano Real, os preços de Leite e Derivados cresceram menos que a inflação (IPCA), por forças de mercado.

Todavia, no Gráfico 1, salta aos olhos como os preços do mercado de consumo têm trajetórias distintas em relação aos preços do mercado de produção. Chegam a ser vistos em patamares distintos. Também, numa análise estatística, não foram expressivos os coeficientes de correlação encontrados entre os preços recebidos pelo produtor e os preços de Leite e Derivados (CV = 0,7643).

Nesta mesma linha, a série histórica mostra a desvinculação dos custos de produção com os preços recebidos pelo produtor, tanto na análise visual quanto na estatística (CV=0,0348).

No acumulado, os preços recebidos pelos produtores superaram o ICPLeite/Embrapa em 116 meses (58,6%), com cinco meses apresentando empate nos valores (2,5%). Numa análise de 16 anos e 6 meses, os preços recebidos pelos produtores cresceram 541,6%, os custos de produção cresceram 404,2%, os preços de lácteos aos consumidores cresceram 250,5% e o custo de vida das famílias cresceu 148,6%.

O gráfico 2 demonstra que os preços praticados no varejo de Leite Longa Vida e Leite em Pó têm trajetórias não sincronizadas com os preços pagos ao produtor, com os custos de produção, e também entre si, como se não houvesse similaridade entre eles. Mas, ambos oneraram o bolso do consumidor, alavancando a inflação para cima em 189 dos 198 meses da série histórica.

Gráfico 2. Comportamento de preços de insumos e produtos selecionados, em números índices. Abr./2006 a Out./2022 (Abr./2006=100).

Comportamento de preços de insumos e produtos selecionados
Fonte: Cileite/Embrapa.

O Leite Longa Vida, como era de se esperar, foi o que apresentou a melhor correlação com os preços recebidos pelos produtores (CV= 0,7497), entre sete produtos pesquisados. Vale lembrar que a formação de preços do Leite em Pó é impactada pelos preços do mercado internacional e pela variação cambial.

Em 16 anos e 6 meses o Leite Longa Vida e o Leite em Pó tiveram, respectivamente, crescimento de preço no varejo de 281,2% e 278,7%. Neste mesmo período, o IPCA acumulou variação de 148,6%, enquanto o Preço Recebido pelos Produtores foi de 541,6%.

O gráfico 3 mostra a trajetória distinta de duas importantes categorias de derivados lácteos: queijo e Iogurtes e bebidas lácteas. Enquanto Queijo teve um vigoroso crescimento de mercado nos últimos anos, com reconhecimento de mídia pelas premiações recebidas, o Iogurte vem perdendo o glamour conquistado no século passado, quando chegou a ser considerado o equivalente a um “bifinho”, como estratégia indutora de consumo infantil.

Gráfico 3. Comportamento de preços de insumos e produtos selecionados, em números índices. Abr./2006 a Out./2022 (Abr./2006=100).

Comportamento de preços de insumos e produtos selecionados
Fonte: Cileite/Embrapa.

No gráfico, é visível que a curva do Queijos corre acima da curva da inflação do custo de vida (IPCA), enquanto que a do Iogurte e Bebidas Lácteas corre abaixo. Respectivamente, as variações acumuladas em 198 meses foram 239,0% e 153,8%. Mas, vale registrar, que os queijos acumularam crescimento de preços menores que Leite em Pó, Leite Longa Vida e Preços Recebidos pelos Produtores.

É possível que este fenômeno tenha sido influenciado pelo número imenso de ofertantes, muitos na informalidade. Isso contribui para um mercado fragmentado pelo lado da oferta, restringindo o poder de barganha dos laticínios formais.

Portanto, a análise das séries de índice de preços apresentadas leva às seguintes conclusões:

  1. Houve uma forte oscilação de preços nos mercados de produção e consumo;
  2. Não há sincronia de preços entre os mercados de produção e consumo;
  3. Leite e Derivados não se mostraram uma categoria de produtos amortecedora da inflação, como tradicionalmente ainda é vista;
  4. Preços aos produtores cresceram mais que os custos;
  5. A margem financeira entre a produção e o consumo ficou menor, não sendo possível aferir, pelos dados, a sua distribuição entre laticínios e o varejo.
     

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Autores

Paulo do Carmo Martins
Alziro Vasconcelos Carneiro
Manuela Sampaio Lana 

Todos membros da equipe do Cileite da Embrapa Gado de Leite.

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PAULO MARTINS

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 21/12/2022

Excelente su comentário, André Rozemberg. Concordo plenamente com ele e aguardo ansiosamente o seu texto em sua coluna.
ANDRE ROZEMBERG PEIXOTO SIMÕES

AQUIDAUANA - MATO GROSSO DO SUL - PESQUISA/ENSINO

EM 19/12/2022

Parabéns pela análise. Eu acrescentaria ainda a evidente maior volatilidade dos preços aos produtores em relação aos outros segmentos de mercado que pode ser explicado pelo efeito chicote nas cadeias de suprimentos com elevada assimetria de informação. Esse é um bom tema para explorar, vou tentar colocar alguma coisa em breve na minha coluna. Obrigado pelo insight.

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