2020 está terminando, e com ele, poderá estar indo embora também o Auxílio Emergencial. O programa foi essencial para que a pandemia não atrapalhasse ainda mais a economia brasileira neste ano, e devemos nos atentar aos impactos a serem enfrentados após o fim do também chamado "Corona Voucher”.
O Auxílio foi um benefício financeiro concedido pelo Governo Federal aos trabalhadores informais, microempreendedores individuais, autônomos e desempregados para enfrentamento da crise da Covid-19.
Segundo dados do Instituto Fiscal Independente (instituição ligada ao Senado Federal), atualizados em 14 de dezembro, já foram empenhados mais de R$ 250 bilhões para o auxílio, dos quais R$ 232 bilhões já foram pagos.
Este valor empenhado representa 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro projetado para 2020. Se considerarmos apenas os 3 últimos trimestres, período de pagamento das parcelas de R$ 600 e R$ 300, este valor constitui quase 5% do PIB do país.
Diferente de outros investimentos do governo, como obras públicas por exemplo, em que a serventia ao cidadão é indireta, o Auxílio Emergencial foi uma ajuda direta ao cidadão beneficiário, com injeção financeira literal na economia e em grande parte revertida em consumo.
A importância do “Corona Voucher” para estabilização da economia brasileira ao longo da crise pode ser vista ao pensarmos no cenário em caso de ausência do auxílio: com o impacto do distanciamento social em atividades como as dos comércios (formais e informais), restaurantes, indústrias, entre outras, a subida do desemprego era inevitável.
Com uma renda menor, a população consumiria menos não só pela impossibilidade de circulação, mas também pelo menor poder aquisitivo. O benefício do governo fez com que a população que perdeu renda ao longo da pandemia tivesse um alento e que muitas famílias tivessem um aumento considerável em seus ganhos se comparado ao período pré-coronavírus.
Se observamos as projeções dos analistas participantes do Sistema de Expectativas do Banco Central para a variação do PIB no primeiro trimestre de 2021, notamos também o efeito do Auxílio Emergencial: o programa foi idealizado inicialmente para os meses de abril, maio e junho, e ganhou sobrevida com o passar do tempo.
Em julho, “auge” da pandemia, e ainda sem a confirmação da continuidade do benefício, os analistas previam queda de 2,04% do PIB nos primeiros 3 meses do próximo ano. Com o passar do tempo, a sequência dos pagamentos do “Corona Voucher” e um melhor desempenho da economia do que o esperado, as previsões também se tornaram “menos piores”.
Gráfico1. Projeção da variação do PIB no primeiro trimestre de 2021.
Fonte: Sistema de Expectativas do Banco Central.
O mercado lácteo, naturalmente, foi afetado por tantas mudanças de cenário ao longo do ano. Se em um primeiro momento, com o fechamento dos food services, houve receio de ausência de demanda por um cliente tão relevante, com o passar do ano o que se viu foram preços elevados para todos os elos da cadeia e bom giro de vendas dos derivados.
Além da mudança de hábitos que fez com que muitos passassem a cozinhar em casa com mais constância, por exemplo, a renda extra proporcionada pelo auxílio fez com que muitos que não consumiam queijos, por exemplo, passassem a consumir. E a grande preocupação com o fim do “Corona Voucher” talvez esteja aqui.
O maior consumo de derivados como o queijo, que permitiu que a muçarela, por exemplo, alcançasse patamar recorde, será mantido? Houve um fator “substituição” neste aumento, ou foi algo ocasional da renda inesperada? Sem esta resposta, é difícil traçarmos uma previsão do que ocorrerá no próximo ano!
Mas é fato que o fim do benefício pode gerar um choque grande no mercado. Apesar de ainda haver um “resíduo” entre o valor projetado para ser gasto com o auxílio e o que efetivamente foi pago, que pode ajudar ao ser desembolsado no início do próximo ano, os analistas ainda preveem variação negativa no PIB do primeiro trimestre do ano que vem (-0,5% em comparação com o mesmo período de 2020).
E se o fator essencial para o aumento na demanda de lácteos tiver sido o ganho de renda, a ausência da injeção financeira direta por parte do governo pode fazer com que as vendas dos derivados travem. Contando ainda com a incerteza na volta das atividades normais dos food services, a cadeia precisaria, provavelmente, diminuir o patamar de preços para manter em parte o volume de vendas. Os produtores, então, seriam naturalmente afetados pelo contexto, tendo seus preços impactados para baixo.
Por isso, é essencial maximizarmos a eficiência de nossa produção. Com capital mais bem utilizado, vivermos em ambientes de preços sempre elevados se torna menos importante. Para isso, boa informação é fundamental.
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