O mercado de lácteos no Uruguai e na Argentina enfrenta realidades distintas. No Uruguai, a produção se manteve estável em 2023, impulsionada pela demanda internacional. As exportações representaram 73% da produção. O setor enfrenta desafios como a seca e a crescente concentração da produção. As perspectivas para 2024 são positivas, com expectativa de aumento na produção e nos preços internacionais.
Na Argentina, o cenário é mais desafiador. O consumo interno de leite caiu drasticamente em 2024, impactado pela crise econômica. A produção também diminuiu, principalmente devido à seca. As exportações, apesar da queda da demanda interna, continuam sendo um fator importante para o setor. O crescimento da produção depende da redução dos custos e do aumento da eficiência.
Situação em 2023
O ano de 2023 foi desafiador para o setor de lácteos uruguaio devido à gravidade da seca vivida. De fato, a precipitação foi 30% menor do que a média dos últimos 30 anos. Para lidar com a seca, os gastos com suplementação foram aumentados e esse maior gasto fez com que a produção de leite não caísse, alcançando uma captação de 2,114 bilhões de litros com um aumento de 1% em relação a 2022.
As indústrias uruguaias não apenas produziram para abastecer o mercado interno, mas também para manter sua presença internacional. Do leite usado para a produção de diferentes produtos lácteos comercializados, medido em equivalente de leite, 73% foi destinado à exportação, sendo um dos principais destinos o Brasil.
Os produtos lácteos destinados à exportação tiveram uma queda de 8% em relação ao ano anterior (US$ 925 milhões). Essa redução se deve principalmente à queda nos preços, uma vez que os produtos lácteos exportados (em leite integral) ficaram praticamente inalterados em relação ao ano anterior.
A cesta de produtos exportados também permaneceu a mesma do ano anterior e é composta (em termos de faturamento) por leite em pó integral (67%), queijo (14%), manteiga (6%), leite em pó desnatado (5%) e outros (5%).
O que podemos esperar para 2024?
No Uruguai, a produção deverá ser afetada pelas chuvas de outono e pelo fenômeno La Niña na primavera. Em nível de setor, espera-se que a distribuição da remissão por setor mude, já que a Gloria Foods descontinuou sua linha de queijos (a única que tinha em operação no país). Enquanto isso, a Indulacsa-Lactalis e a Calcar também estão mantendo suas linhas de produção de queijo fechadas, de modo que se espera uma realocação do leite remetido para outros produtos nas empresas mencionadas.
Em questões relacionadas à estrutura do setor lácteo uruguaio, o INALE tem trabalhado em vários projetos que visam desenvolver a produção primária tanto para produtores quanto para queijarias artesanais.
Além disso, está sendo feito um trabalho nas bacias leiteiras com o objetivo final de contribuir para o desenvolvimento territorial, melhorando a sustentabilidade social, econômica e ambiental das fazendas familiares e dos produtores de médio porte nas bacias leiteiras costeiras e centrais do Uruguai. Cada fazenda elaborará um projeto de desenvolvimento, para cuja elaboração será aplicada uma abordagem de gênero e juventude em termos ambientais (solo, água e ar).
Também foi desenvolvido um sistema que permite que o produtor de leite conheça o grau de implementação de boas práticas em sua gestão ambiental e detecte oportunidades de melhoria.
Por fim, está sendo desenvolvido um produto para estudo dos sistemas de produção de leite com fazendas-piloto durante um ano (entre agosto de 2024 e julho de 2025) em três processos-chave: planejamento, gestão e suplementação de pastagens e gestão da vaca em transição (que afeta a saúde e a reprodução).
Argentina
O Centro de Economia Política (CEPA) apresentou um relatório detalhado sobre a situação atual do setor de lácteos na Argentina, que destaca um declínio alarmante no consumo e na produção de leite durante o primeiro trimestre de 2024, bem como a dinâmica heterogênea da cadeia de valor dos laticínios.
O consumo doméstico de leite caiu drasticamente na argentina. Em março de 2024, foi registrada uma redução de 29,1% em comparação com o mesmo mês do ano anterior. Essa tendência de queda tem se acentuado progressivamente. No acumulado do primeiro trimestre de 2024, a queda interanual é de 17,17%.
A produção doméstica de leite também diminuiu. Em março de 2024, foram produzidos 704 milhões de litros, representando uma queda de 14,4% em relação ao ano anterior. A queda acumulada na produção durante o primeiro trimestre de 2024 é de 13,9%.
A estrutura de produção também apresentou mudanças notáveis. As fazendas leiteiras que produzem mais de 10.000 litros por dia, que representam 3,9% do total, contribuem com 25,8% da produção nacional. Em contrapartida, as fazendas que produzem menos de 2.000 litros por dia, que representam 57,7% do total, contribuem com apenas 19,7% da produção. Essa concentração aumentou em comparação com 2018, quando essas fazendas menores representavam 22,8% da produção. O segmento industrial também apresenta alta concentração, com as 10 maiores empresas respondendo por 46,5% da produção. Apenas duas empresas, Saputo e Mastellone Hnos recebem mais de 3 milhões de litros de leite por dia, respondendo por 22,4% da produção total.
Exportações
Apesar da crise doméstica, as exportações de laticínios apresentaram uma tendência de aumento na última década. Em 2023, elas representaram 3,7% das exportações agroindustriais e 2% do total do país.
O futuro do mercado de lácteos no Uruguai e na Argentina depende de fatores como a demanda internacional, os preços dos produtos, as condições climáticas e as políticas públicas. O Uruguai tem potencial para se consolidar como exportador de lácteos, enquanto a Argentina precisa superar os desafios internos para voltar a crescer.
As informações são do LV12 e INALE , adaptadas pela equipe MilkPoint.