A Ucrânia está enfrentando a perda de sua indústria de lácteos, a menos que a proibição europeia às importações de laticínios do país seja rapidamente retirada, alertou a União Ucraniana de empresas de laticínios.
Em 2022, a Ucrânia teve um forte aumento nas exportações de lácteos para a União Europeia, com vendas de US$ 102 milhões contra apenas US$ 7 milhões em 2021. O mercado europeu foi vital para os laticínios ucranianos, que no ano passado venderam produtos no valor de US$ 344,6 milhões para clientes estrangeiros, 39% a mais em relação ao ano anterior.
Os produtos lácteos ucranianos foram excepcionalmente competitivos no mercado europeu durante o verão e o outono, comentou Yana Linetskaya, analista da associação ucraniana de produtores de lácteos. No quarto trimestre, os preços globais dos laticínios caíram, prejudicando a receita das vendas externas das empresas ucranianas, acrescentou.
O regime de comércio livre de tarifas imposto às importações de alimentos ucranianos pela Comissão Europeia no primeiro semestre de 2022 mitigou amplamente o impacto do bloqueio marítimo russo. Em 2022, a exportação ucraniana de soro de leite caiu 31,3%, para 15.300 toneladas, já que o país costumava exportá-lo, entre alguns outros produtos lácteos, principalmente para a China por via marítima. Eventualmente, as empresas ucranianas começaram a exportar produtos lácteos destinados aos mercados asiáticos através dos portos marítimos da Bulgária e da Romênia, embora isso acarretasse um aumento nos custos logísticos.
Efeito dominó
O embargo europeu se mostra bastante doloroso para a indústria de lácteos ucraniana, que também está vendo a demanda no mercado interno despencar devido à emigração em massa e à queda do poder aquisitivo da população local. “Se o levantamento real da proibição for adiado, as empresas de laticínios ucranianas reduzirão o volume de compras de leite porque o processamento do leite perderá seu significado sem a perspectiva de vendas para exportação. Os processadores de laticínios não estão prontos para trabalhar apenas para encher os armazéns”, alertou o sindicato ucraniano de laticínios, acrescentando que os problemas no segmento de processamento inevitavelmente pesarão fortemente na já problemática produção de leite cru.
“Ao mesmo tempo, os produtores de leite serão forçados a baixar o preço do leite cru primeiro e, quando a produção de leite se tornar não lucrativa, eles começarão a se livrar do gado. Isso significa que podemos perder a indústria”, alertou o sindicato.
Esse efeito dominó pode ser particularmente desafiador para a indústria de lácteos ucraniana a longo prazo. A associação ucraniana de produtores de leite estimou que o país perdeu de 8 a 10% do gado leiteiro no ano passado como resultado das hostilidades.
Os analistas expressaram preocupação de que o rebanho leiteiro deve ser preservado a todo custo, já que os processadores de leite podem ligar e desligar suas capacidades sempre que quiserem, enquanto o crescimento de uma vaca leva tempo. Nos últimos meses, a indústria ucraniana de processamento de carne tem lutado contra a escassez de carne suína, já que várias fazendas de suínos em todo o país foram danificadas ou destruídas. A crise elevou os preços dos suínos nas fazendas e acelerou a inflação no país.
O setor de laticínios adverte que, se o rebanho ucraniano de vacas continuar diminuindo, a indústria de processamento de leite enfrentará desafios semelhantes.
Restrições espelhadas
Com esse cenário, vários grupos da indústria de lácteos ucranianos pediram ao governo que considerasse a imposição de restrições espelhadas contra as importações europeias. Além disso, algumas empresas de laticínios acreditam que as autoridades devem projetar um sistema sob o qual ações espelhadas seriam acionadas automaticamente em resposta a quaisquer restrições às quais os alimentos ucranianos possam ser submetidos. O sindicato ucraniano de empresas de laticínios acredita que tal sistema evitaria situações semelhantes.
Arsen Didur, diretor-executivo do sindicato, expressou a opinião de que as medidas-espelho podem ser eficazes, uma vez que o país importa mais produtos lácteos da Europa do que exporta. Ele revelou que durante o primeiro trimestre de 2023, a Ucrânia exportou produtos lácteos no valor de US$ 50,34 milhões, dos quais US$ 4,81 milhões desembarcaram na Polônia.
Por outro lado, a Polônia representa a maior parte das importações de lácteos ucranianos em quase todas as categorias, exceto manteiga e gordura láctea. Por exemplo, a Polônia exportou 3.360 toneladas de queijo para a Ucrânia por US$ 18,45 milhões no primeiro trimestre de 2023. “O sindicato está desapontado com o resultado das negociações ucraniano-polonesas sobre a exportação e trânsito de produtos agrícolas ucranianos para a Polônia, segundo as quais o trânsito é permitido, mas um embargo é imposto às exportações”, disse o sindicato em um apelo ao governo.
Nenhum vencedor
Enquanto isso, a câmara de laticínios polonesa, o maior sindicato de fabricantes de laticínios do país, pediu às autoridades que abandonassem as restrições às importações de laticínios ucranianos. De acordo com as empresas de laticínios polonesas, embora as restrições à importação de grãos ucranianos pareçam justificadas para evitar que os agricultores poloneses sofram perdas substanciais, elas não fazem sentido no mercado de laticínios.
Desde o início de 2023, a Polônia e vários outros países do Leste Europeu sofreram uma queda nos preços no atacado no mercado de grãos, aves e leite. Produtores de grãos, fabricantes de carne de frango e ovos reclamaram do influxo de produtos baratos da Ucrânia, e o Ministério da Agricultura polonês acredita que o quadro é semelhante em todos os segmentos do mercado de alimentos. No entanto, isso foi claramente um erro. “Não concordo que as importações do mercado ucraniano possam desestabilizar o mercado polonês”, disse Waldemar Bros, chefe da associação nacional polonesa de cooperativas de laticínios, acrescentando que a queda nos preços na indústria de laticínios está associada principalmente à crescente pressão do ocidente, não de empresas orientais.
“A Europa Ocidental especula em nossos mercados com preços baixos”, concordou Gustaw Jedrejek, presidente da Câmara de Agricultura de Lublin, acrescentando que, como resultado, os preços do leite cru ao produtor caem, o que compromete toda a cadeia de abastecimento.
Paradoxalmente, o embargo às importações de lácteos ucranianos vai piorar a situação do produtor se o governo aplicar restrições semelhantes. No final, ninguém sairá ganhando com o embargo e os laticínios sofrerão dos dois lados da fronteira. Bros disse que se os preços do leite cru caírem abaixo do nível do custo de produção, alguns produtores poloneses terão que reduzir as operações.
As informações são do Dairy Global, traduzidas e adaptadas pela equipe MilkPoint.