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Região Sul: impactos da estiagem e alternativas para os produtores de leite

POR MAYSA SERPA

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 22/06/2020

7 MIN DE LEITURA

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A Região Sul, que é referência em diversos produtos agropecuários – como grãos, suínos e aves – vem se destacando também na atividade leiteira. Segundo últimos dados de captação de leite do IBGE, a região figura em primeiro lugar como maior produtora do País desde 2014. Todos os seus três estados possuem importante produção e, distribuídos neles, estão 28 dos 100 maiores produtores do Brasil, segundo o levantamento Top 100 2020 do MilkPoint.

Em 2020, contudo, os produtores de leite sulistas vêm sofrendo, além da pandemia de coronavírus, outra grande intercorrência que está impactando o volume e o potencial de produção da região: a prolongada estiagem. Embora alguns lugares já atestem melhora nas condições climáticas, a seca deixará como consequência dificuldades para alimentação do gado no segundo semestre de 2020 e, até, no próximo ano.

A produção de milho, principalmente na safrinha, e de volumosos no geral, que garantiriam estoque de alimentação para os animais, foram extremamente comprometidas pela ausência de chuvas. Segundo Ivar Kreutz, produtor de leite em Alecrim/RS, a região foi intensamente afetada. “O milho safra produziu bem e o safrinha foi irregular. Existe um menor estoque de volumoso armazenado que se refletirá no segundo semestre”. Além disso, os custos de produção estão mais altos. “Toda a ração que depende de milho e farelo de soja está com preços muito altos, fazendo os custos de produção se elevarem bastante.”

seca na região sul lavoura de milho
Lavoura de milho atingida pela seca. Foto: Fabrício Nascimento.

Fabrício Nascimento, produtor em Jóia/RS não se viu tão prejudicado ainda, pois trabalha com estoques de comida para pelo menos um ano. “Nossa iniciativa sempre foi produzir bastante forragem, como não sabemos o que vai acontecer com o clima, sempre planejamos produzir mais do que será consumido. Este planejamento nos permitiu ter um estoque suficiente para passar por este período sem precisar reduzir o volume fornecido ou comprar alimentos de fora”. Ainda assim, relatou que os vizinhos estão passando grandes dificuldades para manter a produção. “Nosso município foi um do mais atingidos da Região Noroeste do estado do Rio Grande do Sul. O pasto foi muito sacrificado, exigindo um trabalho maior para fechar a dieta dos animais, o milho para silagem produziu menos de 50% do esperado. Alguns vizinhos soltaram os animais nas plantações de milho, pois a qualidade estava muito ruim. A silagem ficou com um custo 37% mais alto devido à baixa produção e ao alto investimento”.

De acordo com Jaqueline Ceretta, sócia-proprietária da Agropecuária Ceretta, em Ijuí/RS, algumas regiões do estado, como a cidade em que mora, receberam precipitações que permitiram uma boa colheita no “milho safra”. Já o “safrinha” foi prejudicado em praticamente todo território do Estado. “Em 9 anos não se via uma seca tão prolongada, começou no fim de novembro e durou praticamente até o fim de maio. Agora estamos recebendo algumas chuvas, que vão ser boas para recompor as nascentes”. Segundo ela, alguns produtores, principalmente os que trabalham com gado confinado, optaram por fecharem a propriedade e vender os animais, por falta de alimento. “No nosso caso, que utilizamos pasto, a dificuldade foi com o rebrote do sorgo. Além disso, as temperaturas no fim de 2019 e início de 2020 estavam muito altas, não havia umidade e a produção de leite caiu muito.”

A Agropecuária Nova Esperança, localizada em Vespasiano Correa/RS investiu altamente em silagem neste ano, esperando altos rendimentos (> 65t/ha), mas só foi possível alcançar 32t/ha em média. “As silagens ficaram comprometidas tanto em rendimento quanto em qualidade, com baixa concentração de amido e alta matéria seca (MS). O real efeito do uso dessa silagem será sentido nos próximos meses, pois ainda estamos usando os silos da safra anterior. Alguns produtores estão relatando média de produção dos animais de 2 a 3 litros inferior ao obtido no mesmo período do ano passado, em decorrência disso”, comentou Fabrício Balerini, gestor da propriedade.

lavoura de milho seca no sul produtores de leite
Lavoura de milho prejudicada pela ausência de chuvas. Foto: Fabrício Balerini.

Para Timotheo Silveira, responsável pela produção de leite no Colégio Agropecuário do Instituto Cristão Mackenzie, em Castro/PR, a principal preocupação é com a produção de volumosos de inverno. “Estamos ainda com reservas de alimentos, mas existe uma preocupação com o plantio de inverno e enfrentaremos dificuldades nos próximos meses ainda por vir”. Segundo Jaqueline, o plantio de inverno também atrasou por lá. “Costumávamos plantar a aveia por volta de 20 de março e este ano só conseguimos em meados de abril. Depois disso, foi mais um mês até atingir uma boa altura para os animais poderem entrar”.

Fabrício Balerini também comentou sobre os impactos do atraso na semeadura das pastagens de inverno. “Esta é uma opção interessante para reduzir custos e economizar silagem e tivemos um atraso considerável. Utilizamos a Integração Lavoura Pecuária como alternativa para baratear o custo da produção de novilhas, mas, com o atraso, demoramos mais 30 dias para iniciar o pastejo. Foi preciso suplementar com silagem e concentrado, o que aumentou os custos”.

pastegens de inverno aveia preta e azevém
Pastejo em aveia preta e azevém. Foto: Fabrício Balerini.

Outra questão é a diminuição da disponibilidade de água para os animais beberem e para as atividades diárias, como limpeza da sala de ordenha, por exemplo. Fabrício Nascimento contou que algumas propriedades passaram por escassez total de água e a prefeitura de Jóia/RS teve que abrir bebedouros emergenciais para atender a demanda dos produtores. De acordo com Fabrício Balerini, “algumas propriedades estão buscando alternativas para reutilizar de forma mais eficiente a água da chuva e até mesmo de vertentes, o que seria um legado positivo deste evento de déficit hídrico.”

Com custos de produção mais acentuados e ainda agravados pela crise trazida pelo coronavírus e a alta do dólar, os produtores estão buscando alternativas para continuarem mantendo as exigências nutricionais dos animais, além de reporem os estoques para os próximos meses. De acordo com Ivar e Fabrício Balerini, algumas propriedades estão semeando trigo para pastejo e produção de silagem.

pastejo de vacas leiteiras no trigo
Pastejo no trigo. Foto: Fabrício Balerini.

Já na Agropecuária Ceretta, a aposta foi complementar a dieta com farelo de soja e caroço de algodão, para impedir que a produção dos animais caísse muito. Outras possibilidades citadas para suplementação foram o grão úmido de milho e a casca de soja, mas, por causa do frete, os custos são maiores e, muitas vezes, a produção não responde conforme era com a utilização de silagem de milho.

Felipe Cantele, proprietário da Fazenda Cantele, em Vila Maria/RS, disse que ainda não está sofrendo com os efeitos da seca pois também possui estoque de volumosos. Contudo, isso não será suficiente para o restante do ano. Assim sendo, tomou a decisão de comprar 10 ha de milho para silagem que, segundo suas contas, sairia mais barato do que os prejuízos com a quebra de produção dos animais. De acordo com ele, outros produtores da região também estão adotando esta medida. Disse ainda que há certa dificuldade na compra de feno, tanto quanto a disponibilidade quanto a custo

De acordo com Jaqueline, o custo de outros insumos também aumentou muito, como fertilizantes, ureia e defensivos agrícolas. “Os custos estão quase ‘empatando’ ou fechamos no negativo, agravado ainda pela pandemia. Aliado a isso tivemos uma diminuição no consumo de lácteos na segunda quinzena de abril, o que impacta no preço do leite”.

Apesar das dificuldades, os produtores deixam uma mensagem positiva. Felipe incentivou: “Com eficiência, planejamento e investimento em boa alimentação, não deixando cair a produção de leite, eu acredito que dê para superar essa crise. O preço do leite vem sinalizando aumento, o que também é uma boa notícia. Outra ponto positivo são os produtores que possuem lavouras financiadas pelo Programa ProAgro, que ajuda nos custos e também em investimentos.” Jaqueline brincou: “Este foi o ano dos problemas, se conseguirmos passar por isso, acredito que passamos por qualquer coisa”.


Lavoura de milho após precipitação de 90 mm. Apesar da estiagem, o rendimento não foi tão ruim, devido às características da terra. Vídeo: Felipe Cantele.

Já para Fabrício Nascimento, o momento é de aprendizagem: “Este ano precisa ser usado de exemplo: sempre, em anos bons, precisamos estocar o máximo possível de comida para não sofrermos diante das estiagens”.

pasto com retorno das chuvas
Pastagem após retorno das chuvas. Foto: Fabrício Balerini.

Fizemos uma enquete em nosso perfil no Instagram para saber dos produtores da região Sul se suas produções estavam sendo afetadas pela seca. Recebemos 108 respostas, das quais 59 (55%) foram positivas. A seguidora @gabislova comentou: “Trabalho no setor da qualidade de um laticínio, no recebimento do leite. Neste período de seca, houve uma redução de algo em torno de 20% no volume de leite recebido”.

Também é produtor na Região Sul do País? Conte para nós como a seca afetou sua produção e quais soluções estão sendo empregadas para contornar essa dificuldade.

MAYSA SERPA

Médica Veterinária, MSc. e doutoranda em Sanidade Animal pela UFLA.

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