Rabobank: Áreas com menores custos de produção de leite estão perdendo vantagens

As regiões produtoras de leite que tradicionalmente são baseadas em pastagem de baixo custo, como a Austrália, perderam sua vantagem à medida que os preços dos insumos aumentaram e agora estão competindo no mercado global com custos similares de produção aos dos produtores com sistemas mais intensivos, afirma um relatório recente do Rabobank.

Publicado por: MilkPoint

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Rabobank: Áreas com menores custos de produção de leite estão perdendo vantagens

As regiões produtoras de leite que tradicionalmente são baseadas em pastagem de baixo custo, como a Austrália, perderam sua vantagem à medida que os preços dos insumos aumentaram e agora estão competindo no mercado global com custos similares de produção aos dos produtores com sistemas mais intensivos, afirma um relatório recente do Rabobank.

No relatório chamado “No longer low-cost milk ‘down under’”, o Rabobank disse que os custos globais de produção de leite se convergiram entre os países exportadores, à medida que os produtores de leite tradicionalmente de baixo custo têm visto seus custos de produção aumentarem por causa dos preços globais voláteis dos alimentos animais e do aumento do uso de ração em regiões baseadas em pastagens.

O co-autor do relatório, o analista sênior do Rabobank, Michael Harvey, disse que as regiões de custos menores já capitalizaram bastante seus ganhos de eficiência, em um ambiente de altos preços do leite, no preço da terra e outros bens. Dessa forma, ele disse que há a necessidade de adaptar essas perdas de vantagem competitiva absoluta na produção de leite.

“É provável que a eficiência ótima na cadeia de fornecimento possa, pelo menos parcialmente, mitigar essa perda. As eficiências alcançadas no processamento de leite e na comercialização através de uma rota forte ao mercado e as relações estabelecidas na cadeia de fornecimento provavelmente terão um papel maior na diferenciação de companhias de exportação competitivas e indústrias no futuro”.

Harvey disse que para garantir que a competitividade seja baseada em mais do que somente o custo de produção de leite, o setor australiano de lácteos precisará trabalhar duro para garantir que continuarão à frente na eficiência na cadeia de fornecimento, acesso a mercados, comercialização e regulação.

Historicamente, países no Hemisfério Sul, como Austrália e Nova Zelândia, ficaram bem conhecidos por suas exportações de lácteos de baixo custo. Harvey disse que os sistemas de produção extensivos baseados em pastagens, os recursos naturais abundantes e os baixos custos de oportunidade em usos alternativos da terra deram a essa região uma vantagem competitiva.

“Países como Austrália e Nova Zelândia têm uma produção excedente de leite com relação à demanda de sua pequena base populacional. Reconhecendo que as exportações não são uma atividade opcional para eles, desenvolveram estratégias focadas nas exportações. Em contraste, os setores de lácteos na União Europeia (UE) e nos Estados Unidos eram muito regulamentados, resultando em custos de produção de pelo menos 50% a mais do que no Hemisfério Sul há cerca de 10 anos”.

Entretanto, Harvey disse que entre 2002 e 2012, as moedas locais dos exportadores de lácteos, Austrália e Nova Zelândia, se fortaleceram em 90 e 75%, respectivamente, com relação ao dólar americano, acelerando a convergência dos custos de produção e tornando os exportadores dos Estados Unidos relativamente mais competitivos.

O custo de produzir leite em sistemas de produção extensivos pastoris tipicamente de baixo custo, como aqueles encontrados em países do Hemisfério Sul, aumentou desde 2002. Harvey disse que os produtores nesses países exportadores de baixo custo tiveram retornos melhores e capitalizaram sobre eles em bens de alto valor, principalmente terra, trazendo os custos de produção para níveis similares àqueles em sistemas intensivos de produção de lácteos baseado em ração.

“A produtividade, em termos de alimentos produzidos por hectare aumentou, mas essa foi ultrapassada pelos preços da terra. Os preços da pastagem ou de terras de produção de leite na Irlanda dobraram desde 2002, alcançando um pico em 2007 de mais de quatro vezes o preço de 2002. Em Victoria e na Nova Zelândia, os preços da terra mais que triplicaram desde 2002 e, em São Paulo, Brasil, eles aumentaram em seis vezes”.

Além disso, o relatório do Rabobank diz que os sistemas de produção em regiões historicamente de baixos custos se intensificaram, aumentando os insumos, aumentando, dessa forma, a produção, mas a um custo adicional.

“Os maiores preços do leite e da terra estimularam os produtores a maximizarem seus bens existentes – como vacas e infraestrutura de ordenha -, resultando em um maior uso de ração, maiores taxas de lotação nas propriedades rurais e maior produção por vaca”.

Um sistema de produção híbrido baseado em pastagem com suplementação (grãos) é o centro do setor de lácteos australiano e dá suporte para que a indústria ainda seja uma das produtoras de leite de menor custo do mundo. Entretanto, Harvey disse que existem algumas pressões relativamente únicas de custos sendo enfrentadas pela cadeia de valor de lácteos da Austrália. Essas incluem uma escassez de mão de obra no setor leiteiro e aumento nos custos de energia.

“Embora estejam sendo feitos esforços para combater esses problemas, eles continuam prejudicando a competitividade da Austrália”.

O relatório do Rabobank destaca que a mão-de-obra rural está escassa e cara, adicionando-se às dificuldades que o setor de lácteos australiano está enfrentando comparado com outras nações de baixo custo.

Os custos com energia são outro problema, mesmo com a potencial remoção do imposto sobre o carbono, disse o relatório. “Embora o imposto sobre o carbono se aplique somente diretamente aos grandes emissores, esse custo está sendo repassado aos usuários finais. Para combater os altos custos de energia, estão sendo feitos investimentos em tecnologias de baixo carbono e mais eficiência em termos de energia, frequentemente com a assistência de fundos do governo – mas isso somente se tornará mais importante à medida que os custos de energia continuem aumentando no futuro”.

A falta relativa de uma regulamentação do mercado e a forte participação de cooperativas processadoras de leite pertencentes a produtores na Austrália resultaram em uma transmissão rápida dos preços de mercado de volta para o portão da fazenda, disse o Rabobank. Isso tem levado a altos preços do leite que estão sendo distribuídos aos produtores rapidamente quando os preços no mercado global aumentam.

Harvey disse que os produtores de leite de melhor desempenho provavelmente se animarão a expandir a produção de leite a preços menores do que a indústria considera lucrativa – com custos de produção tipicamente menores e melhor produtividade. Aqueles que estão no quartil superior de seu grupo terão incentivo para continuar investindo na produção de leite, mas podem não ter capacidade.

“Os produtores de leite na Austrália devem considerar onde está a vantagem competitiva para suas próprias operações. O aumento da exposição ao mercado global de lácteos para alguns produtores de leite e a grande intensificação das fazendas para outros têm adicionado complexidade para muitas fazendas leiteiras. Um sistema flexível de produção a um custo médio pode ainda ser competitivo se fornecer resiliência durante a queda”.

Com a permanência da alta volatilidade para os preços do leite e para os custos de produção, a capacidade de reduzir os insumos e/ou os custos durante períodos de oferta global abundante seria uma vantagem distinta, disse Harvey.

“Os produtores do Hemisfério Sul anteriormente sobreviveram a quedas no mercado global por períodos prolongados devido ao tamanho de sua vantagem de custo comparativa absoluta. Com essa vantagem de custo que agora está mínima ou não existente, outras estratégias para sobreviver às quedas inevitáveis – ainda que provavelmente de curto prazo – serão requeridas”.

Os dados são do site do Rabobank, traduzidos e adaptados pela Equipe MilkPoint.
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Carlos A. Oliveira
CARLOS A. OLIVEIRA

TERESÓPOLIS - RIO DE JANEIRO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 09/12/2013

Este texto parece que foi escrito para o atual caso brasileiro, seria muito bom que a classe dos pecuaristas leiteiros brasileiros percebessem muito bem o último parágrafo.
Qual a sua dúvida hoje?