1 - Breve descrição profissional:
Sou Engenheiro Agrônomo, formado na Universidade Federal de Viçosa (MG) no ano de 1.973. De 1974 a 1980 trabalhei como projetista e implantador de projetos como: PROTERRA, PRODEPE, PROPEC, POLOCENTRO e PRONAP. Após esse período, fui analista de propostas e projetos de Banco comercial de 1980 a 1986. E a partir de Junho de 1986, iniciei com dedicação exclusiva a pecuária leiteira, na Fazenda Mamoneiras, no município de Itaberaí-GO. Adquiri a propriedade em 1978, completamente virgem. Atualmente, temos na fazenda uma estrutura simples, mas funcional, produzindo 2000 litros/dia, com um rebanho totalmente criado na fazenda, tudo fruto de inseminação artificial (técnica que utilizamos desde 1987). Meu maior orgulho é dizer que desde 2005, quando quitei a última parcela de um financiamento, nunca mais fiz qualquer tipo de empréstimo e não disponho de outras fontes de renda. Não é milagre, é muito trabalho!
Também tenho muito orgulho da minha família. Meus filhos são profissionais bem sucedidos (2 engenheiros e uma publicitária) e sempre desmotivei-os a ingressarem nas ciências agrárias devido a dureza do trabalho, a baixa remuneração, os sacrifícios e as privações. Obviamente que existe a parte boa, mas sinceramente ela não compensa a parte difícil. Hoje conto com a ajuda da minha esposa (economista doméstica pela UFV) e três funcionários. Os estudos dos meus filhos foram suportados pela pecuária leiteira, pois em 1986 meus filhos ainda eram pequenos.
2 - Como enxerga atualmente a atividade leiteira no país?
Hoje, como toda atividade rural, a leiteira é um negócio para profissionais. As fazendas precisam de presença constante, gerência, conhecimento e informações. Desde que me dediquei a essa atividade, passei por várias fases e digo com certeza de que avançamos muito. A pecuária leiteira e, sobretudo a qualidade do leite, melhoraram muito. A quantidade ainda patina por falta de segurança e falta de estabilidade para investimentos.
3 - O que acha que falta no setor?
Falta principalmente uma política de preços mais transparente e mais estável. Assim, daria maior segurança ao produtor para podermos investir mais na atividade. Talvez um preço mínimo a ser discutido entre produtores e vendedores no início de cada ano. Esse preço não seria generalizado e sim discutido com grupos de produtores que produzem em sistemas mais homogêneos. Os preços a serem pagos deveriam ser passados aos produtores antes de iniciar a coleta, isso o aliviaria de maiores riscos. Se o preço for menor, o produtor poderia diminuir os fatores de produção (ração, secagem antecipada de vacas e outros) o que diminuiria os custos e obviamente a produção. Se o preço está decrescendo, entendemos que não estão precisando de leite. Isso seria até uma forma de consideração da indústria para com os produtores, uma vez que evitaria que ele gastasse muito sendo que vai receber menos, evitando que ficasse com o fluxo de caixa muito justo e até no negativo.
4 - O que esperar da pecuária leiteira brasileira para os próximos 5 anos?
A pecuária leiteira, até no curtíssimo prazo é uma incógnita. Inclusive, esse é um forte motivo de não investirmos mais significativamente na atividade. Tudo é feito aproveitando as fases (e estas são efêmeras).
Ninguém em sã consciência aplica capital - sendo que poderia aplicar em atividades mais seguras - em um negócio tão incerto quanto à pecuária leiteira, que é tão desprotegida, sobretudo das nossas autoridades governamentais. Importante lembrar que a cada dia, mais pessoas estão indo para a cidade e menos pessoas permanecem no campo para produzir alimentos, mesmo com as produtividades crescentes e, acredito que já estamos perto do limite. Um dia, certamente, essa conta não fechará.
Temos ainda um agravante que é a baixa sucessão na atividade. As gerações mais novas, seduzidas pelas luzes, pelas tecnologias, buscam atividades menos trabalhosas e mais remunerativas. Essas oportunidades são mais comuns nas cidades e assim o campo vai virando uma grande favela rural.
Gosto de dizer que "com o mercado do leite pode acontecer tudo, inclusive nada".
5 - Quais são os pontos fortes da atividade leiteira brasileira?
O ponto forte é a possibilidade de aproveitamento do potencial das forrageiras tropicais, das forrageiras que se adaptam ao cerrado (e aqui enalteço o trabalho da Embrapa, na introdução, melhoramento e divulgação de variedades forrageiras) e da vasta extensão de terras que ainda estão relativamente baratas. Produzir leite a pasto usando silagens e/ou cana no período seco, com custos bastante reduzidos, a meu ver é a maneira menos arriscada de trabalhar nessa atividade. Devemos buscar médias em torno de 15 a 18 litros/vaca, pois são muitas as dificuldades de equilibrar o balanço financeiro de rebanhos com médias muito altas e trabalhar no vermelho um longo tempo é uma temeridade. O pagamento por qualidade, praticado pelos maiores laticínios, é uma realidade e incentiva todos a melhorarem. Se houver uma fiscalização efetiva da IN 62, os produtores que ainda não se enquadraram vão desaparecer por absoluta falta de compradores para sua produção.
6 - Dica de sucesso ou frase preferida:
O lucro ou prejuízo no litro do leite é medido em centavos, se for lucro de R$0,01 quanto mais produzir melhor, mas se for prejuízo de R$0,01 o melhor é não produzir.
Trabalhar com pecuária leiteira é um sacerdócio e temos de gostar muito, trabalhar demais e ter muita paciência. A frase "quem sabe faz, quem não sabe ensina" reflete bem que nessa atividade infelizmente vemos muita gente ensinando sem saber fazer e, a carência do saber no campo é infinitamente superior do que os responsáveis possam imaginar.
Importante lembrar que temos muitos técnicos saindo das Universidades todos os anos, mas infelizmente sem o devido preparo. Com o ensino massificado e o governo precisando melhorar seus dados estatísticos, o mau preparo vem ocorrendo em todas as áreas. Justiça seja feita, há exceções, não muitas, mas temos técnicos que se adequaram a novas necessidades dos produtores.
O mote devia ser "bolso cheio", no lugar de "tanque cheio", "balde cheio" e etc.
7 - Quais os serviços do MilkPoint você utiliza mais e como o site lhe auxilia no dia-a-dia?
Minha esposa e eu ficamos na Fazenda de segunda a sexta todas as semanas e o trabalho é duro. Normalmente, viajamos uma semana ao ano. Hoje dispomos de internet na fazenda o que facilita atualizar no nosso negócio e é ai que julgo o MilkPoint de fundamental importância. Sou presidente de uma Associação de Produtores de Leite a "NATA DO LEITE". Somos 25 produtores que produzimos mais de um milhão de litros de leite por mês, com qualidade de primeiro mundo e tenho sempre chamado a atenção dos associados para acessarem sempre o Site, para se informarem e se atualizarem.
Particularmente, uso quase que diariamente para me atualizar, saber o que está ocorrendo no Brasil e no mundo com o meu negócio. Busco sempre informações sobre as análises de mercado do leite e dos insumos, as perspectivas e previsões são de vital importância.