O queijo cheddar apresentou a maior queda entre os produtos lácteos ofertados no leilão, com variação negativa de 12,1%, cotado a US$ 2.937/tonelada. O leite em pó integral (WMP) teve também um queda expressiva de 11%, cotado a US$ 2.847/tonelada sendo a maior queda registrada nos últimos treze meses e o menor valor cotado desde agosto de 2009. O leite em pó desnatado (SMP) teve queda de 7,6% (US$ 2.871/tonelada). As informações podem ser visualizadas no gráfico 1 e 2.
Gráfico 1: Histórico dos índices de variações do gDT (Fonte: Global Dairy Trade)

Gráfico 2: Histórico de preços de produtos lácteos (gDT)

A queda nos preços dos produtos lácteos vem como consequência principalmente da maior produção de leite em todo mundo que, junto ao quadro de desaceleração dos países emergentes, forçam a formação de estoques. Apesar de os preços já estarem em trajetória descendente desde o início do ano passado, a queda deste leilão de certa forma surpreendeu o mercado.
A maior produção de leite pode ser percebida olhando por exemplo para os Estados Unidos da América (EUA), que hoje é o maior produtor de leite de vaca do mundo. O país produziu no ano passado 89 milhões de quilos de leite e neste ano vem apresentando forte aumento, como pode ser visto no gráfico 3. Só em fevereiro de 2012, segundo os dados do Departamento de Agricultura (USDA), a produção foi 8% superior ao mesmo período do ano anterior e conforme divulgado no mês passado, a produção de leite dos EUA deverá crescer 1,8%, atingindo o volume recorde de 90,6 milhões de toneladas.
Gráfico 3: Produção de leite nos Estados Unidos, em milhões de quilos de leite (Fonte: USDA)

Outros países também tem apresentado evolução na produção, como o Uruguai que produziu em 2011 19,3% a mais que 2010, totalizando 1.849 milhões de litros e em fevereiro de 2012 já apresenta 25% a mais na produção em relação ao mesmo período do ano passado. A Argentina por sua vez teve aumento de 13,5% na produção de 2011 (total de 7.504 milhões de litros) versus 2010 e já apresenta evolução nesse ano também, 13% a mais no volume. A Nova Zelândia produziu no ano passado todo 18.915 milhões de litros, 10% a mais que em 2010 e segue nesse ano um ritmo forte no crescimento produzindo em torno de 9% a 10% a mais.
A nova queda de preços, apesar do dólar mais valorizado, não ajuda a balança comercial brasileira. A tabela 1 simula o preço de entrada do leite em pó integral proveniente do Mercosul, considerando o novo patamar de câmbio e o valor da tonelada do leilão de 17/04. Considerando o frete de entrada, o leite em pó chegaria ao Brasil a valores próximos a R$ 0,68/litro apresentando um descolamento de preços frente ao valor brasileiro, que hoje em média vale R$ 0,86/litro.
Com essa baixa acentuada no preço do leite em pó integral, abre-se ainda a possibilidade da entrada de leite norte-americano, pois mesmo considerando a tarifa externa comum (TEC), o leite chegaria aqui no valor de R$ 0,86/litro, praticamente o mesmo valor pago hoje aos produtores brasileiros (tabela 2). E, mais um pouco, o leite neozelandês, com 30,8% de impostos (27% de TEC mais 3,8% de anti-dumping) já chegaria ao Brasil de forma competitiva.
Tabela 1: preço aproximado do litro de leite que entra no Brasil do Mercosul, em R$ (Fonte: MilkPoint, a partir de dados do gDT, Cepea/USP)

Tabela 2: preço aproximado do litro de leite que entra no Brasil dos EUA, em R$ (Fonte: MilkPoint, a partir de dados do gDT, Cepea/USP)

A matéria é da Equipe MilkPoint com dados do Global Dairy Trade.
