A segunda empresa participante do projeto é a SIA (Serviço de Inteligência em Agronegócios), localizada em Porto Alegre/RS. A empresa atua no desenvolvimento de estratégias de comercialização de produtos agropecuários, plano de negócios, análises de viabilidade técnico-financeira de sistemas de produção agrícola, pecuária e sistemas de produção integrada. Possui uma equipe especializada em pecuária de corte, pecuária de leite e integração lavoura-pecuária do sul do Brasil, sempre junto ao produtor rural e clientes do setor empresarial de agronegócio.Com formatos customizados e dinâmicos de capacitação e assistência técnica, a proposta é encurtar a distância entre o conhecimento gerado nas instituições de pesquisa e o produtor rural.
MilkPoint - Quando foi criada a empresa, quais são as áreas de atuação e em qual(s) localidade (s) atuam?
SIA: “Fundada em 10 de junho de 2010, a SIA – Serviço de Inteligência em Agronegócios – é uma empresa formatada para atuar na elaboração e execução de projetos e consultorias para o agronegócio, com o planejamento e gestão do processo produtivo. A SIA tem como objetivo ser um forte elo de ligação entre o conhecimento técnico-científico e a aplicação deste no campo, com a transferência de conhecimento e tecnologia, promovendo a capacitação continuada dos produtores rurais atendidos. Atualmente a SIA atua em 910 propriedades rurais, em 100 municípios nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, dentre os quais 614 propriedades e 59 municípios com pecuária leiteira”.
MilkPoint - Quantos profissionais fazem parte do quadro da empresa e qual é o perfil desses profissionais?
SIA: “Davi Teixeira é o Diretor Executivo e lidera uma equipe de 40 profissionais da zootecnia, agronomia, medicina veterinária e engenharia florestal, com a mais completa e especializada equipe em pecuária de corte, pecuária de leite e integração lavoura-pecuária do sul do Brasil. A empresa atua diretamente nas propriedades rurais com visão global do sistema de produção e áreas técnicas específicas como planejamento forrageiro, rotação de culturas, manejo de pastagens, ajuste de dietas, suplementação, plano de comercialização e controle financeiro”.
MilkPoint - Quantos produtores de leite atendem (em volume de leite) e quais são os principais desafios encontrados hoje no campo?
SIA: “Atualmente a SIA atende 614 produtores de leite, sobretudo pequenas propriedades atendidas através do Programa PISA - Produção Integrada de Sistemas Agropecuários, uma iniciativa do Ministério da Agricultura (MAPA). O volume de leite dessas propriedades atinge em média 190.992 litros/dia. São quase 70 milhões de litros de leite por ano, que provêm de estabelecimentos que produzem desde 6 litros até 3.500 litros diariamente, com 11 mil vacas em lactação que produzem ao redor de 15 litros de leite ao dia. Isso representa o primeiro grande ajuste necessário à maioria dos sistemas leiteiros do Brasil, ou seja, sair de um patamar de baixíssima produtividade, da ordem de 7-10 L/vaca/dia, para 15-18 L/vaca/dia, ajustando modelos tecnológicos com viabilidade econômica. O principal desafio da consultoria é identificar os produtores que realmente querem mudar. A transmissão de um novo pensar pode significar, em primeiro momento, que o conhecimento antigo estava errado. Isso não é exatamente verdade, ou tão duro assim. O conhecimento evolui. Mas para se adotar um novo conhecimento, é preciso se despir do antigo. Por isso, consultor e o produtor devem entrar em sintonia para que as inovações sejam entendidas e aplicadas em conjunto. O consultor não tem o direito de impor a adoção, apenas de sugerir, orientar. Por isso a transferência se dará rapidamente e eficiente quando o consultor se posicionar com respeito e humildade e o produtor estiver de mente aberta para “fazer o teste” e ajustar o que for preciso. A SIA atua como acelerador da transmissão do conhecimento teórico-prático entre as universidades e o produtor. O objetivo é levar ao produtor e técnicos locais, os resultados de pesquisas recém realizadas nas melhores universidades agrárias que trabalhem com assuntos de interesse local. Por isso a consultoria é dinâmica e o consultor deve se posicionar, constantemente como um interlocutor na troca de conhecimentos entre o conhecimento gerado nas universidades, adequação da linguagem científica para a técnica, customização para situações práticas de campo e, enfim, a adoção pelo produtor”.
MilkPoint - Qual é o porte médio das propriedades atendidas hoje pela empresa?
SIA: “Este universo de propriedades leiteiras que atendemos apresenta tamanho médio de 36 hectares. No entanto, o intervalo vai desde propriedades de 2 a outras com 560 hectares. Os modelos tecnológicos são customizados a cada realidade, podendo ir desde sistemas exclusivamente a pasto até sistemas confinados. Na maioria dos casos trabalhamos com a proposta de potencializar a base forrageira através das pastagens e complementar a dieta dos animais com silagem e ração concentrada. Isso significa, em média, dietas onde 40 a 70% são compostas pelo pasto. Nestes casos, e com bom planejamento e manejo dos pastos, se garante ao mesmo tempo viabilidade econômica aos sistemas e evolução constante da fertilidade do solo. Não é raro observar as propriedades duplicarem ou triplicarem o número de vacas em lactação e as produções através da potencialização da matriz forrageira e da capacidade de suporte das áreas”.
MilkPoint - Qual é o método de trabalho (fases do programa de trabalho) utilizado pela empresa?
SIA: “A SIA é uma empresa que trabalha Sistemas de Produção, vendo a propriedade como um todo, e não suas atividades individualmente, mas sim como elas podem se integrar, racionalizando processos, ajustando as diferentes atividades produtivas, para que, em conjunto, elas possam intensificar sua produtividade e principalmente melhorar a renda líquida do produtor após um ano agrícola. E isso tudo de uma maneira sustentável, melhorando o ambiente produtivo, para que este esteja em constante evolução e não em degradação, isso é o que chamamos de "Intensificação Sustentável”. Para tanto, passamos em diferentes fases no trabalho. Em primeiro lugar é necessário fazer um diagnóstico do sistema existente, levantando suas potencialidades e seus pontos críticos, os objetivos dos proprietários com o negócio, seu mercado, suas metas e sua maneira de pensar o sistema. Após esse reconhecimento inicial, a segunda fase é a de apresentar proposta de ajustes a curto e médio prazo para que tenhamos ganhos financeiros, o mais rápido possível, pois isso é o que move o negócio, mas também já planejando ações que vão além do financeiro, buscando a evolução dos ambientes de produção, principalmente no que se refere ao solo. Nesta fase normalmente já é possível verificar aumento de produção e diminuição de custos, simultaneamente. E num terceiro momento, estabelecer metas e fazer projeções para longo prazo, e isso pode ser 10, 15 ou 20 anos, projetando um sistema que será dinâmico e estará em constante evolução, experimentando novos patamares de produtividade e rentabilidade, com monitoramento constante. Em todas essas fases o “Norte” para esse planejamento sempre será o financeiro, as pessoas envolvidas e o ambiente produtivo, e todos estes aspectos necessitam evoluir de forma conjunta”.
MilkPoint - Como é feito o acompanhamento dos clientes e quais são os principais indicadores utilizados para avaliar os resultados?
SIA: “Realizamos um acompanhamento periódico nas propriedades. Esse acompanhamento se inicia com um diagnóstico que envolve questões de uso da terra, composição do rebanho, situação do ambiente produtivo (infraestrutura, maquinaria, mão-de-obra), manejo da produção (ordenha, categorias animais, manejo alimentar, reprodutivo, sanitário, tratos culturais), parâmetros econômicos, questões pessoais, sonhos e desejos com a atividade. Após esse diagnóstico, o consultor passa a discutir prioridades. Como não se muda uma propriedade no primeiro mês, junto com o produtor e sua família toma-se decisões sobre quais mudanças são prioritárias e quais trarão melhores resultados em curto prazo. Considerando-se uma propriedade leiteira, num primeiro momento, dá-se prioridade para alterações no manejo do pastejo, adequação de adubações. Com resultados do pasto, num segundo momento, passa-se a dar atenção para ajuste de dieta, ajuste de composição de rebanho, parâmetros reprodutivos, criação de bezerras, etc. Por exemplo, no quesito produção do pasto, anota-se o número de pastejos e o intervalo, em dias, entre pastejos. Esses números sempre causam estranheza ao se ver um pasto de inverno “dar pastejo” novamente em 10 a 14 dias. Ou um pasto de verão estar pronto para ser pastejado novamente entre 4 a 7 dias. Tudo isso só é possível com a adoção das novas metas de manejo do pastoreio, chamado de PASTOREIO ROTATÍNUO. Com o andamento das consultorias o técnico vai propondo adoção de tecnologias e mudanças conforme a evolução do sistema e sua capacidade de reinvestimento”.
MilkPoint - Como é feita a gestão e o planejamento da empresa e quais são os principais desafios encontrados pelo estabelecimento atualmente?
SIA: “Nossa estrutura organizacional é composta por um compartimento administrativo, onde estão a Diretoria Executiva, Assessoria Executiva, Secretaria Executiva, Gestão Financeira, Gestão de Projetos e Gestão de Resultados, além de uma Divisão de Inteligência Competitiva e uma Consultoria Estratégica Externa. No campo temos uma Divisão de Consultoria Técnica composta por Supervisores Regionais e Consultores Técnicos, com atuação distribuída em uma centena de municípios nos três estados do Sul do Brasil. Definimos algumas metas e objetivos para os próximos 5-10 anos, e a cada ciclo adequamos nossa força de trabalho aos projetos em andamento ou em implementação, seguindo a meta traçada para o futuro. Sobre os desafios, entendo que temos um universo gigantesco de produtores rurais a atender no Brasil e em outros países, onde o acesso ao conhecimento é restrito ou não é priorizado. A ciência disponibiliza conhecimento de ponta, a indústria desenvolve produtos e apresenta aos produtores, existe tudo posto para a evolução dos sistemas, mas falta quem consiga organizar as peças deste quebra-cabeças que é um sistema de produção agropecuária. Este é o espaço a ser ocupado pela consultoria, jogando junto do produtor, agregando eficiência aos processos, minimizando perdas e orientando para que os investimentos tenham suas respostas otimizadas. O desafio é “vender” bem esta mensagem”.
MilkPoint - O que vem mudando na consultoria e no perfil dos produtores ao longo dos anos?
SIA: “Quando se trabalha de forma séria e correta, se conquista respeito e credibilidade. O produtor rural que recebe este sinal e consegue capta-lo cria um laço de confiança com a equipe técnica que o assessora e vai adiante, em tempo real. Temos tido a oportunidade de materializar no campo, em nível de fazendas, aquilo que os principais grupos de pesquisa têm ensinado e desenvolvido nas universidades acerca da intensificação sustentável de sistemas agropecuários. Esses produtores tornam nosso trabalho gratificante e isso é um combustível para prosseguirmos. Somos detentores de um recurso natural fantástico, mas não indelével. Temos de saber produzir cada dia mais com menos. Gerar alimentos e cuidar da natureza ao mesmo tempo. É um tempo de mudança. Existe uma nova revolução no agronegócio brasileiro acontecendo. E é possível. E é o nosso momento. Vamos conseguir!”
MilkPoint - Deixem um recado para os produtores de leite.
SIA: “O Brasil é um país pastoril. Temos mais de 150 milhões de hectares de pastagens com avançado estágio de degradação, onde seguramente poderíamos abrigar com eficiência econômica e ecológica quatro a cinco vezes mais animais, ou o mesmo rebanho de hoje em um quarto da área. Por isso, o recado é: vamos cuidar melhor dos pastos, aprender a manejar o pastoreio, adubar corretamente as pastagens e recuperá-las. Com isso estaremos reduzindo o custo total das dietas, aumentando a lotação e a produtividade por hectare, e ao mesmo tempo contribuindo para um balanço de carbono favorável. Na ponta das folhas verdes reside o segredo da produção de leite!”
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